Primeira debate presidencial - Band
- Apáte
- Mensagens: 9061
- Registrado em: 20 Jul 2006, 19:32
- Gênero: Masculino
- Localização: Asa Sul
- Contato:
Primeira debate presidencial - Band
Debate de comadres. Se a oposição (mais uma vez) está confiando em debates pra ganhar a eleição, esqueça, já perderam.
Ponto interessante: no segundo ou terceiro bloco Dilma defende o federalismo e a capacidade de auto-regulamentação do mercado.
Tem um idiota que nem decorei o nome com um discurso atrasado nuns 50 anos que não sei o que está fazendo aí.
"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi
- Fernando Silva
- Administrador
- Mensagens: 20080
- Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
- Gênero: Masculino
- Localização: Rio de Janeiro, RJ
- Contato:
Re: Primeira debate presidencial - Band
"O Globo" 07/08/10
Molho dos debates
Serra venceu o debate da Band. Por pontos. Não foi a vitória forte que poderia ter sido, pela experiência que tem. Foi simpático, o que raramente tinha conseguido.
Dilma administrou o risco, evitou o escorregão temido, atacou pontos fracos do adversário, mas passou insegurança. Marina perdeu a chance de se diferenciar, por excesso de bom mocismo. Plínio ganhou pontos com seu estilo de radical manso.
Dilma Rousseff tinha insegurança no tom de voz, na hesitação das respostas, em expressões que não significam nada, como “temos que ter garantias de sensibilidade”, e estourou o tempo quase sempre. Apesar disso, cresceu quando confrontou Serra na questão dos empregos criados. Serra desconversou, num dos seus piores momentos.
Algumas análises são de que ela ganhou porque não teve um grande deslize. Discordo da ideia de que evitar o pior seja ganhar. Mas ela tem chances de vir mais forte nos próximos debates. Dilma estava bem fisicamente. Escolheu a roupa certa. A plástica, o botox, o novo visual do cabelo e a recuperação da saúde a deixaram com expressão mais suave, bonita e elegante, tirando o ar sempre carrancudo de quando era ministra, que reforçava a fama criada pelo temperamento difícil. Mas poucas vezes assumiu postura presidencial.
Frequentemente se colocava como interposta pessoa: a que representa o outro, o ausente presidente Lula.
José Serra tentou amenizar a fama de temperamento também difícil exibindo mais simpatia do que consegue naturalmente.
Teve um grande momento: quando encurralou Dilma na questão da Apae.
A pergunta foi fácil de entender por qualquer telespectador, a entidade é conhecida e atrai empatia. Serra perguntou por que o governo Lula estava discriminando as Apaes. Dilma pareceu desconhecer a que ele se referia.
Ficou à deriva, deu resposta fraca como: “não é muito correto dizer que nós não olhamos para essa questão.” Serra acusou o governo de ter cortado o auxílio de transporte para as entidades, disse que era uma crueldade, sugeriu que ela perguntasse ao ministro Fernando Haddad e acrescentou que o governo estava proibindo as Apaes de ensinar. Dilma disse que não podia concordar com a acusação e respondeu de forma genérica a uma pergunta que tinha acusações concretas.
Serra não soube o que dizer quando foi perguntado sobre as privatizações, ou quando perguntado sobre o saldo favorável ao governo Lula na criação de emprego. Essas perguntas seriam feitas, ele já sabia, e deveria ter estudado boas respostas. Para um país em que no período da telefonia privatizada o número de celulares pulou de um milhão para quase 200 milhões, ele poderia ter dito algo que não o colocasse na mesma situação de desconforto e escapismo que Geraldo Alckmin, em 2006. O que reduziu sua perda nessa pergunta foi o ataque aos Correios, ataque que vem fazendo desde o começo da campanha, e que ganha ar de veracidade porque o governo Lula acaba de trocar a direção da empresa.
Marina Silva, também bonita e elegante, respondeu bem à questão de que “as crianças hospitalizadas atrairiam menos atenção do que as árvores.” Mostrou com clareza que se trata de uma mesma luta ambiental: por preservação do meio ambiente e saneamento. O problema é que ela repetiu várias vezes a ideia de que houve avanços em ambos os governos, foi suave demais com Dilma, pareceu amiga de Serra e em nenhum momento conseguiu estabelecer uma diferença entre ela e os outros. Só conseguiria isso se atacasse diretamente.
Ela sabe o quanto Dilma nas brigas internas do governo optou por decisões que ferem diretamente o meio ambiente. Sabe que Serra apresentou discurso ambiental de último momento.
Era hora de mostrar o que na prática quer dizer quando afirma que só ela tem uma proposta de desenvolvimento para o século XXI. Quem está estagnado em terceiro lugar tem que ousar mais, atacar mais. Ela deixou Dilma falar impunemente frases como “sou contra qualquer medida que flexibilize o desmatamento”, quando o governo foi o inspirador da proposta que anistia os desmatadores.
Seu melhor momento foi quando respondeu à pergunta sobre o crack, feita por Dilma. Provavelmente, Dilma fez a pergunta na suposição de que Marina fosse dizer generalidades, e ela, Dilma, poderia falar do programa que o governo apresentou recentemente. Marina reagiu e disse que o programa tinha sido apresentado pelo seu coordenador de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, ao ministro Tarso Genro, e que a proposta dormiu na gaveta até as vésperas das eleições.
Dilma não negou que tivesse sido assim.
Plínio de Arruda Sampaio, com fala mansa, se dirigindo diretamente ao telespectador, foi o inesperado. Passou a mensagem quando disse que os três candidatos eram gradações da mesma proposta e só ele era diferente. Mas não conseguiu dizer que ideias de fato tinha. Alguns refrãos sempre repetidos não tinham significado para além do gueto dele. De qualquer maneira, seu estilo franco sem agressividade atrai simpatias.
Ser o melhor em um debate ou ter tido alguns escorregões não definem uma eleição.
É preciso uma hecatombe para fazer diferença. Mas os debates são um molho da democracia. E o da Band foi uma boa mistura de ingredientes indispensáveis ao processo de escolha.
- Fernando Silva
- Administrador
- Mensagens: 20080
- Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
- Gênero: Masculino
- Localização: Rio de Janeiro, RJ
- Contato:
Re: Primeira debate presidencial - Band
"O Globo" 07/08/10
Não é a mamãe
GUILHERME FIUZA
No primeiro debate entre os presidenciáveis, na TV Bandeirantes, a candidata do governo disse que “as mulheres brasileiras” estão preparadas para exercer a presidência. E revelou-se “particularmente” interessada em investir na prevenção ao câncer.
Dilma Rousseff quis dizer, com a sutileza que lhe foi possível: “Sou mulher e tive câncer. Votem em mim.” É uma plataforma e tanto. Melhor que isso, só se Dilma fosse negra, pobre e analfabeta. Aí seria realmente imbatível na sucessão do operário nordestino mutilado, que instituiu o mito dos coitados no poder. Ela ainda não foi vista chorando a quatro olhos com Lula, mas isso é questão de tempo.
Ver Dilma Rousseff num debate ao vivo ajuda a entender por que são criados tantos personagens para fantasiá-la. Olhar fixo no nada, tom de voz estacionado na veemência automática, frases que ficam pela metade e saltam para uma conclusão categórica qualquer. “Sou contra o spread elevado”, encerrou a candidata, numa explicação tortuosa da política monetária que o governo popular fuma, e jura que não traga.
Como se sabe, Lula ficou sem sucessor depois que Antonio Palocci e José Dirceu caíram em desgraça. A ideia de oferecer ao país uma “presidenta” se encaixou bem no marketing do governo bonzinho, que dá dinheiro de graça aos pobres e critica o Banco Central (o milagre da oposição a si mesmo). A presidenta não poderia ser a ex-prefeita Marta Suplicy, nem mesmo a senadora Ideli Salvatti ou outra figura mais experimentada.
Era preciso alguém que não fosse nada, para que no imaginário popular pudesse ser tudo. Uma espécie de fenômeno Collor.
A imagem final do debate na TV, com Dilma Rousseff gaguejando e baixando os olhos para ler a cola da mensagem que deveria deixar ao público, não poderia revelar um nada mais eloquente. Ao lado dela, Celso Pitta pareceria um Rui Barbosa.
É fácil compreender por que o povo, segundo pesquisas qualitativas, não acreditou na Dilma gestora, gerentona, xerifa, dama de ferro, princesa do pré-sal e outras embalagens sugeridas. A líder nas pesquisas de opinião é, basicamente, Lula. Mas como Lula tem barba e vai embora, sua criatura não poderia ficar andando sozinha por aí sem identidade. Surgiu então a solução segura, já posta na rua pelos arautos petistas: Dilma é mãe.
Não mais a “Mãe do PAC” — até porque o menino, que puxou a ela, tem fisionomia um tanto indefinida. Dilma é simplesmente “mãe”. Aí não pode ter erro. Lula já explicou a abrangência da coisa, numa palestra em Curitiba ao lado de sua candidata: “Se vocês ainda têm preconceito em votar numa mulher, parem de ser besta. Ela lhe pariu, ela formou o seu caráter. Dê uma chance à sua mãe, já que ela deu tantas chances a você.” Pronto. Cada brasileiro tem agora a possibilidade de deixar de ser ingrato, e retribuir a quem sofreu para colocá-lo no mundo. O Brasil, que até outro dia tinha 190 milhões de técnicos, agora tem 190 milhões de filhos da Dilma. E um filho do Brasil.
Depois de se assistir à candidata do governo sozinha na TV se embaralhando com siglas, percentuais e “mágicas financeiras” que ela diz não entender — e disso ninguém duvida —, dá para compreender por que o presidente decidiu botar a mãe no meio. A opção pela mitologia é mais garantida, até porque em time que está ganhando não se mexe. O problema é quando a realidade aparece para estragar o enredo.
De repente, Lula virou o possível salvador de uma mãe iraniana. Acusada de adultério, ela foi condenada à morte por apedrejamento. O caso logo chegou ao presidente brasileiro, em forma de apelo, por sua relação de camaradagem com o ditador do Irã. Lula foi coerente ao negar ajuda: “Um presidente da República não pode ficar na internet atendendo todo pedido que alguém pede de outro país. É preciso tomar muito cuidado porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras. Se começarem a desobedecer às leis deles para atender ao pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação.” A pressão cresceu e Lula acabou cedendo à avacalhação, pedindo clemência à condenada. Não deixou de fazer mais um carinho no presidente sanguinário, “meu amigo Ahmadinejad”, como se pedisse com jeitinho para ele pegar leve desta vez. Foi ignorado.
Não se sabe o que as mulheres e as mães iranianas pensam de Lula, o chapa do carrasco. Mas possivelmente achassem no mínimo exótico que seja o mesmo a fazer do feminismo e da maternidade a bandeira central da sua sucessão.
Resta saber o que as brasileiras e os brasileiros acham disso. E do Plano Dilma como promessa nacional de cuidado, carinho maternal e feminilidade.
Olhando para o feitio, a oratória e as práticas da candidata, talvez o bebê dinossauro, do famoso desenho animado, soltasse seu bordão de autodefesa: “Não é a mamãe!” Mas dinossauro não vota.