O seu Destino é Morrer
19/01/2010
“Destino” é uma palavra que me incomoda. Não no sentido literal, que se refere ao ponto final de uma jornada, ou à utilidade de algo ou alguém, mas no sentido que a maioria das culturas usa a palavra pra injetar significado nas nossas vidas.
Volta e meia você vai ler ou ouvir por aí que certas pessoas são destinadas a isso ou aquilo, ou então um pastor vai te dizer que “Deus tem um plano pra você”. Em certo ponto, confrontado com a noção de que minha vida pode acabar a qualquer momento por causa de uma fatalidade, era confortante repetir pra mim mesmo que isso não vai acontecer, porque meu tempo aqui tem que ter algum propósito e tem algum papel que estou aqui pra cobrir.
A real, galerinha, é que isso é uma tremenda besteira. Me parece apropriado falar disso hoje, quando todo mundo está de olho nas merdas que aconteceram no Haiti.
Pense nisso: quantas vidas foram destruídas em questão de horas? Quantas ambições, laços afetivos, quanta esperança desapareceu ali, junto daquelas vidas? Qual era o destino delas nesse mundo? Morrer em um terremoto?
Se você está lendo esse texto em uma cadeira confortável, em um ambiente relativamente seguro, isso não passa de sorte. Você faz parte uma parcela privilegiada da população do mundo, pelo menos por enquanto. Não se esqueça que a grande maioria das pessoas que morreram no 11 de Setembro eram bem-sucedidas e trabalhavam num dos lugares mais importantes da civilização ocidental que nós tanto adoramos.
Não existe destino. Não existe um plano secreto divino por trás das nossas vidas. Nós somos parte da natureza, e não há avanço tecnológico ou social que mude isso. E a despeito de toda sua beleza e majestade, a natureza continua sendo implacável e imparcial. Esteja no lugar errado na hora errada, e você vai se foder.
A vida é injusta. E não digo isso num tom ressentido, e sim prático. Algumas pessoas morrem de maneira estúpida e outras vivem vidas longas e cheias de experiências.
Você pode fazer o seu melhor e evitar correr riscos desnecessários, e pode aproveitar o seu tempo aqui da maneira mais construtiva possível. Logicamente, isso aumenta as suas chances de ser mais feliz e de afetar os outros ao seu redor positivamente.
Só por favor, não confunda isso com destino. Independente do seu valor pro mundo, essa empreitada pode acabar de maneira súbita. E é triste e até desanimador, mas é como acontece, e encarar os fatos e continuar vivendo a vida de cabeça erguida a despeito disso é uma das (poucas) qualidades da raça humana. Não sou contra a perseverança, apenas contra a ilusão de que somos todos protagonistas de um roteiro com final feliz e estrutura dramática.
O seu destino é morrer. Mas até que isso aconteça, espero que você viva sabiamente e tenha muita sorte.
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Por muito tempo tive a visão espírita de Karma coletivo e resgate... e essas baboseiras todas.
Admito que ainda recém saído dessa ilusão toda, a qual permaneci muitos anos, é muito complicado reconstruir todo o conceito de realidade novamente.
Esse texto me deu uma boa dica sobre o conceito de destino, que ainda martela tanto na minha cabeça após todo esse tempo na história do carma.
Gostaria de alguns comentários e opiniões dos colegas, que certamente me ajudarão a me situar nesse "velho novo mundo".
(Óbvio que não vou alimentar, nem considerar os comentários dos trolls....que infelizmente como em todos os fóruns, marcam grande presença por aqui...)