Autonomia Nuclear Brasileira Incomoda Washington
Enviado: 06 Fev 2006, 08:38
Rio, 26/jan/06 – Dia 3 passado, o deputado e presidente da Câmata de Deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP) publicou artigo intitulado “Triunfo do programa nuclear brasileiro” (Gazeta Mercantil) onde destaca que o Brasil, em menos de 30 anos, partindo do zero, com poucos recursos, boicote internacional e até incompreensão interna, conquistou um lugar destacado no seleto clube dos que dominam o ciclo do combustível atômico, bem como adquiriu capacitação técnica para figurar no quadro de apenas cinco países que possuem submarino nuclear.
Adiante, Rebelo defende a conclusão da usina nucleoelétrica de Angra 3 (“a despeito da campanha de boicote feita por ONGs internacionais”) e aponta, como outra grande empreitada nacional, a construção do submarino de propulsão nuclear, de grande valor estratégico devido à sua flexibilidade e capacidade de rápido deslocamento com um formidável poder dissuasório, características fundamentais para mitigar a conhecida vulnerabilidade das nossas plataformas de petróleo, assim como a da chamada Amazônia Azul, zona econômica exclusiva de 4,5 milhões de quilômetros quadrados que se estendem ao longo do nosso litoral, rica não somente em petróleo mas também em reservas alimentares e minerais. Afinal, "a realidade do mundo não se imprime num sereno cenário de paz, mas num mapa geopolítico salpicado de conflitos", pondera Rebelo.
Apesar de não mencionar como “apartheid tecnológico” as ações movidas por grandes potências e suas linhas auxiliares – as ONGs supranacionais -, Rebelo afirma ousadamente que
Já estamos ampliando a produção de urânio enriquecido em Resende (RJ) e poderemos nos tornar fornecedores de material atômico no lucrativo mercado das muitas usinas do mundo.
E passa a discorrer sobre sobre alguns tratados internacionais correlatos:
Querem nos fazer assinar também um anexo que permitiria fiscalização mais invasiva, estendida à zona de privacidade pessoal de dirigentes e técnicos envolvidos no projeto. O governo do presidente Lula tem se recusado a assinar esse protocolo, até porque ele aumenta a assimetria das inspeções.
Enquanto determinados países em desenvolvimento são postos sob suspeita quando anunciam pesquisas nucleares para fins pacíficos, detentores de vasto arsenal atômico não são investigados pelos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica – e pouco se sabe sobre o que fazem em seu complexo industrial-militar.
Três dias após a publicação do artigo, o Greenpeace expeliu uma nota ferina acusando o deputado de fazer “a idolatria do uso militar e civil da energia nuclear embasado nos argumentos usados durante a ditadura militar dos anos 70” e que “só falta ao presidente da Câmara defender a reabertura do buraco da Serra do Cachimbo para testes da nossa nova bomba nuclear verde-amarela para, quem sabe, ser utilizada nos novos submarinos nucleares”.
Hoje, foi o turno do Fórum de ONGs e de Movimentos Sociais para o Meio Ambiente (FBOMS), que diz congregar mais de 500 ONG’s, sindicatos e movimentos sociais, de emitir um canhestro manifesto intitulado “Um recado para Aldo Rebelo” onde classifica o artigo de saudosista "da retórica nacionalista e militarista de outras épocas", e explica porque:
De uma linha reta, nos tempos de colônia, a fronteira brasileira, no começo da república, estava completamente redesenhada, no que, antes, era a América espanhola, à custa de inúmeros acordos espúrios, tratados, guerras, dilapidação do patrimônio público e massacres de brancos pobres, de negros e de indígenas. Consolidaram-se as atuais fronteiras do Brasil a duros golpes – as fronteiras estão asseguradas, mas o deputado Aldo Rebelo se entusiasma com o programa nuclear e defende a construção de um submarino nuclear para proteger os oito mil quilômetros de litoral como se as fronteiras estivessem em perigo.
Certamente, instituições governamentais da superpotência não empregariam retórica mais sibilina para tentar obstaculizar o desenvolvimento de tecnologias de ponta no Brasil, malgrado, como está documentado, algumas delas financiarem abertamente ONGs do complexo socioambientalista que atuam no Brasil.
Nesse sentido, convém recordar a embaraçosa harmonia de interesses existente entre o governo americano e o Greenpeace, como ficou cabalmente demonstrado em matéria publicada pela Folha de S. Paulo (11/01/04) ao revelar, baseada em documentos oficiais desclassificados, que a ONG era fonte de informações dos serviços de inteligência do Departamento de Estado dos EUA. Um dos citados nos documentos foi Ruy de Góes, ex-diretor cum lauda da campanha antinuclear do Greenpeace e atual chefe da Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, órgão do primeiríssimo escalão do Ministério do Meio Ambiente.
Porém, no dia 17, coube a José Goldemberg, secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, a tarefa de rebater "cientificamente" as justificativas de Rebelo em prol do desenvolvimento do setor nuclear brasileiro por serem elas abordadas “sob um enfoque fortemente nacionalista, mas lamentavelmente elas estão todas equivocadas”.
Não deixa de ser instigante que entidades ou indivíduos que primam por uma postura internacionalizante recorram à "nação" e vocábulos derivados para tentar desmontar os argumentos de Rebelo.
Veja-se o caso de Goldemberg, que mantém conhecidos vínculos com o Greenpeace desde o final da década de 1980, e que protagonizou alguns episódios de triste memória para um ministro do governo brasileiro, no caso, do governo Collor de Mello. Em 10 de outubro de 1990, por exemplo, o New York Times publicou uma entrevista com Goldemberg, na qual esse denunciou a existência de “um relatório confidencial de 50 páginas a respeito do projeto da bomba atômica brasileira, entregue ao presidente Collor”. Na entrevista, ele aponta o ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Rex Nazaré Alves e o brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, ex-diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) como os principais responsáveis pelo programa secreto, denominado “Projeto Solimões” - ao qual descreve, com ironia rasteira, como “uma mistura de Irãgate com Sonho de uma Noite de Verão”.
Por insistência sua, Collor protagonizou um dos mais deprimentes episódios de emasculação de um país diante da oligarquia internacional, ao lançar uma pá de cal simbólica num poço existente no campo de provas da Aeronáutica em Cachimbo (PA), o qual, supostamente, serviria para testes de artefatos nucleares.
No governo Collor, Goldemberg atuou como um eficiente agente de influência do Establishment anglo-americano. Por sua influência, o Brasil aderiu a todos os acordos internacionais elaborados pelos estrategistas oligárquicos para a escalada rumo ao pretendido “governo mundial”, tanto na área ambiental como na científico-tecnológica. Entre eles, destacaram-se: o Protocolo de Montreal; o Tratado de Tlatelolco, de banimento de armas nucleares na América Latina; e fez sérios acenos para a adesão ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, que seria efetivada no Governo Fernando Henrique Cardoso.
A reação furibunda da internacional-ambientalista ao artigo do presidente da Câmara de Deputados demonstra que o mesmo tocou no nervo hipersensível em que se transformou a truculenta disputa por fontes eficientes de energia onde emerge, inexoravelmente, a nuclear.
Certamente, não agrada a Washington a perspectiva de ter em seu "quintal" um fornecedor autônomo do estratégico carburante das novas usinas nucleoelétricas que irão proliferar por todo o mundo, em futuro não muito distante, e, ainda por cima, no comando de um não menos estratégico submarino de propulsão nuclear.
FONTE:Alerta em Rede
Abraços,