Fernando Silva: Minas Gerais não é pangaré de paulistas
Enviado: 19 Mai 2010, 12:13
A cada quatro anos a conversa é a mesma de sempre: “temos que correr lá em Minas para arrumar um candidato a vice-presidente”. Faz sentido. O segundo maior colégio eleitoral do país rende votos suficientes para definir a principal disputa eleitoral. Faz sentido, mas não tem lógica. Porque mineiro, mesmo com uma montanha de votos, só serve para ser coadjuvante no cenário político. E isso não faz sentido. O ex-governador Aécio Neves tinha cacife de sobra para disputar com sucesso o pleito majoritário desse ano. Muito mais que aquele previamente ungido pela tucanada de São Paulo: José Serra- o insípido, inodoro e incolor, o candidato oxigênio.
O neto de Tancredo deixou o Palácio da Liberdade com a marca histórica de quase 90% de aceitação. Seria um ótimo companheiro de chapa, em quaisquer circunstâncias. A terra de Tiradentes, porém, parece ter desistido de representar o eterno papel de pangaré de políticos de outros estados. Claro. Aécio jura que jamais hibernará no Palácio Jaburu, a vivenda oficial dos vice-presidentes tupiniquins. Convém, então, acreditar na teimosia típica desses montanheses. O conto recente contava assim: o cavalo velho e manco, que passava arreado, era das alterosas. O cavaleiro esperto e cheio de empáfia, porém, falava com outros sotaques, menos o peculiar “uai”.
Na história recente, os fatos aconteceram dessa forma: o Brasil já teve três presidentes eleitos, depois da redemocratização: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. E dois vices de Minas Gerais: Itamar Franco e José Alencar Gomes da Silva. O regime militar consagrou a supremacia dos gaúchos no Palácio do Planalto. Num intervalo de duas décadas (1964 a 1984), três generais do Rio Grande do Sul literalmente ocuparam a presidência. Artur da Costa e Silva, Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici se revezaram no governo federal. Isso num universo de cinco presidentes. E dois vices mineiros pintaram nesse quadro: José Maria Alkmin e Pedro Aleixo.
Foram dois segundos e um episódio constrangedor. O marechal Costa e Silva sofreu fulminante Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com isso ficou impossibilitado para o exercício do poder. Essa situação provocaria a natural ascensão de Pedro Aleixo. E deu zebra. Na marra. Os militares descartaram o político marianense. Uma junta das Forças Armadas assumiu o poder. Durante sete meses o país foi governador por três patetas, segundo a versão venenosa e bem humorada de Ulysses Guimarães.
A História não mente jamais. Essa ciência até permite interpretações diversas de sua dinâmica, mas os fatos não mudam. Eis aí uma verdade que incomoda: a historiografia da república mostra que os políticos mineiros são “viciados”. Em outras palavras, esses homens públicos já nascem com a estrela de vice na testa. Durante a República Velha (1889 a 1930), treze mandatários passaram pelo Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, antiga capital do país. Três deles saíram de Minas Gerais. Na mesma ocasião, cinco vices foram mineiros. Mas esses velhos políticos também tinham muito talento nas urnas. Dois vices até chegaram à presidência posteriormente: Afonso Pena e Venceslau Braz.
Depois dos anos Vargas (1930 a 1954), as chamadas “raposas” das Gerais desistiram de ser sombras. Em compensação, produziram o mais destacado estadista do Brasil, em todos os tempos: Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 a 1961), o fundador de Brasília.
Resumo da ópera. Em 121 anos de república, 28 personalidades ocuparam o cargo maior do Brasil. Cinco mineiros tiveram essa “subida honra”. Porém, nove pessoas desceram das montanhas apenas para ficar em segundo plano no cenário de poder. Alguns até subiram na vida. Outros não passaram de meros figurantes.
As cartas da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva foram colocadas na mesa agora. De um lado, o insípido, inodoro e incolor José Serra. Do outro, a insípida, inodora e incolor Dilma Rousseff. E, atenção: os dois candidatos são extremamente competentes, mas exibem o mesmo carisma de um pinguim de geladeira. Diante desse quadro, começa a temporada de caça aos vices. Aécio Neves é a bola da vez. O grão-tucano mineiro segue resistente: “serei senador, vice jamais”. Esse discurso está na ponta da língua. Minas Gerais, finalmente, desistiu de ser pangaré de paulistas, gaúchos, cearenses, paraibanos e cariocas. Alguém duvida?Vamos aguardar, como diria certo treinador de futebol.
P S1: Esses mineiros foram presidentes da república: Afonso Pena, Venceslau Braz, Artur Bernardes, Juscelino Kubistchek e Itamar Franco. Os seguintes vice-presidentes são mineiros: Afonso Pena, Venceslau Braz, Delfim Moreira, Francisco Bueno de Paiva, Fernando de Melo Viana, Pedro Aleixo, José Maria Alkmin, Itamar Franco e José Alencar Gomes da Silva.
P S2: Fica, aqui, a homenagem toda especial ao meu ídolo maior na política: Dr. Tancredo de Almeida Neves – aquele que foi, sem nunca ter sido.
PS3: Jesus Cristo pediu: “deixai vir a mim as criancinhas”. Alguns religiosos, porém, estão repetindo esse mesmo pedido para outros fins, sem a mesma pureza de propósitos do Mestre.
Contatos com o colunista: feransil@hotmail.com
O neto de Tancredo deixou o Palácio da Liberdade com a marca histórica de quase 90% de aceitação. Seria um ótimo companheiro de chapa, em quaisquer circunstâncias. A terra de Tiradentes, porém, parece ter desistido de representar o eterno papel de pangaré de políticos de outros estados. Claro. Aécio jura que jamais hibernará no Palácio Jaburu, a vivenda oficial dos vice-presidentes tupiniquins. Convém, então, acreditar na teimosia típica desses montanheses. O conto recente contava assim: o cavalo velho e manco, que passava arreado, era das alterosas. O cavaleiro esperto e cheio de empáfia, porém, falava com outros sotaques, menos o peculiar “uai”.
Na história recente, os fatos aconteceram dessa forma: o Brasil já teve três presidentes eleitos, depois da redemocratização: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. E dois vices de Minas Gerais: Itamar Franco e José Alencar Gomes da Silva. O regime militar consagrou a supremacia dos gaúchos no Palácio do Planalto. Num intervalo de duas décadas (1964 a 1984), três generais do Rio Grande do Sul literalmente ocuparam a presidência. Artur da Costa e Silva, Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici se revezaram no governo federal. Isso num universo de cinco presidentes. E dois vices mineiros pintaram nesse quadro: José Maria Alkmin e Pedro Aleixo.
Foram dois segundos e um episódio constrangedor. O marechal Costa e Silva sofreu fulminante Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com isso ficou impossibilitado para o exercício do poder. Essa situação provocaria a natural ascensão de Pedro Aleixo. E deu zebra. Na marra. Os militares descartaram o político marianense. Uma junta das Forças Armadas assumiu o poder. Durante sete meses o país foi governador por três patetas, segundo a versão venenosa e bem humorada de Ulysses Guimarães.
A História não mente jamais. Essa ciência até permite interpretações diversas de sua dinâmica, mas os fatos não mudam. Eis aí uma verdade que incomoda: a historiografia da república mostra que os políticos mineiros são “viciados”. Em outras palavras, esses homens públicos já nascem com a estrela de vice na testa. Durante a República Velha (1889 a 1930), treze mandatários passaram pelo Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, antiga capital do país. Três deles saíram de Minas Gerais. Na mesma ocasião, cinco vices foram mineiros. Mas esses velhos políticos também tinham muito talento nas urnas. Dois vices até chegaram à presidência posteriormente: Afonso Pena e Venceslau Braz.
Depois dos anos Vargas (1930 a 1954), as chamadas “raposas” das Gerais desistiram de ser sombras. Em compensação, produziram o mais destacado estadista do Brasil, em todos os tempos: Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 a 1961), o fundador de Brasília.
Resumo da ópera. Em 121 anos de república, 28 personalidades ocuparam o cargo maior do Brasil. Cinco mineiros tiveram essa “subida honra”. Porém, nove pessoas desceram das montanhas apenas para ficar em segundo plano no cenário de poder. Alguns até subiram na vida. Outros não passaram de meros figurantes.
As cartas da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva foram colocadas na mesa agora. De um lado, o insípido, inodoro e incolor José Serra. Do outro, a insípida, inodora e incolor Dilma Rousseff. E, atenção: os dois candidatos são extremamente competentes, mas exibem o mesmo carisma de um pinguim de geladeira. Diante desse quadro, começa a temporada de caça aos vices. Aécio Neves é a bola da vez. O grão-tucano mineiro segue resistente: “serei senador, vice jamais”. Esse discurso está na ponta da língua. Minas Gerais, finalmente, desistiu de ser pangaré de paulistas, gaúchos, cearenses, paraibanos e cariocas. Alguém duvida?Vamos aguardar, como diria certo treinador de futebol.
P S1: Esses mineiros foram presidentes da república: Afonso Pena, Venceslau Braz, Artur Bernardes, Juscelino Kubistchek e Itamar Franco. Os seguintes vice-presidentes são mineiros: Afonso Pena, Venceslau Braz, Delfim Moreira, Francisco Bueno de Paiva, Fernando de Melo Viana, Pedro Aleixo, José Maria Alkmin, Itamar Franco e José Alencar Gomes da Silva.
P S2: Fica, aqui, a homenagem toda especial ao meu ídolo maior na política: Dr. Tancredo de Almeida Neves – aquele que foi, sem nunca ter sido.
PS3: Jesus Cristo pediu: “deixai vir a mim as criancinhas”. Alguns religiosos, porém, estão repetindo esse mesmo pedido para outros fins, sem a mesma pureza de propósitos do Mestre.
Contatos com o colunista: feransil@hotmail.com