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O novo rosto do terrorismo

Enviado: 06 Fev 2006, 16:33
por Wik
O novo rosto do terrorismo

Por Alexandra Prado Coelho
quarta-feira, 11 de Setembro de 2002


Para os americanos é a rede de Bin Laden, para os russos são os separatistas tchetchenos, para os turcos são os guerrilheiros curdos, para Israel são os radicais palestinianos. Ninguém consegue concordar numa definição absoluta de terroristas. Como é que se trava então uma "guerra contra o terrorismo"?

O problema coloca-se muitas vezes aos jornalistas. A organização basca ETA deve ser apelidada de terrorista? E o IRA, na Irlanda do Norte? Ou o termo deve aplicar-se apenas aos grupos dissidentes do IRA? O Abu Sayyaf nas Filipinas? É um grupo de guerrilha? Deverão ser chamados separatistas? E quanto aos bombistas suicidas palestinianos? Apesar de usarem métodos terroristas não devem ser chamados terroristas porque têm uma causa que grande parte do mundo considera justa e porque não têm alternativas de combate?

As opiniões divergem. Os mesmos que defendem que determinado grupo é terrorista, recusam-se a usar a expressão quando se trata de outro. "Tal como a beleza, o terrorismo está nos olhos de quem o vê", escreve Grenville Byford na "Foreign Affairs". Mas afinal, não se cansam de repetir os EUA, estamos numa "guerra contra o terrorismo". O que é que estamos realmente a combater? Para os americanos é a Al-Qaeda, para os israelitas são os grupos palestinianos radicais, para os russos são os tchetchenos, para os argelinos são os islamistas armados. Se quisermos encontrar um critério é preciso começar pela definição - e esta está também longe de ser consensual.

O dicionário de Inglês de Oxford descreve um terrorista como "alguém que tenta impor os seus pontos de vista através de um sistema de intimidação coerciva (...) O termo aplica-se geralmente aos membros de uma organização clandestina ou estrangeira que pretende pressionar um governo legítimo através de actos de violência contra ele ou os seus súbditos".

Um dos problemas desta definição é excluir o chamado "terrorismo de Estado". O Departamento de Estado norte-americano também não refere o terrorismo de Estado, o que se, por um lado facilita a vida aos EUA e aos seus aliados, por outro torna mais difícil acusar outros Estados "inimigos" ou "hostis". O problema foi contornado com outra definição, que permite até às Administrações norte-americanas a elaboração de uma lista: a dos "Estados que apoiam o terrorismo".

Outro problema do dicionário de Oxford é que, quando passa para os exemplos, cita casos como o da Resistência francesa durante a II Guerra Mundial, o Congresso Nacional Africano (ANC) na África do Sul, os nacionalistas irlandeses ou os cipriotas gregos.

Depois do 11 de Setembro, também a União Europeia (UE) quis adaptar a sua legislação à nova luta contra o terrorismo, mas deparou-se com o problema da definição dado que muito poucos países tinham definido terrorismo nas suas leis nacionais. A legislação adoptada pelos Quinze traça uma longa lista de crimes que podem ser considerados terroristas, desde os assassínios e raptos até ao uso de substâncias de contaminação ou às interferências em sistemas de computadores.

Mas a UE não define os objectivos por detrás das acções terroristas, como podendo ser políticos, ideológicos ou religiosos (é isso que distingue um terrorista de um hooligan, no caso do futebol, ou do membro de uma organização mafiosa). E não faz, por exemplo, uma distinção que é frequentemente utilizada: a de os alvos do terrorismo serem civis ou militares. Há quem defenda que quando os alvos são militares se trata de uma acção legítima de combate ou de guerrilha.

Veja-se o caso da Palestina. Alguns defendem que uma acção pode ser considerada terrorismo se se tratar de um bombista suicida que mata dezenas de pessoas num mercado. Mas, já não será terrorismo se for um ataque contra soldados israelitas. Outra distinção possível tem a ver com o espaço físico do ataque: dentro dos territórios ocupados é "resistência", dentro de Israel é "terrorismo", defendem outros. Mas há também quem argumente que, não tendo os palestinianos outros meios de se defenderem, qualquer acção é "resistência". O caso da ETA, por exemplo, é mais polémico, porque são muito menos os que pensam que se trata de uma causa justa, em que os fins justificariam os meios.

Uma das características principais do terrorismo, de acordo com os peritos, seria o facto de os alvos serem aleatórios. Sendo que o objectivo principal é a intimidação, a possibilidade de qualquer pessoa ser uma potencial vítima cria um clima de terror que serve precisamente o objectivo dos terroristas.

O exemplo mais evidente é o do 11 de Setembro, que criou nos americanos a sensação de total vulnerabilidade e o receio de que qualquer pessoa possa ser morta a qualquer momento através de um método inesperado e surpreendente. Mas o mesmo se passa em Israel, onde as pessoas têm medo de frequentar os cafés, de andar de autocarro ou de entrar num centro comercial.

Quase todas as pessoas reconhecem um atentado terrorista quando vêem um. O problema está em dar-lhe esse nome quando sabem quem o cometeu ou em nome de que causa foi cometido. Costuma dizer-se que o "terrorista" para um Estado é o "combatente pela liberdade" para outro.

A dificuldade em encontrar uma definição filosófica - que ultrapasse uma tipologia dos crimes que podem ser considerados terrorismo - leva a constatações cínicas como a de Brian Whitaker, que escreve no "Guardian" que "talvez a mais simples e honesta definição de terrorismo seja esta: é a violência cometida por aqueles que nós não aprovamos".

Ou, dito de forma menos cínica, por Grenville Byford na "Foreign Affairs": "A maior parte de nós não fará um julgamento moral de qualquer combatente sem ter em conta os fins que ele pretende alcançar. Aos combatentes com uma causa bastante decente podem ser perdoadas muitas coisas. Aos combatentes com objectivos nobres e sem alternativas pode, até, ser perdoado tudo".


http://dossiers.publico.pt/shownews.asp ... 9&idCanal=

Re.: O novo rosto do terrorismo

Enviado: 06 Fev 2006, 16:43
por Samael
Muito bom texto, Miguel.

Enviado: 06 Fev 2006, 16:45
por Pug
Está aqui encosto, o que é terrorismo.

Esta é a minha posição :emoticon16:

Enviado: 06 Fev 2006, 16:52
por Wik
Pug escreveu:Está aqui encosto, o que é terrorismo.

Esta é a minha posição :emoticon16:


Fiz de propósito... :emoticon16:

Enviado: 06 Fev 2006, 16:58
por Pug
Wik escreveu:
Pug escreveu:Está aqui encosto, o que é terrorismo.

Esta é a minha posição :emoticon16:


Fiz de propósito... :emoticon16:



grato :emoticon14: