Coréia do Norte contrata chineses para torcer na Copa
Enviado: 15 Mai 2010, 10:28
Em vez de permitir a saída dos coreanos, que poderiam fugir, o "Líder Supremo" contratou uma torcida de chineses para representá-los na Copa do Mundo.
"O Globo" 15-05-10
"O Globo" 15-05-10
Mil chineses contra o Brasil
José Meirelles Passos
Duas barreiras impedem os habitantes da Coreia do Norte de viajar à África do Sul para torcer por sua seleção na Copa do Mundo. Uma delas é que a grande maioria não tem dinheiro suficiente para isso. A outra é que os poucos em condições de bancar uma viagem dessas são impedidos de ir porque, para deixar o país, é preciso obter um visto de saída — mas o governo não dá essa autorização, temendo que haja uma fuga em massa do regime ditatorial.
Por isso, a Coreia do Norte — país que recebeu da Fifa mil ingressos para cada um dos seus jogos da primeira rodada (contra o Brasil, Portugal e Costa do Marfim) — contará com uma torcida de aluguel, composta apenas de chineses. O seu governo entregou os ingressos ontem em Pequim a um grupo que foi denominado como “Exército de Torcedores Voluntários”, e que vai estrear contra os brasileiros, no dia 15 de junho.
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Uma Copa pirateada
Fotos de satélite da Ásia, à noite, mostram um grande trecho do território terrestre, de tamanho quase idêntico ao da Inglaterra, sempre totalmente às escuras. É exatamente ali que fica a Coreia do Norte, onde o fornecimento de energia é tão escasso e inconstante quanto o de alimentos.
Durante a Copa a população norte-coreana também deverá permanecer numa escuridão esportiva. Isso porque o “líder supremo”, Kim Jong-il, decidiu que nenhuma das partidas será transmitida pela TV do país, que tem 29 milhões de habitantes.
Só mesmo ele, e uma pequena elite de burocratas do governo, poderão ver os jogos: só eles têm acesso à TV por satélite. Sinais de rádio e TV do exterior são bloqueados aos demais mortais.
As estações locais, todas do governo, vão mostrar trechos de alguns jogos, dias depois de sua realização. Jon-il não adquiriu direitos de transmissão para o seu país. Habitualmente a população vê pela TV partidas do seu campeonato nacional, e algumas de torneios europeus — estas com atraso de até três semanas. Isso porque, sem dinheiro para adquirir os direitos, a TV estatal depende da obtenção de cópias piratas.
A emissora Seoul Broadcasting System, da Coreia do Sul (SBS), ofereceu (sem sucesso) estender o seu sinal ao vizinho do norte, para que toda a população visse a Copa ao vivo, gratuitamente. O canal apresentou apenas uma condição: que a Coreia do Norte permitisse que os jornalistas da TV entrassem no país para cobrir a reação de sua torcida.
O governo refugou. Disse que só permitiria a entrada dos repórteres se a SBS pagasse para filmar dentro da Coreia do Norte e, além disso, cobrisse as despesas de jornalistas dos meios estatais nortecoreanos que serão enviados à África do Sul.