O Império das Massas
- Liquid Snake
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O Império das Massas
por Rodrigo Constantino
03/02/2006
"O liberalismo é a suprema generosidade: é o direito que a maioria outorga à minoria e é, portanto, o grito mais nobre que já soou no planeta." (José Ortega y Gasset)
O livro clássico de Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas, apesar de escrito há décadas, parece não caducar nunca. Um embasado alerta ao povo europeu sobre os perigos do surgimento do novo "homem-massa", que continua bastante válido atualmente. Pretendo aqui, de forma bem resumida, expor os principais pontos abordados pelo autor.
Para José Ortega, a sociedade é o que se produz automaticamente pelo simples fato da convivência espontânea. A idéia da sociedade como união contratual é, para ele, algo insensato, uma tentativa de colocar o carro na frente dos bois. Desta forma, a Europa seria justamente isso, um pluralismo de idéias e costumes, um enxame com muitas abelhas, mas um só vôo. O enriquecimento humano ocorre graças à existência de uma variedade de situações. E com isso em mente, o nascimento do "homem-massa", homogeneizando tudo, apresenta enorme risco para a sobrevivência da própria civilização.
"Foi o chamado 'individualismo' que enriqueceu o mundo e a todos no mundo, e foi esta riqueza que fez proliferar tão fabulosamente a planta humana". São as palavras do próprio autor, alertando para o fato de que os demagogos têm sido os grandes "estranguladores de civilizações", ao ignorarem aquilo que permitiu o avanço humano. Para o nosso continuado progresso, é fundamental a memória dos erros passados. E quando não há conhecimento histórico, para a compreensão dos pilares que sustentam a civilização, o retorno à barbárie é uma ameaça real.
O autor explica seu conceito de massa, que independe da classe social. As minorias seriam grupos de indivíduos especialmente qualificados, enquanto a massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. O "homem médio" é um tipo genérico, sem diferenciação do resto. Somente razões especiais, relativamente individuais, podem separar indivíduos do restante, e formar assim as minorias. O homem especial não é o petulante, que se julga superior, mas o que exige mais de si mesmo que a maioria. A massa, ao contrário, vive sem esforço para o aperfeiçoamento de si mesma, como "bóias que vão à deriva".
Segundo Ortega, esse tipo de "homem-massa" passa a dominar a Europa, o mundo. A alma vulgar, sabendo que é vulgar, passa a ter coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe. Quem não for como "todo mundo", poderá ser eliminado. As massas se tornaram indóceis diante das minorias. "Vivemos sob o brutal império das massas".
Quais seriam as causas disso? O que possibilitou tal mudança no controle do destino do mundo? Para o autor, o triunfo das massas aconteceu na Europa por razões internas, após dois séculos de educação progressista das multidões e de um paralelo enriquecimento econômico da sociedade. Do século VI até o ano de 1800, a Europa não conseguiu ultrapassar a cifra de 180 milhões de habitantes, enquanto de 1800 a 1914, pouco mais de um século, a sua população cresceu para 460 milhões! E o grau médio de conforto e segurança do mundo novo explicita como a vida era mais difícil no passado, até mesmo para os mais abastados. A democracia liberal fundada na criação da técnica, ou seja, as experiências científicas e o industrialismo, possibilitou tal crescimento e prosperidade.
O homem vulgar, ao se encontrar com esse mundo técnica e socialmente tão perfeito, pensa que foi criado pela Natureza. Não entende os esforços individuais que sua criação pressupõe. Assim, o "homem-massa" apresenta uma livre expansão de seus desejos vitais, ao mesmo tempo que mostra ingratidão radical para com tudo que tornou possível tal situação. Os traços claros de uma típica criança mimada, que passa a exigir mais e mais como se fossem direitos naturais. O homem novo tem a postura de um tolo, que não desconfia de si, e com invejável tranqüilidade se planta em sua própria estupidez. Ele tem "idéias" taxativas sobre tudo, mas perdeu sua audição, sua capacidade de ouvir. Ele quer impor suas "opiniões", sem entretanto se dispor a querer a verdade dos fatos através da razão. Ele despreza a razão! Seu procedimento único resume-se à "ação direta", colocando a violência como prima ratio.
Quando a massa atua por si mesma, só o faz de um modo, porque não tem outro: lincha. E o meio utilizado para tanto passa a ser o próprio Estado. José Ortega conclui: "O estatismo é a forma superior em que se transformam a violência e a ação direta constituídas em norma". Através do Estado, máquina anônima, as massas atuam por si mesmas. O bolchevismo e o fascismo são exemplos claros disso. E a civilização, construída pela espontaneidade social, acaba sob o império das massas, ou seja, a barbárie!
http://www.rplib.com.br/artigos_detalhes.asp?cod_finalidade=3&cod_texto=3187
03/02/2006
"O liberalismo é a suprema generosidade: é o direito que a maioria outorga à minoria e é, portanto, o grito mais nobre que já soou no planeta." (José Ortega y Gasset)
O livro clássico de Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas, apesar de escrito há décadas, parece não caducar nunca. Um embasado alerta ao povo europeu sobre os perigos do surgimento do novo "homem-massa", que continua bastante válido atualmente. Pretendo aqui, de forma bem resumida, expor os principais pontos abordados pelo autor.
Para José Ortega, a sociedade é o que se produz automaticamente pelo simples fato da convivência espontânea. A idéia da sociedade como união contratual é, para ele, algo insensato, uma tentativa de colocar o carro na frente dos bois. Desta forma, a Europa seria justamente isso, um pluralismo de idéias e costumes, um enxame com muitas abelhas, mas um só vôo. O enriquecimento humano ocorre graças à existência de uma variedade de situações. E com isso em mente, o nascimento do "homem-massa", homogeneizando tudo, apresenta enorme risco para a sobrevivência da própria civilização.
"Foi o chamado 'individualismo' que enriqueceu o mundo e a todos no mundo, e foi esta riqueza que fez proliferar tão fabulosamente a planta humana". São as palavras do próprio autor, alertando para o fato de que os demagogos têm sido os grandes "estranguladores de civilizações", ao ignorarem aquilo que permitiu o avanço humano. Para o nosso continuado progresso, é fundamental a memória dos erros passados. E quando não há conhecimento histórico, para a compreensão dos pilares que sustentam a civilização, o retorno à barbárie é uma ameaça real.
O autor explica seu conceito de massa, que independe da classe social. As minorias seriam grupos de indivíduos especialmente qualificados, enquanto a massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. O "homem médio" é um tipo genérico, sem diferenciação do resto. Somente razões especiais, relativamente individuais, podem separar indivíduos do restante, e formar assim as minorias. O homem especial não é o petulante, que se julga superior, mas o que exige mais de si mesmo que a maioria. A massa, ao contrário, vive sem esforço para o aperfeiçoamento de si mesma, como "bóias que vão à deriva".
Segundo Ortega, esse tipo de "homem-massa" passa a dominar a Europa, o mundo. A alma vulgar, sabendo que é vulgar, passa a ter coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe. Quem não for como "todo mundo", poderá ser eliminado. As massas se tornaram indóceis diante das minorias. "Vivemos sob o brutal império das massas".
Quais seriam as causas disso? O que possibilitou tal mudança no controle do destino do mundo? Para o autor, o triunfo das massas aconteceu na Europa por razões internas, após dois séculos de educação progressista das multidões e de um paralelo enriquecimento econômico da sociedade. Do século VI até o ano de 1800, a Europa não conseguiu ultrapassar a cifra de 180 milhões de habitantes, enquanto de 1800 a 1914, pouco mais de um século, a sua população cresceu para 460 milhões! E o grau médio de conforto e segurança do mundo novo explicita como a vida era mais difícil no passado, até mesmo para os mais abastados. A democracia liberal fundada na criação da técnica, ou seja, as experiências científicas e o industrialismo, possibilitou tal crescimento e prosperidade.
O homem vulgar, ao se encontrar com esse mundo técnica e socialmente tão perfeito, pensa que foi criado pela Natureza. Não entende os esforços individuais que sua criação pressupõe. Assim, o "homem-massa" apresenta uma livre expansão de seus desejos vitais, ao mesmo tempo que mostra ingratidão radical para com tudo que tornou possível tal situação. Os traços claros de uma típica criança mimada, que passa a exigir mais e mais como se fossem direitos naturais. O homem novo tem a postura de um tolo, que não desconfia de si, e com invejável tranqüilidade se planta em sua própria estupidez. Ele tem "idéias" taxativas sobre tudo, mas perdeu sua audição, sua capacidade de ouvir. Ele quer impor suas "opiniões", sem entretanto se dispor a querer a verdade dos fatos através da razão. Ele despreza a razão! Seu procedimento único resume-se à "ação direta", colocando a violência como prima ratio.
Quando a massa atua por si mesma, só o faz de um modo, porque não tem outro: lincha. E o meio utilizado para tanto passa a ser o próprio Estado. José Ortega conclui: "O estatismo é a forma superior em que se transformam a violência e a ação direta constituídas em norma". Através do Estado, máquina anônima, as massas atuam por si mesmas. O bolchevismo e o fascismo são exemplos claros disso. E a civilização, construída pela espontaneidade social, acaba sob o império das massas, ou seja, a barbárie!
http://www.rplib.com.br/artigos_detalhes.asp?cod_finalidade=3&cod_texto=3187

"O Brasil me parece ser o único País do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio." (Roberto Campos, 1993)
"How do you tell a Communist? Well, it's someone who reads Marx and Lenin. And how do you tell an anti-Communist? It's someone who understands Marx and Lenin." - Ronald Reagan
No Brasil, os notáveis o são pela estupidez.
Re.: O Império das Massas
Bom texto, mas peca pela superficialidade ao lidar com a questão do contrato social e pela parcialidade ao não perceber que a compartimentação e especificação do homem moderno, impelido pelos novos alicerces do sistema capitalista, são um dos maiores formadores destes "homens-massa".
Diria até que a formação de tais indivíduos é inevitável em um sistema onde se valorize mais o enriquecimento financeiro acima de qualquer outro "enriquecimento".
Diria até que a formação de tais indivíduos é inevitável em um sistema onde se valorize mais o enriquecimento financeiro acima de qualquer outro "enriquecimento".
Re.: O Império das Massas
Hum...Império das Massas é o nome de uma pizzaria muito boa que tem por aqui...
- Poindexter
- Mensagens: 5894
- Registrado em: 18 Nov 2005, 12:59
Re: Re.: O Império das Massas
Samael escreveu:Hum...Império das Massas é o nome de uma pizzaria muito boa que tem por aqui...

Lembro-me do plebiscito de 1993, em que a frente monarquista alegava que o brasileiro tinha carinho pela Monarquia por causa de gostar de pôr o prefixo de "Rei do..." em estabelecimentos comerciais...
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.
Ciertas cosas no tienen precio.
¿Dónde está el Hexa?
Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.
A child, not a choice.
Quem Henry por último Henry melhor.
O grito liberalista em favor da prostituição já chegou à este fórum.
Lamentável...
O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.
The Only Difference Between Suicide And Martyrdom Is Press Coverage
Ciertas cosas no tienen precio.
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- Poindexter
- Mensagens: 5894
- Registrado em: 18 Nov 2005, 12:59
Re.: O Império das Massas
O texto postado é inteligente e muito gostoso de ser lido, o qu, aliás, é o que geralmente tem ocorrido com os textos postados pelo LS. Concordo em algumas partes e discordo em outras. Há verdades ali.
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.
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Re: Re.: O Império das Massas
Poindexter escreveu:Samael escreveu:Hum...Império das Massas é o nome de uma pizzaria muito boa que tem por aqui...
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Lembro-me do plebiscito de 1993, em que a frente monarquista alegava que o brasileiro tinha carinho pela Monarquia por causa de gostar de pôr o prefixo de "Rei do..." em estabelecimentos comerciais...
Engraçado é que a "tribo" monarquista ainda existe. Eles devem ter tanta representatividade quanto os Integralistas, mas que existem, isso existem.
Se bem que a família Bragança é dona de tantos imóveis em Petrópolis que não tem necessidade de mais nenhuma fonte de renda...