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Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 05 Mai 2010, 14:41
por DDV
Nas relações econômicas, o que é muito ofertado valerá menos do que o que é pouco ofertado.
No caso dos trabalhadores e empresários, a tendência é que haja mais trabalhadores e menos empresários na economia, o que por si só tende a ser uma desvantagem para os trabalhadores na hora de negociar salários. Mas isso não é a questão principal do tópico.
Os empresários ofertam seus bens no mercado. Quanto mais ofertantes houver, mais concorrência haverá, e menores os preços serão.
Idem com os trabalhadores: mais trabalhadores disponíveis aumenta a concorrência por empregos, o que puxa os salários para baixo.
Tanto os empresários, quanto os trabalhadores, podem se reunir em associações, de modo que a oferta de mã-de-obra (no caso dos trabalhadores) ou de produtos e serviços (no caso de empresários) possa ser melhjor controlada, atenuando-se a concorrência, o que puxa os salários (no caso dos trabalhadores) e preços (no caso dos empresários) para cima.
Aqui entra a postura contraditória da Escola Austríaca.
Os austríacos combatem e recriminam ferozmente as associações sindicais, alegando que permitem ganhos "irreais" por parte dos trabalhadores, o que é ruim para a atividade econômica, para os empreendimentos e, em última análise, para o emprego e a renda das pessoas. Defendem enfraquecimento ou mesmo extinção dos sindicatos, e defendem também a existência de um desemprego "natural" que serviria entre outras coisas para deixar o mercado de trabalho o mais concorrencial possível.
Porém, quando passam para o lado empresarial, a coisa muda radicalmente e diametralmente de figura: acham que
os cartéis e trustes são coisas "naturais" da economia, que combatê-los é inadequado, que faz parte da liberdade econômica poder se associar com outros para evitar a concorrência, e nega QUALQUER dano ou nocividade à economia e à sociedade decorrentes disso. O extremo oposto do que falam dos sindicatos!
Afinal, porque tamanha diferença de tratamento! Porque os empresários fazendo cartéis e trustes é considerado normal e não-nocivo, mas os trabalhadores associando-se em sindicatos é considerado péssimo para a economia e indesejável? Onde está a diferença entre os 2 casos?
Olhando essa diferença de tratamento, sem nenhuma justificativa lógica e empírica, começo a achar mais ainda que a Escola Austríaca não é séria.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 05 Mai 2010, 15:07
por DDV
Todos sabem perfeitamente que sem a concorrência, a oferta privada fica UMA MERDA.
Tudo de bom que a economia de mercado trás tem, entre seus maiores pilares, a concorrência.
Chega a ser RIDÍCULO um austríaco defendendo privatizações até mesmo da segurança pública, alegando que a CONCORRÊNCIA melhora a qualidade, e ao mesmo tempo defendendo cartéis e trustes, que são formas de se acabar com a CONCORRÊNCIA!
Afinal, qual é a dos austríacos?!
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 05 Mai 2010, 15:30
por joaomichelazzo
[quote="DDV"Chega a ser RIDÍCULO um austríaco defendendo privatizações até mesmo da segurança pública, alegando que a CONCORRÊNCIA melhora a qualidade, e ao mesmo tempo defendendo cartéis e trustes, que são formas de se acabar com a CONCORRÊNCIA!
Afinal, qual é a dos austríacos?![/quote]
É a escola Tucana, fazendo filiais na Europa.
[O Encosto ON]Empresário não cria empresa pra dar emprego[O Encosto OFF]
[Sorrelfa ON] Sindicalista é tudo vagabundo. Essa turma de Petralha grevista da Austria tem mais é que se ferrar[Sorrelfa OFF]
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 06 Mai 2010, 17:18
por Huxley
O pior é que, mesmo usando a lógica deles, eles ainda estariam errados. A existência de desemprego involuntário não pode ser atribuído ao processo de barganha coletivo ou à existência de sindicatos; trabalhadores involuntariamente desempregados – descontentes com o resultado das negociações coletivas – se desfiliariam dos sindicatos e fariam acordos individuais ao salário real de equilíbrio; se não o fazem, é por vontade própria, e portanto tal desemprego não seria involuntário, mas sim voluntário.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 07 Mai 2010, 16:11
por zumbi filosófico
Não dá para eximir os sindicatos de responsabilidade no desemprego. O que eles fazem é essencialmente reduzir a população efetivamente empregável, assim remediando, para alguns, o baixo valor da mão de obra disponível.
Se mesmo assim os sindicalizados não conseguem emprego, e nem por isso deixam de sair dos sindicatos, não quer dizer que sejam desempregados voluntários, apenas que acreditam que sendo sindicalizados ainda assim tem maiores chances de conseguir emprego, o que não deixa de ser verdade se tiverem conseguido pressionar para que seja exigência legal essa associação.
Lógica parecida funciona para todo (ou quase) encargo trabalhista, como salário mínimo.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 07 Mai 2010, 16:13
por zumbi filosófico
joaomichelazzo escreveu:DDV escreveu:Chega a ser RIDÍCULO um austríaco defendendo privatizações até mesmo da segurança pública, alegando que a CONCORRÊNCIA melhora a qualidade, e ao mesmo tempo defendendo cartéis e trustes, que são formas de se acabar com a CONCORRÊNCIA!
Afinal, qual é a dos austríacos?!
É a escola Tucana, fazendo filiais na Europa.
[O Encosto ON]Empresário não cria empresa pra dar emprego[O Encosto OFF]
[Sorrelfa ON] Sindicalista é tudo vagabundo. Essa turma de Petralha grevista da Austria tem mais é que se ferrar[Sorrelfa OFF]
Gostaria de saber mais sobre a defesa de cartéis e trustes pelo PSDB.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 07 Mai 2010, 23:14
por Huxley
zumbi filosófico escreveu:Não dá para eximir os sindicatos de responsabilidade no desemprego. O que eles fazem é essencialmente reduzir a população efetivamente empregável, assim remediando, para alguns, o baixo valor da mão de obra disponível.
Se mesmo assim os sindicalizados não conseguem emprego, e nem por isso deixam de sair dos sindicatos, não quer dizer que sejam desempregados voluntários, apenas que acreditam que sendo sindicalizados ainda assim tem maiores chances de conseguir emprego, o que não deixa de ser verdade se tiverem conseguido pressionar para que seja exigência legal essa associação.
Lógica parecida funciona para todo (ou quase) encargo trabalhista, como salário mínimo.
Se eu entendi o que você quis dizer, está dizendo que existe um
trade-off entre nível de salário e nível de emprego a um dado nível de produtividade do trabalho, mas que, de certa forma, os trabalhadores são ignorantes sobre isso. O problema é que o conceito de equilíbrio de mercado já parte da premissa que toda ação gera uma reação, isto é, os integrantes do mercado saberão reagir às variáveis de modo a restaurar a igualdade entre oferta e demanda, seja devido ao seu nível de instrução ou ao aprendizado pelo método de tentativa-e-erro. Se, de forma persistente, os integrantes do mercado não sabem reagir ao desemprego com um movimento no nível de salário desejado no sentido favorável ao equilíbrio, não há qualquer equilíbrio de mercado por definição.
Isso é bem diferente do caso do salário mínimo, onde haveria alguma lógica em relacioná-lo ao desemprego involuntário. Segundo esta visão, os trabalhadores saberiam reagir adequadamente a queda na demanda de trabalho por parte dos empregadores, mas como eles perdem (parcialmente) o controle sobre a variável "salário médio efetivo" devido a um agente externo (o Estado), eles ficariam involuntariamente desempregados.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 08 Mai 2010, 12:21
por user f.k.a. Cabeção
A maioria dos autores da escola austriaca nao seria contra organizacoes voluntarias de trabalhadores, tanto quanto nao sao contra organizacoes voluntarias de patroes.
O que eles criticam e o status especial de poder dos sindicatos, que sao protegidos por leis na sua atividade que basicamente consiste em empedir pessoas de trabalhar. Alem do fato especialmente nefasto de que em algumas atividades os sindicatos serem os monopolistas oficiais ou para-oficiais da oferta de empregos (como na medicina e direito por exemplo).
A postura austriaca e consistente:
Eles sao contra favorecimentos politicos tanto aos patroes quanto aos empregados (ou os seus sedizentes "representantes" sindicais, quase sempre compulsorios).
Se voce e contra esse tipo de pensamento voce simplesmente acha que deve existir uma competicao de grupos de pressao pelo capital politico que lhes de direito de explorar os outros grupos.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 08 Mai 2010, 12:36
por user f.k.a. Cabeção
Huxley escreveu:
Se eu entendi o que você quis dizer, está dizendo que existe um trade-off entre nível de salário e nível de emprego a um dado nível de produtividade do trabalho, mas que, de certa forma, os trabalhadores são ignorantes sobre isso. O problema é que o conceito de equilíbrio de mercado já parte da premissa que toda ação gera uma reação, isto é, os integrantes do mercado saberão reagir às variáveis de modo a restaurar a igualdade entre oferta e demanda, seja devido ao seu nível de instrução ou ao aprendizado pelo método de tentativa-e-erro. Se, de forma persistente, os integrantes do mercado não sabem reagir ao desemprego com um movimento no nível de salário desejado no sentido favorável ao equilíbrio, não há qualquer equilíbrio de mercado por definição.
A dinâmica aqui é bem simples e dificilmente você poderia refuta a evidência histórica existente desde os registros das guildas medievais, de que associações de profissionais possuem como meta garantir níveis salariais restringindo a oferta de trabalho no local onde há demanda por ele.
Você pode apelar para abstrações linguísticas sobre o equilíbrio de mercado, mas dificilmente pode negar um fato.
Além disso, o mercado nunca está em equilíbrio, sendo esse um estado potencial para o qual uma determinada configuração convergiria se nenhum choque aleatório fizesse os parâmetros se modificarem de forma imprevisível.
Portanto, uma lei que favoreça a brutalidade sindical pode durante muito tempo gerar lucros para os membros dos sindicatos as custas das demais pessoas, mesmo que se parta do princípio de que sendo ineficiente esse tipo de dinâmica se dissipará no longo prazo, dada a racionalidade dos indivíduos e sua capacidade de encontrar alternativas e soluções eficazes.
Partindo da sua lógica poderiamos concluir que os controles de preço nunca gerariam escassez e filas, ou que um monopólio oficial nunca restringiria a oferta de um produto para disso extrair lucros monopolísticos, já que o mercado tenderia a se equilibrar no fim das contas.
Vai la explicar pro venezuelano que quer beber leite que a fila e as prateleiras vazias são imaginárias.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 09 Mai 2010, 02:27
por Huxley
user f.k.a. Cabeção escreveu:
A dinâmica aqui é bem simples e dificilmente você poderia refuta a evidência histórica existente desde os registros das guildas medievais, de que associações de profissionais possuem como meta garantir níveis salariais restringindo a oferta de trabalho no local onde há demanda por ele.
Você pode apelar para abstrações linguísticas sobre o equilíbrio de mercado, mas dificilmente pode negar um fato.
Além disso, o mercado nunca está em equilíbrio, sendo esse um estado potencial para o qual uma determinada configuração convergiria se nenhum choque aleatório fizesse os parâmetros se modificarem de forma imprevisível.
Portanto, uma lei que favoreça a brutalidade sindical pode durante muito tempo gerar lucros para os membros dos sindicatos as custas das demais pessoas, mesmo que se parta do princípio de que sendo ineficiente esse tipo de dinâmica se dissipará no longo prazo, dada a racionalidade dos indivíduos e sua capacidade de encontrar alternativas e soluções eficazes.
Segundo a lógica do equilíbrio de mercado, se existirem trabalhadores sindicalizados que querem ganhar acima do nivel de equilíbrio, tanto pior para eles, porque não existe qualquer lei proibindo demissão de trabalhador afiliado a sindicato. Você fala como se a Volkswagen nunca tivesse conseguido demitir milhares de trabalhadores afiliados ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de uma só vez.
user f.k.a. Cabeção escreveu: Partindo da sua lógica poderiamos concluir que os controles de preço nunca gerariam escassez e filas, ou que um monopólio oficial nunca restringiria a oferta de um produto para disso extrair lucros monopolísticos, já que o mercado tenderia a se equilibrar no fim das contas.
Vai la explicar pro venezuelano que quer beber leite que a fila e as prateleiras vazias são imaginárias.
Sindicatos não geram controle de preços porque não há nada do que eles possam ter monopólio no mercado de trabalho. Ninguém pode obrigar um trabalhador a entregar a propriedade de sua força-de-trabalho a um sindicato. Ninguém pode obrigar um trabalhador a não se desfiliar de um sindicato. O mercado de trabalho é um mercado atomístico.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 09 Mai 2010, 08:36
por user f.k.a. Cabeção
Duas coisas que eu não quero fazer: me repetir nem perder tempo demonstrando o óbvio.
Talvez você esteja usando alguma noção restrita da palavra sindicato, mas desde que o mundo é mundo sempre houve guildas de trabalhadores locais buscando monopolizar a oferta de um serviço, de maneira a aumentar os salárias gerando escassez artificial de mão de obra.
Sindicatos já usaram diversos artifícios, desde o lobby político, conquistando leis favoráveis as suas ações (como o pressuposto direito à greve), seja por meios extra-oficiais, ameaçando fura-greves e trabalhadores não sindicalizados, sabotando instalações industriais e mantendo relações obscuras com mafiosos.
O grau de sucesso dessas manobras pode ser variável, e como se trata de uma espécie de exploração, no longo prazo o processo de "equilibrio" (eu prefiro pensar em evolução) de mercado elimina ineficiências locais.
Mas negar que a maioria dos sindicatos (seja ele de pedreiros, moleiros, mecânicos, artesãos, advogados, médicos, ladrões, escroques, prostitutas e o diabo a quatro) tem esse objetivo, é levar a discussão para um país da fantasia que eu no qual eu não tenho a menor intenção de passear.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 09 Mai 2010, 14:50
por Huxley
Até parece que um sindicato pode ameaçar de forma persistente algum fura-greve sem a cumplicidade de seu afiliado - esse é o caso análogo a uma mulher ameaçada pelo marido violento que continua casada com ele e que não usa a lei Maria da Penha.
Eis o mundo da fantasia do Cabeção. Os sindicatos são abundantes, poderosíssimos na determinação dos salários e torna cada vez mais escassa essa mercadoria escassíssima chamada mão-de-obra.
Voltando ao mundo da realidade. No setor onde os sindicatos estão tradicionalmente implantados - o industrial - há demissões em massa de membros daqueles que são considerados os sindicatos mais poderosos. Os sindicalizados formam a minoria dos trabalhadores e a dessindicalização aumenta cada vez mais porque os sindicatos são literalmente esmagados pelo maior poder de barganha dos empregadores, que frequentemente podem dizer: "aumente o nível de salário desejado, mas levem em conta que tem quinhentos lá fora querendo receber bem menos que vocês".
O maior poder de barganha dos empregadores nas negociações está em todos os níveis. Eu tinha um colega universitário que dizia que quando trabalhava na Riachuelo recebia um salário abaixo do salário mínimo legal, porque saía mais barato para a empresa pagar a multa que o fiscal do governo cobrava do que cumprir a lei. E olhe que estamos falando de uma grande empresa que é mais alvo da fiscalização. Imagine as outras firmas menores que formam a maioria dos empregadores. Ele dizia também que a prática não se restringia a trabalhadores jovens como ele.
Ademais, não há a evidência do processo no qual o único nível de salário sustentável é aquele que satisfaz a condição de equilíbrio de mercado e que implica, por exemplo, que salários ficarão caindo enquanto houver qualquer grau de desemprego involuntário, não importa quão pequeno.
A condição de equilíbrio de mercado não descarta situações nas quais prevaleça excesso de oferta
crônico. Neste caso, porém, o serviço de fator que está em excesso de oferta não é escasso e seu preço
cairá a zero. Daí, por exemplo, uma situação de permanente desemprego involuntário de trabalho deveria
implicar em salários nulos. Ou então, dever-se-ia teorizar que os salários reais de mercado observados são (distúrbios
aleatórios à parte) em verdade salários de equilíbrio de mercado e o desemprego involuntário realmente nunca acontece. Como já faz Robert Lucas - e outros economistas de Chicago da chamada "Economia Novo-Clássica" - , que já disse: “o desemprego voluntário não é um fato ou um fenômeno que deve ser explicado pelos teóricos” e sim “uma construção teórica introduzida por Keynes”.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 13 Mai 2010, 21:31
por DDV
Os anarquistas chegam a defender até a privatização da justiça a da polícia (pasmen), alegando que a concorrência* traria mais qualidade para estes serviços.
*No caso, segundo os anarquistas, seria uma concorrência "cavalheiresca", e não uma concorrência de verdade (disputando na bala o controle das áreas "protegidas", dado que não haveria estado e leis).
Entretanto, os mesmos anarquistas que alegam que a concorrência tornaria uma justiça e polícia privada superiores, defendem cartéis e trustes, ou seja, defendem meios de se eliminar a concorrência.
Como ficamos então?
Anarquistas e simpatizantes, expliquem-se.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 14 Mai 2010, 08:03
por user f.k.a. Cabeção
Huxley:
Não vou reclamar de falta de tempo, mas também não vou perdê-lo.
A questão aqui é muito simples. Austríacos não são contra organizações trabalhistas voluntárias que se proponham a prestar serviços de representação a trabalhadores de um determinado setor.
Eles são contra privilégios sindicais conquistados por vias políticas ou ilegais, quando esses privilégios se traduzem em oprimir trabalhadores não sindicalizados, patrões ou clientes.
Se a situação da classe sindicalizada no Brasil é boa ou ruim, isso não é o ponto do debate. E se você quer negar que a formação de sindicatos teve origem em grande parte no interesse de se cartelizar certas profissões de maneira a obter ganhos monopolistas, meu amigo, eu não tenho porque continuar discutindo com tamanho escapismo.
DDV:
Nenhum defensor do livre mercado defende meios de se eliminar a concorrência, porque ele acredita que ela é resultado espontâneo da livre entrada de players no mercado.
Agora se os produtores estabelecidos quiserem estabelecer um conjunto de regras de concorrência, desde que esse tipo de acordo não se faça violando contratos prévios nem sob ameaças violentas contra não-participantes, não há nada a se argumentar.
É como se essas empresas se fundissem numa meta-empresa, de maneira a maximizar os ganhos dos participantes. Ocorre que essa meta-empresa pode ser mais eficiente para os consumidores, o que representa de fato um ganho geral, ou pode ser menos eficiente, criando oportunidade para concorrentes aparecerem num ambiente de livre-mercado.
É claro que durante o tempo que os potenciais concorrentes se organizam para concorrer, pode ser que ela faça alguns lucros monopolísticos, mas essas perturbações são necessárias para que o mercado evolua em contratos mais eficientes.
Rídiculo é acreditar que o "gênio burocrata" do organismo de proteção da concorrência tem na sua cabeça uma concepção optimal de competitividade e escala industrial e que fusões e acordos empresariais tem que ser aprovados por eles para o benefício de todos.
Porque no fundo, é nisso que vocês acreditam, em "gênios burocratas", que estão sempre lá para salvar o mercado da sua tendência a se desintegrar.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 19 Mai 2010, 16:28
por Herf
DDV escreveu:Os anarquistas chegam a defender até a privatização da justiça a da polícia (pasmen), alegando que a concorrência* traria mais qualidade para estes serviços.
*No caso, segundo os anarquistas, seria uma concorrência "cavalheiresca", e não uma concorrência de verdade (disputando na bala o controle das áreas "protegidas", dado que não haveria estado e leis).
Entretanto, os mesmos anarquistas que alegam que a concorrência tornaria uma justiça e polícia privada superiores, defendem cartéis e trustes, ou seja, defendem meios de se eliminar a concorrência.
Como ficamos então?
Anarquistas e simpatizantes, expliquem-se.
Eu não sei por que explico isso de novo, você vem sempre com as mesmas perguntas.
Nenhum austríaco defende cartéis e trustes no sentido de que acha que um cartel e um truste são as melhores formas de alocar recursos. Na verdade, nenhum austríaco defende qualquer forma específica de se organizar os recursos produtivos disponíveis, pois o ponto é que ninguém pode dizer qual é a melhor forma de fazê-lo, ninguém tem a capacidade sobre-humana de avaliar todas as variáveis em jogo no mercado para extrair delas o resultado mais satisfatório.
Trustes e cartéis
podem ser as formas mais economicamente viáveis de se organizar determinados meios de produção para produzir alguma coisa em um contexto, como também milhares de empresas produzindo independentemente pode ser a melhor forma para produzir outra coisa em outro contexto.
Mostre-me o método pelo qual você concluiu que a atual quantidade de empresas trabalhando em um dado setor no qual você não defende a intervenção do estado com o fim de aumentar a concorrência - como o de vestuário ou o de carros - é a qualtidade ideal, e que não seria ainda melhor haver algumas centenas de empresas adicionais atuando neste setor. Já que sob a sua ótica mais concorrência é sempre melhor, então valeria sempre a pena dispender ainda mais recursos incentivando ainda mais empresas a ingressar naquele ramo, ad infinitum. Seja por meio de auxílios pecuniários por parte do estado, seja por meio de restringir o crescimento das já existentes (o que é uma forma velada de despender os recursos de todo mundo).
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 19 Mai 2010, 20:58
por DDV
Não confundam cartéis e trustes com monopólios. Monopólios sem cartel, truste ou dumping não são "proibidos" e não praticam ativamente nada danoso à concorrência. Apoenas cartéis, trustes e dumpings são proibidos.
O ponto é: cartel, truste e dumping são meios de se DESTRUIR a concorrência, e os austríacos não fazem oposição aos mesmos (ou seja, à destruição da concorrência). No entanto, os mesmos austríacos alegam que a iniciativa privada é melhor em tudo do que a estatal (incluindo justiça e polícia!) por causa... da concorrência!
Como ficamos então?
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 19 Mai 2010, 21:04
por DDV
user.f.k.a cabeção escreveu:É como se essas empresas se fundissem numa meta-empresa, de maneira a maximizar os ganhos dos participantes. Ocorre que essa meta-empresa pode ser mais eficiente para os consumidores, o que representa de fato um ganho geral, ou pode ser menos eficiente, criando oportunidade para concorrentes aparecerem num ambiente de livre-mercado
Isso seria possível em um monopólio PURO, que não é considerado danoso e não é proibido.
Com cartéis, trustes e dumpings, a coisa se passa diferente.
Em cartéis, a entrada de novos players ocorre fácil, mas em 99,99% das vezes eles preferem se associar ao cartel, pois é muito mais vantajoso para eles (há ameaças também, mas isso não vem ao caso e não é o mais importante).
Nos trustes, é praticamente impossível entrar novos players no mercado se o estado não intervir.
Já o dumping é uma forma dos monopólios já estabelecidos impedirem a entrada de novos concorrentes no mercado.
É sobre essas 3 manobras lesivas à ordem econômica capitalista que o tópico se refere, e não aos monopólios puros.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 19 Mai 2010, 21:10
por DDV
Essas 3 manobras são mais fáceis de aplicar, obviamente, quanto menos concorrentes houver no mercado. Quanto mais concorrentes houver, mais difícil fica armarem uma manobra lesiva ao consumidor.
Truste, por definição, só pode ocorrer com um monopólio.
Dumping costuma ocorrer mais com monopólios, mas pode haver em oligopólios (uma espécie de "cartel ao contrário").
Já os cartéis podem ocorrer envolvendo muitas empresas. Os postos de gasolina estão aí para mostrar que praticamente não há limites de quantidade de ofertantes que o inviabilizem.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 19 Mai 2010, 21:13
por DDV
A forma mais adequada de se combater cartéis, em minha opinião, é com dumping estatal.
Trustes é mais complicado. Só mesmo com intervenção jurídica estatal.
Dumpings podem ser combatidos com intervenção jurídica ou com subsídios a novos concorrentes.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 20 Mai 2010, 11:32
por Herf
No entanto, os mesmos austríacos alegam que a iniciativa privada é melhor em tudo do que a estatal (incluindo justiça e polícia!) por causa... da concorrência!
Novamente, não é esse o ponto. Austríacos não negam que o estado pode prestar um serviço de qualidade muito superior à prestada pela iniciativa privada. Ocorre que, se o estado faz isso, não o faz por competência dos burocratas, e sim porque o estado não precisa se preocupar com a viabilidade econômica de seus empreendimentos. Basta tributar. Quem liga se o empreendimento não vai se pagar? Daí basta conceder milhões para a pesquisa científica ultra-avançada, mesmo não havendo demanda para pesquisa científica ultra-avançada, e depois sair propagandeando para todo mundo que a "pesquisa promovida pelo estado é melhor que a da iniciativa privada".
De fato, a pesquisa promovida pelo estado é melhor, mas e os custos? E toda a produção que foi sacrificada, com a coleta de impostos, para promover os empreendimentos estatais?
O ponto, então, não é "a iniciativa privada fazer tudo melhor sempre", mas "o cálculo econômico socialista é impossível". Por melhor que seja um dado empreendimento estatal, ele sempre terá de ser promovido às custas de todos os usos alternativos daqueles recursos. A pergunta que não quer calar é: com que autoridade o burocrata pode dizer que
este uso dos recursos é mais satisfatório do que todos os demais usos possíveis?
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 22 Mai 2010, 09:09
por user f.k.a. Cabeção
Estatólatras e intervencionistas desenvolveram todo esse léxico de "patologias de mercado" para estimular a crença de que sem a intervenção burocrática o livre mercado converge para a desarmonia e competição desleal, mas eles fracassaram retumbantemente em encontrar um exemplo categórico de tais patologias que não tenha sido ela própria estabelecida diretamente ou com o aval do próprio Estado e seus burocratas.
Free-marketeers não negam que em determinados casos empresas podem aproveitar-se temporaria e localmente de sua posição vantajosa para prejudicar a formação de uma concorrência, mas na medida que isso se faça mediante táticas comerciais legítimas, e não mediante brutalidade política, não há nada para se queixar, e no longo prazo as inovações introduzidas se encarregarão de mudar o cenário, como sempre ocorreu.
O problema é que algumas pessoas valorizam mais uma pretensa noção de concorrência leal e equilibrada do que a satisfação dos consumidores. Eles invertem a carroça com os bois: a única razão para se estimar a concorrência é o fato dela beneficiar os consumidores; sendo completamente despropositado aumentar os custos para os últimos visando aderir a um ideal de concorrência perfeita que na verdade é uma abstração desprovida de sentido.
Qualquer mercado que não restrinja violentamente o acesso a novos players está em estado de concorrência, mesmo que nele haja apenas uma empresa, ou um "cartel", ou um "truste". Essas têm que ser sempre mais competitivas que todos os concorrentes em potencial, de maneira que não haja oportunidade desperdiçada naquele setor, caso contrário investimentos de capital se produzirão em alternativas aos grupos estabelecidos. E quanto mais lucros monopolísticos forem extraídos, mais oportunidades são criadas para soluções alternativas.
Isso é uma simples relação lógica, que um monte de nomes pseudo-eruditos não pode questionar.
Eu trabalho com algoritmos de distribuição de ordens de mercado para entidades chamadas Dark Pools.
Dark Pools são como bolsas de valores, a diferença é que a informação sobre bids e asks é privada, de maneira que não existem cotações públicas ex-ante e as compras e vendas são matcheadas por computadores e reveladas apenas para os participantes (volumes e preços gerais e outras informações são públicadas post hoc as transações).
Dark Pools tem a vantagem teórica de não criar o efeito de market impact, quando um investidor institucional resolve liquidar ou assumir uma posição grande sobre um ativo, o mercado rapidamente reage alterando o preço em virtude da publicação da demanda de compra ou venda. Como nas Dark Pools essa informação não é publicada esse impacto é em certa medida diluido, ou pelo menos sua componente "ruido".
Dark Pools em geral são operadas por brokerages que por sua vez pertencem a bancos ou Hedge Funds. Elas fazem concorrência direta com os mercados primários (public exchanges - bolsas de valores) que são empresas privadas em si.
Com o aumento da popularidade das Dark Pools, exchanges tradicionais, como a NYSE Euronext, vendo seu monopólio ser ameaçado, começaram a usar seus lobbies no senado americano para tentar aumentar os custos regulatórios das Dark Pools, sob o pretexto de que o trading sigiloso afetaria o "processo natural de formação de preços".
Várias auditorias foram realizadas e muita merda foi falada por gente que não sabe nada do assunto, mas se deixa enganar por linguagem e retórica, sobretudo ligada a escolha infeliz do nome "Dark Pool" para uma atividade perfeitamente legítima de mercado.
O que essa estorinha ilustra é exatamente o que eu afirmei acima: os monopólios dos exchanges foram ameaçados pela inovação das Dark Pools, e como medidas anti-concorrenciais estes escolheram os lobbies políticos, mesmo sendo donos de 90% do mercado de transações financeiras.
As Dark Pools continuaram a concorrer e passaram pelas primeiras auditorias, e não foram adquiridas hostilmente pelo cartel/truste/monopólio dos exchanges. O mercado encontra seus meios, mesmo quando ele não chega nem perto de ser completamente livre, como é o caso do mercado financeiro.
Re: Postura contraditória da Escola Austríaca.
Enviado: 23 Mai 2010, 12:45
por Herf
user f.k.a. Cabeção escreveu:Eles invertem a carroça com os bois: a única razão para se estimar a concorrência é o fato dela beneficiar os consumidores; sendo completamente despropositado aumentar os custos para os últimos visando aderir a um ideal de concorrência perfeita que na verdade é uma abstração desprovida de sentido.
Como agir em vista de manter taxas de juros artificialmente baixas em tempos de recessão. É claro que juro baixo é algo bom para o empreendedor, pois significa crédito barato. Mas apenas quando isso vem em consequência do aumento da poupança, da poupança que irá sustentar esse empreendimento posteriormente.
Ou como políticas que visam promover empregos ou salvar empresas para manter os empregos atualmente existentes, como se emprego fosse o fim da atividade econômica, e não o meio para produzir riqueza. Daí defende-se a simples criação de empregos/salvamento de empresas/benefícios/etc, mesmo que seja às custas de todo o resto.
Trocar as bolas é de praxe na economia.