Partido Libertário (LIBER), conhecem?

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Apáte
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Apáte »

Bando de maconheiro de orkut, isso sim.
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Felipp Jarbas
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Felipp Jarbas »

Acho interessante.Ajuda a desfazer o estereótipo da direita conservadora.
Afirmação extraordinária requer evidência extraordinária.Carl Sagan

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Respeito a iniciativa, é legal ver esse tipo de idéia emergindo em gerações jovens, significa que esses conceitos estão penetrando. Há 15 anos atrás muito dificilmente se encontraria um universitário de 20 anos defendendo as virtudes de uma economia de livre-mercado, hoje em fóruns e blogs você consegue ver que eles não são poucos.

Contudo eu sempre fico com um pé atras nos abusos que algumas pessoas cometem contra conceitos como liberdade.

"Liberação das drogas", "liberação do casamento gay", "liberação do aborto" na verdade são imposições disfarçadas, pois atentam contra valores e regras morais que as pessoas procuram proteger mediante leis. O fato do Estado fornecer a lei de maneira praticamente monopolista não muda o fato da maioria das pessoas não praticar ou endossar e nem mesmo querer viver numa sociedade que permita esse tipo de comportamento.

Não considero a solução monopolista da proibição estatal muito mais adequada, acho que um primeiro passo no caminho para uma maior liberdade de escolha seria, ao contrário, dar a cada localidade, seja no nível comunal, municipal, estadual mecanismos para definir suas próprias leis.

Por tras da idéia do oba-oba e do liberou geral está uma corrupção do conceito libertário básico que é o de "sua casa, seu castelo". Se eu e um grupo de pessoas próximo queremos vincular nossas propriedades a um regulamento comum que proibe, por exemplo a prática da sodomia dentro daqueles domínios, foda-se o que você pensa a respeito de suas liberdades individuais, você que vá dar a bunda em outra freguesia.
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Já demonstrei aqui por diversas ocasiões porque o problema das externalidades e dos bens públicos é uma refutação amadora do libertarianismo.

O sistema de preços é capaz de lidar com qualquer contingência que tenha impacto sobre a valuação dos indivíduos, e isso se dá tanto na alteração dos preços dos produtos e contratos atuais quanto em possíveis alterações dos produtos e contratos que atualmente são produzidos.

Se as pessoas são afetadas em algum nível pela poluição ou violência, elas terão incentivos para comprar produtos e contratos que as protejam ou ao menos reparem os danos que lhes são causados, e os incentivos estarão todos voltados para que os fornecedores encontrem as soluções mais eficientes para todos.

No sistema burocrático, existe um encarregado de decidir arbitrariamente quanta poluição é admissível para se alcançar "metas de progresso". Na verdade, o que existe é apenas uma disputa entre os lobbies dos poluidores e ecológicos, que raramente chegam a uma solução economicamente eficiente simplesmente porque a não há uma negociação de mercado entre eles.

Como eu gosto de enfatizar, todo o argumento estatismo vs. libertarianismo pode ser resolvido na medida que lembrarmos que o Estado não é uma entidade mística da qual emana a ordem a social, mas apenas uma corporação de burocratas motivados por seus próprios interesses e apontando suas armas para você.
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Fernando Silva
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Fernando Silva »

Usuário deletado escreveu:Comentário interessante sobre o estatuto:

Segundo esses libertários, o proprietário pode fazer o que quiser com sua propriedade. Pode desmatar árvores nativas e destruir o ecossistema; pode transformar terras férteis em deserto; pode poluir o solo; transformar a propriedade em depósito de lixo tóxico, poluindo, com isso, os lençóis freáticos; pode erguer um ponto de venda de drogas em plena zona residencial, atraindo todas as espécies de viciados e degenerados para a zona, sem respeitar a tranqüilidade e a moralidade pública dos habitantes da região; pode construir um prédio tão alto, sem observar o plano direto da cidade, prejudicando a iluminação dos prédios vizinhos; pode transformar um imóvel em depósito de lixo, desvalorizando os imóveis vizinhos com essa ação; etc. Os prejudicados que se fodam, pq o proprietário é senhor absoluto do imóvel. E em caso de guerra declarada, o estado pode requisitar o imóvel para promover a autodefesa? Segundo o estatuto não.


Fonte

O que significa que, se vivêssemos em um barco, cada um poderia fazer buracos no casco ou queimar a parte que lhe pertence sem dar satisfações aos demais passageiros.

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Herf
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Herf »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Já demonstrei aqui por diversas ocasiões porque o problema das externalidades e dos bens públicos é uma refutação amadora do libertarianismo.

O sistema de preços é capaz de lidar com qualquer contingência que tenha impacto sobre a valuação dos indivíduos, e isso se dá tanto na alteração dos preços dos produtos e contratos atuais quanto em possíveis alterações dos produtos e contratos que atualmente são produzidos.

Se as pessoas são afetadas em algum nível pela poluição ou violência, elas teram incentivos para comprar produtos e contratos que as protejam ou ao menos reparem os danos que lhes são causados, e os incentivos estarão todos voltados para que os fornecedores encontrem as soluções mais eficientes para todos.

No sistema burocrático, existe um encarregado de decidir arbitrariamente quanta poluição é admissível para se alcançar "metas de progresso". Na verdade, o que existe é apenas uma disputa entre os lobbies dos poluidores e ecológicos, que raramente chegam a uma solução economicamente eficiente simplesmente porque a não há uma negociação de mercado entre eles.

Como eu gosto de enfatizar, todo o argumento estatismo vs. libertarianismo pode ser resolvido na medida que lembrarmos que o Estado não é uma entidade mística da qual emana a ordem a social, mas apenas uma corporação de burocratas motivados por seus próprios interesses e apontando suas armas para você.

E, além disso, exigir que libertários tenham uma resposta pronta sobre como as condutas externalizantes seriam reprimidas, que possam prever exatamente que tipo de serviço surgiria em uma sociedade sem alguma entidade que pudesse ser classificada como "estado", de que forma os meios de produção e as pessoas se organizariam para gerar o melhor resultado, é exigir justamente o que eles pregam como impossível. É o problema do cálculo econômico.

Usando a velha analogia da produção de calçados, eu - e também todos os economicamente liberais não-libertários - não sou a favor da produção estatal de calçados, mas nem por isso significa que eu saiba de antemão quantas fábricas de calçados existirão, quantas unidades elas produzirão, de quais materiais e modelos eles serão, como se dará a distribuição dos produtos e a sua precificação em um cenário "anarcocalçadista". Um alarmista do regulacionismo calçadista poderia questionar que todo o couro do mundo poderia ser fatalmente usado para outros fins que não o fabrico de calçados, e então as pessoas seriam condenadas ao uso de calçados de baixa qualidade, tudo pela "fé cega e devoção religiosa ao princípio da propriedade privada da pele bovina".

Ainda que eu pudesse dizer pouco ou nada sobre os problemas relativos a produção e distribuição, posso defender esse modelo pela crença de que as coisas se ajeitarão de alguma forma inevitavelmente, pela simples existência de pessoas que demandam calçados e de outras que gostariam de ganhar com isso.

Para questões como essa e a do meio ambiente só se pode fazer apostas sobre os cenários que surgiriam. Como o David Friedman teoriza sobre as "agências de proteção" em cenários anarcocapitalistas, sem qualquer estado para prover a segurança. Mas tendo em mente que são apenas apostas, sem perder a noção de que as relações de troca entre os agentes são muito complexas para qualquer um dizer com segurança qual a melhor disposição de bens e serviços a ser adotada, e ainda conceder o poder para execução dessas políticas a alguns seres humanos falíveis e com interesses pessoais como qualquer outro.

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DarkWings
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por DarkWings »

Não sei não. A única coisa Liber que eu conheço é aquela cerveja sem álcool, que até não é ruim mas acaba saindo mais caro ter que comprar o alcool separado :)
O segundo turno das eleições é dia 31/10, Halloween.
Não perca a chance de enfiar uma estaca no vampiro!

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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Não sei Usuário deletado, mas isso é apenas uma forma demagógica de pensar.

Um libertário pragmático pode muito bem compreender que o caminho a se seguir é reduzir o tamanho do Estado, mas pode acreditar que na conjuntura atual ele pode exercer melhor esse papel trabalhando DE DENTRO do próprio Estado. Um exemplo mais visível desse tipo de doutrina é o político americano Ron Paul.

Seria simplesmente irracional acreditar que esse tipo de demonstração de zêlo (devolução do salário pago por impostos) teria impacto mais significativo que uma defesa contínua e consistente de reformas que reduzissem a intervenção global do governo. Ao se concentrar nessas últimas ele estaria de certa forma devolvendo muito mais a população do que o salário e orçamento consumidos pelo seu gabinete. A regra de ouro do político libertário portanto não é abster-se de orçamento ou remuneração individual, já que ele pode depender delas para atuar, mas criar um impacto relativo que reduza o saque governamental em mais do que o dinheiro que ele consumiu no seu gabinete. Ao fazer isso, ele terá realizado, no bolso de cada contribuinte, um saldo positivo, e não negativo.

É claro que como gesto simbólico de homens políticos que possuem outros meios para sobreviver e atuar, essas "devoluções" fariam sentido, mas não como ato de coerência ideológica. Até porque aquele dinheiro iria para qualquer deputado, senador ou presidente que estivesse ali no lugar deles, defendendo mais e mais Estado. Eventualmente ele terá que defender, por coerência ideológica, a redução dos quadros de funcionários e do orçamento dos diversos setores do Estado. Mas se o impacto global desse representante fosse reduzir, ou impedir o aumento do roubo tributário efetuado sobre a população em, digamos, 1 bilhão de reais que fosse, seu salário e o orçamento do seu gabinete estariam mais do que justificados.

E o libertarianismo não criminaliza os indivíduos que de uma forma ou de outra obtém sua renda do Estado, dentro de um sistema que cria incentivos óbvios para isso.
Eu sempre falo de maneira áspera de burocratas e servidores públicos o que as vezes leva a acreditar que eu não gosto dos indivíduos que por escolhas de carreira eventualmente ingressam nessas profissões. Eu já tentei desfazer essa impressão algumas vezes, mas não custa nada repetir: ninguém é culpado de jogar nas regras do jogo. E a regra do jogo autoriza o parasitismo social sob diversas formas, dentre elas o funcionalismo. Se o cara vai ganhar mais sendo fiscal de renda ou escrivão do que fazendo um trabalho de verdade, eu não posso nem devo criminaliza-lo por isso. Contudo a percepção dessas mazelas e cânceres deve levar os indivíduos produtivos a exigir que essas de oportunidades de parasitismo sejam suprimidas o quanto antes.

A tragédia parece ser a de que na crença político-institucional vigente se estabeleceu que apenas novos parasitas podem nos livrar dos parasitas atuais. Essa é uma daquelas profecias auto-realizáveis, na medida que o seu efeito é produto direto da crença de indivíduos no próprio efeito. Desmanchar esse tipo de crença costuma ser uma tarefa exaustiva e infrutífera, mas necessária.
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Vou postar o que eu te respondi por MP nesse tópico tb:

[...]

Desconfiar sempre de qualquer partido político, mesmo os auto-intitulados libertários, é um bom princípio.

E você tem razão quanto a uma coisa: liberar drogas ou o aborto seria impor drogas e aborto a uma maioria que não quer conviver com essas práticas.

Trata-se de uma subversão do conceito de libertarianismo acreditar que cada um pode fazer o que quiser. Rothbard tem um texto curto e interessante onde ele expõe esses mitos comuns sobre o que libertários pensam: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=558

A liberdade individual deve ser tal que as pessoas devem poder se organizar em comunidades que restrinjam certos comportamentos imorais. E não se trata de tentar descobrir cientificamente a origem da imoralidade, e então forçar o Estado a aplicar as regras assim derivadas. Esse tipo de teoria construtivista é fraudulenta e leva a conseqüências catastróficas.

Não se deve portanto tentar descobrir se é certo permitir ou liberar a maconha de uma forma universal. A atitude intelectualmente honesta é a de reconhecer que grupos podem se organizar localmente em torno da permissibilidade ou não da droga, cabendo ao indivíduo integrar o grupo que parecer-lhe mais adequado de acordo com sua visão de mundo.

Eu acho, e isso é uma especulação baseada na observação do fenômeno social e histórico, que de um modo geral, esses grupos terão no fim das contas muitos pontos em comuns, valores "universalmente reconhecidos", no sentido de que cada um deles, de forma relativamente autônoma, chegou a mesma conclusão. Coisas como a criminalização da agressão física e do roubo material são exemplos fáceis, já a questão das drogas e do aborto são pontos mais difíceis.

De qualquer modo, eu não vejo outra forma de falar de "valores universais" sem admitir terríveis contradições e hipocrisias. Se as pessoas não derivam esses valores espontaneamente de suas interações e crenças não há nada que possa me assegurar um valor universal que faça sentido.

Portanto, quando um anarquista diz que em princípio uma cidade poderia admitir o aborto, a eutanásia ou diversas drogas, ele não está defendendo essas práticas como virtudes individuais, pelo contrário, a maioria dos anarquistas que eu já li eram pessoas dotadas de altos valores tradicionais e muitas vezes religiosos também. Um exemplo bastante eloquente é Robert P. Murphy, um cristão devoto e tradicional, e talvez um dos maiores porta-vozes do anarco-capitalismo atualmente. Também procure se informar a respeito do Paleolibertarianismo.

Quando um anarco-capitalista diz que em teoria uma cidade anarquista poderia repousar sobre leis mais permissivas do que gostaríamos ou acreditamos serem incompatíveis com a ordem e estabilidade social, ele apenas está considerando a hipótese de que nós na verdade somos ignorantes com relação as premissas básicas da ordem social, e talvez uma sociedade pudesse ser funcional para seus habitantes e ao mesmo tempo tolerante com relação a uma série de coisas que nós achamos intoleráveis.

Mas o bom-senso leva a crer que ao menos na gigantesca maioria dos casos as sociedades anarquistas se cristalizariam em torno das mesmas leis que nós acreditamos universais, simplesmente pelo fato delas gerarem sociedades mais virtuosas e prósperas e que atrairão eventualmente todas aquelas pessoas que embarcaram na canoa furada da sodomia, do despudor e do hedonismo, das drogas livres e de soluções fáceis como o aborto. Exatamente pela mesma razão que a grande maioria das sociedades e nações chegou a essas conclusões, muitas vezes de forma completamente independente uma das outras.

Ao deixar essas eventuais sociedades de práticas degeneradas colapsarem sobre si próprias, como sempre ocorreu desde Sodoma até as comunidadess hippies dos anos 60, estaríamos solidificando as bases dos princípios que desejamos conservar, sem precisar agir de forma intervencionista. Essa é a prerrogativa básica do conservadorismo.

É claro que quando determinado grupo constitui uma ameaça direta ao seu estilo de vida, por exemplo, através de ameaças militares ou terroristas, atos de defesa ou mesmo ataques pre-emptivos podem ser justificados, mas estes nunca podem ser justificados com base em fazer outros viverem sob os mesmos valores que você acredita serem universalmente válidos. Por mais estimulante que seja a visão do pescoço de um Saddam Hussein na ponta de um corda esticada.

Eric Voeglin descreve a falácia da imanentização do Escathon, ou seja, impor valores universais transcendentes aqueles que não os percebem ou compreendem, ao invés de observá-los emergirem por si através da compreensão e imitação deliberada do ato virtuoso. Quando compreendemos algo que nos parece profundamente verdadeiro sentimos uma vontade irresistível de submeter todos os não crédulas ao vigor daquela verdade superior. Mas é preciso saber que esse sentimento é tão forte e verossímil para as nossas crenças verdadeiras quanto o é para as nossas crenças erradas, e apenas atravez da descoberta e prática virtuosa e do ensino da virtude pela virtude que a verdade pode se difundir.

Impor a Verdade a mentes antes que estas se encontrem num estado apto a absorvê-las é prestar um desserviço à própria Verdade.
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Darkside
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

texto do link escreveu:Dado que um sistema de liberdade iria estimular o voluntarismo e desencorajar a malfeitoria, além de remover o único canal que legitima o crime e a agressão, seria factível esperarmos que uma sociedade livre fosse de fato sofrer menos com crimes violentos e agressões, embora não haja justificativas para supormos que ambos iriam desaparecer por completo.


Não seria não. E o pior é que nem adianta pensar em países que possuem uma considerável dose de respeito pela liberdade individual que possuem menor criminalidade, porque de qualquer maneira não confirmam o discurso extremista de que a mera existência de um Estado legitima o crime e a agressão.

Enfim, ainda estou esperando qualquer comprovação prática das teorias anarquistas pra deixar de considerar isso tudo como proselitismo.
"Temos uma coisa muito mais extraordinária: não só se consegue que uma mesa se mova magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde."

Alan Kardec, Obras Póstumas Pág. 237

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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Dizer que liberdade estimula voluntarismo (no sentido geral) é quase um truismo, dependendo da forma que for colocado.

Mas o que ele quis dizer na medida que menos instituições de repressão coletiva vigorarem, mais interações voluntárias e menos agressões se produzirão entre os indivíduos. Isso sim pode ser verificado a partir da observação das sociedades sujeitas a Estados-nações mais ou menos coletivistas. A regra geral aqui é de um contraste tão nítido que dificulta até a elaboração de um argumento mais sofisticado do que um simples "OLHA AI PORRA"! A coisa nem precisa comparar desiguais como Suiça e Haiti, já que existem exemplos muito mais convincentes como Botswana/Zimbabwe, Coreia do Sul/Norte, RFA/RDA, et cetera...

Você pode até tentar argumentar que isso mostra que menos Estado é melhor do que mais Estado, mas o argumento de "passagem ao limite" não segue, ou seja, que zero Estado não é melhor que Estado ínfimo. Mas aí a gente cai na velha discussão de quais seriam as prerrogativas de um Estado que não podem ser desempenhadas por ninguém além de burocratas encarregados de impor-las sobre todos.

De qualquer forma, a questão do anarquismo é muito mais uma questão de fundamentação moral e filosófica do liberalismo do que uma projeto de sociedade do amanhã ou de um estandarte político de qualquer natureza. É apenas uma racionalização dos princípios exatamente contrários a essa crença de que alguns sábios são encarregados de escrever passado e futuro da humanidade.

Do ponto de vista da ação política, ainda que eu fale mais por mim, acho que todos eles tendem a se alinhar com qualquer um que pareça menos disposto a aumentar o Estado, e conscientizar as pessoas de que mais Estado e impostos é sempre mais opressão, miséria e menos liberdade.


Até porque eu não consigo pensar em nada mais desestimulante do que tentar educar um lulo-petista a respeito de pormenores metafísicos do libertarianismo ou do anarquismo, e se eu entro nesses detalhes aqui no fórum é porque me dirijo ao quantil mais sofisticado da sua população, o que por si só já auto-sabotaria qualquer empreendimento proselitista da minha parte. O prosélito, como o demagogo, deve mirar na camada mais indigente intelectualmente, aquela que menos argumentos é capaz de elaborar contra a sua proposta, aquela que pode facilmente ser guiada por manipulações linguísitcas e retóricas, desde que estas estejam suficientemente ao alcance da sua limitada compreensão.
Um lulo-petista é reativo a expressões e siglas limítrofes como "PAC", "super-Dilma", "DEMO" e "PIG", assim como todo o programa de "retificação histórica" e controle de mídia conduzido pelo Minitrue de Lula. "Ignorance is strength."


No mais, todos os serviços que você pode atribuir ao Estado já foram e ainda são em diversas sociedades distintas parcial ou completamente oferecidos por iniciativas voluntárias. Eu desafio você a citar ao menos um. Defesa Nacional, Segurança Pública, Saneamento e Saúde, Defesa Civil, Cálculo Atuarial, Mineiração e indústria de base, Agroindustria, Pesquisa científica fundamental, Educação infantil, administração de instituições financeiras e monetárias, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de transporte e energia, gestão de poluição, conservação do meio ambiente e de reservas da natureza, e o que mais você quiser eu posso citar um exemplo histórico ou atual de um sistema voluntário desempenhando função análoga. Acho que eu poderia até me dar ao luxo de responder citando a mim mesmo, tantas foram as vezes que esses exemplos já foram trazidos à tona em debates nesse fórum. But go ahead, make my day...

Mas um anarquista não é um designer de sociedades, mas exatamente aquele que compreende e tenta denunciar a falácia dessa empresa. Observar que todo tipo de serviço para o qual uma oferta é procurada por uma demanda pode ser em essência resolvido por acordos voluntários, e enxergar exemplos históricos disso ocorrendo, é um exercício interessante, mas não se pode incorrer no atrevimento de se tentar profetizar o desenvolvimento de um sistema complexo de interações nos seus detalhes, muito menos de tentar desenha-lo e coloca-lo em funcionamento em sua totalidade. O sistema de preços deve governar o planejamento, o sistema de preços não pode ser planejado.

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Herf
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Herf »

Enfim, ainda estou esperando qualquer comprovação prática das teorias anarquistas pra deixar de considerar isso tudo como proselitismo.

A "teoria anarquista" não precisa de comprovação prática. "O estado é ineficiente" é apenas o que se deduz a partir de algumas premissas auto-evidentes acerca da ação humana.

Mas se mesmo assim você quiser uma comprovação prática do óbvio, apenas observe o mundo à volta. Pessoas de cidades grandes e violentas demandam segurança; pessoas de cidades pequenas, não tanto. Pessoas de cidades grandes se dispõem a pagar bastante por produtos e serviços relacionados a segurança, diferente de pessoas de cidades pequenas e pacíficas. Pessoas de cidades grandes gastam com grades, muros, cercas elétricas, câmeras de vigilância e serviços de segurança privados; pessoas de cidades pequenas, não. Há um mercado de produtos e serviços relacionados à segurança muito desenvolvido em cidades grandes; em cidades pequenas, não. Os recursos são alocados de forma adequada, sem haver qualquer pessoa dizendo quanto cada um deve gastar com segurança e que tipo de segurança elas devem ter.

***

A questão estatismo X anarquismo - nesse aspecto particular - pode ser comparada à questão teísmo X ateísmo.

Tanto o ateísmo quanto o anarquismo não constituem corpos de conhecimentos sobre os campos da metafísica e do cálculo econômico, respectivamente. Em vez disso, constituem negações do teísmo e do estatismo.

Nenhum ateu sabe responder a todas as questões levantadas por um teísta sobre a natureza do universo e da vida. Mas para resolver a disputa, ao ateu não cabe provar nada sobre isso, pois quem faz alguma afirmação nessa história toda - no caso, de que o universo e a vida têm origem em um deus - é o teísta. Se tal afirmação não for provada, isso já basta para que prevaleça a posição ateísta - uma posição de humildade, de reconhecimento da limitação do entendimento humano.

Por sua vez, o anarquista pode não saber responder qual é a melhor forma de alocar os recursos de segurança pública (poderia ser qualquer outro serviço) para gerar o melhor resultado às pessoas de uma socieade, mas o único que está dizendo que sabe como fazer o cálculo econômico da segurança, nessa história, é o estatista (quando ele próprio não sabe, diz que um burocrata seria capaz de fazê-lo). O estatista tem o ônus da prova. A ele cabe provar que o cálculo econômico é possível, coisa que nenhum jamais conseguiu e jamais conseguirá fazer.

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Darkside
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Mas o que ele quis dizer na medida que menos instituições de repressão coletiva vigorarem, mais interações voluntárias e menos agressões se produzirão entre os indivíduos. Isso sim pode ser verificado a partir da observação das sociedades sujeitas a Estados-nações mais ou menos coletivistas. A regra geral aqui é de um contraste tão nítido que dificulta até a elaboração de um argumento mais sofisticado do que um simples "OLHA AI PORRA"! A coisa nem precisa comparar desiguais como Suiça e Haiti, já que existem exemplos muito mais convincentes como Botswana/Zimbabwe, Coreia do Sul/Norte, RFA/RDA, et cetera...


No, mr. Big Head. O texto expressa, de maneira clara, a idéia de que a própria existência de uma autoridade central responsável pela lei é um desrespeito à liberdade das pessoas e também uma agressão, o que supostamente levaria as pessoas a cometerem crimes "também". É isso que ele quer dizer com "sistema de liberdade".

Países mais libertários com baixos índices de criminalidade vão contra essa idéia, não a fortalecem, pois eles estão sob o suposto manto de violência coerciva que torna as pessoas más de qualquer maneira.

O texto não faz comparações entre menos e mais Estado, ele tenta demonstrar as consequências da existência e da ausência de um.


user f.k.a. Cabeção escreveu:No mais, todos os serviços que você pode atribuir ao Estado já foram e ainda são em diversas sociedades distintas parcial ou completamente oferecidos por iniciativas voluntárias. Eu desafio você a citar ao menos um. Defesa Nacional, Segurança Pública, Saneamento e Saúde, Defesa Civil, Cálculo Atuarial, Mineiração e indústria de base, Agroindustria, Pesquisa científica fundamental, Educação infantil, administração de instituições financeiras e monetárias, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de transporte e energia, gestão de poluição, conservação do meio ambiente e de reservas da natureza, e o que mais você quiser eu posso citar um exemplo histórico ou atual de um sistema voluntário desempenhando função análoga. Acho que eu poderia até me dar ao luxo de responder citando a mim mesmo, tantas foram as vezes que esses exemplos já foram trazidos à tona em debates nesse fórum. But go ahead, make my day...


O problema é que se você citar qualquer um desses exemplos de iniciativas que estejam dentro de um sistema jurídico, você estará reforçando as minhas idéias, e não as suas.

Pra esse desafio ser um argumento genuinamente anarquista, você teria que citar empresas de qualquer tipo bem sucedidas em seus negócios trabalhando fora da jurisdição de um Estado de Direito.

Não que isso fosse provar qualquer coisa, já que achar que um exemplo isolado pudesse servir de base para o funcionamento de uma sociedade toda não seria razoável.

E também porque não existe liberdade e nem mercado onde não existe lei.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Mas um anarquista não é um designer de sociedades, mas exatamente aquele que compreende e tenta denunciar a falácia dessa empresa.


Pois me parece o contrário.

Os anarquistas me soam como revolucionários deterministas, ignorando que um poder central muitas vezes surgiu da necessidade das sociedades sobreviverem, crescerem ou se organizarem de maneira mais adequada, e eu poderia citar muitos exemplos.

Essas teorias, ao invés de observarem como a organização social dos povos se desenvolveu, os consideram escravos de longa data de sua completa incapacidade de observarem que jamais precisaram de um poder centralizador por qualquer motivo, e que na verdade eles querem ser livres dele (no conceito de liberdade do anarquista).

Se for isso mesmo, o anarquismo standard está mais próximo do comunismo do que de qualquer outra ideologia, tentando ensinar as pessoas a serem livres de um jeito novo, o que elas querem de verdade, etc.
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

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Dark Side escreveu:No, mr. Big Head. O texto expressa, de maneira clara, a idéia de que a própria existência de uma autoridade central responsável pela lei é um desrespeito à liberdade das pessoas e também uma agressão, o que supostamente levaria as pessoas a cometerem crimes "também". É isso que ele quer dizer com "sistema de liberdade".

Países mais libertários com baixos índices de criminalidade vão contra essa idéia, não a fortalecem, pois eles estão sob o suposto manto de violência coerciva que torna as pessoas más de qualquer maneira.

O texto não faz comparações entre menos e mais Estado, ele tenta demonstrar as consequências da existência e da ausência de um.



Bom, eu não preciso perder muito tempo rebatendo o que é um argumento secundário. Eu discordo da sua interpretação, até porque eu li suficientes livros do Rothbard para ter uma idéia clara de como ele pensa e saber que você está apenas simplificando uma passagem resumida dele. Ele sequer poderia afirmar o que você está dizendo que ele afirma, uma vez que o fator Estado nunca pode ser completamente isoldado num mesmo momento histórico de uma mesma cultura para que qualquer afirmação taxativa a respeito da moralidade individual na ausência deste pudesse ser assegurada.

No mais, ele diz o que ele esperaria, não o que necessariamente aconteceria. Trata-se de uma conjectura que ele não precisa se preocupar em provar, pois ocorre é que esse ponto ele próprio sabe que é secundário. A "viabilidade do anarquismo", se você quiser chamar assim, não depende de uma tendência das pessoas a serem mais ordeiras num ambiente de maior liberdade individual. Basta que você reconheça que elas não ficariam espontâneamente mais virulentas e imorais fora do raio de visão de um Big Brother. Grande parte da argumentação em favor do Estado consiste basicamente em afirmar isso, que a moralidade emana do controle central, o que é falso.

Se você acredita que o bem não emana do líder bom, então estamos na mesma página. Se sabe que as instituições morais vigentes não foram desenhadas por membros de um partido, e quando foram, todas elas colapsaram em caos social, então estamos na mesma linha.



Dark Side escreveu:O problema é que se você citar qualquer um desses exemplos de iniciativas que estejam dentro de um sistema jurídico, você estará reforçando as minhas idéias, e não as suas.

Pra esse desafio ser um argumento genuinamente anarquista, você teria que citar empresas de qualquer tipo bem sucedidas em seus negócios trabalhando fora da jurisdição de um Estado de Direito.

Não que isso fosse provar qualquer coisa, já que achar que um exemplo isolado pudesse servir de base para o funcionamento de uma sociedade toda não seria razoável.

E também porque não existe liberdade e nem mercado onde não existe lei.



Você simplesmente está recorrendo a mesma falácia que recorrem criacionistas quando são confrontados com evidências evolutivas. Você está dizendo que o argumento não é genuíno porque ele não é perfeito, ao isolar completamente todas as contingências e deixar apenas uma possibilidade aberta. Assim, tanto estatistas quanto criacionistas podem conviver com evidências fortes contrárias as suas crenças, desde que elaborem nas suas cabeças explicações ad-hoc cada vez mais complexas sobre porque essas evidências existem.

O fato é que os serviços supra-citados são ou já em certas ocasiões ofertados por indivíduos e empresas privadas para indivíduos e empresas privadas, sem intermédio do Estado. É como mostrar que o DNA pode mutar e se replicar com uma experiência. Se você quiser continuar acreditando que existem burocratas nos bastidores puxando as cordas certas para que tudo funcione, vá em frente, mas isso não é diferente do crente que se apega a idéia de que existe um Deus que orienta a evolução e que possui um plano para tudo. É apenas uma forma de fugir para o desconhecido como última alternativa para salvar o seu credo.

Mas não é a justiça estatal que permite que o mercado funcione, e sim o sistema de incentivos chamado mecanismo espontâneo de preços. A justiça e as leis são sujeitos das demandas dos seres humanos, e portanto são sujeitos desse sistema de incentivos também, podendo ser ofertadas e compradas no mercado, como qualquer outra coisa factível que uma pessoa deseje.

Justiça e lei não são excressências místicas passíveis de serem emanadas e compreendidas e aplicadas apenas pelos sábios burocratas. Eles apenas prestam um mal serviço, em geral um desserviço, na geração da lei, que essencialmente é espontânea. Burocratas são um sintoma de uma tecnologia legal incipiente, eles exploram os loopholes existentes nos nossos formalismos como todo e qualquer vigarista.

O fato da lei ser um sujeito indereto da vontade e da ação humana não quer dizer que toda pessoa precisa ter completo conhecimento da tecnologia legal que ela gostaria de dispor, tampouco quer dizer que tudo a respeito da lei é arbitrário ou relativo. Pelo contrário até, é a existência de uma harmonia na percepção global do que deve ser a lei que permite que ela surja numa sociedade, e essa harmonia é uma verdade fundamental e universal sobre a lei. Ela não é uma emanação de um burocrata.

A lei emerge da ação repetida, da busca pela eficiência e pelo conforto dos agentes individuais, e com ela surgem os mecanismos que a asseguram. Um cão de guarda ou uma lista de maus pagadores é um exemplo de mecanismo privado manutenção de lei. Mas o brilho desse insight só vai iluminar a sua cabeça a partir do momento que você rejeitar o paradigma dentro do qual você foi programado, o de que o Estado é algo mais do que uma corporação de burocratas apontando armas para você.

É por isso que eu soo repetitivo com esse termo "burocrata". Termos como "Estado" estão carregados de conotações místicas, pois agregam a imagem de uma Nação ou irmandade de pessoas, e acabam apelando para nossos instintos primitivos tribal-coletivistas. Eu sei que cada vez que eu me refiro ao Estado não como essa entidade misteriosa que tudo resolve, mas como nada mais que uma corporação de burocratas tomanda as decisões que as pessoas deveriam tomar, eu coloco a discussão num frame mais realista, e eu posso operar argumentos racionais, e não emocionais.



Dark Side escreveu:Pois me parece o contrário.

Os anarquistas me soam como revolucionários deterministas, ignorando que um poder central muitas vezes surgiu da necessidade das sociedades sobreviverem, crescerem ou se organizarem de maneira mais adequada, e eu poderia citar muitos exemplos.

Essas teorias, ao invés de observarem como a organização social dos povos se desenvolveu, os consideram escravos de longa data de sua completa incapacidade de observarem que jamais precisaram de um poder centralizador por qualquer motivo, e que na verdade eles querem ser livres dele (no conceito de liberdade do anarquista).

Se for isso mesmo, o anarquismo standard está mais próximo do comunismo do que de qualquer outra ideologia, tentando ensinar as pessoas a serem livres de um jeito novo, o que elas querem de verdade, etc.




Você está errado na sua analogia e interpretação.

O anarquista é exatamente aquele que abstraiu do fenômeno da civilização o processo real de emergência das leis e da moralidade e do conhecimento. Ele percebeu que o planejamento social e o conceito de governo são simples manifestações das mesmas crenças animistas que inspiravam as religiões primitivas.

Em essência, na verdade, nós já somos anarquistas. Sempre fomos. O governo, ou seja, o conceito de que existiria alguma entidade controlando e dirigindo a evolução social, não existe. É uma farsa, uma ilusão que as pessoas acreditam. A lei não deriva de burocratas, mas as pessoas acreditam nisso e toleram seus abusos. É como viver num mundo onde todos acreditam em prestidigitadores, profetas e charlatães em geral. A crença geral das pessoas não torna o que esses vigaristas falam mais verdadeiro, nem tornam seu produto mais real. Idéias de Estado-Nação são de fato uma hipnose coletiva em grande parte auto-induzida. As pessoas creem nos burocratas como crentes creem nos seus pastores. Acham que as benesses das suas vidas ocorrem graças a um Lula ou a um Silas Malafia. É a mesma coisa.

Dizer que não existe governo é diferente de dizer que o Estado não existe. A teologia pentecostal pode ser uma completa fraude, mas isso não muda o fato de que a Igreja Universal é muito poderosa e usa o seu poder para agregar mais e mais poder. Tal e qual, todo o poder do Estado deriva da crença das pessoas na sua necessidade, uma crença que deriva por sua vez do poder que o Estado já possui para induzi-la. Esse é o ciclo vicioso que por vezes leva sociedades a catástrofes totalitárias, que destroem em parte o que o processo de civilização construiu.

Em essência, a crença geral no Estado é em última análise a crença primitiva, que nós ainda preservamos, na violência. É um instinto selvagem ligeiramente evoluído e enganadoramente revestido de linguajar sofisticado. Mas todo o suporte do Estado vem da idéia que cada um ainda guarda de impor sua vontade sobre os demais ao ser ou integrar um grupo mais forte. Mas a violência se mostra terrivelmente ineficiente para o indivíduo no longo prazo, mesmo para o forte, ou para o grupo forte. A civilização é todo o arcabouço de tecnologias e instituições artificiais que a humanidade criou para contornar a necessidade da violência e gerar interações mais eficientes em geral.

O fenômeno da civilização, das trocas voluntárias de bens e conhecimento, da evolução da moral e da emergência da lei, é algo que ocorre no nível individual, de baixo para cima, criando superestruturas e instituições, que apenas são formas de abstrair as propriedades particulares das complexas redes sociais assim formadas. O fato de alguns Estados reconhecerem e por vezes prestarem reverência a algumas dessas instituições as vezes faz parecer que elas são originárias dele, o que é falso. A lei não surge quando algum imperador babilônio manda cravar numa pedra um código. Ou quando algum hebreu subiu uma colina e retornou com tabulas de mandamentos. Ou quando um rei inglês redige a Carta Magna. Ou mesmo quando revolucionários americanos escrevem a constituição. Eles não fabricaram esses códigos, não foi uma idéia que surgiu das suas cabeças. Eles apenas reconheceram de alguma forma que a preservação do seu poder dependia da observação desses protocolos que surgiram da ação humana, talvez adaptando-os e formatando-os as necessidades idiossincrasias da teoria estatal vigente. E num primeiro momento, esses líderes poderosos de tudo farão para evitar a disseminação de um conhecimento tecnológico institucional que finalmente termine por reduzir seu poder, só os aceitando quando toda alternativa tiver sido esgotada. Tal qual um papa reconhece a contragosto que a Terra gira em torno do Sol, ou que as espécies evoluem.

As vezes, é claro, burocratas acabam tomando para si alguma das funções necessárias que surgiram da ordem social. Assim como pagés e líderes espirituais tribais por vezes tomavam para si papéis sociais importantes como o da prática médica. Esses membros detinham para si a tecnologia de insumos herbais e outras técnicas médicas primitivas, ao passo que também realizavam as cerimônias espirituais, e as pessoas incorretamente associavam as curas realizadas ao poder mágico desses homens. Hoje, igualmente, a sociedade divide o trabalho de maneira que certas funções acabam sendo desempenhada pelos burocratas, o que leva algumas pessoas como você a supor que existe algo como governo e planejamento central operando tudo. Eu costumo citar o exemplo dos sapatos porque ele é bastante óbvio. Num país onde as importações de sapato foram proibidas, e onde a fabricação de calçados é completamente dominada pelo Estado, é incorreto afirmar que todos estariam descalços se não houvesse um Estado preocupado com eles. Ainda assim muita gente acreditaria nessa fraude. Seus sapatos teriam o logotipo do partido e lembrariam o tempo todo que você depende da boa vontade deles.

Se você consegue compreender a natureza da falácia no caso dessa fábula, você consegue compreender a natureza da ilusão estatal e pode ver porque ele produz uma impressão tão realista.

Quando o anarquista fala do futuro, ele apenas projeta que com o ganho de conhecimento a respeito das tecnologias legais, as pessoas eventualmente se darão conta de que não tinha nada na função desempenhada por aquele burocrata que necessitasse de uma estrutura estatal por de tras dela. É claro que esse despertar é largamente inconsciente, ninguém vai um dia acordar com esse estalo, as pessoas em geral tem preocupações mais relevantes. Mas fenômeno do mercado cuidará disso. A ignorância e subsequente ineficiência que permitem ainda a existência de burocratas explorando certos setores cedo ou tarde é contornado por alguém que é esperto o suficiente para enxergar uma oportunidade onde ninguém mais vê.

American Arbitrage Association, Blackwater corporation, Intellectual Ventures, American Express, FedEx, ANSI, ISO, etc. fazem todas elas o tipo de coisa que você acharia que caberia a algum organismo central diretor. Elas perceberam oportunidades de competir com os burocratas onde outros não viam.

Certas funções estatais são claramente mais ineficientes e desperdiçantes do que outras. Muitas delas são na verdades péssimas aplicações alternativas de tecnologias já existentes, e apenas um exercício continuado de um mal hábito induzido por uma péssima idéia. Por exemplo, a nacionalização de fábricas. Outras são resultados da evolução de uma tecnologia tradicionalmente estatal e para a qual, por inúmeras razões, poucas soluções privadas são conhecidas e testadas. Por exemplo, tribunais de justiça. Mas todas elas são constituídas da mesma substância fraudulenta, repousam sobre a mesma farsa, sobre a mesma falácia, de modo que é seguro afirmar que a evolução tecnológica e institucional, no sentido amplo, acabará por eliminar esses erros.

Isso não é tampouco uma profecia histórica. Nesse meio tempo pode acontecer de tudo: um regime totalitário pode concentrar poder suficiente para por exemplo lançar um apocalipse nuclear que reduziria a civilização a suas fases mais primitivas, ou mesmo a extinguiria. Grandes epidemias, mudanças climáticas, asteróides ou alienígenas podem interferir no processo também. Ou por qualquer outra razão, as pessoas podem parar de buscar tecnologias mais eficientes e estagnarem-se ou regressar a modos de vida mais produtivos. A expectativa anarquista se baseia na hipótese impossível de ser confirmada de que as pessoas continuarão ativamente buscando um maior bem estar, e que nada de especialmente cataclísmico se passará no meio tempo que possa extinguir ou retornar a civilização a estágios primitivos do seu desenvolvimento. É uma visão otimista do mundo e do futuro, mas tampouco se trata de um plano ou de um projeto a se buscar.

O anarquista quando fala que o Estado tende a ser substituído é como o matemático que afirma que o sistema de navier stokes vai ser melhor compreendido, ou que os computadores serão mais sofisticados e rápidos, ou como o médico que diz que no futuro a medicina científica ocupará mais espaço do que as práticas curandeiristicas em certas sociedades. Eles no fundo estão dizendo que no futuro as pessoas serão menos ignorantes do que elas são hoje, e saberão identificar melhor os problemas e solucionar uma classe mais vasta deles, eliminando as crenças erradas de hoje (eventualmente substituindo-as por outras crenças preferencialmente menos erradas). Pode ser que algo bizarramente impeça isso de ocorrer, mas essa é em essência a expectativa racional, e talvez é a crença mais básica possuindo o poder legitimizar o esforço do pensamento.
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Darkside
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

Eu não tenho muito mais a dizer Cabeção, você está convicto que qualquer ponto de vista que sequer admita a existência de um Estado de Direito, por qualquer motivo que seja, é apenas cegueira ideológica irracional induzida pelo status quo e por instintos primitivos. Qualquer pessoa que tenha estudado a evolução das nossas sociedades desde as economias primitivas até o capitalismo não pode pensar uma coisa dessas.

Você não acha estranho que a humanidade tem eliminado de seu meio conceitos prejudiciais, como o de direitos exclusivos concedidos por Deus apenas a alguns indivíduos especiais, enaltecido e perpetuado os que trazem progresso, como o reconhecimento da importância da propriedade privada e da liberdade, e no entanto, não há qualquer sinal de que o conceito de uma lei soberana para garantir o que já descobrimos ser direitos individuais fundamentais para uma vida satisfatória deva ser revisto? Leis essas que se aplicam aos próprios legisladores, antes que você queira ler aqui qualquer espantalho pró-anarquismo.

Portanto, só vou corrigir algumas interpretações errôneas suas sobre meus posts e depois vou até o piquete petista mais próximo protestar contra o direito à liberdade de pensamento.

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Dark Side escreveu:No, mr. Big Head. O texto expressa, de maneira clara, a idéia de que a própria existência de uma autoridade central responsável pela lei é um desrespeito à liberdade das pessoas e também uma agressão, o que supostamente levaria as pessoas a cometerem crimes "também". É isso que ele quer dizer com "sistema de liberdade".

Países mais libertários com baixos índices de criminalidade vão contra essa idéia, não a fortalecem, pois eles estão sob o suposto manto de violência coerciva que torna as pessoas más de qualquer maneira.

O texto não faz comparações entre menos e mais Estado, ele tenta demonstrar as consequências da existência e da ausência de um.



Bom, eu não preciso perder muito tempo rebatendo o que é um argumento secundário. Eu discordo da sua interpretação, até porque eu li suficientes livros do Rothbard para ter uma idéia clara de como ele pensa e saber que você está apenas simplificando uma passagem resumida dele. Ele sequer poderia afirmar o que você está dizendo que ele afirma, uma vez que o fator Estado nunca pode ser completamente isoldado num mesmo momento histórico de uma mesma cultura para que qualquer afirmação taxativa a respeito da moralidade individual na ausência deste pudesse ser assegurada


Se as idéias do sujeito são contraditórias ou se ele é pragmático, aí já não é problema meu. A minha interpretação do trecho, que também está de acordo com as idéias do restante do texto, está perfeitamente dentro do que foi posto e não há uma vírgula dele atestando o contrário.

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Dark Side escreveu:O problema é que se você citar qualquer um desses exemplos de iniciativas que estejam dentro de um sistema jurídico, você estará reforçando as minhas idéias, e não as suas.

Pra esse desafio ser um argumento genuinamente anarquista, você teria que citar empresas de qualquer tipo bem sucedidas em seus negócios trabalhando fora da jurisdição de um Estado de Direito.

Não que isso fosse provar qualquer coisa, já que achar que um exemplo isolado pudesse servir de base para o funcionamento de uma sociedade toda não seria razoável.

E também porque não existe liberdade e nem mercado onde não existe lei.



Você simplesmente está recorrendo a mesma falácia que recorrem criacionistas quando são confrontados com evidências evolutivas. Você está dizendo que o argumento não é genuíno porque ele não é perfeito, ao isolar completamente todas as contingências e deixar apenas uma possibilidade aberta. Assim, tanto estatistas quanto criacionistas podem conviver com evidências fortes contrárias as suas crenças, desde que elaborem nas suas cabeças explicações ad-hoc cada vez mais complexas sobre porque essas evidências existem.


Você parece ter esquecido que eu sou um liberal minarquista, ou seja, eu também defendo que a iniciativa privada assuma as rédeas de todos os serviços para os quais há demanda na sociedade.

Inclusive esses dias eu argumentei sobre como seria perfeitamente possível uma sociedade produzir pesquisa científica avançada apenas pela iniciativa individual das pessoas, lá no Realidade.

Sendo assim, o único jeito de seu argumento contrastar com as minhas idéias seria diante da possibilidade que eu propus, porque eu possivelmente concordo com qualquer outra que tente apenas provar a eficiência do mercado sobre serviços estatais.

Lembrando que a lei não é um serviço, e sim um dos pilares sobre os quais as sociedades se organizam.




Mas em parte você está certo quando fala sobre a passividade e dependência das pessoas.

No geral, elas realmente veem no Estado esse ente místico, e é muito difícil tornar o Estado no que ele deveria ser nesse quadro. O Estado não existe pra nos servir, ele apenas organiza as pessoas sob as leis que elas mesmas descobriram que devem reger as suas interações, garantindo os seus direitos.

Isso até pode ser considerado como uma espécie de coletivismo, mas é o que a História tem nos mostrado como o melhor caminho por enquanto, e o que mais garantiu a liberdade até hoje.

Se um dia ela mostrar que os anarquistas estão certos, melhor ainda.
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Darkside
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

Herf escreveu:
Enfim, ainda estou esperando qualquer comprovação prática das teorias anarquistas pra deixar de considerar isso tudo como proselitismo.

A "teoria anarquista" não precisa de comprovação prática. "O estado é ineficiente" é apenas o que se deduz a partir de algumas premissas auto-evidentes acerca da ação humana.

Mas se mesmo assim você quiser uma comprovação prática do óbvio, apenas observe o mundo à volta. Pessoas de cidades grandes e violentas demandam segurança; pessoas de cidades pequenas, não tanto. Pessoas de cidades grandes se dispõem a pagar bastante por produtos e serviços relacionados a segurança, diferente de pessoas de cidades pequenas e pacíficas. Pessoas de cidades grandes gastam com grades, muros, cercas elétricas, câmeras de vigilância e serviços de segurança privados; pessoas de cidades pequenas, não. Há um mercado de produtos e serviços relacionados à segurança muito desenvolvido em cidades grandes; em cidades pequenas, não. Os recursos são alocados de forma adequada, sem haver qualquer pessoa dizendo quanto cada um deve gastar com segurança e que tipo de segurança elas devem ter.


O mercado ser mais eficiente que o Estado para prestar serviços não valida o anarquismo.

Lembrando que o mercado da segurança privada funciona nessa harmonia com uma lei soberana por trás dele, a qual ele também se submete. Sem ela, as coisas seriam diferentes.

A questão estatismo X anarquismo - nesse aspecto particular - pode ser comparada à questão teísmo X ateísmo.


Comparação forçadíssima. Discussões sobre a existência de Deus diferem totalmente de um debate sobre os métodos que a humanidade encontrou para organizar suas sociedades, seus defeitos e quais seriam os ideais.

Tanto o ateísmo quanto o anarquismo não constituem corpos de conhecimentos sobre os campos da metafísica e do cálculo econômico, respectivamente. Em vez disso, constituem negações do teísmo e do estatismo.


Algo do tipo: se só tem comida ruim, morra de fome. Ou melhor, não coma até surgir uma comida melhor, porque ser obrigado a comer comida ruim é uma agressão contra a liberdade (não sei se você vai morrer de fome, não posso prever o futuro).

Por sua vez, o anarquista pode não saber responder qual é a melhor forma de alocar os recursos de segurança pública (poderia ser qualquer outro serviço) para gerar o melhor resultado às pessoas de uma socieade, mas o único que está dizendo que sabe como fazer o cálculo econômico da segurança, nessa história, é o estatista (quando ele próprio não sabe, diz que um burocrata seria capaz de fazê-lo). O estatista tem o ônus da prova. A ele cabe provar que o cálculo econômico é possível, coisa que nenhum jamais conseguiu e jamais conseguirá fazer.


Utilizando o exemplo, é verdade que ninguém é capaz de designar uma alocação perfeita de recursos para a segurança pública, que é uma das pouquíssimas funções que o Estado deve ter (embora eu obviamente considere mais do que adequado que as pessoas também sejam livres para oferecer serviços de segurança), mas os países desenvolvidos com criminalidades baixíssimas mostram que é perfeitamente possível manter a lei e a ordem nas sociedades, assim como a garantia de suas liberdades, sem utilizar muito de seus recursos compulsoriamente.

Aliás, quem fala em alocação ótima de recursos sempre são os anarquistas. O resultado dos investimentos estatais com os recursos dos contribuintes sempre será apenas funcional, na melhor das hipóteses. Eu nunca vi um liberal afirmar que seriam perfeitos.

Antes que você cite todos os casos de ineficiência da polícia brasileira, ou de qualquer outro país não muito seguro, não esqueça que os exemplos que temos de comunidades com sistemas legais baseados em tradições locais isolados de um sistema central, que surgiram na suposta liberdade anarquista, são muito ruins.
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Darkside escreveu:Eu não tenho muito mais a dizer Cabeção, você está convicto que qualquer ponto de vista que sequer admita a existência de um Estado de Direito, por qualquer motivo que seja, é apenas cegueira ideológica irracional induzida pelo status quo e por instintos primitivos. Qualquer pessoa que tenha estudado a evolução das nossas sociedades desde as economias primitivas até o capitalismo não pode pensar uma coisa dessas.



Não venha abusar da linguagem contra mim. Defina o que você quer dizer com Estado de Direito. Até porque esse conceito já teve diversos significados, seja ao longo da história, seja saindo da boca de esquerdistas ou direitistas.

Se você está falando da situação jurídica onde pessoas e entidades devem respeitar os direitos das outras pessoas e entidades, e que a priori tais direitos são fundamentalmente iguais, ninguém aqui está atacando tal conceito. No meu entender, o anarquista defende o Estado de Direito, desde que as entidades a serem respeitadas sejam elas voluntárias. Agora se você diz que o Estado de Direito, ou o Império das Leis, ou qualquer outra dessas abstrações políticas quase-retóricas, só pode ser garantido atraves da ascenção de burocratas delegados, estes dotados de muito mais poderes e direitos que todas as outras pessoas, nesse caso você pode se encarregar de demonstrar a sua afirmação.

Perceba que eu sempre falo do Estado como corporação dos burocratas, aqueles que dispõe do monopólio da violência e são essencialmente a gangue mais poderosa numa região. Eu não me refiro a essas abstrações juridícas que incorporam noções filosóficas muito mais sofisticadas.

Veja que eu não sou contra o uso desses termos em certos debates. Quando eu falo com um petista, é nesse nível que eu tenho que discutir com ele, pois qualquer que seja a idéia básica de um Estado de Direito, o PT a viola. Como eu disse, não faz sentido entrar nos pormenores da coisa com alguém que contempla seriamente a possibilidade de digitar 13 numa urna.


Darkside escreveu:Você não acha estranho que a humanidade tem eliminado de seu meio conceitos prejudiciais, como o de direitos exclusivos concedidos por Deus apenas a alguns indivíduos especiais, enaltecido e perpetuado os que trazem progresso, como o reconhecimento da importância da propriedade privada e da liberdade, e no entanto, não há qualquer sinal de que o conceito de uma lei soberana para garantir o que já descobrimos ser direitos individuais fundamentais para uma vida satisfatória deva ser revisto? Leis essas que se aplicam aos próprios legisladores, antes que você queira ler aqui qualquer espantalho pró-anarquismo.


Como assim? Eu não te citei diversos exemplos de arranjos privados para a manutenção e mesmo criação sistemática da lei?

E que dogma é esse de que uma não existe sinal de que a idéia de lei soberana (leia-se estatal e imposta sobre sujeitos de uma região dominada pela gangue dos burocratas) deva ser revisto? Você por acaso padece da ilusão de que as pessoas estão todas elas satisfeitas com o tamanho dos Estados e que a eficiência econômica gerada por esses arranjos está próxima da optimalidade dada a disponibilidade atual de recursos e conhecimento tecnológico?

E perceba que o meu anarquismo é apenas um corolário da minha conclusão de que não existe um tamanho mínimo para o Estado, sendo esse sempre uma entidade nociva, porém sendo óbvio que o seu tamanho determina o mal que ele é capaz de gerar. Isso explica porque eu não preciso convencer as pessoas de que o Estado deve desaparecer completamente amanhã, eu mesmo não acreditando que isso seria possível ou mesmo adequado.

Eu creio que o mercado disseminará a crença e a atitude que reduzirá de forma quase invisível o poder dos burocratas, talvez com alguns conflitos ideológicos maiores, como no caso da revolução Americana. Mas é preciso entender que o que gerou a revolta ali foi o fato de que durante dois séculos os colonos puderam desenvolver instituições de livre comércio e indústria e compreender a importância da autonomia individual e da contenção da intervenção estatal, e quando o governo inglês tentou saquear mais do que o tolerado, eles se revoltaram. Eu simplesmente acho que a barra determinando o nível do abuso estatal que é tolerado pelas tende a baixar, e eu não acredito que exista um nível mínimo.



Darkside escreveu:Se as idéias do sujeito são contraditórias ou se ele é pragmático, aí já não é problema meu. A minha interpretação do trecho, que também está de acordo com as idéias do restante do texto, está perfeitamente dentro do que foi posto e não há uma vírgula dele atestando o contrário.



Não. Ele é bem claro ao dizer que:

1. A natureza humana comporta tanto o bem quanto o mal independente do regime político vigente.
2. O Estado não é o mecanismo eficiente de contenção dos efeitos ou de prevenção do mal. Aliás, ele é contra-producente e gera mais mal.

Se você não acredita na tese de que os burocratas por razões mágicas são menos corruptos que os cidadãos, se você não acredita na tese de que a violência concentrada nas mãos dos burocratas é um mecanismo eficaz para a redução da violência na esfera civil, então você concorda com ele.

Depois ele afirma que seria factível acreditar que numa sociedade sem nenhum organismo oficial justificando violência, numa sociedade de contratos voluntários e sem hierarquias de dominação, as pessoas tenderiam a ser menos violentas. Ele não disse que esse era o cerne do pensamento anarquista, nem que o ataque ao Estado dependia dessa hipótese de que as pessoas seriam mais ordeiras numa sociedade voluntária do que numa sociedade de comando. Desde que você não acredite que seja exatamente o inverso, está bom.

Como ilustração, uma das coisas mais interessantes da globalização é que nunca houve uma guerra entre dois países que possuiam naquele instante filiais do Mc Donalds. Essa é uma observação feita por Thomas Friedman (eu não gosto muito dele, é um colunista do NYT, mas "O Mundo é Plano" é um livro legal). E isso não é uma mera trivialidade, ao longo da história pode-se notar que países envolvidos em cadeias de produção e comércio livre tendiam a estabelecer relações políticas muito mais estáveis. Mesmo quando uma nação era uma potência militar e a outra sequer dispunha de um exército apreciável. E que, vice versa, instabilidades políticas tendiam a surgir de barreiras protecionistas, de quebras de contratos voluntários e outras medidas unilaterais, mesmo quando as duas nações dispunham de poderio bélico considerável. Reflita a respeito disso por um momento, e o que o Rothbard disse acima.



Darkside escreveu:Você parece ter esquecido que eu sou um liberal minarquista, ou seja, eu também defendo que a iniciativa privada assuma as rédeas de todos os serviços para os quais há demanda na sociedade.

Inclusive esses dias eu argumentei sobre como seria perfeitamente possível uma sociedade produzir pesquisa científica avançada apenas pela iniciativa individual das pessoas, lá no Realidade.


Se eu estou discutindo nesses termos com você, é porque eu reconheço que você é capaz de seguir a linha de raciocínio que eu tento estabelecer.

Há uns dois anos eu também pensava como você, mas algo que sempre me incomodou é que eu nunca soube dar para ninguém uma boa explicação definindo o que eu pretendia por um Estado mínimo. Eu queria um Estado menor, e eu podia ter uma idéia de quais funções deveriam ser eliminadas primeiro, por serem mais contraproducentes.

A partir do momento que eu comecei a pensar no que o Estado é de fato, eu não pude evitar a conclusão de que onde quer que ele seja reduzido e substituído por acordos voluntários, um ganho se produzirá, e que não existe nenhum teorema que sustente que uma sociedade depende vitalmente dos seus burocratas com poderes arbitrários.

Mas em termos de discussões e posições políticas, eu sou um liberal conservador. Se me obrigam a escolher dois políticos eu voto conscientemente pelo que ostentar o programa menos nocivo a esses valores. Eu não tenho qualquer pretensão de invocar rebeliões, não acho que as coisas funcionem necessariamente assim. Acho que rebeliões podem ser a solução reativa contra uma investida abusiva que insatisfaz a muitos, mas não podem ser a solução para destruir o Estado. A mentalidade revolucionária é tão pueril quanto a subserviência cega a autoridades. Esse modelo de sociedade de comando vai se decompondo por seus próprios vícios, e a única instância em que o indivíduo deve agir agressivamente é a de lutar contra retrocessos que tentem lhe impor, para que não tomem os direitos que ele já conquistou.



Darkside escreveu:Sendo assim, o único jeito de seu argumento contrastar com as minhas idéias seria diante da possibilidade que eu propus, porque eu possivelmente concordo com qualquer outra que tente apenas provar a eficiência do mercado sobre serviços estatais.

Lembrando que a lei não é um serviço, e sim um dos pilares sobre os quais as sociedades se organizam.



De fato, a lei não é um serviço, mas a lei tampouco é um produto do Estado.

O Estado presta seus serviços na homologação, interpretação e aplicação da lei, e esses serviços eu tenho como provar que podem ser feitos por acordos voluntários, aliás, eu não preciso, porque já são.


Darkside escreveu:Mas em parte você está certo quando fala sobre a passividade e dependência das pessoas.

No geral, elas realmente veem no Estado esse ente místico, e é muito difícil tornar o Estado no que ele deveria ser nesse quadro. O Estado não existe pra nos servir, ele apenas organiza as pessoas sob as leis que elas mesmas descobriram que devem reger as suas interações, garantindo os seus direitos.

Isso até pode ser considerado como uma espécie de coletivismo, mas é o que a História tem nos mostrado como o melhor caminho por enquanto, e o que mais garantiu a liberdade até hoje.

Se um dia ela mostrar que os anarquistas estão certos, melhor ainda.



Todo coletivismo incorpora um carater místico, pois personifica entidades meta-pessoais, dando a elas atributos humanos como vontade, ação.

No mais, você parece acreditar que o Estado então não cria leis, mas como eu disse, homologa, interpreta e aplica certas leis, dentro de certos escopos jurídicos. Isso é um considerável progresso com relação a visão habitual de que o Estado se confunde com a Lei, visão que você parecia sustentar na sua confusão entre Estado e Estado de Direito.

Pois então eu te afirmo que homologação, interpretação e aplicação da lei são sim serviços e produtos, e o Estado os controla de maneira monopolista mantendo as pessoas sob a mira do canhão. São serviços que as pessoas querem e dependem, e que podem ser prestados por meios voluntários mais eficientes.

O Estado brasileiro processa a lei assim como ele extrai petróleo: apontando suas armas para quem quer que tente competir com ele.
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Herf
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Herf »

Lembrando que o mercado da segurança privada funciona nessa harmonia com uma lei soberana por trás dele, a qual ele também se submete. Sem ela, as coisas seriam diferentes.

Errado. Ainda que o estado conceda licença a companhias de segurança privada, a "lei soberana" dele não atinge uma série de fatores relativos à prestação deste serviço - do contrário nem seria um serviço "privado" -, e é por esse motivo que há harmonia no mercado de segurança privada. Por exemplo, o estado não diz quanto cada indivíduo deve gastar com segurança privada, não especifica em que locais esse serviço pode ser prestado, e nem o seu preço (ou, caso exista algum limite do tipo, a harmonia de mercado acabará ocorrendo dentro desse limite). E é daí que nasce a harmonia "óbvia" de haver mercados mais desenvolvidos deste serviço justamente onde haja mais pessoas dispostas a pagar por ele, e que pessoas mais interessadas em segurança privada sejam as que mais gastem com ela.

Essa pode parecer uma conversa pedante de tão óbvia que são as afirmações de "haver mais empresas onde as pessoas se dispõem a pagar mais" ou "paga mais quem tem mais interesse", mas quem pediu uma demonstração prática do anarquismo foi você. Nos limites em que o estado permite, há anarquismo na segurança privada, assim como em qualquer outra atividade imaginável, nos limites em que o estado não a regule.

O ponto é que não há a menor razão para se supor que a mesma harmonia não fosse ocorrer também em todas as esferas dominadas pelo estado, inclusive as mais fundamentais: segurança, leis e justiça. Pois os fatores presentes são os mesmos: de um lado há quem demande segurança e justiça de qualidade e leis corretas, do outro haverá quem queira ganhar ofertando segurança e justiça de qualidade, e lugares onde vigorem leis corretas.

Comparação forçadíssima. Discussões sobre a existência de Deus diferem totalmente de um debate sobre os métodos que a humanidade encontrou para organizar suas sociedades, seus defeitos e quais seriam os ideais.

Tipo, um dia os bilhões de humanos que povoaram a Terra decidiram numa grande reunião que se organizariam assim? Ou há uma deusa chamada "humanidade" que está acima de cada um desses bilhões e decide o destino das sociedades deles? :emoticon13: É o que dá a entender a sua frase.

http://www.cato.org/pubs/policy_report/cpr-18n5-1.html

Language often obscures truth. More than is ordinarily realized, our eyes are blinded to the facts of international relations by tricks of the tongue. When one uses the simple monosyllable "France" one thinks of France as a unit, an entity. When to avoid awkward repetition we use a personal pronoun in referring to a country--when for example we say "France sent her troops to conquer Tunis"--we impute not only unity but personality to the country. The very words conceal the facts and make international relations a glamorous drama in which personalized nations are the actors, and all too easily we forget the flesh-and-blood men and women who are the true actors. How different it would be if we had no such word as "France," and had to say instead--thirty-eight million men, women and children of very diversified interests and beliefs, inhabiting 218,000 square miles of territory! Then we should more accurately describe the Tunis expedition in some such way as this: "A few of these thirty-eight million persons sent thirty thousand others to conquer Tunis." This way of putting the fact immediately suggests a question, or rather a series of questions. Who are the "few"? Why did they send the thirty thousand to Tunis? And why did these obey?

Essas referências a coletividades por um nome próprio, que parecem inocentes e às quais eu pareço dar mais atenção do que devia, de fato comprometem não só a comunicação, mas o próprio entendimento da pessoa que, pelo hábito, faz uso delas.

Utilizando o exemplo, é verdade que ninguém é capaz de designar uma alocação perfeita de recursos para a segurança pública, que é uma das pouquíssimas funções que o Estado deve ter (embora eu obviamente considere mais do que adequado que as pessoas também sejam livres para oferecer serviços de segurança), mas os países desenvolvidos com criminalidades baixíssimas mostram que é perfeitamente possível manter a lei e a ordem nas sociedades, assim como a garantia de suas liberdades, sem utilizar muito de seus recursos compulsoriamente.

Aliás, quem fala em alocação ótima de recursos sempre são os anarquistas. O resultado dos investimentos estatais com os recursos dos contribuintes sempre será apenas funcional, na melhor das hipóteses. Eu nunca vi um liberal afirmar que seriam perfeitos.

Você está apenas dizendo que há países que possuem estados atuando na segurança e que neles há pouca violência. E o que se pretende dizer com isso? Uma coisa não implica a outra. Ou, se implica, não foi provado.

E o estatista pode não dizer que os burocratas alocariam "perfeitamente", mas diz que eles poderiam fazer melhor do que o sistema de preços. E é isso que está para ser provado.

Antes que você cite todos os casos de ineficiência da polícia brasileira, ou de qualquer outro país não muito seguro, não esqueça que os exemplos que temos de comunidades com sistemas legais baseados em tradições locais isolados de um sistema central, que surgiram na suposta liberdade anarquista, são muito ruins.

Eu não cometeria a falácia de mostrar um país com estado e muita violência e dizer que isso, por si só, prova que uma coisa leva à outra. Como os defensores do welfare state nórdico mostram lado a lado a grande qualidade de vida do país e as políticas de bem-estar por vezes absurdas do estado e se apressam na associação de uma coisa à outra. Como se eles houvessem alcançado um estado de perfeição, como se nem houvesse a possibilidade de que as coisas fossem ainda melhores sem a ação do estado.

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Fernando Silva
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 16-02-10
Arrogância autoritária
RODRIGO CONSTANTINO

No discurso de agradecimento pelo prêmio de “estadista global” do Fórum Econômico Mundial, o presidente Lula, num arroubo de megalomania, disse que “é hora de reinventar o mundo e suas instituições”. Segundo seu diagnóstico, a crise atual é resultado de falhas do capitalismo, e não do excesso de intervenção estatal na economia, como a pressão do governo americano para que o crédito imobiliário chegasse aos mais pobres, ou a manipulação da taxa de juros pelo banco central americano. Partindo desta falsa premissa, o presidente pretende recriar o capitalismo — como se ele tivesse sido fruto da invenção de alguns poucos.

Desde 1776, com Adam Smith, sabemos que as grandes vantagens do laissez-faire ocorrem quando cada indivíduo foca nos seus próprios interesses e investe em suas habilidades específicas. Eles são guiados por uma “mão invisível” que promove um resultado favorável a todos, independentemente de intenções iniciais.

“Não é da benevolência do açougueiro que esperamos nosso jantar, mas de sua preocupação com seu próprio interesse”, explica Smith.
A criação de um simples lápis só foi possível por esta divisão de trabalho.
Pode parecer estranho, mas ninguém saberia fazer sozinho um lápis.
Ele foi o resultado de milhões de trocas entre indivíduos. A extração da grafite, o metal, a borracha, as máquinas usadas para todas essas etapas, enfim, o processo produtivo que permite a fabricação do lápis é mais complexo do que podemos imaginar.
E, talvez o mais importante, nenhum planejador central decidiu que algo útil como o lápis deveria ser inventado.
Ele simplesmente foi.


O prêmio Nobel de economia, Hayek, utilizava o termo “ordem espontânea” para sintetizar o modelo capitalista. Ele compreendia que o conhecimento necessário para o avanço da civilização se encontra disperso entre toda a sociedade.

Além disso, o conhecimento atual não é capaz de antever as mudanças no futuro. Para Hayek, “a maior parte das vantagens da vida social, especialmente em suas formas mais avançadas que chamamos ‘civilização’, depende do fato de que o indivíduo se beneficia de maior conhecimento do que ele está ciente”. O grande equívoco dos intervencionistas foi justamente o que Hayek chamou de “arrogância fatal”, a crença de que algumas pessoas podem desenhar, de cima para baixo, uma nova sociedade mais eficiente.

Um bom exemplo para ilustrar isso é a língua de um povo. Muitos pensavam que a língua tinha sido “inventada”, criada deliberadamente por alguns com este fim. Aceitar que coisas tão úteis como a língua possam ser fruto de uma ordem espontânea exige reflexão e humildade. Tais instituições, ou, como preferia Hayek, formações, foram sendo moldadas ao longo dos séculos. Apareceram por meio das ações de diferentes indivíduos, sem que cada um deles tivesse noção exata do que estava ajudando a construir. Quando um “gênio” resolveu oferecer ao mundo uma nova língua mais racional, fracassou: hoje, praticamente ninguém conhece o esperanto.

A pretensão do presidente Lula de “reinventar o mundo” nada mais é do que a repetição desta perigosa arrogância.

O liberal, ao contrário do intervencionista, é humilde, reconhece que a sociedade é bastante complexa, e defende um processo incessante de tentativa e erro sob a livre concorrência.
Ele sabe que as imperfeições do livre mercado costumam ser agravadas com a intervenção estatal, realizada por humanos também imperfeitos.
A alternativa ao liberalismo é o autoritarismo de arrogantes que tentam impor sua limitada visão de mundo.

RODRIGO CONSTANTINO é economista.

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Darkside
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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Não venha abusar da linguagem contra mim. Defina o que você quer dizer com Estado de Direito. Até porque esse conceito já teve diversos significados, seja ao longo da história, seja saindo da boca de esquerdistas ou direitistas.


Que bom que “perguntou”.

Permita-me usar seu próprio post...

user f.k.a. Cabeção escreveu:Se você está falando da situação jurídica onde pessoas e entidades devem respeitar os direitos das outras pessoas e entidades, e que a priori tais direitos são fundamentalmente iguais, ninguém aqui está atacando tal conceito. No meu entender, o anarquista defende o Estado de Direito, desde que as entidades a serem respeitadas sejam elas voluntárias. Agora se você diz que o Estado de Direito, ou o Império das Leis, ou qualquer outra dessas abstrações políticas quase-retóricas, só pode ser garantido atraves da ascenção de burocratas delegados, estes dotados de muito mais poderes e direitos que todas as outras pessoas, nesse caso você pode se encarregar de demonstrar a sua afirmação.


Sua definição está adequada. Eu não considero que ele só pode ser garantido pelo Estado coletivista, e sim que ele foi um meio para que esse Estado de Direito fosse alcançado, embora de uma maneira apenas funcional e muitas vezes retalhado ou deturpado. Isso quando os governantes não o cultivaram apenas em uma dose mínima ou tentaram eliminar ele completamente, o que eu acredito ter sido a maioria dos casos, não importando o período histórico para o qual você olhe.

Ou seja, essa consciência sobre o que são os direitos fundamentais das pessoas e suas possíveis garantias não são, nunca foram e nem poderiam ser obra de um Estado iluminador da humanidade.

O que eu estou dizendo basicamente é que não considero o Estado necessário, e sim que a criação dessa abstração muitas vezes ajudou as pessoas a se organizarem pelos valores sociais cultivados em suas épocas e lugares, assim como ajudou a solucionar problemas urgentes para a existência de suas sociedades que não permitiram tempo para elas darem um jeito melhor.

Se você parar pra pensar, você pode observar coletivismos surgindo das mais diversas culturas, pelo mundo todo, em todas as épocas. Tribos indígenas que se uniram sob líderes para centralizar seus esforços contra inimigos em comum e imigrantes em terras novas, justamente buscando formar uma comunidade onde pudessem desfrutar de mais liberdade, que se uniram sob uma autoridade pra lutar contra a opressão de suas pátrias mães são alguns exemplos. O interessante é que os EUA já tiveram esses dois casos, justamente uma terra aparentemente envolta em uma brainstorm de ideais sobre liberdade desde que apareceu gente por lá.

Answer me this: se esse tipo de coletivismo “benéfico” não tivesse ocorrido, o que teria sido dessas comunidades? Eu sei o que aconteceu com as tribos americanas e eu sei o que políticos americanos já fizeram de absurdo com seus poderes na história daquele país, eu sei quantas injustiças suas leis já promoveram, entretanto, você pode afirmar taxativamente que aquelas iniciativas não ajudaram a manter valores fundamentais naqueles momentos e a própria existência das comunidades?

Eu considero que seja mais ou menos a mesma coisa hoje. O mais livre e desenvolvido dos países ainda mantém a coerção estatal porque ela ainda é o jeito mais adequado para se garantir os direitos individuais, embora apenas funcional. Ou pelo menos aparenta ser. Não é que o status quo seja uma prova de que o status quo é perfeito, eu não sou um crente pra pensar algo assim, mas observando as mudanças rumo à liberdade de muitos países em um passado recente, não seria absurdo afirmar que o que foi mantido como responsabilidade do Estado muitas vezes foram pontos cruciais para a organização e a segurança das nações. Você imaginaria o Reagan privatizando o exército, a polícia ou o sistema judiciário americano em plena guerra fria?

Eu acredito que o mercado pode assumir as funções exercidas por funcionários públicos de qualquer espécie sem um colapso da civilização, só que existem alguns pontos fundamentais no próprio funcionamento do mercado que não encaixam em muitas questões de nossa sociedade. Se você tiver como resultado um mercado monopolista sobre bens vitais, como energia elétrica, saneamento básico ou a própria interpretação e cumprimento da lei, ou a ausência do direito às liberdades individuais devidamente assegurados pela lei (não que esse direito só exista através da imposição de uma lei, apenas quando acatada ela serve como essa garantia), a liberdade foi por água abaixo. A coerção será um fato consumado e a diferença entre essas empresas e um estado será semântica (embora eu prefira um mercado monopolista do que um estado na maioria dos casos... é dificil imaginar a melhor entre duas situações onde em ambas você é um refém).

“Ah, então você é um anarquista, só não se dá por conta disso.”

Não, porque dinheiro, defesa de território contra invasores, recursos muito escassos de difícil exploração e que são a base para serviços fundamentais e indispensáveis em nossos dias ainda são só alguns exemplos de questões onde temos apenas soluções longe de serem perfeitas, onde o mercado não consegue ter a sua eficiência plena e, consequentemente, a liberdade está comprometida. Isso não significa que eu considere que o Estado deva ter o controle (na questão de exploração de recursos eu acho bem pelo contrário), e sim que a liberdade que o anarquista almeja é inalcançável de um jeito ou de outro.

Por outro lado, temos observado que o apreço pela liberdade tem diminuído consideravelmente o tamanho do estado onde é cultivado, até um ponto onde é possível viver tendo o que nós consideramos os direitos fundamentais assegurados, com a exceção de o estado ainda se apropriar do fruto do trabalho das pessoas para promover a segurança pública entre outras iniciativas, porém em uma escala mínima e cumprindo de maneira satisfatória esses serviços.

Você poderia protestar que essa exceção é justamente uma agressão que viola esses direitos da pior maneira possível.

E eu lhe perguntaria: se essa liberdade completa é algum direito natural sob o seu ponto de vista, por que as pessoas tiveram que abdicar dela para desenvolverem suas sociedades e não acharam um jeito de recuperá-la até hoje? O objetivo não é questionar a fundamentação moral das suas idéias, ela é irretocável, e sim ponderar se é possível existir uma sociedade com os direitos à liberdade e propriedade sob o ponto de vista anarquista.

Uma resposta possível seria que a liberdade estaria estabelecida com o fim do estado, e mesmo que um sistema mais autoritário que o próprio estado surgisse depois, ainda assim estaria dentro desse conceito de liberdade, porque as pessoas estavam livres para organizarem sua ordem social como bem queriam e optaram por isso.

Mas você não pensa assim, né? Seria trocar todo o progresso humano por um imperativo categórico.




Algo que me ocorreu só depois de escrever tudo isso... me parece que os obstáculos para o fim do estatismo funcional nas sociedades que possuem um liberalismo avançado são fundamentalmente as idéias coletivistas seguidas pelas outras nações, que fazem as pessoas se sentirem ameaçadas e não permitem um passo mais ousado nesse rumo.

Se é mesmo a necessidade de representar uma entidade coletiva no cenário internacional, seja para negociar amistosamente ou para não arriscar sua segurança diante das outras nações, que mantém o mundo organizado em Estados, acho que as coisas continuarão assim por um bom tempo...
"Temos uma coisa muito mais extraordinária: não só se consegue que uma mesa se mova magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde."

Alan Kardec, Obras Póstumas Pág. 237

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Re: Partido Libertário (LIBER), conhecem?

Mensagem por Darkside »

user f.k.a. Cabeção escreveu:E que dogma é esse de que uma não existe sinal de que a idéia de lei soberana (leia-se estatal e imposta sobre sujeitos de uma região dominada pela gangue dos burocratas) deva ser revisto? Você por acaso padece da ilusão de que as pessoas estão todas elas satisfeitas com o tamanho dos Estados e que a eficiência econômica gerada por esses arranjos está próxima da optimalidade dada a disponibilidade atual de recursos e conhecimento tecnológico?[/b][/color]


Já escrevi demais, mas isso aqui é bom esclarecer o quanto antes.

Não é dogma, apenas não seria absurdo afirmar que as pessoas (a humanidade no geral) ainda vê vantagens em viver dentro de sistemas legais aplicados compulsoriamente sobre toda a população porque... bem, o mundo está organizado assim hoje...!

Você considera a humanidade escrava de si mesma?
"Temos uma coisa muito mais extraordinária: não só se consegue que uma mesa se mova magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde."

Alan Kardec, Obras Póstumas Pág. 237

Trancado