Paramos um tempo o 'mata-mata' de "Call of Duty" e fizemos um 'desafio silencioso' de ver quem terminaria o jogo em menor tempo e melhor perfomance.
Já tinha feito um tópico nesse fórum sobre o viral do jogo(viewtopic.php?f=1&t=20620&hilit=+mass ou http://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?f=1&t=20 ... te#p401972). A crítica e a impressão do jogo nos associa a um clone do jogo God of War, com uma tendência medieval/Crusadas(me aterei a questão que muitos que lerem isso não jogam videogame). O jogo até esteve envolvido em polêmicas com babás( http://www.portalxbox.com.br/e107_plugi ... php?809219 )...
Chegando ao ponto, Dante vai ao Inferno para salvar a alma de sua amada Beatrice, e nisso passará por todos os planos infernais, encararando até Lúcifer se for preciso. Enquanto enfrenta seres anormais, mitológicos e demônios, Dante terá a chance de purificar ou condenar as almas que encontrar em seu percurso martírico. E foi esse ponto que diferenciou a jogada de um ateu(eu, claro) e seu amigo cristão que pouco questiona seus dogmas religiosos, e debochava de minha posição ateísta(e por isso o título do tópico).
O sistema do jogo permite implementar as habilidades e armas de Dante com 'pontos sagrados' e 'pontos não-sagrados', que são habilitados e atualizados enquanto você obtem tais pontos. Quando Dante absolve uma alma, ganha pts sagrados. Quando pune, pts. não-sagrados.
Estava lá eu, jogando esse belo jogo, e lendo o motivo de uma alma e seus lamúrios de pesar por estar no inferno, para decidir se eu punia ou absolvia, chega esse meu amigo e diz:
-Porque está perdendo tempo? Pune logo o desgraçado!
Perguntei porque eu deveria fazer isso de imediato. A resposta até que me chocou:
-Oras, eles já não estão no inferno? Então merecem serem punidos!
-Fulano, estou vendo a história dessa alma, e o pecado que ele cometeu foi ser um rei pagão. Embora tenha sido um rei justo e tolerante, apenas por ter um credo diferente do judaíco/cristão, ele merece sofrer nesse lugar?
-Se ele está no inferno, é porque merece.
E nisso começou a discussão sobre moral e julgamento. Pausei o jogo e começamos a discutir.
Nisso ele comentou como estava a sua jogada(o que ficou óbvio): estava punindo todas as almas que via pela frente, sem absolver nenhuma. Perguntei onde estava o amor e misericórdia cristã desse sujeito, se ele ao menos absolveu a alma de Francesca, já que o pecado que ela cometeu foi amar o irmão de seu marido, Paolo, alma essa que também tinha absolvido horas atrás, e o jogo até me deu a conquista/ troféu 'Amor proibido'(forbidden love).(A produtora do jogo tentou colocar o histórico das almas de forma mais imparcial possível, para que você decidisse com seu julgamento o destino deles, sendo que dependendo de suas decisões, fornecem prêmios, o que achei um ponto muito positivo para a interação do jogo).
-E o que tem haver? É pecado. Foi pro inferno.
Ele insistia nessa ladainha. Foi quando questionei que no coração e coisas de paixão ninguém manda, e lembrei a traição que meu amigo fez a ex-noiva dele. Esse se calou de imediato.
Continuei a jogada. Horas depois, a discussão surgiu de novo: absolvi um homossexual(no histórico, um mentor de Dante, a qual me foge o nome, mas um sábio e questionador. Estava mo inferno adivinha porquê?).
-Porque absolveu esse %$#@% ? Você não acabou de punir outro $%$#@ agora a pouco?
-Acontece, fulano, que o outro "&¨%$" que puni matava seus prisioneiros e os sodomizava, ao contrário desse, que é um pensador livre no período errado. O fato que me fez absolver esse, por simplesmente estar no inferno apenas por gostar de pessoas do mesmo sexo, ao contrário de um assassino necrófilo doentio, não pesa no seu senso de julgamento?
-...
E assim continuou. A cada alma que surgia para decidir, fiquei o questionando qual decisão tomaria, mostrando o contra e o a favor. Mas meu amigo Fulano ainda continuava irredutível nas punições.
Agora vamos as consequências: por eu estar fazendo um julgamento mais "equilibrado", e obtendo as habilidades de Dante de forma gradual e igual para as adquiridas tanto pelo sagrado e não-sagrado, tive um avanço bem considerado.
Já meu amigo, por estar sempre punindo as almas indiscriminadamente, empacou no meio do jogo, devido a progressão das habilidades, pois necessitava de pontos sagrados. Por não ter progredido algumas das habilidades que exigiam esses pontos, derrotar alguns inimigos que surgiam a frente bem mais fortes se tornou um martírio muito grande. A dificuldade estava tamanha que ele decidiu reiniciar a jogada dele... enquanto eu já estava quase no final do jogo.
Antes que perguntem, sim, vi um ateu lá no inferno. Era um banqueiro italiano. E mesmo assim o absolvi XD.
). O deuzo é, para os outros, sádico, punitivo, cerceador - o que reflete a personalidade/inconsciente dele. Chamar isso de hipocrisia é pouco. Acho que farisaísmo mórbido cai mais redondo. Daí pro fanatismo e pro fundamentalismo, é só uma ponte.
