Eleições pelo mundo

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Eleições pelo mundo

Mensagem por Apo »

Povo consciente? Voto democrático? Até que ponto uma sociedade livre ( ou pseudo-livre) pode ser ser "culpada" por seu comparecimento ou não às urnas? A mim, sempre pareceu uma tremenda falácia ( enraizada em tempos de repressão e de voto de cabresto ) esta conversa engolida, digerida e vomitada com espalitar de dentes por grande parte do povo brasileiro. Países realmente livres podem ter a tranquilidade de votar ou se abster por motivos variados, e que não são julgados ou colocados em cheque só porque temos como ético e correto apontar o dedo sujo quando as coisas dão em merda . Votar ou se abster é leve. Tal leveza de colaboração à própria coletividade - adquirida através de séculos de maturidade - traz em seu seio o respeito às liberdades individuais de pensamento e o exercício do Livre Estado de Direito. Mas aqui, no paiseco do dedo sujo, alguém tem que ser culpado por não se "posicionar" , alguém tem que ser excomungado sob a desfaçatez do "quem cala, consente". Somos mesmo muito atrasados e ainda vivemos como bárbaros. Mas nos gabamos de nosso dever como se direito livre fosse. E não nos damos conta de que quem ganha com isto é o Rei Poder, especialmente os que tem na ponta da língua o veneno anti-imperialista sempre pronto a fazer um refém.

Há controvérsias e paradoxos no voto distrital, mesmo quando adaptado a algum tipo de proporciionalidade, como aconteceu nestas eleições na Inglaterra. Mas a liberdade de votar ou não, de ir às urnas, da escolha despojada entre votar ou se abster me parece trazer uma dignidade e uma autoestima que não se pode ter num país em que os governantes castigam e multam financeiramente ( através e em nome do Estado, quando o Estado somos todos nós! ) aqueles que não agirem de acordo com a tirania cínica que chama de direito de voto uma forma de intimidação.

Particularmente, me sentiria muito mais cidadã, mais orgulhosa, respeitada e livre se eu pudesse simplesmente ir às urnas sem gritaria, sem invasões na minha programação de tv, sem tanta propaganda ufanista nauseante, sem tanto clamor e sem tanta bravata que transforma os cidadãos em inimigos, que transfere a responsabilidade de seus atos futuros mostrando aos eleitores cativos quam é manda mais: quem promete mais e dá mais porrada. São estes, senhores, os nossos valores. E pagamos caro pra ver o galo morrer.

Brasileiro gosta é de barraco, de festa, de rinha, de adrenalina... e de político mentindo!

Esta descrição do clima eleitoral britânico me parece muito mais civilizada. De um tipo de democracia que beira a frieza e o distanciamento típicos dos ingleses. Bem diferente do circo presidencial democrático americano, por exemplo.
Mas entre os 3 ( Brasil, EUA e Inglaterra) ainda fico com o britânico: prefiro um chá. Se alguém me interessar, depois do chá, vou às urnas.

Uma eleição curta, discreta e diferente

Daniel Gallas | 16:18, quarta-feira, 28 abril 2010

Esta é a primeira eleição britânica que estou presenciando desde que me mudei para cá. Mas se eu não fosse jornalista, ligado toda hora na televisão, internet e jornais, acho bem provável que talvez eu sequer percebesse a campanha eleitoral.

A campanha aqui é curta e bastante discreta. Até o começo do mês, a eleição sequer tinha data marcada. No começo de abril, o primeiro-ministro Gordon Brown convocou o pleito nacional para o dia 6 de maio. Os eleitores têm um mês para tomar conhecimento das plataformas dos candidatos.

Nas ruas, não existem muitos sinais da campanha. Não há cartazes colados em todo o canto e nem comícios e passeatas, como é comum no Brasil. A forma mais visível de perceber as eleições são os "santinhos" deixados na minha casa, mas confesso que os confundo com a quantidade enorme de propagandas de tele-entrega e pedidos de doações para caridade.

A grande inovação desta disputa eleitoral tem sido os debates de candidatos na televisão, que até este pleito era inédito aqui. Mesmo sendo comuns no Brasil, eles ainda são muito diferentes do que nós brasileiros estamos acostumados.

Para os britânicos, o debate eleitoral já provocou uma mudança grande. Graças ao seu desempenho no primeiro debate, o liberal-democrata Nick Clegg, um azarão antes do começo da disputa eleitoral, passou a ser um dos favoritos na disputa contra o trabalhista Gordon Brown e o conservador David Cameron.

Para mim, a novidade foi ver o quanto é possível distinguir as posições de cada candidato em cada um dos assuntos. Nos debates de candidatos à Presidência que me lembro de ver no Brasil, nem sempre era fácil diferenciar as propostas e posições de cada candidato sobre os temas da eleição, tamanha a ambiguidade dos discursos eleitorais.

Conversando com alguns amigos britânicos, ouvi deles que a maior dificuldade dos eleitores aqui não é identificar claramente as ideologias de cada um, mas sim achar o "candidato perfeito".

Ou seja, achar o candidato que o eleitor julga ser mais compatível com suas ideias nos principais temas - economia, impostos, Afeganistão e Iraque, União Europeia e imigração. Nick Clegg e Gordon Brown, por exemplo, têm posturas mais comuns entre si do que David Cameron quando o assunto é integração britânica na União Europeia. Mas sobre o programa nuclear britânico, Brown está mais próximo de Cameron. O problema de se achar o candidato ideal, para meus amigos britânicos, é quase matemático: quem somar mais pontos ganha o voto.

Outra particularidade daqui é a dificuldade de se escolher entre interesses locais das nacionais. Na hora de votar, o eleitor escolhe apenas o político que representará o seu distrito no Parlamento, cabendo ao Legislativo depois escolher o primeiro-ministro. O partido com maioria elege o primeiro-ministro.

Em alguns casos, o eleitor pode ficar diante de um dilema, se ele tiver simpatia pelo candidato a primeiro-ministro de um partido, mas não gostar do candidato ao Parlamento que representa aquele partido no seu distrito.

Por fim, um elemento raro desta disputa eleitoral é a imprevisibilidade. A cada semana, as projeções de resultados mudam, e hoje, a uma semana do pleito, não há indícios claros do que vai acontecer. Aliás, o voto não é obrigatório, então não se sabe nem exatamente quantos eleitores terão disposição para ir às urnas na quinta-feira, dia 6 de maio.


http://www.bbc.co.uk/blogs/portuguese/london/
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marta
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Re: Eleições pelo mundo

Mensagem por marta »

Particularmente, me sentiria muito mais cidadã, mais orgulhosa, respeitada e livre se eu pudesse simplesmente ir às urnas sem gritaria, sem invasões na minha programação de tv, sem tanta propaganda ufanista nauseante, sem tanto clamor e sem tanta bravata que transforma os cidadãos em inimigos, que transfere a responsabilidade de seus atos futuros mostrando aos eleitores cativos quam é manda mais: quem promete mais e dá mais porrada. São estes, senhores, os nossos valores. E pagamos caro pra ver o galo morrer.


Parabéns pelo texto, Apo.

O braziu é um país onde o cidadão é OBRIGADO e exercer seu DIREITO.

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marta
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Apo
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Re: Eleições pelo mundo

Mensagem por Apo »

Obrigada, Marta. Vindo de você é um elogio.
É que quando li o texto acima, sobre alguém que estava presente nas eleições de um país que não é o seu, senti que sou compatível de fato com o que sempre defendi: voto LIVRE é voto LIVRE. Mas há muitas formas de distorcer o sentido de liberdade, e ainda causar a tal Síndrome de Estocolmo no refém. E os brasileiros não se dão conta de que viraram cúmplices deste cinismo.
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Trancado