Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

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Fernando Silva
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Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Fernando Silva »

http://www.estadao.com.br/noticias/supl ... 100,0.shtm
Pesquisa mostra dilemas de biólogos evangélicos

Uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) mostra os conflitos vividos por estudantes evangélicos que querem se tornar professores de ciências. A maioria deles duvida da veracidade da teoria da evolução, de Charles Darwin, mas garante que não vai ensinar nas escolas que Deus criou o homem e o mundo.

O biólogo com mestrado em Zoologia do Museu Histórico Nacional Luis Fernando Marques Dorvillé achava que ninguém, dentro de uma universidade, seria capaz de contestar sem base científica o que para a ciência é verdade absoluta. Mas o aumento da incidência de alunos evangélicos nos cursos de Biologia instaurou a polêmica.


A questão que aflige Dorvillé é como alguém pode ensinar ciências sem acreditar na teoria de Darwin? Seu assombro foi tamanho que ele passou os últimos oito anos entrevistando alunos para sua tese de doutorado na UFF. O trabalho narra esses embates usando a experiência do cientista com seus alunos evangélicos no curso de Biologia de um outra instituição do Estado, a Universidade Estadual do Rio (Uerj).


O levantamento mostra que dos 245 matriculados no curso de Biologia da Uerj, em São Gonçalo, 23% são evangélicos. O número é mais alto do que revelou o Censo de 2000 (15,44% dos brasileiros são evangélicos), mas muito próximo das estimativas de crescimento que o próximo Censo deve mostrar em 2010.


Dorvillé distribuiu questionários entre os alunos de todas as religiões. Diante de questões como “Comente a frase: alguns seres vivos têm parentesco maior entre si do que com outros” descobriu que a desconfiança sobre teoria da evolução chega a 70% entre os protestantes, 30% dos católicos e 20% dos espíritas e umbandistas.


“No início eu queria convencer os alunos a ferro e fogo. O resultado era nulo. Eles ficavam quietos, escreviam tudo certo e depois falavam ‘mas eu não acredito em nada disso’.” Dorvillé mudou a estratégia. Passou a confrontar as ideias religiosas com argumentos, sem tentar demovê-los de suas crenças.


Da indignação para a conciliação demorou um ano. Neste período o biólogo ouviu de tudo. De um aluno mais enfático, no auge da discussão sobre a teoria da evolução, veio a justificativa considerada absurda para um futuro biólogo: “Minha avó não é macaca. Então foi Deus quem criou o homem.”


A pesquisa também indicou que os alunos evangélicos mudam ao longo do curso. “A maioria faz uma mediação entre o que diz a ciência e a religião.” Acreditam, por exemplo, que há evolução, mas quem guia todo o processo é Deus; ou admitem que a evolução sirva para as outras espécies, menos para o homem; ou que, a criação divina do universo durou seis dias, mas a leitura não deve ser literal, já que entre um dia e outro ocorreram as eras geológicas e o processo de evolução.


De uma coisa eles não abrem mão, diz o professor. “Nunca deixam de ser evangélicos e de acreditar no que a igreja ensina. Nunca abandonam a religião por conta da faculdade.” Essa também não é a intenção de Dorvillé. “Quando eu consigo qualquer grau de interferência me sinto satisfeito.”


A área de ciências é uma das que mais sofre com a falta de professores no País. Pela carência de profissionais, a maioria dos formandos consegue emprego assim que deixa a universidade. “Muitos deles estudam biologia justamente porque o acesso é mais fácil. Não tem muita disputa de vagas no vestibular”, diz.


O cientista conta que, em uma das aulas, ouviu de um aluno uma declaração perturbadora: “Eu sei de tudo isso que você está me falando, mas prefiro não pensar muito.” Para Dorvillé, os alunos vivem uma angústia. “Esta visão de mundo ajuda a formar quem eles são. Muitas vezes foi graças a religião que eles, vindo de famílias pobres, conseguiram chegar à universidade.”


Na sua tese de doutorado, Dorvillé descobriu também que os futuros professores evangélicos concordam que em sala de aula vão repetir a seus alunos o que aprenderam na faculdade. Mesmo que não acreditem. A religião, dizem eles, vai ficar fora da sala.


“Eu já acho emblemático haver evangélico ensinando teoria evolutiva com alguma propriedade. E eles podem ser bons professores, principalmente porque vão falar para muitos alunos evangélicos nas escolas públicas.” Dorvillé confia que eles não vão trair o legado de Charles Darwin.


Aline Malafaia frequenta a Igreja Batista desde os 4 anos. Formada em Biologia pela Uerj, fez a sua própria interpretação sobre a teoria da evolução misturando o que aprendeu no curso com o que ouviu em sermões do pastor evangélico. “Sendo bióloga, não poderia negar que nós e outros primatas temos um ancestral comum. Mas a criação teve a mão de Deus.” O curso fez com que Aline encarasse a Bíblia com outros olhos. “Ela não foi escrita para ser um livro científico. Podem ter sido 7 milhões de anos, em vez de 7 dias, e entre eles ocorreu a evolução.”

Hoje, Aline dá aulas para crianças. Antes de ensinar a teoria da evolução, quis saber a opinião delas. “Todos responderam que foi Deus quem criou a vida.” Mas ela garante que vai ensinar o que aprendeu na faculdade. “São regras que nós professores devemos cumprir.”

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Aranha
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Aranha »


- Gostei da análise deste professor, a religião ajudou a moldar o caráter destas pessoas, não vão ser 4 anos de faculdade que vai demovê-los de suas crenças, obviamente eles acharão um meio de conciliar ou de fechar os ouvidos com mais força ainda.

- Mas só o fato de alguns perceberem que a bíblia não pode ser interpretada de forma literalista já abre um vasto caminho.

Abraços,
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Johnny
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Johnny »

Aranha escreveu:
- Gostei da análise deste professor, a religião ajudou a moldar o caráter destas pessoas, não vão ser 4 anos de faculdade que vai demovê-los de suas crenças, obviamente eles acharão um meio de conciliar ou de fechar os ouvidos com mais força ainda.

- Mas só o fato de alguns perceberem que a bíblia não pode ser interpretada de forma literalista já abre um vasto caminho.

Abraços,

Ô! A única coisa que faz é que "Não conordamos com a ciência, mas somos obrigados a aceitá-la para fazer parte do mercado de trabalho"
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Dick
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Dick »

Esquizofrênicos até o osso.
docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"

CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?

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salgueiro
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por salgueiro »

Desde que não seja um literalista a acomodação pode ser feita.
“Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, Thoreau

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Aranha
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Aranha »

Johnny escreveu:
Aranha escreveu:
- Gostei da análise deste professor, a religião ajudou a moldar o caráter destas pessoas, não vão ser 4 anos de faculdade que vai demovê-los de suas crenças, obviamente eles acharão um meio de conciliar ou de fechar os ouvidos com mais força ainda.

- Mas só o fato de alguns perceberem que a bíblia não pode ser interpretada de forma literalista já abre um vasto caminho.

Abraços,

Ô! A única coisa que faz é que "Não conordamos com a ciência, mas somos obrigados a aceitá-la para fazer parte do mercado de trabalho"


- Peraí, lá no texto cita que alguns fazem isto, estava me referindo aos que buscam conciliar.

Abraços,
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Apo
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Re: Pesquisa: o dilema dos evangélicos que estudam biologia

Mensagem por Apo »

Eu vejo que a tendência é ficar mesmo em cima de um muro oscilante.
Deus criou tudo, mas depois as coisas foram se adaptando às mudanças geográficas e climáticas naturais do mundo ( criado por deus).
Não tem jeito, não. Partir para interpretação de tudo o que diz na Biblia ou adaptar a evolução à ela é tarefa impossível. Teria que ser construída toda uma nova forma de ligar as duas coisas, padronizando este tipo de conhecimento, ou cada instituição ou professor vai ingressar num labirinto próprio. Os alunos vão enlouquecer. Avaliações serão caóticas.

Triste isto...
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Trancado