Sim, elas podem ser cruéis
Sim, elas podem ser cruéis
Sim, elas podem ser cruéis
Um tabu impede que se discuta a maldade infantil. Mas ela existe. E pode esconder transtornos graves
MArtha Mendonça
Aos 7 anos, T. convenceu seus pais, profissionais liberais de Belo Horizonte, a demitir duas empregadas domésticas. O motivo alegado: elas batiam nele. As duas negaram as agressões, mas o menino chegou a apresentar uma marca roxa no braço. Um ano depois, nova queixa sobre outra empregada. Revoltado, o casal decidiu colocar câmeras escondidas. O que viram foi uma surpresa: T. era o agressor, com pontapés e atirando brinquedos. No fim de uma semana, perguntaram se a empregada havia batido nele novamente. Choroso, T. respondeu que havia sido surrado na cozinha – onde as imagens não mostravam nada. Diante das sucessivas mentiras, foi castigado.
Três anos depois, reincidiu. Com os pais já separados, adquiriu o costume de tirar dinheiro da carteira dos dois, dizendo ao pai que era a mesada da mãe, e vice-versa. Os pais só descobriram a farsa durante uma discussão sobre dinheiro. Pouco antes, uma empregada fora mandada embora da casa da mãe depois do sumiço de R$ 50. T. disse que a vira pegar a nota. Diante disso, os pais concluíram que o menino precisava de tratamento. Poucas sessões depois, o diagnóstico foi duro: ele apresentava o chamado transtorno de conduta, nome formal para a velha “índole ruim”.
“Não é fácil a sociedade aceitar a maldade infantil, mas ela existe”, diz Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa, no Rio de Janeiro. Ele explica que a criança ou adolescente que tem essa patologia pode se transformar, na vida adulta, em alguém com a personalidade antissocial – o termo usado hoje em dia para o que era chamado de psicopatia. “Essas crianças não têm empatia, isto é, não se importam com os sentimentos dos outros e não apresentam sofrimento psíquico pelo que fazem. Manipulam, mentem e podem até matar sem culpa”, diz Barbirato. Por volta da década de 70 do século passado, teorias sociais e psicanalíticas tentaram vincular esse comportamento perverso à educação e à sociedade. Nos últimos anos, porém, os avanços da neurologia sugerem a existência de um fenômeno físico: imagens mostram que, nas pessoas com personalidade antissocial, o sistema límbico, parte do cérebro responsável pela empatia e pela solidariedade, está desconectado do resto.
Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI130697-15228,00-SIM+ELAS+PODEM+SER+CRUEIS.html
Um tabu impede que se discuta a maldade infantil. Mas ela existe. E pode esconder transtornos graves
MArtha Mendonça
Aos 7 anos, T. convenceu seus pais, profissionais liberais de Belo Horizonte, a demitir duas empregadas domésticas. O motivo alegado: elas batiam nele. As duas negaram as agressões, mas o menino chegou a apresentar uma marca roxa no braço. Um ano depois, nova queixa sobre outra empregada. Revoltado, o casal decidiu colocar câmeras escondidas. O que viram foi uma surpresa: T. era o agressor, com pontapés e atirando brinquedos. No fim de uma semana, perguntaram se a empregada havia batido nele novamente. Choroso, T. respondeu que havia sido surrado na cozinha – onde as imagens não mostravam nada. Diante das sucessivas mentiras, foi castigado.
Três anos depois, reincidiu. Com os pais já separados, adquiriu o costume de tirar dinheiro da carteira dos dois, dizendo ao pai que era a mesada da mãe, e vice-versa. Os pais só descobriram a farsa durante uma discussão sobre dinheiro. Pouco antes, uma empregada fora mandada embora da casa da mãe depois do sumiço de R$ 50. T. disse que a vira pegar a nota. Diante disso, os pais concluíram que o menino precisava de tratamento. Poucas sessões depois, o diagnóstico foi duro: ele apresentava o chamado transtorno de conduta, nome formal para a velha “índole ruim”.
“Não é fácil a sociedade aceitar a maldade infantil, mas ela existe”, diz Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa, no Rio de Janeiro. Ele explica que a criança ou adolescente que tem essa patologia pode se transformar, na vida adulta, em alguém com a personalidade antissocial – o termo usado hoje em dia para o que era chamado de psicopatia. “Essas crianças não têm empatia, isto é, não se importam com os sentimentos dos outros e não apresentam sofrimento psíquico pelo que fazem. Manipulam, mentem e podem até matar sem culpa”, diz Barbirato. Por volta da década de 70 do século passado, teorias sociais e psicanalíticas tentaram vincular esse comportamento perverso à educação e à sociedade. Nos últimos anos, porém, os avanços da neurologia sugerem a existência de um fenômeno físico: imagens mostram que, nas pessoas com personalidade antissocial, o sistema límbico, parte do cérebro responsável pela empatia e pela solidariedade, está desconectado do resto.
Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI130697-15228,00-SIM+ELAS+PODEM+SER+CRUEIS.html
Re: Sim, elas podem ser cruéis
Não é estranho que a Época tenha se interessado pelo assunto. Eles estão enfrentando um problema com a justiça por causa da chatinha da novela das 9h00. Na sinópse do autor, a menina iria ser a vilãzinha da trama, mas o autor precisou dar uma aliviada no texto. Mas há crianças ruins, sim. Mas eu atribuo à falta de educação. Não acredito que um bebê nasça com má índole.



marta
Se deus fosse bom, amá-lo não seria mandamento.
Re: Sim, elas podem ser cruéis
marta escreveu:Não é estranho que a Época tenha se interessado pelo assunto. Eles estão enfrentando um problema com a justiça por causa da chatinha da novela das 9h00. Na sinópse do autor, a menina iria ser a vilãzinha da trama, mas o autor precisou dar uma aliviada no texto. Mas há crianças ruins, sim. Mas eu atribuo à falta de educação. Não acredito que um bebê nasça com má índole.
É aquela coisa: se você não corrigir quando novo, não vai ter jeito depois. Até no caso do garoto de 7 anos citado na matéria eu noto um caso de criança mimada demais e pouco repreendida.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
Que crianças nascem com tendências isso eu sempre vi, agora psicopatia nata é complicado inclusive porque quando se dá conta o meio já interferiu.
“Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, Thoreau
Re: Sim, elas podem ser cruéis
salgueiro escreveu:Que crianças nascem com tendências isso eu sempre vi, agora psicopatia nata é complicado inclusive porque quando se dá conta o meio já interferiu.
Acredito que crianças com tendências a serem más podem ser corrigidas mas isto requer uma participação dos pais e o redobro de atenção nas atitudes delas. Hoje em dia a maioria dos pais estão cada vez mais omissos e querem entregar a educação dos filhos aos educadores e professores. Querem fugir da responsabilidade.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
tortilla escreveu:salgueiro escreveu:Que crianças nascem com tendências isso eu sempre vi, agora psicopatia nata é complicado inclusive porque quando se dá conta o meio já interferiu.
Acredito que crianças com tendências a serem más podem ser corrigidas mas isto requer uma participação dos pais e o redobro de atenção nas atitudes delas. Hoje em dia a maioria dos pais estão cada vez mais omissos e querem entregar a educação dos filhos aos educadores e professores. Querem fugir da responsabilidade.
A filosofia de gerar e entregar ao "mundo" porque ele cria é o caminho mais curto ao desastre.
Criar filho é comparável ao trabalho de UTI, o tempo todo monitorando e sem lentes cor-de-rosa de preferência porque por mais que vc queira que seu filho seja um anjinho com certeza ele não é e se tem que trabalhar todas as características que vão assomando.
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
salgueiro escreveu:tortilla escreveu:salgueiro escreveu:Que crianças nascem com tendências isso eu sempre vi, agora psicopatia nata é complicado inclusive porque quando se dá conta o meio já interferiu.
Acredito que crianças com tendências a serem más podem ser corrigidas mas isto requer uma participação dos pais e o redobro de atenção nas atitudes delas. Hoje em dia a maioria dos pais estão cada vez mais omissos e querem entregar a educação dos filhos aos educadores e professores. Querem fugir da responsabilidade.
A filosofia de gerar e entregar ao "mundo" porque ele cria é o caminho mais curto ao desastre.
Isso fez lembrar do caso de um vizinho meu que disse pra minha mãe: "larga seu filho na rua, senão ele vai virar um bobo".
salgueiro escreveu:Criar filho é comparável ao trabalho de UTI, o tempo todo monitorando e sem lentes cor-de-rosa de preferência porque por mais que vc queira que seu filho seja um anjinho com certeza ele não é e se tem que trabalhar todas as características que vão assomando.
É fato: ninguém é santo. A criança vive num meio social onde experimenta todos os sentimentos e quando ela comete um erro deve ser punida e/ou advertida e explicada porque daquele comportamento ou atitude ser reprovada. Educar crianças não é fácil, mas tê-las... As pessoas não pensam nisso.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
tortilla escreveu:Isso fez lembrar do caso de um vizinho meu que disse pra minha mãe: "larga seu filho na rua, senão ele vai virar um bobo".
A solução é ir junto

A melhor forma é conhecer desde pequeno quem são seus companheiros de espécie e ir aprendendo a lidar com a variedade humana aos poucos.
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
salgueiro escreveu:tortilla escreveu:Isso fez lembrar do caso de um vizinho meu que disse pra minha mãe: "larga seu filho na rua, senão ele vai virar um bobo".
A solução é ir junto. É exatamente num ambiente menos cerceado que vc pode conhecer melhor a criança desde que vc não seja o agente inibidor e haja jogo de cintura para desempenhar esse papel.
A melhor forma é conhecer desde pequeno quem são seus companheiros de espécie e ir aprendendo a lidar com a variedade humana aos poucos.
Aí que mora a diferença: deixar a criança se socializar é diferente de deixar a criança se influenciar pelo meio. No caso que eu cite os filhos desse vizinho viviam na rua, cometiam atos reprováveis e não eram punidos. Mas tem se a apologia de que criança criada na rua vai ser mais esperta.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
tortilla escreveu:salgueiro escreveu:tortilla escreveu:Isso fez lembrar do caso de um vizinho meu que disse pra minha mãe: "larga seu filho na rua, senão ele vai virar um bobo".
A solução é ir junto. É exatamente num ambiente menos cerceado que vc pode conhecer melhor a criança desde que vc não seja o agente inibidor e haja jogo de cintura para desempenhar esse papel.
A melhor forma é conhecer desde pequeno quem são seus companheiros de espécie e ir aprendendo a lidar com a variedade humana aos poucos.
Aí que mora a diferença: deixar a criança se socializar é diferente de deixar a criança se influenciar pelo meio. No caso que eu cite os filhos desse vizinho viviam na rua, cometiam atos reprováveis e não eram punidos. Mas tem se a apologia de que criança criada na rua vai ser mais esperta.
O que conta vai ser o sentido dessa "esperteza", a utilização dela como conhecimento então é necessário o rumo correto desde que vc deseje um filho integrado a sociedade e não um pária.
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- Fernando Silva
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
viewtopic.php?f=1&t=20217&p=401089
Um playground cheio de crianças é um microcosmo em que todos os impulsos e calhordices da Humanidade são reproduzidos em estado puro, sem dissimulação. Alianças são feitas e desfeitas em minutos, os mais fortes ou mais ativos impõem sua vontade, e, como no mundo dos adultos, os piores conflitos parecem sempre passar pela questão da propriedade.
Desconfio que John Locke desenvolveu sua teoria sobre o instinto da propriedade acompanhando uma disputa sobre baldes e pazinhas em algum playground inglês do século XVII.
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
Desculpem se estou sendo chato, mas acho que devo falar o que acho sobre isso aqui:
1)O poder de interferência dos pais sobre a criança cai exponencialmente com o tempo e é limitado desde sempre;
2)Quando o problema é genético, o máximo que se pode fazer é tentar ensinar a criança(ou adulto) a imitar o comportamento, mas nunca será tão "perfeito" ou "natural" quanto o de verdade. Exemplos (não de problemas, mas de coisas que são encrustadas no cérebro a ponto de modificar o comportamento):
Crianças com Síndrome de Asperger não tem a capacidade de "ler" o sentimento de outras pessoas, o que pode levar a uma fobia social. Com o tempo elas podem até entender e tentar copiar essa leitura através do raciocínio, mas nunca será igual;
Crianças com Síndrome de Williams tem (tirando os problemas) uma capacidade incrível de se socializar por não terem a capacidade de estereotipar os outros por sua raça;
Não importa o quanto você cuide ou faça o que quiser, não vai ter como modificar esses comportamentos, tanto para quem tem asperger quanto para quem tem Williams. A capacidade de modificação é limitada à imitação, e não será tão natural quanto a dos outros.
Daí que, para mim, a capacidade de um pai modificar uma criança é limitada, ainda mais pela falta de conhecimento de como a criança se formou.
E eu também acho que seria ótimo se já tivéssemos todos os nossos problemas definidos geneticamente (e através de medições de hormônios da mãe e etc) para, assim que a criança nascesse, viesse junto um manual dizendo as probabilidades de como ela seria para desde cedo ter a oportunidade de, sem estigmatizar, ver se o problema existe de fato e amenizá-lo.
Enquanto não se tem isso, o que se pode fazer é, NUNCA FAZER NADA DE ERRADO PERTO DE UMA CRIANÇA, como gritar, bater (incluindo na criança), roubar, quebrar uma promessa, quebrar uma regra feita pra ser cumprida pela criança ou PARA a criança, etc. Outra coisa é SOMENTE levantar a voz quando a criança fizer algo errado, para que tenha impacto quando for necessário. Se tiver que haver uma punição, que seja um castigo de ficar sem alguma coisa de que ela goste e/ou ficar presa em algum lugar.
Mas isso tudo apenas mostrará pra ela o que seria o certo de se fazer. Nada vai fazê-la ser assim quando sair de seu lado, mesmo que você tenha alertado sobre não fazê-lo, PRINCIPALMENTE se ela tiver algo neurológico (tanto para o bem quando para o mal).
Acho que saí do escopo do tópico |:/
1)O poder de interferência dos pais sobre a criança cai exponencialmente com o tempo e é limitado desde sempre;
2)Quando o problema é genético, o máximo que se pode fazer é tentar ensinar a criança(ou adulto) a imitar o comportamento, mas nunca será tão "perfeito" ou "natural" quanto o de verdade. Exemplos (não de problemas, mas de coisas que são encrustadas no cérebro a ponto de modificar o comportamento):
Crianças com Síndrome de Asperger não tem a capacidade de "ler" o sentimento de outras pessoas, o que pode levar a uma fobia social. Com o tempo elas podem até entender e tentar copiar essa leitura através do raciocínio, mas nunca será igual;
Crianças com Síndrome de Williams tem (tirando os problemas) uma capacidade incrível de se socializar por não terem a capacidade de estereotipar os outros por sua raça;
Não importa o quanto você cuide ou faça o que quiser, não vai ter como modificar esses comportamentos, tanto para quem tem asperger quanto para quem tem Williams. A capacidade de modificação é limitada à imitação, e não será tão natural quanto a dos outros.
Daí que, para mim, a capacidade de um pai modificar uma criança é limitada, ainda mais pela falta de conhecimento de como a criança se formou.
E eu também acho que seria ótimo se já tivéssemos todos os nossos problemas definidos geneticamente (e através de medições de hormônios da mãe e etc) para, assim que a criança nascesse, viesse junto um manual dizendo as probabilidades de como ela seria para desde cedo ter a oportunidade de, sem estigmatizar, ver se o problema existe de fato e amenizá-lo.
Enquanto não se tem isso, o que se pode fazer é, NUNCA FAZER NADA DE ERRADO PERTO DE UMA CRIANÇA, como gritar, bater (incluindo na criança), roubar, quebrar uma promessa, quebrar uma regra feita pra ser cumprida pela criança ou PARA a criança, etc. Outra coisa é SOMENTE levantar a voz quando a criança fizer algo errado, para que tenha impacto quando for necessário. Se tiver que haver uma punição, que seja um castigo de ficar sem alguma coisa de que ela goste e/ou ficar presa em algum lugar.
Mas isso tudo apenas mostrará pra ela o que seria o certo de se fazer. Nada vai fazê-la ser assim quando sair de seu lado, mesmo que você tenha alertado sobre não fazê-lo, PRINCIPALMENTE se ela tiver algo neurológico (tanto para o bem quando para o mal).
Acho que saí do escopo do tópico |:/
O amor e a bondade não são uma propriedade ou uma franquia de alguma coisa ou alguém. Ao Invés disso, eles estão em cada um de nós.
Re: Sim, elas podem ser cruéis
salgueiro escreveu:tortilla escreveu:salgueiro escreveu:tortilla escreveu:Isso fez lembrar do caso de um vizinho meu que disse pra minha mãe: "larga seu filho na rua, senão ele vai virar um bobo".
A solução é ir junto. É exatamente num ambiente menos cerceado que vc pode conhecer melhor a criança desde que vc não seja o agente inibidor e haja jogo de cintura para desempenhar esse papel.
A melhor forma é conhecer desde pequeno quem são seus companheiros de espécie e ir aprendendo a lidar com a variedade humana aos poucos.
Aí que mora a diferença: deixar a criança se socializar é diferente de deixar a criança se influenciar pelo meio. No caso que eu cite os filhos desse vizinho viviam na rua, cometiam atos reprováveis e não eram punidos. Mas tem se a apologia de que criança criada na rua vai ser mais esperta.
O que conta vai ser o sentido dessa "esperteza", a utilização dela como conhecimento então é necessário o rumo correto desde que vc deseje um filho integrado a sociedade e não um pária.
Salgueiro falo no caso de omissão. Quando disse "largar na rua" é deixar de lado se virar. Não que você seje uma pessoa superprotetora e não deixe teu filho sair de casa e sim estar a par de onde seu filho está e com quem está.
T3mporal escreveu:Desculpem se estou sendo chato, mas acho que devo falar o que acho sobre isso aqui:
1)O poder de interferência dos pais sobre a criança cai exponencialmente com o tempo e é limitado desde sempre;
2)Quando o problema é genético, o máximo que se pode fazer é tentar ensinar a criança(ou adulto) a imitar o comportamento, mas nunca será tão "perfeito" ou "natural" quanto o de verdade. Exemplos (não de problemas, mas de coisas que são encrustadas no cérebro a ponto de modificar o comportamento):
Crianças com Síndrome de Asperger não tem a capacidade de "ler" o sentimento de outras pessoas, o que pode levar a uma fobia social. Com o tempo elas podem até entender e tentar copiar essa leitura através do raciocínio, mas nunca será igual;
Crianças com Síndrome de Williams tem (tirando os problemas) uma capacidade incrível de se socializar por não terem a capacidade de estereotipar os outros por sua raça;
Não importa o quanto você cuide ou faça o que quiser, não vai ter como modificar esses comportamentos, tanto para quem tem asperger quanto para quem tem Williams. A capacidade de modificação é limitada à imitação, e não será tão natural quanto a dos outros.
Daí que, para mim, a capacidade de um pai modificar uma criança é limitada, ainda mais pela falta de conhecimento de como a criança se formou.
E eu também acho que seria ótimo se já tivéssemos todos os nossos problemas definidos geneticamente (e através de medições de hormônios da mãe e etc) para, assim que a criança nascesse, viesse junto um manual dizendo as probabilidades de como ela seria para desde cedo ter a oportunidade de, sem estigmatizar, ver se o problema existe de fato e amenizá-lo.
Enquanto não se tem isso, o que se pode fazer é, NUNCA FAZER NADA DE ERRADO PERTO DE UMA CRIANÇA, como gritar, bater (incluindo na criança), roubar, quebrar uma promessa, quebrar uma regra feita pra ser cumprida pela criança ou PARA a criança, etc. Outra coisa é SOMENTE levantar a voz quando a criança fizer algo errado, para que tenha impacto quando for necessário. Se tiver que haver uma punição, que seja um castigo de ficar sem alguma coisa de que ela goste e/ou ficar presa em algum lugar.
Mas isso tudo apenas mostrará pra ela o que seria o certo de se fazer. Nada vai fazê-la ser assim quando sair de seu lado, mesmo que você tenha alertado sobre não fazê-lo, PRINCIPALMENTE se ela tiver algo neurológico (tanto para o bem quando para o mal).
Acho que saí do escopo do tópico |:/
Não, que isso cara. Curti e concordo com seu pensamento. Por isso que volto a frisar que não é fácil educar uma criança, mas por uma no mundo é.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
tortilla escreveu:Salgueiro falo no caso de omissão. Quando disse "largar na rua" é deixar de lado se virar. Não que você seje uma pessoa superprotetora e não deixe teu filho sair de casa e sim estar a par de onde seu filho está e com quem está.
Liga não, é que tenho mania de me embarafustar e alongar no meio do assunto apontando soluções.
Temos a mesma visão do assunto.

“Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, Thoreau
Re: Sim, elas podem ser cruéis
Fernando Silva escreveu:http://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?f=1&t=20217&p=401089Um playground cheio de crianças é um microcosmo em que todos os impulsos e calhordices da Humanidade são reproduzidos em estado puro, sem dissimulação. Alianças são feitas e desfeitas em minutos, os mais fortes ou mais ativos impõem sua vontade, e, como no mundo dos adultos, os piores conflitos parecem sempre passar pela questão da propriedade.
Desconfio que John Locke desenvolveu sua teoria sobre o instinto da propriedade acompanhando uma disputa sobre baldes e pazinhas em algum playground inglês do século XVII.
É aquilo, crianças diferentes sendo educadas de formas diferentes com valores diferentes. A criança tem que lidar com os colegas e descobrir sozinha. E sempre dialogando com os pais, professores e afins.
- salgueiro
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Re: Sim, elas podem ser cruéis
T3mporal
Tolos dos pais que crêem que seus filhos serão o que eles quiserem, o máximo que vc vai conseguir se fizer um trabalho direito é que ele jamais deixe de te ouvir e de ponderar o que vc fala ao longo da vida. Só isso já é trabalho hérculeo na formação desse elo que é um misto de amor, confiança e respeito.
Filho é um pacote surpresa sem manual de instruções, pelo menos até o momento, então quem quiser ter vai ter que lidar exatamente com isso. Quem achar que chega zerado e está pronto a ser moldado ao gosto do freguês vai tomar um susto ou que só vai herdar as características "generosas" da família rapidinho as lentes cor-de-rosa vão se desmanchar.
Quando a criança nasce com um problema físico extra o esforço necessário para criá-la aumenta em níveis exponenciais e não precisa nem ser "grave", pequenos distúrbios já o fazem. É preciso estar preparado.
Tolos dos pais que crêem que seus filhos serão o que eles quiserem, o máximo que vc vai conseguir se fizer um trabalho direito é que ele jamais deixe de te ouvir e de ponderar o que vc fala ao longo da vida. Só isso já é trabalho hérculeo na formação desse elo que é um misto de amor, confiança e respeito.
Filho é um pacote surpresa sem manual de instruções, pelo menos até o momento, então quem quiser ter vai ter que lidar exatamente com isso. Quem achar que chega zerado e está pronto a ser moldado ao gosto do freguês vai tomar um susto ou que só vai herdar as características "generosas" da família rapidinho as lentes cor-de-rosa vão se desmanchar.
Quando a criança nasce com um problema físico extra o esforço necessário para criá-la aumenta em níveis exponenciais e não precisa nem ser "grave", pequenos distúrbios já o fazem. É preciso estar preparado.
“Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, Thoreau
Re: Sim, elas podem ser cruéis
salgueiro escreveu:tortilla escreveu:salgueiro escreveu:Que crianças nascem com tendências isso eu sempre vi, agora psicopatia nata é complicado inclusive porque quando se dá conta o meio já interferiu.
Acredito que crianças com tendências a serem más podem ser corrigidas mas isto requer uma participação dos pais e o redobro de atenção nas atitudes delas. Hoje em dia a maioria dos pais estão cada vez mais omissos e querem entregar a educação dos filhos aos educadores e professores. Querem fugir da responsabilidade.
A filosofia de gerar e entregar ao "mundo" porque ele cria é o caminho mais curto ao desastre.
Criar filho é comparável ao trabalho de UTI, o tempo todo monitorando e sem lentes cor-de-rosa de preferência porque por mais que vc queira que seu filho seja um anjinho com certeza ele não é e se tem que trabalhar todas as características que vão assomando.
Concordo em gênero e número. Todas as crianças insurportáveis que eu conheço, os pais são piores. Terceiruzam a educação a qualquer um que estiver disponível: às creches, às escolas, às empregadas, aos avós, aos tios, aos pais dos amigos, enfim. Quando o estrago está feito, é quase sempre tarde para consertar. Filho, se souber criar, não vai falhar. Eu sou da filosofia: tenha trabalho com seu filho nos primeiros cinco anos e descanse os demais. Ou não.



marta
Se deus fosse bom, amá-lo não seria mandamento.