Botanico escreveu: Hitler, especialmente quando assumiu o controle total das forças militares em meados de 1941, NUNCA DAVA ATENÇÃO AOS SEUS GENERAIS. Ele simplesmente decidia e os milicos só estavam autorizados a dizer Muuu! Tem um livro, o Julgamento de Nurembergue, de Joe J. Heydecker e Johanes Leeb, onde o Alto Comandante da Wermacht, Gen. Wilhelm Keitel diz mais ou menos isso:
_ Eu estava autorizado e OBRIGADO a defender os meus pontos de vista militares. Quão difícil isso era! Era praticamente impossível manter com Hitler o que chamamos de conversa. Quando começa falar, não admitia ser interrompido. Dizia o que queria e não permitia nenhuma discussão.
Relatos de generais alemães DEPOIS da guerra devem sempre ser analisados comparativamente às declarações destes mesmos generais antes e durante a guerra.
Quando Hitler iniciou suas aventuras com a ocupação militar da Renânia, seu alto comando foi unânime em adverti-lo que se ingleses e franceses reagissem a Alemanha não teria a menor condição de resistir a uma retaliação, já que a Wermatch estava em construção e não seria páreo contra as potências inimigas. Mas ingleses e franceses não fizeram nada depois da ocupação da Renânia, nem depois da anexação da Áustria, cederam de mão beijada os sudetos e ficaram só olhando quando o restante da Tchecoslováquia foi ocupada. Cada um destes eventos fortaleceu a posição de Hitler perante o povo alemão e perante o próprio oficialato germânico, afinal, alguém que obtinha tantas vitórias contra todas as probabilidades talvez tivesse mesmo algum gênio. No final de 1941, quando a Alemanha dominava toda a Europa continental e posicionava suas forças às portas de Moscou, os generais calaram, não por terem sido forçados a isto, mas porque não viam como dizer que Hitler estava errado, se até então tudo que decidiu e ordenou deu certo. As vozes discordantes só voltam a aparecer depois de Stalingrado, ou seja, os generais alemães apoiavam Hitler na vitória e se opunham a ele na derrota, não é lá uma posição moral muito forte.Botanico escreveu: Com Stalin, entretanto, havia uma diferença: ele OUVIA os seus subordinados. Além disso, o seu país estava sob ataque, já havia perdido um terço do território mais importante e tinha de deter o inimigo de qualquer jeito e por isso não podia se dar ao luxo de muitas atitudes impensadas. Ele transferiu as fábricas que pôde para além dos Urais e lá, nas piores condições, as mulheres soviéticas trabalhavam duro para produzir os armamentos que ele precisava. Centenas de milhares morreram por conta disso, mas seguraram a bronca.
A invasão da Rússia só foi aquele passeio para os alemães porque Stalin ignorou sistematicamente todos os avisos de sua inteligência militar de que um ataque nazista era iminente.
Se falamos em burrice, aquela merecia ir pro Guinness Book, pois qualquer alemão de inteligência normal concluiu alguma coisa da visão de todos aqueles trens carregados de soldados e equipamento militar indo sistematicamente para o leste por meses, mas Stalin estava certo que sua intuição estava acima das evidências.
Depois do devastador ataque alemão Stalin caiu em reclusão, sem suas ordens a máquina de guerra soviética ficou paralisada e os alemães fizeram a festa. Quando retomou o comando se preocupou prioritariamente em garantir que os generais não usassem a guerra como oportunidade para uma conspiração e deu poderes à NKVD e aos oficiais políticos para controlarem o oficialato em detrimento das estratégias urgentes necessárias para deter o avanço alemão.
Só quando a viola já estava em cacos, Moscou estava à beira da queda e parecia que nada deteria os alemães no Cáucaso é que Stalin mudou suas posições, cedeu na repressão política aos militares e deu mais poderes ao seu Estado Maior, permitindo a Zhukov fazer o que fez, primeiro em Moscou, depois em Stalingrado.Botanico escreveu: Stalin ainda tinha outra grande sorte a seu favor: ele tinha em seu exército os três maiores generais do Mundo: o General Inverno, o General Barro e o General Distância. O muito burro Hitler adiou em seis semanas cruciais a invasão da União Soviética para desviar o seu exército e tomar a Iugoslávia e a Grécia tudo porque o seu aliado Mussolini se meteu numa aventura militar ali e, advinhou, tomou a maior surra. O muito burro Hitler fez uma associação errada: se Mussolini caísse, isso seria visto como um mau agouro sobre a Alemanha, sugerindo que Hitler também poderia cair... Já dizia a lenda: qualquer país que tiver a Itália como aliada perderá a guerra. E foi o que aconteceu. Hindemburg já dizia a respeito dele: _ Mussolini não fará dos italianos qualquer outra coisa além de italianos.
Esta é uma questão decisiva. Se Hitler não tivesse socorrido Mussolini na Grécia é possível que tivesse conseguido tomar Moscou e depois sabe-se-lá qual seria o destino da guerra.
Mas também é preciso lembrar que Hitler não tomou Moscou porque priorizou a ocupação da Ucrania, para garantir o suprimento de grãos para a Alemanha, logo é possível que o mês que perderam talvez garantisse uma conquista mais fácil no front central, mas não necessariamente uma vitória definitiva.Fi
Botanico escreveu: nalmente as orelhas para os chefes ocidentais. Rooselvelt mereceria orelhas ainda maiores! Está pensando que o império que Stalin fez avançando até a Alemanha Oriental foi só obra do poderio militar soviético? Não! Teve também a bondade e a ingenuidade do presidente americano. Fizeram um acordo: estabeleceram uma linha demarcatória das zonas de ocupação pós-guerra. Rooselvelt achou que dando Berlin, Viena e Praga aos soviéticos, Stalin se mostraria, após a Guerra, um bom e agradecido camarada... Nunca se soube se alguém disse isso a Stalin, mas caso tenha sido dito no dia da sua morte, então sabemos agora do que foi que ele morreu: _ Foi de tanto rir.
Bem, na verdade Viena ficou fora da Cortina de Ferro e os aliados ainda conseguiram salvar metade de Berlim, o que foi um feito, já que os soviéticos perderam centenas de milhares para conquistar a cidade e não seria surpresa se decidissem não ceder nem um metro quadrado dela.
A acusação a Roosevelt é muito repetida e baseada em fatos muito bem documentados que evidenciam que ele caiu na lábia de Stalin, ao contrário de Churchill, que sacou bem qual era a do bigodudo.
Mas no fim das contas a questão era simplesmente matemática. Os soviéticos tinham duzentas divisões na Europa, quem ia tirá-las de lá?Botanico escreveu: A primeira ofensiva das Ardenas (depois eu falo da segunda)...
Sendo purista, na Segunda Guerra houve a Ofensiva das Ardenas e a Contra-Ofensiva das Ardenas, que é como a maioria dos historiadores militares se referem aos dois eventos.Botanico escreveu: ...foi um ACASO. O generalato alemão queria repetir exatamente o que havia sido feito na primeira guerra mundial: invadir a Bélgica e contornar a linha Maginot. Mas fazer tudo daquele mesmo jeito. Já estava decidido. Os aliados só não ocuparam suas posições dentro da Bélgica pois esta aferrava-se à sua neutralidade, mas era o que o Plano Doyle (nome do rio onde pretendiam entrincheira-se no território Belga) propunha.
Heinz Guderian, o gênio alemão dos blindados, tanto nas máquinas, quanto nos conceitos de seu uso, não achava esse plano viável. Os franceses e ingleses acreditavam que a região das Ardenas não necessitava de muitas defesas, pois era coberta de matas e cheia de colinas. Seria "impossível" para os tanques passarem por ali. Mas Guderian pensava o contrário, pois embora isso fosse verdade, as Ardenas eram cortadas por estradas em bom estado (que poderiam ter sido bloqueadas de uma maneira simplissima: derrubando-se as árvores dos arredores sobre elas). Comentou isso com Erich Manstein que por acaso almoçou com Hitler e falou-lhe dessa ideia. Hitler gostou da manobra tão atrevida e anunciou ao generalato o "seu" novo plano (ele tinha essa mania: alguém lhe apresentava uma boa ideia e aí ele passava a dizer que fora toda sua...).
Segundo a História oficial os planos de invasão pela Bélgica vazaram e forçaram Hitler a adotar o plano alternativo via Ardenas.Botanico escreveu: O resultado hoje sabemos, mas poderia ter sido ainda pior. Guderian era subordinado ao general Kleist, que não botava muita fé na capacidade dos blindados. Quando a invasão se fez, Guderian queria continuar avançando, pois não encontrava muita oposição à sua frente. Numa dada altura, Kleist o mandou parar e Guderian chiou horreres e conseguiu mais 24 horas para continuar avançando e aproveitou-as ao máximo. Depois disso, Guderian recebeu uma ordem draconiana para parar mesmo, o que o levou a apresentar sua demissão, que Kleist aceitou muito feliz. Só que o comandante geral, Karl Gerd von Rudnstedt não gostou e fez Guderian continuar avançando por um subterfúgio: seu quartel general ficaria onde ele estava, enquanto suas tropas faziam um "reconhecimento com amplos efetivos".
É preciso lembrar que a moderna guerra de tanques, de alta mobilidade era coisa inédita e ninguém sabia bem no que daria. Hitler era um ex-cabo marcado por suas lembranças na Primeira Guerra e temia os riscos de manter os tanques muito distantes do resto da infantaria. Só depois dos eventos ficou clara para ele a nova realidade da guerra motorizada, o que foi um erro grave, mas no fim os alemães venceram de qualquer jeito.Botanico escreveu: Há muito o que dizer, mas o que aconteceu e que de certa forma foi decisivo na Guerra é que os tanques alemães pararam perto de Dunquerque, onde se concentravam os remanescentes dos exércitos aliados e que estavam sendo evacuados para a Inglaterra. Por que pararam? Porque Hermman Goering chegou todo pomposo para Hitler e pediu para que deixasse aquele setor por conta da força aérea, que liquidaria os barcos e soldados inimigos. O problema é que os incêndios impossibilitavam a visão dos pilotos e eles não conseguiram muita coisa que teria sido conseguida se as forças terrestres continuassem avançando.
Como o Nosso Guia Mulla, Hitler também dava ouvidos a gente errada...
Até mesmo Churchill reconheceu que Dunquerque foi uma derrota terrível que não devia ser comemorada. Os ingleses deixaram nas praias praticamente todo seu armamento e suprimentos, incluído tanques, canhões e veículos de transporte geral, além de comida, fardamentos e outros recursos que foram parar de graça nas mãos alemãs.
É certo que estes soldados, experientes e conscientes da nova realidade da guerra total deram novo ânimo aos britânicos e garantiram que os novos recrutas fossem treinados adequadamente, mas por si só eles não teriam como evitar uma invasão alemã caso se concretizasse.Botanico escreveu: Hitler não tinha como invadir a Inglaterra porque não tinha armada (aliás, ele era de mentalidade terrestre). Cagou no chão e sentou em cima quando permitiu que a força expedicionária britânica escapasse. Sacomé: em uma semana se constrói um avião de caça; um soldado leva nove meses para ser gerado, pelo menos 16 anos para atingir capacidade física para combate, um ou mais anos para ser treinado...
Além disso, como eu o comparei ao Mulla, confiava em pessoas erradas. Goering fora um ás na primeira guerra, mas agora era um gordo preguiçoso, corruto, lider incompetente, cheio de cargos pomposos criados só para ele... Taí um que se ele tivesse se livrado e substituído por um Adolf Galland, talvez a Alemanha não vencesse a guerra, mas que ia dar muito mais trabalho, não há dúvidas.
A idéia de que a força decisiva para evitar a invasão alemã das Ilhas Britânicas foi a Royal Navy é um erro muito repetido.
A Marinha de Sua Majestade era poderosa, mas venceria a Batalha da Inglaterra quem conquistasse a supremacia aérea. Como provado ao longo da guerra, mesmo os grandes encouraçados eram impotentes contra ataques aéreos sistemáticos, assim a única arma capaz de salvar a Inglaterra era a RAF, seus Spitfires e seus heróicos pilotos.
Foram estes pilotos, naquele momento cada qual mais valioso que mil soldados ou marinheiros, que livraram a Inglaterra de sua hora mais negra.Botanico escreveu: Mas sabe, Acauam, aqui tudo há uma ironia: NÃO HAVIA MOTIVOS PARA HITLER ATACAR A UNIÃO SOVIÉTICA. A guerra consumia demais os recursos (outra causa do enfraquecimento de Hitler foi que os sócios que arrumou eram nações economicamente fracas, que tinham forças armadas muito maiores do que suas economias podiam sustentar), mas a União Soviética os fornecia generosamente! O fluxo de matéria prima que Hitler precisava nunca cessou. De onde ele teria tirado a besteira de dizer que "se não invadir a União Soviética, não terei mais recursos e aí tenho de terminar a Guerra!".
Era óbvio que Hitler tinha tantos motivos para não confiar em Stalin quanto Stalin tinha para não confiar em Hitler, logo, quem traísse o pacto primeiro sairia em vantagem.Botanico escreveu: As SS e Gestapo não eram sustentadas por obra e graça do Espírito Santo... Elas também consumiam recursos e mantinham ocupados soldados que poderiam estar lutando contra quem deviam mesmo lutar. Realmente no fim da Guerra a coisa ficou muito mais crítica, pois comboios militares urgentes tinham de esperar antes passar um comboio com prisioneiros a serem exterminados...
SS e Gestapo proviam os próprios recursos escravizando populações inteiras e saqueando os países ocupados. Foi somente quando precisaram de equipamentos pesados para continuar o programa de extermínio, como vagões para continuar o fluxo de prisioneiros para os campos, que entraram em conflito com as necessidades do front e acabaram, absurdamente, recebendo prioridade.Botanico escreveu: Bem, sobre os ucranianos lembra-me uma vaga discussão racial de que eles teriam algum aparentamento germânico e por isso podiam ser aceitos nas forças armadas alemãs, assim como lituanos, estonianos e letonianos. Mas esse comportamento brutal contra os russos em geral, no fim foi mais um prego no caixão da campanha alemã na União Soviética. Tivesse, como eu disse, sido esperto para captar a ira russa... Mas para ele, todo russo necessariamente era comunista, que era uma crença inventada por um judeu e por isso...
A opção de Hitler na guerra contra a Rússia foi a de guerra de aniquilação, nas palavras do próprio. É o tipo de coisa que motiva o máximo de resistência, mas idéia dos alemães era justamente não deixar ninguém vivo para resistir.Botanico escreveu: Quanto à França, pelo fato de serem os franceses "semelhantes arianos", a ocupação foi mais mansa. Petain, Laval e muitos outros colaboraram com os nazistas. Também ir contra, com a bota alemã na sua cabeça ia adiantar o que? No fim umas tantas francesas que nada fizeram demais do que namorar e/ou casar com algum alemão foram perseguidas e humilhadas e outros (como o Jean Balestre, lá da Fórmula 1) passaram batido.
Dentro da estúpida ideologia nazista, os franceses eram arianos, mesmo que não puros arianos como seriam os alemães. Considerando que “ariano” é um conceito sem qualquer base científica, inventado por um bando de malucos esotéricos simpatizantes de versões distorcidas de doutrinas orientais, os franceses saíram até no lucro, pois escaparam da faceta mais brutal da sanha assassina alemã.
E aquelas mulheres que tiveram os cabelos raspados e foram exibidas em público por terem compactuado com o inimigo de alguma forma talvez não merecessem todas tal humilhação, mesmo porque boa parte dos franceses enfiou o rabo entre as pernas e obedeceu sem chiar tudo que os alemães mandaram, mas no frigir dos ovos, em meio à catástrofe moral que foi a guerra, com milhões executados sumariamente ou deixados morrer de fome, passar algumas horas de vexame fica no fim da fila das injustiças.Botanico escreveu: Num dos documentários que tenho, há uma frase de Stalin que diz:
_ É preciso ser muito corajoso para ser um covarde no exército soviético.
Do que sei, houve apenas UM desertor americano que foi fuzilado por isso (vi um filme com a história dele), mas os soviéticos? Em geral não eram fuzilados: iam para os batalhões disciplinadores. Que faziam esses batalhões? Tem um campo minado ali: vão andando no meio dele e não adianta correr, pois as metralhadoras estão bem aqui atrás de vocês...
Na verdade Stalin ordenou que o NKVD posicionasse metralhadoras na retaguarda das linhas combatentes soviéticas e fuzilassem sumariamente aqueles que recuassem...Botanico escreveu: Mas questão de luta, de batalha, de arrojo, faz muita diferença. Na segunda batalha das Ardenas, o exército alemão chegou até Bagstone, formando um saliente onde suas forças se concentravam. O general Geoge Patton achou que a melhor coisa a fazer era lançar o seu exército contra a retaguarda do saliente, fazendo assim com que as armas e os soldados alemães ficassem aprisionados e, sem receber recursos, acabariam se rendendo. Mas Bradley não aceitou sua sugestão e aí o que se foi ir "empurrando" os alemães de volta para as suas posições quando o tempo melhorou e a força aérea pode agir.
Os que viam as ideias táticas de Patton ficavam horrorizados:
_ Ele não dá a menor consideração às vidas dos soldados que podem ser perdidas nessas ações sem planejamento meticuloso.
Só que a realidade mostrava exatamente o contrário: na guerra, de tanto pensar, morreu um burro. Bernard Montgomerry era mestre nisso. Planejava demais, e o que pode acontecer é que neste tempo perdido, o próprio inimigo pode planejar a sua surpresa. Agora se o inimigo for atacado de surpresa, quem se ferra é ele. Quanto custou aos americanos a jogada de Bradley para ir "empurrando"? 80.000 mortos só lá nas Ardenas e mais cinco meses de guerra.
Podemos ter uma discussão infindável sobre isto, mesmo porque não troco um Montgomery por dois Pattons, apesar de gostar daquele cabotino de revolver com coronha de madrepérola.
O fato é que a contra-ofensiva das Ardenas, no médio prazo, tinha valor apenas moral. Ao contrário do que houve em 1940, agora eram os aliados que tinham supremacia aérea e linhas de suprimento inesgotáveis, o esgotamento da contra-ofensiva era questão de tempo. Além disto, cada unidade de recurso alemão aplicado nas Ardenas era tirado da frente leste, favorecendo o avanço russo, o que não parece lá grande vantagem.Botanico escreveu: Pois é. Mas felizmente, como eu já disse, líderes totalitários tendem a ser MUITO BURROS.
Prefiro vê-los como demoníacos.
Por vezes o puro mal se sobrepõe à inteligência e só pode ser detido por uma força de espírito superior àquela que o mal invoca.
Felizmente, daquela vez, esta força de espírito venceu.