Hitchens: major doEUA assumiu traços de terrorista islâmico

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Zato-one
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Hitchens: major doEUA assumiu traços de terrorista islâmico

Mensagem por Zato-one »

Provas concretasChristopher Hitchens
Do The New York Times


A advertência para não julgar ou tirar conclusões precipitadas soa suficientemente justa e prudente, como se tivesse sido proferida por um estadista, quando dita pelo presidente, contanto que se tenha em mente que tal conselho é, em si, um julgamento que está na metade do caminho em direção a uma conclusão. O que isso implica claramente, no presente caso, é que as ações do Major Nidal Malik Hasan não devem ser consideradas, de qualquer forma significativa, como relacionadas à sua fé islâmica.

O conhecimento subjetivo perfeito da mente possivelmente desordenada do major não me é disponível, nem é disponível ao anfitrião dos comentaristas sobre danos-controle e dos zumbis do Federal Bureau of Investigation, que conseguiram deixar as coisas do seu próprio jeito até agora. Para demonstrar a falta de uma conexão, no entanto, os seguintes fatos deveriam ser observados como relativamente aleatórios ou secundários:

1) Hasan tem se correspondido diretamente com um notável pregador da violência, Anwar al-Awlaki, cujo entusiasmo pelos ensinamentos e pelas ações da al-Qaida já é conhecido por pesquisadores e pelas agências de inteligência.

2) Ele trouxe um armamento para si próprio muito antes de um atentado contra soldados desarmados que aguardavam tratamento em uma clínica - pessoas a quem, além de suas responsabilidades como ser humano, ele também devia, como médico, um juramento de assistência.

3) Ao atirar, ele gritou a frequente expressão da jihad, "Allahu akbar!" ou "Deus é grande!" (as testemunhas oculares neste ponto, originalmente suspeitas, são especialmente convincentes, já que algumas delas não entendiam o significado das palavras e apenas tentaram reproduzi-las foneticamente). Em seu cartão de visitas, ele se descreve como "SOA", isto é, "slave of Allah" ("escravo de Allah") ou, possivelmente, "soldier of Allah" ("soldado de Allah"). Nenhuma das expressões seria particularmente reconfortante neste contexto.

4) Ele havia atraído considerável atenção ao usar repetidamente suas aulas de pós-graduação na Uniformed Service University of Health Sciences, em Bethesda, Md., com o propósito de proselitismo islâmico, para uma versão do Islã que, para dizer o mínimo, não superenfatizava uma "religião da paz".

5) Ele havia, em comunicações por escrito e faladas, demonstrado um fascínio pelo amor à morte e o conceito da martírio suicida (mais bem descrito como assassinato suicida), que é o conceito central do bin-ladenismo.

6) Embora ele tenha ficado chateado com as histórias angustiantes de soldados que regressaram - como muitos, muitos de nós ficamos, incidentalmente -, sua objeção indiscutível e reiterada à guerra contra o Talibã no Afeganistão, e contra a al-Qaida no Iraque, é porque esta é uma "guerra contra o Islã". Pode ser útil perceber que isso significava que o Talibã realmente representa o Islã, enquanto os atuais governos do Iraque e do Afeganistão, de alguma forma, não o representam - uma crença central dos puristas islâmicos, que usam o dogma do takfir para excomungar os muçulmanos e torná-los suscetíveis, em conjunto com muitos outros tipos de infiéis, à carnificina sagrada.

7) Ele parece ser particularmente obcecado pela ordem Quranica, que proíbe que os muçulmanos devotos criem alianças com cristãos e judeus. A lista acima não é exaustiva, mas acreditaria que estes cinco ou sete itens (o primeiro e os últimos quatro) seriam a base para que ele fosse colocado sob rígida vigilância ou que fosse dispensado de seu cargo. O proselitismo em uniformes, por exemplo, já é algo banido por uma determinação geral. Para serem "inclusivas", as forças armadas dos EUA devem excluir ou disciplinar aqueles que se opõem à inclusão. Isso, é claro, serve para os fanáticos de todas as fés, e não basta apontar que isso nem sempre é universalmente aplicado. A atrocidade de Hasan torna tal aplicação mais urgente, não menos. E em relação à ênfase no suposto estado mental alegadamente "na ponta da faca"? Bem, mesmo supondo que seja precário, não deve ter melhorado com a imersão nas falas descontroladas de Anwar al-Awlaki. Não digo que todos os praticantes do ódio à mulher, antissemitas, suicidas sadomasoquistas sejam insanos, mas afirmo que o ensinamento em si é demente. Da mesma forma, não digo que todos os muçulmanos sejam terroristas, mas tenho percebido que uma alarmante proporção de terroristas é composta por muçulmanos. Uma pessoa paranóica ou depressiva - como milhões em nosso meio - não precisa terminar berrando motes religiosos enquanto mata brutalmente seus semelhantes. Contudo, uma pessoa paranóica ou depressiva, que tem contato regular com um "líder espiritual" jihadista, recebe um roteiro pronto, que oferece o paraíso em troca pelo homicídio.

Certo, então, o major galante não foi sujeito a um tratamento ruim e até mesmo a abusos? Apenas até certo ponto, quando se considera que seus pais ganharam refúgio da Palestina e conseguiram construir uma vida aqui, que ele próprio se alistou em um exército voluntário, que foi promovido (aparentemente mais rapidamente e para um posto mais alto do que suas habilidades permitiriam) e emitiu opiniões extremamente nocivas sobre membros de outras fés, para não dizer nada sobre o país que adotou. Se dúvida, zombaram dele uma ou duas vezes, mas se alguém quiser evitar isso, não deve expressar desprezo por seus companheiros soldados enquanto veste seu uniforme. Os negros americanos já foram segregados. Os recrutas judeus eram impiedosamente atormentados, assim como homens ou mulheres que pareciam ser gays. Será que algum deles reagiu a isso com um assassinato em massa? Será que algum deles justificou isso com alguma ideologia negra, judia ou gay? Eles teriam ganhado a simpatia e a compreensão das pessoas se tivessem feito isso? Quando a escola sentimental "pré-pós-traumática" terminou com a história, Hasan não foi apenas absolvido de ser um muçulmano ruim. Ele foi, mais ou menos, exonerado de algum dia ter feito algo errado. Na verdade, isso não é uma questão de recusa idiota e usual do FBI e de outros serviços de segurança de compreender um aviso precoce mesmo quando detectaram algo. Trata-se de um desafio direto à unidade e à integridade dos serviços armados, que têm figurado entre os principais órgãos de nossa sociedade, servindo como impulsionadores da integração étnica e religiosa. Um soldado dos EUA, que pensa sobre a confiabilidade de seu, sem falar da sua, colega muçulmano não está sendo "islamofóbico" (uma fobia que é um medo irracional ou incontrolável). Se Hasan transformou esta preocupação compreensível em algo mais disseminado nas fileiras, ele prestou o melhor dos favores ao seu amigo pregador fanático. No entanto, é culpa dele fazer o que fez, e é culpa de seus superiores deixá-lo ensaiar tal preocupação por tanto tempo, não sou culpado por mostrar isso.

Há alguns anos, escrevi que as três principais características do tipo "esquadrão da morte islâmico" eram a hipocrisia, a autopiedade e a autodepreciação. Cercado como ele estava por psiquiatras, que eram seus colegas, frequentemente afligidos por suas maneiras ameaçadoras, Hasan conseguiu personificar os três traços - com a retórica teocrática abertamente empregada - e ainda assim ser tratado, mesmo hoje, como se a palavra real, para ele, fosse confusa. Preparem-se para continuar encontrando os mesmos três sintomas, em conjunto com tentativas oficiais de se opor a ela apenas com a terapia, se tanto. Ao menos os guerreiros sagrados sabem que estão cometendo suicídio.


Christopher Hitchens é jornalista, escritor e colunista de Vanity Fair e Slate Magazine. É autor do livro "Deus não é Grande: como a religião envenena tudo". Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate.


http://terramagazine.terra.com.br/inter ... retas.html
"As religiões proliferam com o sofrimento de nosso povo."

Trancado