Educação Compulsória e Totalitarismo

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Herf
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Educação Compulsória e Totalitarismo

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Educação Compulsória e Totalitarismo

“Os homens nascem ignorantes, não incapazes de pensar. O que os torna incapazes de pensar é a educação.”
Bertand Russell


Pedro escreveu recentemente um texto falando sobre o fetiche que existe com educação no Brasil. Eu concordo plenamente com o que ele escreveu, e diria que este na verdade é um mal compartilhado pela maior parte das sociedades ocidentais modernas. Aceita-se como natural, bom e até desejável a obrigatoriedade, repito, a obrigatoriedade coercitivamente imposta por lei, de todos os “cidadãos” de um país passarem grande parte de dez anos ou mais de suas vidas prestando expediente forçado para ouvir idéias selecionadas pelo governo como convenientes para sua “formação”.

E não apenas isso; não é suficiente (embora isso em si já seria opressivo) ser forçado a demonstrar proficiência no conhecimento de tais idéias, algo que poderia ser facilmente aferido com uma série de exames. E que cada um aprendesse como quisesse, onde quisesse, e com quem quisesse. E prestasse os exames com a idade que quisesse. Não, não, não. Quem se pergunta por que tal solução óbvia não é adotada evidentemente não compreendeu o verdadeiro objetivo do sistema todo. É preciso passar pelo processo. O primordial objetivo da educação compulsória não é ensinar coisa alguma. É destruir a independência de pensamento, é cultivar, instilar e estimular subserviência à autoridade até ela desabrochar em toda a sua glória, é tornar tão doloroso o exercício do senso crítico que se adquira por trauma o instinto quase fóbico de evitá-lo a todo custo. Quando finalmente se consegue atingir esses objetivos, então se dá um diploma ao sujeito e se diz “formamos um cidadão”.

O sistema educacional público americano moderno é uma completa aberração e emprestou várias de suas características de um plano declarado de doutrinação e controle social em massa concebido originalmente na Prússia do século 19. O excelente The War On Kids documenta como atualmente existe formalmente e na prática menos respeito às liberdades civis numa escola pública do que numa prisão.

O sistema brasileiro pode não ser tão grotescamente opressivo, mas é igualmente delirante. Ele é usado para tudo menos para ensinar. Ele é encarado como instrumento de assistência social, como creche, até mesmo como ferramenta de segurança pública ao deixar menores desocupados fora das ruas. Historicamente, no Brasil e em grande parte das outras democracias ocidentais (inclusive nos EUA), um dos maiores objetivos que se pretende declaradamente atingir ao se expandir o currículo obrigatório básico é… retirar artificialmente mão de obra qualificada para fora do mercado de trabalho visando diminuir o desemprego e aumentar os salários! Note-se, isso não são “denúncias” ou teorias conspiratórias. Todos esses motivos são explicitamente discutidos por legisladores e membros do poder executivo ao determinarem política educacional.

Ora, isso já seria inaceitável num sistema de educação que visasse preservar tão somente o “direito” à educação, a possibilidade de acesso à educação. Já seria intolerável num programa cujo financiamento é compulsoriamente sustentando por todos nós, e sobre o qual não temos qualquer controle. Mas a barreira final é ultrapassada quando se aceita bizarramente tornar tal “direito” à educação um que deve ser “exercido” de forma compulsória. Isso é totalitarismo puro e simples, e me parece que deveria ser uma das prioridades de qualquer programa seriamente libertário lutar pela total reversão das políticas públicas que literalmente prevêem o encarceramento de toda a nossa juventude por mais de 10 anos de suas vidas.

Agora, vejamos, quais são as ilusões mesmo assim cultivadas por aqueles que defendem que algum mérito efetivamente educacional se possa salvar de toda essa farsa?

A principal ilusão é de que alguém está aprendendo alguma coisa. Mas como se pode verificar conversando com qualquer adulto normal, absolutamente ninguém retém os profundos “conhecimentos” que supostamente são terapeuticamente infundidos nos seus cérebros quando adolescentes. Pergunte a alguém que não seguiu carreira relacionada com química qual a diferença entre um éter e um éster e a resposta provavelmente será um bocejo ou um soco na cara. Pergunte a alguém que não seguiu carreira relacionada com línguas em que século viveu Machado de Assis. Aliás, experimente tentar fazer alguém escolhido no meio da rua confessar em que circunstâncias ocorre crase em português. Com enorme probabilidade a vítima não conseguirá fazê-lo para salvar a própria vida. O sistema educacional é uma falha escandalosamente absoluta. Mas é muito mais grave do que uma monumental perda de tempo para todos os envolvidos, como se isso já não fosse suficientemente sério. É um estrupro mental e moral, e deliberado. Educação compulsória não tem absolutamente nada a ver com ensinar coisa alguma. Educação compulsória na escala e nos moldes atualmente aceitos é nada menos que escravização em massa.

Outro objetivo pretensamente atingido é o de produzir magicamente uma elite intelectual sob demanda. Só que educação não é mágica. Nem todos têm vocação ou competência para serem elite intelectual. E embora possa haver mérito em buscar não desperdiçar a competência daqueles que de fato a têm, não é possível produzi-la artificialmente. Se perguntarmos a um atleta olímpico como ele conseguiu uma medalha de ouro, ele provavelmente responderá que treinou arduamente horas por dia durante muitos anos. Não segue daí que se forçarmos todo mundo a treinar arduamente por anos transformaremos todos em atletas olímpicos. Talvez até revelemos acidentalmente alguns mais, ao enorme custo de produzir uma massa de pessoas desfuncionais que não conseguem entender por que não conseguem correr 100 metros em 10 segundos. É impossivel produzir cientistas em massa usando educação forçada. (Aliás, também é impossivel fazê-lo subornando pessoas aleatórias. No máximo produziremos pessoas que ficarão bastante felizes em serem pagas para encenarem uma farsa.)

Quando Richard Feynman, físico americano ganhador do prêmio nobel, foi convidado a fazer um discurso de despedida após visitar a UFRJ durante alguns meses, ele (causando considerável consternação) declarou que infelizmente o ambiente que ele observara tinha sido universalmente o de pessoas profundamente imbuídas da convicção de que a academia consistia em seguir certos procedimentos e protocolos ao invés de produzir certos resultados. Que havia salas de aula, havia professores, havia alunos, havia cursos, havia seminários, havia títulos, havia publicações. Só não havia mesmo era produção de conhecimento. Que todos pareciam estar participando de um grande ritual coletivo de imitar o que universidades de verdade faziam mas sem entender direito o propósito de tais ações, quais os motivos para elas, e quais resultados elas deveriam produzir. Que era como ver um aparelho de rádio, ficar maravilhado com ele, e então buscar imitá-lo construindo uma réplica de isopor pintado e então não entender por que ele não funciona. Isso foi há décadas. Até hoje, o Brasil, uma das maiores potências econômicas do planeta, não consegue ter sequer UMA de suas universidades na lista das melhores DUZENTAS do mundo! Com toda a sua pompa e circunstância, o Brasil permanece essencialmente um zero à esquerda academicamente falando. Que perca para a França ou a Suíça, vá lá. Mas a Índia, a China, a Coréia do Sul têm universidades entre as primeiras cinqüenta! Eles conseguiram produzir o que nós não conseguimos. Talvez ser efetivamente (ao invés de imaginariamente) colonizado pela Inglaterra ou pelos EUA seja bom no final das contas. Nesse ritmo o Iraque terá uma universidade figurando entre as melhores duzentas do mundo antes do Brasil.

Mais um objetivo pretensamente atingido com educação compulsória é “elevar o nível cultural” do cidadão médio, o que na concepção dos burocratas a cargo do assunto se materializa na proposta esquizofrenicamente alucinada de torná-lo enciclopedicamente competente em assuntos que vão desde dinastias do Egito antigo até calcular determinantes de matrizes, mesmo que seu eventual objetivo na vida seja ser caixa de supermercado. Mesmo quando se torna clara a falha do objetivo de produzir pessoas efetivamente cultas, alguns ainda insistem na idéia de que pelo menos se conseguirá despertar algum tipo de apreciação pela cultura. Apreciação pela cultura? Por favor. Isso é comicamente fadado a um retumbante fracasso, e aliás ainda bem, porque a caricatura padronizada (e muitas vezes factualmente errada) que é forçada goela abaixo dos “alunos” na esperança doentia de produzir um saboroso patê em seus fígados tumorosamente gordos é tudo o que “cultura” não é. O que de fato se produz é confusão, na maior parte dos casos seguida de absoluto desprezo pela verdadeira sofisticação cultural, quase universalmente como resultado desse processo percebida como mera competência na repetição autista de fórmulas sem sentido completamente desconectadas da realidade. Que é o que geralmente se exige e premia nos alunos de uma escola. E infelizmente vezes demais em níveis mais altos de educação. Mesmo quando os assuntos abordados incidentalmente coincidem com as inclinações naturais de algum aluno, eles são explorados de forma arbitrária, caótica e fragmentada, sem qualquer liberdade para exploração independente, e sob um regime de força que destruiria o mais espontâneo dos interesses. É como imaginar que para “despertar” o interesse das pessoas por sexo uma boa estratégia seria coagi-las sob ameaças a transar com pessoas que elas não escolheram enquanto você assiste e então dar notas para sua performance. E depois reclamar das que não tiveram boas notas que não se “empenharam” o suficiente.

Ainda mais um objetivo pretensamente atingido como parte de um plano acadêmico que começa com educação compulsória é catapultar o país para indústrias e mercados de alta tecnologia. Ao invés disso o que produzimos no final de um longo processo são pessoas com doutorado fazendo concurso para gari. Ora, o (pequeno) mercado para pessoas com doutorado no Brasil é completamente fabricado. Ele se resume à atividade essencialmente subsidiada pelo governo de… produzir mais pessoas com doutorado. Note-se, eu digo isso com a infinita tristeza de quem vê imenso valor na pesquisa básica, e de quem acredita que não se deve deixar o talento de pessoas genuinamente competentes para fazer um doutorado ser desperdiçado. Mas a forma de não desperdiçá-lo não é forcá-las por anos a subempregos e rituais arcanos até se concluir que sofreram o suficiente para ganhar uma licença para submeterem outras vítimas ao mesmo processo. O problema real é não é não haver um número suficiente de pessoas com doutorado. Isso talvez fosse o problema se houvesse uma demanda insatisfeta, uma variedade de posições clamando por pessoas com doutorado, posições que só alguém com um doutorado estaria capacitado a ocupar, como projetar microprocessadores de última geração ou desenvolver novos antibióticos, e não houvesse pessoas em número suficiente para ocupá-las. Mas se fosse esse o problema, a solução simultaneamente simples e benéfica para o país seria a mesma que os Estados Unidos adotam – recrutar as pessoas capazes onde quer que estejam no mundo e trazê-las para ocupar tais posições. Isso não ocorre porque tais posições não realmente existem no Brasil e então formamos doutores incompreensivelmente esperando que por eles existirem automaticamente se porão a gerar alta tecnologia trabalhando para empresas inexistentes. Se queremos empresas de alta tecnologia precisamos primeiro e antes de mais nada parar de atrapalhar, que é geralmente a primeira e mais importante providência que o governo poder tomar. Ao invés disso tornamos algo em princípio tão logisticamente simples como abrir uma sorveteria um inferno burocrático e crivado de encargos suficientes para fazer qualquer um pensar trezentas vezes antes de correr o risco.

E ao gerar doutores varrendo a rua, essa política faz pior do que desperdiçar recursos; ele desvirtua o próprio sistema acadêmico. Uma superoferta de doutores causa uma mistura de superprodução de publicações inúteis com subempregos dentro da própria academia. E isso tudo acaba por distorcer perversamente também o entendimento da academia pelo resto da sociedade. A noção de “democratização” da educação através da educação compulsória é uma das maiores causas da destruição da percepção da atividade acadêmica como algo desafiante, nobre e meritório no imaginário comum. Historicamente grandes cientistas e grandes sábios sempre ocuparam um lugar de honra em todas as sociedades. Mais amplamente do que isso, quando alguém realiza algo percebido como difícil e que exija uma enorme convergência de competência e esforço, nossa tendência natural é admiração e respeito. Sentimos isso por atletas olímpicos, sentimos isso por grandes artistas. Sentimos isso por quem salva uma criança de um incêndio. Ser cientista porém é no imaginário popular algo cada vez mais alienígena e cada vez menos despertador de admiração. Pelo contrário, existe (em particular no Brasil) o sentimento de que quem segue esta carreira não foi competente o suficiente para conseguir um emprego de verdade. Talvez porque grande parte do tempo, pelo menos no Brasil, o emprego não seja mesmo de verdade. O real emprego é participar de uma farsa na qual se dança em torno da fogueira fazendo rituais bizantinos na tentativa de que sejam suficientemente do agrado dos burocratas de plantão para que nos agraciem magicamente com mais verbas. E a esperança dos burocratas de plantão é de que os rituais bizantinos que escolhem financiar agradem suficientemente os deuses da prosperidade científica para que nos tornemos magicamente uma grande potência tecnológica.

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Existe ainda um ponto adicional que quero levantar sobre o ensino básico compulsório.

Não raro quando desesperados diante das evidências da completa falha do sistema de educação compulsória em ter qualquer mérito acadêmico, seus defensores começam então a apelar para dizer que mesmo que o benefício acadêmico seja nulo ou mesmo negativo, existem outros motivos para mantê-lo que não seja mera e aberta doutrinação. E então vem outro dos grandes truísmos sobre educação compulsória. Que ela é importante, não, essencial para o processo de SOCIALIZAÇÃO dos seres humanos em formação. Socialização. Ora, se há um contexto mais artificialmente inadequado à socialização do que a escola, eu desconheço. Trata-se de um ambiente no qual você é na maior parte do tempo proibido e punido por tentar se socializar, ou mesmo por dizer abertamente o que pensa, onde mesmo nos momentos em que a socialização é permitida ela é altamente regulada, no qual você não escolhe livremente com quem você está se socializando, ou quando, ou como, e aliás no qual a estratégia de socialização a você imposta é tão antinatural quanto “Você vai encontrar todo dia às 7 da manhã APENAS com as mesmas dúzias de pessoas precisamente da mesma idade para sentar em silêncio enquanto é forçado a ouvir longos monólogos sobre assuntos que não escolheu. No meio do expediente talvez tenha 30 minutos para falar com quem quiser, mas se tentar beijar alguém, ou discutir com alguém, ou mesmo ir até a esquina tomar um sorvete com alguém, será imediatamente impedido.” Não, não, não. Como experiência socializante, a escola é profundamente quebrada. Conviver somente com sua família seria provavelmente superior, embora MUITO dificilmente essa seria a escolha da esmagadora maioria das pessoas, que ao invés disso preferiria dez mil vezes ir à sua praça, ou clube, ou praia, ou parque, ou igreja e fazer amigos ou perseguir outros interesses pessoais. Inclusive descobrir seu próprio ponto de equilíbrio saudável entre socialização e introspecção, que é algo muito particular e pessoal, não parece muito favorecido por experiências cotidianas forçadas de socialização compulsória.

Claro, para que essa atividade de socialização extra-escolar fosse possível, talvez se fizesse necessária a supervisão de adultos. Mas se é essa a função que os “professores” estão cumprindo, então que seja, e que se deixem as crianças em paz, e livres para interagir. Se as escolas existem para socializar as crianças, então abandonemos todo esse sistema fascista que impede a socialização e concentremo-nos em construir um ambiente no qual as crianças sejam deixadas livres para explorar de forma suficientemente segura suas possibilidades sociais. E intelectuais. E culturais. E empresariais.

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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Apo »

Excelente assunto.
Uma vez me atrevi a levantar tal questão entre pais e mães numa festinha informal e fui vista como uma doida que não acha o ensino e a educação importantes, uma irresponsável que pode influenciar de forma negativa a própria filha e transformá-la numa desajustada sem causa.
Não conseguiram sequer vislumbrar os interesses do aspecto compulsório da nossa educação, desde a pré-escola até a graduação.
Outro tabu/vespeiro no qual ninguém quer mexer.

O mais importante é que minha filha, sem influência alguma ( pois achei melhor não emitir mais parecer algum que a "desajustasse") foi-se dando conta dos absurdos, abusos, inutilidades e proselitismos a que foi submetida durante toda a vida escolar ( isto numa ótima e cara escola laica ).
Uma vez o diretor disse ao meu marido que a filha dele era "faca na bota", obviamente como elogio às posições dela. O que nos deixou muito orgulhosos. De fato, pra ovelhinha de presépio ela nunca serviu.

Mesmo assim, tem que se submeter a toda forma de script e é apenas o começo.
Agora temos a tirania dos mestrados e doutorados. Sem isto, não se chega muito a lugar algum.
Depois de ter terminado o segundo grau com louvor e já estar matriculada em 2 cursos superiores, ficamos sempre pensando ( ela mais do que nós) : o que e quem será que ela vai encontrar pela frente?
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Herf »

Achei os primeiros parágrafos meio forçados, mas em seguida ele acerta na mosca, em todos os aspectos.

Digo, não acho que exista uma conspiração na burocracia educacional para fazer tudo da forma mais errada possível, como acontece hoje, regulando-se todos os aspectos do ensino público e privado, para que todos permaneçam sem senso crítico.

Nesse aspecto, assim como todos os demais envolvendo a ação do estado, as pessoas simplesmente fazem aquilo que sempre foi feito, e nem lhes ocorre que as coisas poderiam ser diferentes. Daí que parece tão trivial o ensino compulsório de conteúdos determinados pelo estado que qualquer um que sugira algo diferente nem mesmo é levado a sério.

Mas, como disse, isso é só nas primeiras linhas do texto (o que pode comprometer a leitura do texto todo, já que muita gente nem lê o resto quando vê que o começo é ruim).

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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Apo »

Herf escreveu:Achei os primeiros parágrafos meio forçados, mas em seguida ele acerta na mosca, em todos os aspectos.

Digo, não acho que exista uma conspiração na burocracia educacional para fazer tudo da forma mais errada possível, como acontece hoje, regulando-se todos os aspectos do ensino público e privado, para que todos permaneçam sem senso crítico.

Acho que há, sim, mas não com eficiência de uma máquina bem calibrada. Aliás, a censura da época da repressão militar era cheia de absurdos e falhas quase que inocentes ( pra não dizer burras).
O mais provável é que eles sejam burocratas tão mal preparados ( mas que se vendem ao poder para servir à ideologia dele), que uns têm idéia estúpidas, outros são como bois de piranha, outros apenas soldadinhos e a maioria é de abobados como professores bitolados com um senso patriótico que está desde sempre sob a pele e a mente de nossos "educadores". Como você disse: vão fazendo o que é "certo" fazer, por civismo, em nome de uma ideologia imbecilizante. Eles nem sabem o que mais existe além deste horizonte que nada difere do militarismo, só que de terninho e gravata.

Nesse aspecto, assim como todos os demais envolvendo a ação do estado, as pessoas simplesmente fazem aquilo que sempre foi feito, e nem lhes ocorre que as coisas poderiam ser diferentes. Daí que parece tão trivial o ensino compulsório de conteúdos determinados pelo estado que qualquer um que sugira algo diferente nem mesmo é levado a sério.


Sim.

Mas, como disse, isso é só nas primeiras linhas do texto (o que pode comprometer a leitura do texto todo, já que muita gente nem lê o resto quando vê que o começo é ruim).


É, não é fazer da forma "mas errada possível". Para eles é certo porque assim é do interesse e limite de conhecimento deles. Juram que é para o bem, que estão construindo, sempre empenhados em melhorar nhénhénhé. Todo aquele minimamente sabedor da cultura nacional tupiniquim já viu estes capítulos milhares de vezes. Infelizmente.
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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Não foi sempre assim não Herf.

A relação entre a estratégia socialista e a burocratização da educação não é meramente acidental.

Pode-se grosseiramente dizer que até a revolução francesa a educação era um assunto privado familiar, administrada por congregações religiosas em geral, e bastante heterogênea.

Foi a revolução francesa que introduziu o conceito de escola laica pública, num primeiro momento como forma de diminuir o poder da Igreja católica, mas que mais tarde mostrou-se de uma grande importância estratégica para a articulação socialista, em diversos contextos.

De uma maneira geral o que se seguiu na França e na Alemanha num primeiro momento, e mais tarde no mundo anglo-saxão, foi que governos moderadamente socialistas e alguns conservadores acataram o conceito de escola laica e educação universal sem perceber o espaço que abriam para as temeridades que se seguiriam. E num primeiro momento, apesar da queda geral da qualidade, o ensino ainda manteve-se próximo aos padrões tradicionais das escolas religiosas, exceto por duas diferenças:

1- Professores não estavam mais submetidos às diversas autoridades eclesiásticas, mas a superintendentes e outros funcionários públicos dos recém criados ministérios da educação.

2- Crianças eram obrigadas agora à frequentar as aulas.

Essas duas condições forneceram o adubo para o subsequente aparelhamento ideológico das escolas. Isso foi sendo percebido ao longo do tempo, o que fez esquerdistas especializarem-se na divulgação do mito da "educação universal" como chave para o progresso. A escola e universidade pública funcionava como megafone para dogmas, além de servir como repositório para esses ativistas, já que pagava-lhes salários por quotas de trabalho bastante confortáveis (ainda que seja praxe entre professores esquerdistas reclamar dos salários de sua classe).

A principal diferença entre a sabotagem socialista da educação e a pilhagem da indústria e da agricultura é que a segunda é percebida bem rápido: quando greves e nacionalizações de meios de produçam eclodem, as pessoas rapidamente se dão conta da escassez dos artigos essenciais, bens de consumo e serviços que valorizavam. Não é a mesma coisa com a educação, em geral leva-se tempo para destilar as mentiras socialistas contadas em sala de aula, muitas vezes gerações. Crianças e jovens desprovidos de senso crítico não são juízes mais competentes daquilo que lhes é ensinado como verdade, sobretudo se tiverem pais ignorantes que foram obrigados a deixar seus filhos à mercê da escola estatal mais próxima.

Essa resposta inelástica no consumo de educação criou portanto a brecha ideal para a penetração socialista, que se mostrou muito mais bem sucedida no longo prazo do que as rebeliões armadas, já que ela foi vitoriosa mesmo em países onde nunca houve qualquer possibilidade prática de revolução no sentido clássico.

Mas o jogo não está perdido. A percepção geral da falência do ensino público está crescendo em ritmo acelerado, e ainda que os socialistas tomem medidas para aumentar o controle burocrático, as respostas mais poderosas estão sendo encontradas por charter schools, homeschools, voucheers programs, assim como a emergência de escolas privadas em ambientes hostis, como guetos nigerianos.

No futuro, talvez as pessoas lembrem-se da escola pública como um mal dos séculos XIX e XX.

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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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Existe ainda um ponto adicional que quero levantar sobre o ensino básico compulsório.

Não raro quando desesperados diante das evidências da completa falha do sistema de educação compulsória em ter qualquer mérito acadêmico, seus defensores começam então a apelar para dizer que mesmo que o benefício acadêmico seja nulo ou mesmo negativo, existem outros motivos para mantê-lo que não seja mera e aberta doutrinação. E então vem outro dos grandes truísmos sobre educação compulsória. Que ela é importante, não, essencial para o processo de SOCIALIZAÇÃO dos seres humanos em formação. Socialização. Ora, se há um contexto mais artificialmente inadequado à socialização do que a escola, eu desconheço. Trata-se de um ambiente no qual você é na maior parte do tempo proibido e punido por tentar se socializar, ou mesmo por dizer abertamente o que pensa, onde mesmo nos momentos em que a socialização é permitida ela é altamente regulada, no qual você não escolhe livremente com quem você está se socializando, ou quando, ou como, e aliás no qual a estratégia de socialização a você imposta é tão antinatural quanto “Você vai encontrar todo dia às 7 da manhã APENAS com as mesmas dúzias de pessoas precisamente da mesma idade para sentar em silêncio enquanto é forçado a ouvir longos monólogos sobre assuntos que não escolheu. No meio do expediente talvez tenha 30 minutos para falar com quem quiser, mas se tentar beijar alguém, ou discutir com alguém, ou mesmo ir até a esquina tomar um sorvete com alguém, será imediatamente impedido.” Não, não, não. Como experiência socializante, a escola é profundamente quebrada. Conviver somente com sua família seria provavelmente superior, embora MUITO dificilmente essa seria a escolha da esmagadora maioria das pessoas, que ao invés disso preferiria dez mil vezes ir à sua praça, ou clube, ou praia, ou parque, ou igreja e fazer amigos ou perseguir outros interesses pessoais. Inclusive descobrir seu próprio ponto de equilíbrio saudável entre socialização e introspecção, que é algo muito particular e pessoal, não parece muito favorecido por experiências cotidianas forçadas de socialização compulsória.

Claro, para que essa atividade de socialização extra-escolar fosse possível, talvez se fizesse necessária a supervisão de adultos. Mas se é essa a função que os “professores” estão cumprindo, então que seja, e que se deixem as crianças em paz, e livres para interagir. Se as escolas existem para socializar as crianças, então abandonemos todo esse sistema fascista que impede a socialização e concentremo-nos em construir um ambiente no qual as crianças sejam deixadas livres para explorar de forma suficientemente segura suas possibilidades sociais. E intelectuais. E culturais. E empresariais.



O texto é quse integralmente excelente e o autor foi muito feliz na escolha de exemplos e fatos demonstrativos. Foi extremamente difícil encontrar algo a se discordar num texto tão bem escrito e coerente, mas acredito que esse trecho final me parece na melhor das hipóteses mal desenvolvido, ou inocente demais.

O problema não está no método educativo em si de confinar crianças diante de um instrutor para que este passe suas próprias experiências e conhecimentos para elas, e disciplinando-as quando necessário.

Aliás, uma das razões para o fraco desempenho comparativo do Brasil é que a disciplina, a ordem e o respeito a autoridade do professor foram completamente abolidos em nome de abordagens pedagógicas "mais modernas". A educação burocratizada no mundo se fez atravez da cópia de vários elementos da tradicional educação religiosa, e esta emergiu e se desenvolveu da espontânea busca pelo conhecimento. Seus métodos e protocolos foram testados pelos séculos, formatando lentamente aquilo que viria a ser copiado pelos socialistas "laicos" que se encarregaram apenas de eliminar os conteúdos doutrinários cristãos, substituindo-os pela doutrinação socialista-laica.

Existe uma lei em economia que diz que você terá mais daquilo que você subsidia. Se os produtores de laranjas forem protegidos da competição externa via tarifas ou subsídios diretos, seu país produzirá fatalmente mais laranjas (e menos artigos comparativamente mais eficientes).

Na URSS e no Leste Europeu, duas classes profissionais eram bastante subsidiadas: a dos cientistas em áreas como matemática, física e engenharias voltadas para a pesquisa bélica e espacial, e os atletas de alto desempenho. Nessas duas categorias, bastante visíveis diga-se de passagem, esses países e sobretudo a Rússia possuiam uma produção desproporcional em relação as suas populações e situações econômicas. E não era apenas uma questão de produzir quantidade, os cientistas e atletas das assim chamadas "repúblicas democráticas" socialistas estavam evidentemente entre os melhores do mundo, e em muitos casos eram OS melhores.

Não há nada de absurdo aqui, muito menos trata-se de um elogio ao sistema socialista por eles adotado. Os burocratas desses países ecolheram sacrificar a produção da sua sociedade para subsidiar certos setores "estratégicos", seja para fins de propaganda e guerra ideológica, seja para fins militares mais tradicionais, e o resultado desse investimento massivo nesses setores foi que eles realmente ficaram agigantados, o que não quer dizer que isso não se deu as custas de um desperdício enorme.

Mas o desperdício só não foi maior porque os socialistas por lá não tentaram ser modernosos demais. Mantiveram a rigidez das instituições educacionais, até exagerando-as certas vezes. Essa é a única razão para o fato de que o dinheiro que eles investiram tenha produzido resultados relativamente expressivos: eles usaram os métodos tradicionais. Não havia nada de revolucionário na escolas soviéticas que já não houvesse em escolas católicas ortodoxas dos tempos do Czar Ivan, o Terrível. Ainda que o culto a personalidade do líder e o ensino da versão marxista da história tenham sido amplamente estabelecidos, a rigor nada de essencial tinha sido alterado no ensino das disciplinas duras, exceto o fato deles investirem ainda mais nos talentos que surgiam.

No Brasil o investimento em educação é realmente um desperdício completo, pois além de retirar os recursos da sociedade ele simplesmente destrói completamente o valor ao produzir uma farsa grotesca chamada escola/universidade pública. Aqui o professor não possui a autoridade do conhecimento maior, aliás, a maioria dos professores sequer possui o conhecimento maior, o que é ainda mais desmoralizante. A aplicação sistemática das idéias ilustradas em A pedagogia do oprimido, talvez a obra mais influente jamais escrita por um brasileiro, criou uma gigantesca linha de produção de analfabetos funcionais e marginais em potencial, algo que não se observou mesmo nas republiquetas socialistas mais falidas, como Cuba, que também preservara um sistema educacional tradicional bem sucedido de antes da revolução.

É verdade que o excedente de produção de doutores competentes é um desperdício assim como o excedente de produção de trigo. Um dotor competente é um artigo de alto luxo, que consome inúmeros recursos antes de começar a ser produtivo (caso venha realmente a ser). Mesmo a excelência vista na educação básica em matemática e física naqueles países é na maioria dos casos um enorme desperdício, sobretudo de tempo. O ganho vísivel de superar outras nações em testes comparativos internacionais não se compara a despesa incorrida em treinar exaustivamente crianças e adolescentes a manusear ferramentas que elas provavelmente nunca se servirão mais tarde quando sua função for dirigir taxis ou reparar encanamentos. Muita sopa rala de batata teve que servir de banquete para famílias russas para que os burocratas produzissem scores marginalmente maiores para seus países em olimpíadas internacionais de matemática.

Mas o excedente de produção de pseudo-intelectuais e vigaristas diplomados é um desperdício muito pior, e o Brasil, mesmo sem jamais ter adotado um regime totalitário coletivista conseguiu essa proeza. A noção estabelecida de educação tem sufocado o potencial do Brasil há quarenta anos e continua matando qualquer esperança, mas a solução que todos vêem é mais educação, sempre à la brasilienne.
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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Um dos sintomas mais interessantes da síndrome educacional brasiliensis é talvez o paradoxo da reprovação: quanto mais os critérios de reprovação são relaxados, e alunos gritantamente ignorantes são autorizados a avançar para séries seguintes, maior é o índice de reprovação das gerações seguintes.

Ainda que burocratas tenham nos iluminado com critérios de progressão continuada, supletivos, dependências, cotas e outras babaquices do gênero, a grande culpa aqui é do professor.

A atitude do professor honesto diante de alunos profundamente ignorantes é não somente de sinalizar a deficiência mas de investigar sua origem para em seguida atacá-la. Em outras épocas professores chegavam a ir a casa dos alunos em mais dificuldade para sondar quais eram as condições domésticas que poderiam estar causando um desempenho tão ruim. Era um trabalho árduo, mas do qual o profissional da educação extraía sua dignidade (e o seu salário).

Hoje o professor se coloca na confortável situação naqual ele pode ignorar um aluno incrivelmente ignorante e mal educado durante um ano inteiro, para no final do período, após inúmeras avaliações fúteis nas quais a única coisa que se examina foi o êxito desse mesmo aluno em trapacear, o professor decidir se deve ser "magnânimo", permitindo que a besta passe e vá importunar outro colega, ou se deve ser "justo", reprovando o aluno por não ter assimilado aquilo que ele não fez o menor esforço para ensinar. De qualquer forma, ele pode dormir tranquilo.

É claro que a situação atual é calamitosa o bastante para que cada professor individual possa atribuir essa conduta invariável ao sistema, ao fato que ele recebe alunos já muito burros, que ele já tentou coisas mas nunca teve feedback, e etc. um caminhão inteiro de conversa fiada. O fato é que sistematicamente os professores assumem a atitude mais fácil para eles, porque há muito aprenderão que a sua profissão se beneficia do fato de que a culpa quase nunca é atribuída a maus indivíduos e maus profissionais, mas ao "sistema" e outros coletivos indefinidos, que na verdade são apenas eles próprios, devidamente anonimizados na multidão.
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Edson Jr
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

É um tema muito interessante.

Deixarei para debater amanhã...com calma!
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Herf
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Herf »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
O texto é quse integralmente excelente e o autor foi muito feliz na escolha de exemplos e fatos demonstrativos. Foi extremamente difícil encontrar algo a se discordar num texto tão bem escrito e coerente, mas acredito que esse trecho final me parece na melhor das hipóteses mal desenvolvido, ou inocente demais.

Concordo integralmente com o seu comentário sobre a adoção de alternativas "modernas" em detrimento da educação tradicional ter tudo a ver com o fracasso da educação no Brasil, mas realmente não me parece que o autor do texto discordou disso.

Ele citou a aborrecedora rotina do estudante com o fim de atacar a desculpa esfarrapada da "socialização", essa usada como justificativa para o ensino estatal compulsório.

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Edson Jr
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Parece-me, se interpretei adequadamente, que a questão gira em torno de tornar o ensino “não-obrigatório” e/ou “privatizado”.

Com relação à privatização, o que mais me preocupa é como se daria tal processo. Sendo de maneira absoluta poderíamos ter, num primeiro momento, um grande número de pessoas sem acesso à Educação, pois não poderiam pagar por ela. Um mínimo de Estado seria inicialmente necessário para assegurar acesso aos que ainda não podem pagar.

Também se faz necessário, no meu entender, da necessidade de haver uma grade curricular mínima obrigatória para todas as escolas, que seriam avaliadas anualmente para a verificação do seu desempenho. O mesmo se daria aos pais que decidissem educar em casa seus filhos. Deveria também haver um compromisso com relação aos resultados.

Num segundo momento é possível haver um aumento da oferta e uma diminuição dos preços decorrente de uma maior concorrência no setor privado, o que minimizaria ainda mais a necessidade do Estado, mas não creio que seria melhor erradicá-lo. Sempre haverá os que não podem pagar.

Acho que a Educação Básica deveria ser obrigatória sim. Se não for possível pelo setor privado, que seja pelo setor público. É inconcebível, no meu entender, que os pais decidam se o filho deve ou não estudar. O que mais existem por aí são “pais malucos” e os filhos não podem pagar pela “maluquice” deles...ao menos no quesito “Educação”...

O que me incomoda um pouco em textos como do tópico é a visão “8 ou 80”. Exemplos bem sucedidos de países onde a Educação Compulsória foi bem sucedida, como no Japão, não são citados. Isso me leva a perguntar se os críticos da Educação Compulsória estão realmente querendo que a Educação melhore ou se estão tão-somente preocupados em malhar o sistema...
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Edson Jr
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Herf escreveu:Concordo integralmente com o seu comentário sobre a adoção de alternativas "modernas" em detrimento da educação tradicional ter tudo a ver com o fracasso da educação no Brasil, mas realmente não me parece que o autor do texto discordou disso.

Ele citou a aborrecedora rotina do estudante com o fim de atacar a desculpa esfarrapada da "socialização", essa usada como justificativa para o ensino estatal compulsório.


Penso justamente que uma boa dose de tradicional é o que está faltando na Educação, pois nenhuma alternativa "moderna" funcionou. Na realidade, só piorou ainda mais o ensino, tirando a autoridade do professor e dando uma imprópria liberdade ao aluno...
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Luis Dantas
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Luis Dantas »

Edson Jr escreveu:Parece-me, se interpretei adequadamente, que a questão gira em torno de tornar o ensino “não-obrigatório” e/ou “privatizado”.

(...)
O que me incomoda um pouco em textos como do tópico é a visão “8 ou 80”. Exemplos bem sucedidos de países onde a Educação Compulsória foi bem sucedida, como no Japão, não são citados. Isso me leva a perguntar se os críticos da Educação Compulsória estão realmente querendo que a Educação melhore ou se estão tão-somente preocupados em malhar o sistema...


Acho que você não entendeu muito bem o texto, Edson. A questão é menos de se a educação deve ou não ser compulsória e estatal do que se ela deve ser melhor pensada, mais realista em suas metas e métodos, e mais respeitosa da natureza humana e da liberdade dos alunos.
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Edson Jr
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Luis Dantas escreveu:Acho que você não entendeu muito bem o texto, Edson. A questão é menos de se a educação deve ou não ser compulsória e estatal do que se ela deve ser melhor pensada, mais realista em suas metas e métodos, e mais respeitosa da natureza humana e da liberdade dos alunos.


Dantas;

O texto inicial do tópico indica outros dois textos. Lendo-os dá para ter uma idéia de que existe a pretensão de tornar a Educação privatizada e não-compulsória. Pelo menos é o que aparenta.

Caso não leia os textos indicados deixarei aqui dois trechos de um deles que talvez confirme minhas desconfianças (observe as partes em negrito/sublinhado):

"...Assim sendo, na verdade, acho que até há algo que o governo pode fazer, como na maioria dos casos : parar de atrapalhar. Deixar surgirem mais escolas particulares. Deixar as escolas escolherem suas ementas e cargas horárias. Deixar as escolas escolherem suas mensalidades. Acabar com a obrigatoriedade da matrícula de menores em escolas. Deixar os pais e seus filhos escolherem o que vão estudar e onde. Acabar com a exigência legal de diploma para o exercício da maioria das profissões em que ele é requerido..."

“...Quem diz que isso é irreal, reflita que neste país, na época em que a telefonia estava nas mãos do governo, pobre não tinha telefone. Ponto. Após a privatização do setor, um dos resultado mais óbvios e palpáveis foi que agora não é mais necessário ser rico para ter um telefone..."
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Luis Dantas
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Luis Dantas »

Edson Jr escreveu:O texto inicial do tópico indica outros dois textos. Lendo-os dá para ter uma idéia de que existe a pretensão de tornar a Educação privatizada e não-compulsória. Pelo menos é o que aparenta.


Eu dei uma olhada nos outros textos, e não acho que eles são completamente alinhados com este, nem que qualquer deles defende uma proposta tão radical quanto a extinção completa da educação pública e compulsória.

Caso não leia os textos indicados deixarei aqui dois trechos de um deles que talvez confirme minhas desconfianças (observe as partes em negrito/sublinhado):

"...Assim sendo, na verdade, acho que até há algo que o governo pode fazer, como na maioria dos casos : parar de atrapalhar. Deixar surgirem mais escolas particulares. Deixar as escolas escolherem suas ementas e cargas horárias. Deixar as escolas escolherem suas mensalidades. Acabar com a obrigatoriedade da matrícula de menores em escolas. Deixar os pais e seus filhos escolherem o que vão estudar e onde. Acabar com a exigência legal de diploma para o exercício da maioria das profissões em que ele é requerido..."


É, essa frase em negrito ficou meio estranha, mas no contexto me parece que foi mais uma distração do que uma proposta séria.

“...Quem diz que isso é irreal, reflita que neste país, na época em que a telefonia estava nas mãos do governo, pobre não tinha telefone. Ponto. Após a privatização do setor, um dos resultado mais óbvios e palpáveis foi que agora não é mais necessário ser rico para ter um telefone..."


A tese do texto realmente envolve a diminuição da interferência estatal e a crença de que o resultado será melhor para a sociedade. Não posso dizer que discordo. Não se segue necessariamente que ele (ou eu) defenda a extinção completa do ensino público e/ou do ensino compulsório.

É fato, no mínimo, que a interferência governamental na educação dos cidadãos é fantasiosa, excessivamente pesada e francamente incompetente, a ponto de não ser levada a sério nem pelos próprios governantes. Por exemplo, o Arruda, governador do DF que está nas manchetes por outro motivo, extinguiu há cerca de um ano as turmas para alunos especiais na Secretaria de Educação.
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Luis Dantas escreveu:É, essa frase em negrito ficou meio estranha, mas no contexto me parece que foi mais uma distração do que uma proposta séria.


Não tenho o costume de encarar "distrações" como coincidências. Isso se realmente foi uma "distração".

Muitos trechos dão margem para esse tipo de interpretação. Um outro exemplo:

"Aceita-se como natural, bom e até desejável a obrigatoriedade, repito, a obrigatoriedade coercitivamente imposta por lei, de todos os “cidadãos” de um país passarem grande parte de dez anos ou mais de suas vidas prestando expediente forçado para ouvir idéias selecionadas pelo governo como convenientes para sua “formação”."

...continua...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Luis Dantas escreveu:A tese do texto realmente envolve a diminuição da interferência estatal e a crença de que o resultado será melhor para a sociedade. Não posso dizer que discordo. Não se segue necessariamente que ele (ou eu) defenda a extinção completa do ensino público e/ou do ensino compulsório.


Bom, agora que estou lendo os textos com mais tranquilidade, acho que a idéia é a de privatizar a Educação sim, da mesma maneira que foi privatizado o setor telefônico.

Foi feito uma analogia querendo nos transmitir a idéia de que se a Educação for privatizada, teríamos um resultado melhor do que o atual, da mesma forma que o setor telefônico ficou melhor após sua privatização.

...continua...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Edson Jr »

Luis Dantas escreveu:É fato, no mínimo, que a interferência governamental na educação dos cidadãos é fantasiosa, excessivamente pesada e francamente incompetente, a ponto de não ser levada a sério nem pelos próprios governantes. Por exemplo, o Arruda, governador do DF que está nas manchetes por outro motivo, extinguiu há cerca de um ano as turmas para alunos especiais na Secretaria de Educação.


Sem dúvida!

Concordo totalmente...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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user f.k.a. Cabeção escreveu:Ainda que burocratas tenham nos iluminado com critérios de progressão continuada, supletivos, dependências, cotas e outras babaquices do gênero, a grande culpa aqui é do professor.


A experiência como professor tem me ensinado que é característico dos burocratas gerar confusão, para posteriormente encontrar os culpados de suas próprias lambanças. Para finalizar, inocentes são punidos e os louvores são atribuídos aos que nada fizeram...

Como a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, o bode expiatório acaba sempre sendo o professor...

...continua...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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user f.k.a. Cabeção escreveu:A atitude do professor honesto diante de alunos profundamente ignorantes é não somente de sinalizar a deficiência mas de investigar sua origem para em seguida atacá-la. Em outras épocas professores chegavam a ir a casa dos alunos em mais dificuldade para sondar quais eram as condições domésticas que poderiam estar causando um desempenho tão ruim. Era um trabalho árduo, mas do qual o profissional da educação extraía sua dignidade (e o seu salário).


Professor agora precisa também ser assistente social?!

Origens?!

A principal delas é "deficiências em séries anteriores". Tipo: Dar aulas de Matemática para um aluno do 9º ano que ainda não sabe Aritmética.

Motivos?!

O principal deles é a enorme pressão exercida sobre o professor para aprovar o aluno, mesmo que ele não saiba nada. O professor que se recusa a isso é muito mal visto, sob ameaça de ser transferido ou até mesmo removido para um outro setor.

Razões?!

Quanto maior o índice de aprovação, maior a verba...mesmo que o resultado seja maquiado...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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user f.k.a. Cabeção escreveu:Hoje o professor se coloca na confortável situação naqual ele pode ignorar um aluno incrivelmente ignorante e mal educado durante um ano inteiro, para no final do período, após inúmeras avaliações fúteis nas quais a única coisa que se examina foi o êxito desse mesmo aluno em trapacear, o professor decidir se deve ser "magnânimo", permitindo que a besta passe e vá importunar outro colega, ou se deve ser "justo", reprovando o aluno por não ter assimilado aquilo que ele não fez o menor esforço para ensinar. De qualquer forma, ele pode dormir tranquilo.


Dentre todos os profissionais, o professor é o que mais sofre de "exaustão emocional".

Essa situação que você julga confortável é, na realidade, a pior coisa que existe para o professor. É uma grande sensação de humilhação, pois o professor apenas "finge" ignorar alunos "vagabas", pois não possui autoridade para puní-los.

A escola virou um grande circo e querem que o professor seja o palhaço. Você não faz a mínima idéia das dificuldades que o professor passa para conseguir ensinar alguma coisa para um bando de alunos que não querem aprender.

...continua...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

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user f.k.a. Cabeção escreveu:É claro que a situação atual é calamitosa o bastante para que cada professor individual possa atribuir essa conduta invariável ao sistema, ao fato que ele recebe alunos já muito burros, que ele já tentou coisas mas nunca teve feedback, e etc. um caminhão inteiro de conversa fiada.


Não é conversa fiada. É fato!

user f.k.a. Cabeção escreveu:O fato é que sistematicamente os professores assumem a atitude mais fácil para eles, porque há muito aprenderão que a sua profissão se beneficia do fato de que a culpa quase nunca é atribuída a maus indivíduos e maus profissionais, mas ao "sistema" e outros coletivos indefinidos, que na verdade são apenas eles próprios, devidamente anonimizados na multidão.


Infelizmente boa parte dos professores sucumbem e ensinam meio que no piloto automático, mas isso está muito longe de ser o desejo da maioria. Alguns são extremamente esforçados e tentam tirar leite de pedra...e pior, normalmente são esses os que são os mais criticados pressionados pelos burocratas...
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Re: Educação Compulsória e Totalitarismo

Mensagem por Luis Dantas »

Uma matéria sobre um assunto relacionado:

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/v ... ?id=919542

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Jovens perdem a fé na escola

Estudo mostra que os jovens latino-americanos das periferias não acreditam que a escola pode melhorar sua vida

O volume da música é alto no fone de ouvido do iP od de Juliana (nome fictício*), 15 anos. A jovem caminha pela rua onde mora, no bairro Pilarzinho, em Curitiba, na busca de um futuro que nem mesmo ela sabe onde encontrar. Sem trabalho, nem emprego, Juliana resolveu abandonar seus estudos no ano passado, quando cursava o 1.º ano do ensino médio, na Escola Estadual Emiliano Perneta, a mais próxima de sua casa. Caçula de sete filhos de uma catadora de papel sem estudos, a adolescente até pensa em voltar para a escola e tentar uma vida melhor. “Não quero que seja a mesma (escola). Aqui é muito fraco, nunca vou conseguir passar no vestibular”, diz.

Escolha parecida fez o entregador Cristiano, 21 anos, morador de Colombo, na região metropolitana. Há quatro anos foi convidado a trocar de colégio, quando frequentava a 6.ª série, após ter brigado com o professor. Pai recente de uma menina de 6 meses e com um emprego que lhe garante o sustento, não se arrepende de ter abandonado os estudos. “Não acho que vou ser melhor ou pior se for ou não para a escola.”

Cristiano e Juliana fazem parte de uma juventude que resolveu deixar os bancos escolares porque não acredita mais que concluir o ensino básico ajuda a melhorar de vida. Essa tem sido a visão de mais da metade dos jovens latino-americanos que vivem na periferia de grandes cidades e abandonaram a escola. É o que mostra um estudo do professor e pesquisador Gon­zalo Saraví, do Centro de Inves­tigações e Estudos Superiores em Antropologia Social, no México.

A pesquisa foi publicada neste mês na revista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Criada em 1948, a Cepal é uma das cinco comissões econômicas regionais das Nações Unidas (ONU) que monitoram políticas de desenvolvimento.Segundo o estudo, dois em cada dez jovens brasileiros entre 15 e 24 anos abandonaram a escola e estão sem emprego (veja mais na tabela). A pesquisa mostra ainda que mais de metade dos jovens entre 20 e 24 anos não têm 12 anos de estudo. O tempo é considerado mínimo pela Cepal para evitar a pobreza.

Abandono

Apesar de avanços conquistados no acesso à educação, os países da América Latina ainda sofrem com as altas taxas de evasão escolar. Segundo o autor do estudo, que vive no México e respondeu às perguntas da Gazeta do Povo por e-mail, os jovens estão descrentes de que o mercado de trabalho assegura uma vida melhor, principalmente em função dos baixos salários e do subemprego. “São vulneráveis. Nem todos são delinquentes ou usam drogas. São jovens que não sabem o que fazer e não têm muitas oportunidades”, afirma.

O assistente de eletricista Tiago Santana da Luz, 20 anos, é um exemplo típico. Aos 18 anos, resolveu abandonar os estudos pela terceira vez. Estava na 5.ª série, no início da adolescência. Resolveu ajudar seu pai, que é eletricista. “O trabalho não é muito bom, mas é melhor do que estar na escola.”

Consumo

Saraví ressalta que o desinteresse pela escola por parte dos jovens gera um quadro de fragmentação social, em que o individualismo é reforçado e o consumo de bens materiais tem sido adotado como símbolo de identidade e inserção na sociedade. “Os jovens menos favorecidos também sofrem a pressão do consumo, o que gera angústias, frustrações e outros males, que podem se manifestar como problemas sociais.”

A pressão pelo consumo é outro dos muitos fatores que explicam a alta taxa de evasão dos jovens no ensino médio. A diretora da Escola Estadual Emiliano Perneta, Sandra Capelão, reafirma essa tendência. A escola é a mesma para onde Juliana não quer retornar. “Não tinha uniforme e não me sentia bem por causa disso. Minha mãe não tinha dinheiro para comprar”, diz a adolescente.

Outros fatores também são apontados pelo autor da pesquisa como responsáveis pela evasão, como a falta de segurança e ensino pouco atraente. “Sozinha a escola não resolve o problema. Os governos precisam adotar políticas de revalorização da educação, de modo que fortaleça a escola pública para que não seja sinônimo de lugar para pobres”, diz.

* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.
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Trancado