Quem vende sabe
Zuenir Ventura
O crack é uma droga tão nociva à saúde, tão corrosiva, que os próprios traficantes cariocas não queriam comercializá-la, pelo menos no início. Não por bondade, mas porque ela destruiria os usuários e, a longo prazo, acabaria com o mercado.
Não se sabe como e por que o flagelo, que se difundiu antes em SP, terminou por se impor aqui. Talvez por pressão do consumo mesmo. Atualmente, como demonstrou a reportagem de Waleska Borges e Gustavo Goulart, mais de 80% das crianças e adolescentes que vivem nas ruas do Rio usam a droga. Para se ter uma ideia, em 2005, eram 13%; em 2006, 33%; em 2007, 49%; em 2008, 69%, de acordo com dados da Secretaria municipal de Assistência social.
Tão expressivo quanto esses números foi o depoimento que vi no “Conexões urbanas”, um programa do Multishow indispensável para se entender aspectos menos óbvios da cidade, inclusive os mais sombrios, a realidade inconveniente, como a impressionante entrevista que o apresentador José Junior, do AfroReggae, fez com o gerente de uma boca de fumo, mostrando o que se passa na cabeça de um bandido. Entre as chocantes revelações, estava a de que eles, os traficantes, são os ídolos das crianças nas comunidades que dominam.
Quando brincam de polícia e ladrão, preferem ser o vilão (Junior observou que nas favelas ocupadas pela PM os papéis se invertem).
“Eles veem a gente como espelho”, informa o entrevistado.
“Se espelham no que está mais perto. Onde está o Estado aqui? A única secretaria é a de Segurança, mais nenhuma. Cadê a de educação, saúde, saneamento básico?” Segundo ele, são apenas duas as opções para os jovens: “Ou vou estudar e morrer como meu pai, trabalhando. Ou vou ser bandido e tentar o que nunca tive: usufruir roupa de marca, um relógio bom, um perfume bom.” O capítulo mais surpreendente foi o das drogas.
Assistiu-se a este diálogo entre entrevistador e entrevistado: — O que é pior, cocaína ou crack? — Sem dúvida nenhuma, de mil a zero, é o crack. Eu tenho temor dessa maldição. Foi a pior coisa que veio aqui pro Rio.
— Por que você vende então? — Eu não vendo porque quero. É porque, se eu não vender, outro vende. É questão de concorrência. Tava proibido, mas o pessoal vai lá, compra e usa aqui. Se tivesse havido uma reunião antes... mas agora que sabe que dá dinheiro, vai ficar difícil de acabar com isso.
— O que vende mais? — Com certeza é o crack.
— O crack dá lucro no Rio? — Se eu falar que não dá, é mentira. Mas é uma coisa muito triste, absurda.
— O que você diria para os jovens que veem este programa? — Procurar escutar mais os pais e as mães. Menos drogas com que se envolverem, melhor para eles.
— Mas se eles usarem menos drogas, vão te dar prejuízo.
— Mas eu aconselho porque não quero pros meus filhos nem pros filhos de ninguém. É bobeira, é burrice, é babaquice.
Palavra de traficante.
Entrevista: Traficante é contra vender crack - mas vende
- Fernando Silva
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Entrevista: Traficante é contra vender crack - mas vende
"O Globo" 07/11/09
- Apo
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Re: Entrevista: Traficante é contra vender crack - mas vende
— Por que você vende então? — Eu não vendo porque quero. É porque, se eu não vender, outro vende.
Juro que se ouço uma resposta destas eu arrebento o cérebro deste cara, mais do que já está arrebentado!
- francioalmeida
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Re: Entrevista: Traficante é contra vender crack - mas vende
Segundo ele, são apenas duas as opções para os jovens: “Ou vou estudar e morrer como meu pai, trabalhando. Ou vou ser bandido e tentar o que nunca tive: usufruir roupa de marca, um relógio bom, um perfume bom.”
O Aargumento mais idiota que eu já ví pra justficar a entrada de um jovem pra bandidagem. A frase é solta como se fosse indígno e pejorativo estudar e morrer trabalhando a melhor alternativa seria ser bandido, bem vestido, com um relógio de marca e cheiroso.
Eu gostaria de ter uma ferrari, uma mansão e muito dinheiro pra gastar, mas em nenhum momento trocaria minha vida de trabalhos diários, por uma vida de criminalidade que pode acabar a qualquer momento ou numa cadeia ou num cemitério.
Ouço com muita frequencia esse argumento de que o pobre coitado começou a fazer coisa errada porque queria ter um tênis de marca como os outros jovens da idade dele, mas será que é mais fácil colocar a vida em risco pra conseguir um tênis, do que se matar de estudar pra conseguir um emprego melhor pra comprar um tênis?
Como eu disse, eu quero um ferrari, mas minha vida tem um peso.
- Jack Torrance
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Re: Entrevista: Traficante é contra vender crack - mas vende
Apo escreveu:— Por que você vende então? — Eu não vendo porque quero. É porque, se eu não vender, outro vende.
Juro que se ouço uma resposta destas eu arrebento o cérebro deste cara, mais do que já está arrebentado!
É igual aquelas coisas onde o sujeito tem um trabalho perigoso e diz que se não fosse ele a realizá-lo, seria outro. Então que seja o outro, porra!
“No BOPE tem guerreiros que matam guerrilheiros, a faca entre os dentes esfolam eles inteiros, matam, esfolam, sempre com o seu fuzil, no BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”
“Homem de preto qual é sua missão? Entrar pelas favelas e deixar corpo no chão! Homem de preto o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam o Satanás!”
Soldados do BOPE sobre BOPE
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