MAOMETANISMO - Embaixadas em chamas
Enviado: 06 Fev 2006, 06:10
Ameaças à paz mundial
NAHUM SIROTSKY/ Correspondente/Jerusalém
http://zh.clicrbs.com.br
A questão das caricaturas de Maomé publicadas no Ocidente tem o efeito de afastar ainda mais os muçulmanos dos habitantes das terras para as quais emigraram. E torna mais urgente do que nunca informar os fiéis das diversas religiões das características umas das outras. Na época do maior desenvolvimento científico e tecnológico da história, a religião, que se preocupa com o abstrato, ganha influência. Até parece que o homem sente necessidade crescente de acreditar no inalcançável.
Há muito de inexplicável na evolução do caso. As primeiras caricaturas saíram em um jornal dinamarquês em setembro. A Dinamarca é das mais democráticas dentre as democracias. Um país escandinavo, origem dos vikings, com 43 mil quilômetros quadrados e cerca de 6 milhões de habitantes. Aceitou imigrantes muçulmanos, africanos e outros. Não tem miseráveis. É um pequeno paraíso no qual a justiça social tranqüiliza os indivíduos.
Os protestos contra as charges têm sinais de terem sido organizados. E cresceram, ganharam as ruas de cidades do mundo islâmico e europeu. A violência só faz aumentar a desconfiança e o receio que invadem o mundo.
Embaixadas em chamas
Em protesto contra a publicação de caricaturas de Maomé, manifestantes irados destruíram representações diplomáticas em Damasco e Beirute
Beirute
O crescendo de violência nas manifestações de protesto contra a publicação de charges do profeta Maomé culminou no fim de semana com a destruição de três representações diplomáticas. Um dia depois de muçulmanos irados terem incendiado as embaixadas da Dinamarca e da Noruega em Damasco, na Síria, milhares de ativistas islâmicos atearam fogo ontem à embaixada dinamarquesa em Beirute, capital do Líbano.
Policiais lançaram gás lacrimogêneo contra a multidão e dispararam tiros para o ar, em uma tentativa desesperada de conter a violência. O incidente causou a renúncia do ministro do Interior libanês, Hasan Sabeh. Ele ressaltou que se negou a dar uma ordem para abrir fogo contra os manifestantes porque "não quis ser o responsável por uma carnificina".
Segundo testemunhas, pelo menos 18 pessoas ficaram feridas no confronto entre manifestantes e policiais. O protesto degenerou em violência quando grupos de ativistas tentaram passar pela barreira de segurança erguida na frente do edifício, o que levou a tropa de choque a usar gás e canhões de água. Mohammed Rashid Kabbani, líder espiritual dos muçulmanos sunitas do Líbano, foi à TV pedir calma à população. Kabbani criticou a violência e denunciou a ação de grupos radicais infiltrados nas manifestações com o objetivo de "prejudicar a estabilidade do Líbano e distorcer a imagem do Islã".
Em outro incidente ligado à revolta pela publicação das charges, alguns manifestantes apedrejaram uma igreja cristã maronita em um bairro cristão de Beirute
Os governos da Dinamarca e da Noruega recomendaram a todos os seus cidadãos que abandonem os países nos quais os protestos têm se mostrado mais violentos. Na Síria, a maior parte dos dinamarqueses e noruegueses acatou a recomendação. As embaixadas da Dinamarca e da Noruega em Damasco ficam no mesmo edifício - que abriga ainda a missão diplomática do Chile.
A série de caricaturas de Maomé foi publicada inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, em setembro. Editores do diário defenderam a publicação das charges sob o argumento de que dogmas religiosos não devem se sobrepor à liberdade de imprensa. Em meio à polêmica, outras publicações européias reproduziram os desenhos. Em um deles, considerado o mais ofensivo pelo mundo islâmico, Maomé aparece com uma bomba no turbante.
Dois editores são presos na Jordânia
A ousadia custou caro: o editor da revista Al-Mehuar, da Jordânia, que reproduziu várias das charges do profeta Maomé, teve sua prisão determinada pelo procurador-geral do país. Horas antes, já havia sido ordenada a prisão de Jihad Momani, editor do jornal jordaniano Shihan, pelo mesmo "crime". Mais de 93% dos jordanianos são muçulmanos. O porta-voz do governo jordaniano, Nasser Judeh, explicou que o objetivo das ordens de prisão é determinar a responsabilidade dos dois editores na publicação das charges.
Na Europa, a Liga Árabe Européia, com sede na Bélgica, reagiu à polêmica das caricaturas com a divulgação de desenhos anti-semitas em seu site. A organização afirmou que, com a medida, pretende "quebrar muitos tabus na Europa". Entre as imagens publicadas, uma mostra Adolf Hitler na cama com Anne Frank, uma das vítimas-símbolo das atrocidades nazistas. Outra questiona se o Holocausto realmente ocorreu.
- Após a lição que nós, árabes e muçulmanos, recebemos dos europeus sobre liberdade de expressão e tolerância, a Liga decidiu fazer uso de seu direito à expressão artística. Decididamente, não queremos ficar para trás - disse a organização.
Adolescente matou padre na Turquia
No Iraque, o Ministério dos Transportes decidiu cancelar seus contratos com empresas dinamarquesas e rejeitou todas as ofertas de ajuda financeira do governo dinamarquês, em protesto contra a publicação das ilustrações de Maomé. O ministro dos Transportes, Salam al-Maliki, disse que a decisão envolverá contratos nas áreas portuária, de aviação, ferroviária e marítima.
Na Turquia, em um ataque aparentemente relacionado com a polêmica das charges, um adolescente matou ontem a tiros o padre católico italiano Andrea Santoro, 60 anos, de uma igreja da cidade portuária de Trabzon. O jovem, de 14 a 15 anos, gritou "Deus é Grande" enquanto fugia.
NAHUM SIROTSKY/ Correspondente/Jerusalém
http://zh.clicrbs.com.br
A questão das caricaturas de Maomé publicadas no Ocidente tem o efeito de afastar ainda mais os muçulmanos dos habitantes das terras para as quais emigraram. E torna mais urgente do que nunca informar os fiéis das diversas religiões das características umas das outras. Na época do maior desenvolvimento científico e tecnológico da história, a religião, que se preocupa com o abstrato, ganha influência. Até parece que o homem sente necessidade crescente de acreditar no inalcançável.
Há muito de inexplicável na evolução do caso. As primeiras caricaturas saíram em um jornal dinamarquês em setembro. A Dinamarca é das mais democráticas dentre as democracias. Um país escandinavo, origem dos vikings, com 43 mil quilômetros quadrados e cerca de 6 milhões de habitantes. Aceitou imigrantes muçulmanos, africanos e outros. Não tem miseráveis. É um pequeno paraíso no qual a justiça social tranqüiliza os indivíduos.
Os protestos contra as charges têm sinais de terem sido organizados. E cresceram, ganharam as ruas de cidades do mundo islâmico e europeu. A violência só faz aumentar a desconfiança e o receio que invadem o mundo.
Embaixadas em chamas
Em protesto contra a publicação de caricaturas de Maomé, manifestantes irados destruíram representações diplomáticas em Damasco e Beirute
Beirute
O crescendo de violência nas manifestações de protesto contra a publicação de charges do profeta Maomé culminou no fim de semana com a destruição de três representações diplomáticas. Um dia depois de muçulmanos irados terem incendiado as embaixadas da Dinamarca e da Noruega em Damasco, na Síria, milhares de ativistas islâmicos atearam fogo ontem à embaixada dinamarquesa em Beirute, capital do Líbano.
Policiais lançaram gás lacrimogêneo contra a multidão e dispararam tiros para o ar, em uma tentativa desesperada de conter a violência. O incidente causou a renúncia do ministro do Interior libanês, Hasan Sabeh. Ele ressaltou que se negou a dar uma ordem para abrir fogo contra os manifestantes porque "não quis ser o responsável por uma carnificina".
Segundo testemunhas, pelo menos 18 pessoas ficaram feridas no confronto entre manifestantes e policiais. O protesto degenerou em violência quando grupos de ativistas tentaram passar pela barreira de segurança erguida na frente do edifício, o que levou a tropa de choque a usar gás e canhões de água. Mohammed Rashid Kabbani, líder espiritual dos muçulmanos sunitas do Líbano, foi à TV pedir calma à população. Kabbani criticou a violência e denunciou a ação de grupos radicais infiltrados nas manifestações com o objetivo de "prejudicar a estabilidade do Líbano e distorcer a imagem do Islã".
Em outro incidente ligado à revolta pela publicação das charges, alguns manifestantes apedrejaram uma igreja cristã maronita em um bairro cristão de Beirute
Os governos da Dinamarca e da Noruega recomendaram a todos os seus cidadãos que abandonem os países nos quais os protestos têm se mostrado mais violentos. Na Síria, a maior parte dos dinamarqueses e noruegueses acatou a recomendação. As embaixadas da Dinamarca e da Noruega em Damasco ficam no mesmo edifício - que abriga ainda a missão diplomática do Chile.
A série de caricaturas de Maomé foi publicada inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, em setembro. Editores do diário defenderam a publicação das charges sob o argumento de que dogmas religiosos não devem se sobrepor à liberdade de imprensa. Em meio à polêmica, outras publicações européias reproduziram os desenhos. Em um deles, considerado o mais ofensivo pelo mundo islâmico, Maomé aparece com uma bomba no turbante.
Dois editores são presos na Jordânia
A ousadia custou caro: o editor da revista Al-Mehuar, da Jordânia, que reproduziu várias das charges do profeta Maomé, teve sua prisão determinada pelo procurador-geral do país. Horas antes, já havia sido ordenada a prisão de Jihad Momani, editor do jornal jordaniano Shihan, pelo mesmo "crime". Mais de 93% dos jordanianos são muçulmanos. O porta-voz do governo jordaniano, Nasser Judeh, explicou que o objetivo das ordens de prisão é determinar a responsabilidade dos dois editores na publicação das charges.
Na Europa, a Liga Árabe Européia, com sede na Bélgica, reagiu à polêmica das caricaturas com a divulgação de desenhos anti-semitas em seu site. A organização afirmou que, com a medida, pretende "quebrar muitos tabus na Europa". Entre as imagens publicadas, uma mostra Adolf Hitler na cama com Anne Frank, uma das vítimas-símbolo das atrocidades nazistas. Outra questiona se o Holocausto realmente ocorreu.
- Após a lição que nós, árabes e muçulmanos, recebemos dos europeus sobre liberdade de expressão e tolerância, a Liga decidiu fazer uso de seu direito à expressão artística. Decididamente, não queremos ficar para trás - disse a organização.
Adolescente matou padre na Turquia
No Iraque, o Ministério dos Transportes decidiu cancelar seus contratos com empresas dinamarquesas e rejeitou todas as ofertas de ajuda financeira do governo dinamarquês, em protesto contra a publicação das ilustrações de Maomé. O ministro dos Transportes, Salam al-Maliki, disse que a decisão envolverá contratos nas áreas portuária, de aviação, ferroviária e marítima.
Na Turquia, em um ataque aparentemente relacionado com a polêmica das charges, um adolescente matou ontem a tiros o padre católico italiano Andrea Santoro, 60 anos, de uma igreja da cidade portuária de Trabzon. O jovem, de 14 a 15 anos, gritou "Deus é Grande" enquanto fugia.