"Sugestão aos bem-pensantes"
Enviado: 02 Fev 2006, 17:05
Sugestão aos bem-pensantes : internem-se
por Olavo de Carvalho em 02 de fevereiro de 2006
Resumo: General russo afirma que o terrorismo internacional não existe, que é tudo invencionice de Washington. E há quem acredite na sinceridade de Moscou na luta contra o terror.
© 2006 MidiaSemMascara.org
Passou despercebido à grande mídia, e eu mesmo só reparei agora: durante a conferência "Axis for Peace 2005", promovida em novembro do ano passado pela rede http://www.voltaire.net com o apoio da Al-Jazeera e do canal chavista Telesur, o general russo Leonid Ivashov afirmou que o terrorismo internacional não existe, que é tudo invencionice de Washington. Os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, segundo ele, foram encenações, montagens criadas por George W. Bush para desestabilizar a ordem mundial da ONU e impor o domínio americano a todo o planeta.
Não, perplexo leitor, isso não é propaganda de vodca. Ivashov é vice-presidente da Academia Russa de Problemas Geopolíticos, foi secretário do Conselho de Ministros da Defesa da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e, por ocasião do 11 de setembro, era chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas. Bêbado ou sóbrio, ele é a voz de Vladimir Putin. E não consta que estivesse bêbado. Pela sua boca, foi o próprio governo russo que saiu alardeando a boa e velha explicação conspiratória da guerra contra o terrorismo.
Lançada originariamente pelos próprios organizadores da conferência, a teoria, em si, não tem pé nem cabeça. Nenhum governo democrático tão fiscalizado pela oposição e vasculhado pela mídia xereta como o dos EUA poderia montar em segredo uma farsa desse tamanho, desafio temível até para ditaduras com absoluto controle dos meios de informação.
Mas o que importa não é a teoria, na qual seus inventores jamais acreditaram. É o fato de que seja aprovada, ao menos da boca para fora, por tão ilustre hierarca de um país que, nominalmente, continua aliado dos EUA na guerra contra o terrorismo. Indícios de que a Rússia fazia jogo duplo nunca faltaram. As armas apreendidas com terroristas islâmicos são quase sempre russas, quando não são chinesas. Putin tem acalmado as suspeitas com a desculpa do contrabando. A fala do general assinala uma mudança de tática, bem ao velho estilo soviético, passando dialeticamente da ocultação à ostentação: se não existe terrorismo, as armas russas não precisam mais ser desmentidas; podem ser alardeadas como ajuda meritória prestada a puros heróis libertários. Aí a adesão à teoria psicótica começa a fazer sentido.
Mas a mudança de clave do discurso publicitário não é um capricho isolado. O próprio Ivashov deixou isso claro, ao usá-la como prefácio à idéia bem mais substantiva que defendeu em seguida: o fortalecimento da ONU, alicerçado numa "união geoestratégica da civilização", para deter a "expansão do imperialismo". Distraidamente, como quem não quer nada, ele sugeriu que essa nova estrutura de poder militar mundial deveria ter como centro a Organização de Cooperação de Shangai, que reúne Rússia, China, Cazaquistão, Quirziguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Que importa uma mentirinha a mais ou a menos, se é para servir a um plano tão grandioso? Uma ONU transformada em instrumento da Rússia e da China e devotada a paralisar ou destruir o poderio americano: esse é o único objetivo que logicamente condensa e explica toda a conduta recente não só dessas duas potências, mas de seus aliados e servidores conscientes ou inconscientes nos organismos internacionais, nos partidos de esquerda, nas organizações terroristas, nas quadrilhas de narcotraficantes hoje quase todas unificadas sob o comando da máfia russa (que é o próprio governo russo), na rede de ONGs ativistas espalhadas pelo mundo, na mídia elegante e até nos círculos alegadamente "nacionalistas" das nações periféricas (está vendo, Andrade Nery? Não me esqueci de você). O desertor da KGB Anatoliy Golytsin já tinha revelado esse plano na década de 80. Vários estudiosos, como Stanislav Lunev, Jeffrey R. Nyquist, Constantine C. Menges, Jack Wheeler e até eu que sou mais bobo, concordávamos que, adivinhação ou não, Golitsyn não estava de todo errado. Foi fácil aos bem-pensantes livrar-se de nós chamando-nos malucos e "teóricos da conspiração". Mas, agora, que é que eles que vão fazer com o general Ivashov? Ou mandam interná-lo, ou nos dão alta do hospício. De quebra, sugiro que se internem a si próprios, como Simão Bacamarte.
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4541
por Olavo de Carvalho em 02 de fevereiro de 2006
Resumo: General russo afirma que o terrorismo internacional não existe, que é tudo invencionice de Washington. E há quem acredite na sinceridade de Moscou na luta contra o terror.
© 2006 MidiaSemMascara.org
Passou despercebido à grande mídia, e eu mesmo só reparei agora: durante a conferência "Axis for Peace 2005", promovida em novembro do ano passado pela rede http://www.voltaire.net com o apoio da Al-Jazeera e do canal chavista Telesur, o general russo Leonid Ivashov afirmou que o terrorismo internacional não existe, que é tudo invencionice de Washington. Os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, segundo ele, foram encenações, montagens criadas por George W. Bush para desestabilizar a ordem mundial da ONU e impor o domínio americano a todo o planeta.
Não, perplexo leitor, isso não é propaganda de vodca. Ivashov é vice-presidente da Academia Russa de Problemas Geopolíticos, foi secretário do Conselho de Ministros da Defesa da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e, por ocasião do 11 de setembro, era chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas. Bêbado ou sóbrio, ele é a voz de Vladimir Putin. E não consta que estivesse bêbado. Pela sua boca, foi o próprio governo russo que saiu alardeando a boa e velha explicação conspiratória da guerra contra o terrorismo.
Lançada originariamente pelos próprios organizadores da conferência, a teoria, em si, não tem pé nem cabeça. Nenhum governo democrático tão fiscalizado pela oposição e vasculhado pela mídia xereta como o dos EUA poderia montar em segredo uma farsa desse tamanho, desafio temível até para ditaduras com absoluto controle dos meios de informação.
Mas o que importa não é a teoria, na qual seus inventores jamais acreditaram. É o fato de que seja aprovada, ao menos da boca para fora, por tão ilustre hierarca de um país que, nominalmente, continua aliado dos EUA na guerra contra o terrorismo. Indícios de que a Rússia fazia jogo duplo nunca faltaram. As armas apreendidas com terroristas islâmicos são quase sempre russas, quando não são chinesas. Putin tem acalmado as suspeitas com a desculpa do contrabando. A fala do general assinala uma mudança de tática, bem ao velho estilo soviético, passando dialeticamente da ocultação à ostentação: se não existe terrorismo, as armas russas não precisam mais ser desmentidas; podem ser alardeadas como ajuda meritória prestada a puros heróis libertários. Aí a adesão à teoria psicótica começa a fazer sentido.
Mas a mudança de clave do discurso publicitário não é um capricho isolado. O próprio Ivashov deixou isso claro, ao usá-la como prefácio à idéia bem mais substantiva que defendeu em seguida: o fortalecimento da ONU, alicerçado numa "união geoestratégica da civilização", para deter a "expansão do imperialismo". Distraidamente, como quem não quer nada, ele sugeriu que essa nova estrutura de poder militar mundial deveria ter como centro a Organização de Cooperação de Shangai, que reúne Rússia, China, Cazaquistão, Quirziguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Que importa uma mentirinha a mais ou a menos, se é para servir a um plano tão grandioso? Uma ONU transformada em instrumento da Rússia e da China e devotada a paralisar ou destruir o poderio americano: esse é o único objetivo que logicamente condensa e explica toda a conduta recente não só dessas duas potências, mas de seus aliados e servidores conscientes ou inconscientes nos organismos internacionais, nos partidos de esquerda, nas organizações terroristas, nas quadrilhas de narcotraficantes hoje quase todas unificadas sob o comando da máfia russa (que é o próprio governo russo), na rede de ONGs ativistas espalhadas pelo mundo, na mídia elegante e até nos círculos alegadamente "nacionalistas" das nações periféricas (está vendo, Andrade Nery? Não me esqueci de você). O desertor da KGB Anatoliy Golytsin já tinha revelado esse plano na década de 80. Vários estudiosos, como Stanislav Lunev, Jeffrey R. Nyquist, Constantine C. Menges, Jack Wheeler e até eu que sou mais bobo, concordávamos que, adivinhação ou não, Golitsyn não estava de todo errado. Foi fácil aos bem-pensantes livrar-se de nós chamando-nos malucos e "teóricos da conspiração". Mas, agora, que é que eles que vão fazer com o general Ivashov? Ou mandam interná-lo, ou nos dão alta do hospício. De quebra, sugiro que se internem a si próprios, como Simão Bacamarte.
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4541