Johnny escreveu:Aqui no RV, aliás acho que somente aqui no RV, temos tantas argumentações favoráveis e contrárias, que ficar aqui discutindo tudo isso novamente parece que o RV foi criado agora
Essa é uma observação bastante pertinente, Johnny.
Eu já acusei o mesmo problema, duas ou três vezes, e depois desisti de esmurrar a ponta da faca. A gente acaba se convencendo que não vale a pena.
Lembro de varias ocasiões, no tempo em que eu tinha alguma vontade e paciência para escrever, onde eu expunha cuidadosamente minha teoria (digamos assim) sobre uma questão que envolvesse espiritualidade, apesar do meu horror a rótulos. Por incrível que possa parecer, na maioria dessas vezes eu fui ignorado. Ninguém respondeu, ninguém contestou, ninguém me chamou de feio ou bonito. Eu ficava ali, com aquela cara de bobo comum aos que falam sozinho, checando o tópico dia após dia, esperando que algum ateu, espírita, evangélico, palmeirense ou flamenguista comprasse a “briga” e me obrigasse a desenvolver a idéia inicial. Nada!
Depois de algum tempo, tópico já no limbo dos arquivos mortos, eu recebia um questionamento direto, tipo: prove-em-uma-postagem-que-deus-existe, e aí batia aquele desânimo, só em pensar em escrever tudo de novo, e sabendo que, a exemplo das outras vezes, eu poderia ser ignorado. É claro que esse “desânimo” é identificado automaticamente como fuga, assim como qualquer outra resposta que tente explicar uma possível falha no comportamento ateu. Aliás, se fosse apontar todas as falhas que venho percebendo ao longo desses anos de convivência, eu me tornaria um forista insuportável e odiado por todos, o que comprometeria minha permanência neste sítio (por alguns, tudo bem, por todos não dá).
Sem o escudo levantado, alguns colegas perceberiam que as críticas – as minhas pelo menos –, muito mais do que construtivas, tem um objetivo prático. Muitos debates interessantes (e faz tempo que não os temos) poderiam ter um desfecho mais “lucrativo” para religiosos e ateus se tivéssemos mais cuidados com certos comportamentos, se não fosse tão necessário manter-se fiel a um padrão. É uma pena. Nossos diálogos poderiam estar em um outro nível, hoje, e não estou propondo que ninguém abandone seu ateísmo. Posso dar um bom exemplo de um diálogo proficiente e civilizado, sem que nenhuma das partes mudasse de “lado”. Falando em exemplo, vou encerrar este post com um reload de um desses momentos em que tentei alertar para a atitude de ignorar e depois alegar falta de argumentos. Há cerca de dois anos, escrevi isto:
(...) Se você leu minha primeira participação neste tópico, eu aponto justamente essa simplificação que o cético costuma fazer do tema Deus. Qualquer fragmento da ciência humana precisa de muitos anos de estudo, dedicação, puro investimento, para ser conhecido e dominado. Ainda assim, parcialmente. Mas supomos que Deus (e tudo que envolve o caminho) são coisas frugais e corriqueiras. Duas ou três explicações e tudo estará resolvido. Infelizmente, não é tão simples assim.
(...) Ao longo dessas minhas insignificantes seiscentas e tantas participações no fórum, eu tenho, aqui e ali, falado sobre isso. Não quero que pareça uma reclamação, mas o fato de ser freqüentemente ignorado, dificulta muito a possibilidade de estabelecermos um diálogo construtivo. Todo o conhecimento humano segue etapas, por que esse seria diferente?
Essas perguntas, e qualquer outra que seu intelecto possa conceber, possuem respostas e podem ser alcançadas. Mas há um preço que, salvo engano, a mente cética não está disposta a pagar: o comprometimento com uma idéia que ela rejeita.
É claro que, quando escrevi “mente cética”, eu estava me referindo à mente do ateu. É comum esse tipo de confusão, no calor da conversa, e posso ter cometido esse erro outras vezes. Sou cem por cento favorável ao ceticismo, desde que não seja uma bandeira, e acho que é nele que nasce o conhecimento.