Bom Artigo sobre o PT
Enviado: 07 Out 2010, 10:21
Plínio de Arruda Sampaio, o candidato do PSOL, representa a alternativa da esquerda socialista. O PSOL é o maior partido brasileiro do campo anti-capitalista, uma vez que o comunismo do PCdoB é, hoje, mais retórico que real, e o PT deixou de ser um partido anti-capitalista no início dos anos 1990. Dos quatro projetos em disputa, é o único que propõe refundar a sociedade e negar o capitalismo em favor de uma ordem igualitária. O PSOL foi criado por uma dissidência do PT em 2003, quando o governo Lula, recém-empossado, rejeitou a perspectiva socialista em favor de relações amigáveis com a elite econômica e o capital.
A base da dissidência de 2003 foram aqueles que integravam o que foi chamado, até os anos 90, de esquerda do PT. Essa faixa do espectro petista abrigava tendências formadas por remanescentes de grupos da esquerda armada, trotskistas e católicos seguidores da Teologia da Libertação. Unia-os o horizonte utópico socialista, comum a toda esquerda marxista, e a concepção da ação revolucionária imediata, isto é, a de que revolução não deve ser um sonho distante, mas algo para ser feito aqui e agora.
O imediatismo revolucionário, resumido por Carlos Marighela no bordão “a ação faz a vanguarda”, foi algo muito forte entre as esquerdas nas décadas de 60 e 70. Os pequenos e combativos grupos políticos dessa época, que tinham algo do romantismo dos carbonários do século XIX, surgiram como dissidências do PCB ao longo dos anos 1960.
A opção socialista, que hoje o candidato do PSOL representa, está enraizada na tradição revolucionária que, um dia, os comunistas encarnaram. Buscando ascendências ainda mais antigas, lembremo-nos que o PCB foi organizado por líderes anarquistas em 1922, influenciados pelo sucesso dos bolcheviques russos e decepcionados com o voluntarismo do movimento anarquista. Assim, em última análise, a candidatura Plínio é legatária de uma tradição de mais de cem anos, surgida nos pátios das primeiras fábricas brasileiras, entre operários imigrantes e intelectuais como Lima Barreto.
Dilma Roussef, a candidata do PT, traz consigo o legado do nacional-estatismo. No entanto, a reconciliação do PT com a herança nacional-estatista é fato relativamente recente. O PT nasceu em 1979 como uma frente de tendências da esquerda não comunista: católicos das Comunidades Eclesiais de Base, remanescentes dos grupos guerrilheiros dos anos 1970, organizações trotskistas e sindicalistas ligados ao então chamado “novo sindicalismo”. Unia-os a perspectiva anti-capitalista e uma vaga idéia de utopia socialista. O projeto socialista do PT, todavia, nunca chegou a ser delineado, e nem poderia, haja vista a diversidade de credos políticos – cristãos, trotskistas, leninistas – entre seus militantes.
Depois das eleições de 1989, à medida que conquistava prefeituras, governos estaduais e bancadas parlamentares, o PT foi abandonando suas posições anti-capitalistas. O socialismo petista, desde o início de contornos pouco precisos, tornou-se uma referência cada vez mais abstrata. O marco final do deslocamento rumo à centro-esquerda foi a “Carta aos Brasileiros” de 2002, o documento no qual Lula anunciou que, longe que querer destruir, pretendia colaborar com o capital. Essa trajetória – um partido anti-establishment que se transformou, como tempo, num partido do establishment – foi muito semelhante à da social-democracia européia, com a qual o PT compartilha ainda outras afinidades, tais como as origens sindicais e a ênfase na ação reguladora e distributivista do Estado.
No início, na infância do partido, os petistas se viam como a grande novidade da política: nunca, diziam, a classe operária brasileira alcançara tal nível de consciência e protagonismo. Faziam tabula rasa do passado das esquerdas: os comunistas? fantoches de Moscou. O trabalhismo? apenas outro nome para peleguismo. As organizações armadas? erraram ao se desconectar dos movimentos populares. Contudo, durante sua trajetória de maturação, nos anos 1990, ocorreu com o PT um fato inusitado: os líderes e ideólogos do partido fizeram as pazes com o legado getulista.
O nacional-estatismo trabalhista, brotado do getulismo, consolidou-se como uma das principais forças da política brasileira após 1945. Nessa época, o PTB amadureceu um projeto de reformas com base em concepções que valorizavam o papel do Estado como agente de desenvolvimento e distribuição de riquezas. Política externa autônoma e não-alinhamento no quadro da Guerra Fria eram também pontos importantes do programa petebista. Além disso, parte dos quadros dirigentes do partido era egressa do movimento sindical, com o qual sempre manteve proximidade.
A complementaridade entre o programa trabalhista e as realizações do governo do PT foi afirmada pelo próprio presidente Lula, em diversas oportunidades. Dilma reconheceu, recentemente, o elo de continuidade entre Jango e Lula: “Jango propôs uma coisa muito atual, o progresso com justiça e o desenvolvimento com igualdade. As reformas de base de Jango são uma necessidade ainda atual e o governo Lula as está levando à frente”.
Por Luis Bustamante
FONTE: Página Cultural (tem mais, cortei apenas uma parte do artigo)
Abraços,
A base da dissidência de 2003 foram aqueles que integravam o que foi chamado, até os anos 90, de esquerda do PT. Essa faixa do espectro petista abrigava tendências formadas por remanescentes de grupos da esquerda armada, trotskistas e católicos seguidores da Teologia da Libertação. Unia-os o horizonte utópico socialista, comum a toda esquerda marxista, e a concepção da ação revolucionária imediata, isto é, a de que revolução não deve ser um sonho distante, mas algo para ser feito aqui e agora.
O imediatismo revolucionário, resumido por Carlos Marighela no bordão “a ação faz a vanguarda”, foi algo muito forte entre as esquerdas nas décadas de 60 e 70. Os pequenos e combativos grupos políticos dessa época, que tinham algo do romantismo dos carbonários do século XIX, surgiram como dissidências do PCB ao longo dos anos 1960.
A opção socialista, que hoje o candidato do PSOL representa, está enraizada na tradição revolucionária que, um dia, os comunistas encarnaram. Buscando ascendências ainda mais antigas, lembremo-nos que o PCB foi organizado por líderes anarquistas em 1922, influenciados pelo sucesso dos bolcheviques russos e decepcionados com o voluntarismo do movimento anarquista. Assim, em última análise, a candidatura Plínio é legatária de uma tradição de mais de cem anos, surgida nos pátios das primeiras fábricas brasileiras, entre operários imigrantes e intelectuais como Lima Barreto.
Dilma Roussef, a candidata do PT, traz consigo o legado do nacional-estatismo. No entanto, a reconciliação do PT com a herança nacional-estatista é fato relativamente recente. O PT nasceu em 1979 como uma frente de tendências da esquerda não comunista: católicos das Comunidades Eclesiais de Base, remanescentes dos grupos guerrilheiros dos anos 1970, organizações trotskistas e sindicalistas ligados ao então chamado “novo sindicalismo”. Unia-os a perspectiva anti-capitalista e uma vaga idéia de utopia socialista. O projeto socialista do PT, todavia, nunca chegou a ser delineado, e nem poderia, haja vista a diversidade de credos políticos – cristãos, trotskistas, leninistas – entre seus militantes.
Depois das eleições de 1989, à medida que conquistava prefeituras, governos estaduais e bancadas parlamentares, o PT foi abandonando suas posições anti-capitalistas. O socialismo petista, desde o início de contornos pouco precisos, tornou-se uma referência cada vez mais abstrata. O marco final do deslocamento rumo à centro-esquerda foi a “Carta aos Brasileiros” de 2002, o documento no qual Lula anunciou que, longe que querer destruir, pretendia colaborar com o capital. Essa trajetória – um partido anti-establishment que se transformou, como tempo, num partido do establishment – foi muito semelhante à da social-democracia européia, com a qual o PT compartilha ainda outras afinidades, tais como as origens sindicais e a ênfase na ação reguladora e distributivista do Estado.
No início, na infância do partido, os petistas se viam como a grande novidade da política: nunca, diziam, a classe operária brasileira alcançara tal nível de consciência e protagonismo. Faziam tabula rasa do passado das esquerdas: os comunistas? fantoches de Moscou. O trabalhismo? apenas outro nome para peleguismo. As organizações armadas? erraram ao se desconectar dos movimentos populares. Contudo, durante sua trajetória de maturação, nos anos 1990, ocorreu com o PT um fato inusitado: os líderes e ideólogos do partido fizeram as pazes com o legado getulista.
O nacional-estatismo trabalhista, brotado do getulismo, consolidou-se como uma das principais forças da política brasileira após 1945. Nessa época, o PTB amadureceu um projeto de reformas com base em concepções que valorizavam o papel do Estado como agente de desenvolvimento e distribuição de riquezas. Política externa autônoma e não-alinhamento no quadro da Guerra Fria eram também pontos importantes do programa petebista. Além disso, parte dos quadros dirigentes do partido era egressa do movimento sindical, com o qual sempre manteve proximidade.
A complementaridade entre o programa trabalhista e as realizações do governo do PT foi afirmada pelo próprio presidente Lula, em diversas oportunidades. Dilma reconheceu, recentemente, o elo de continuidade entre Jango e Lula: “Jango propôs uma coisa muito atual, o progresso com justiça e o desenvolvimento com igualdade. As reformas de base de Jango são uma necessidade ainda atual e o governo Lula as está levando à frente”.
Por Luis Bustamante
FONTE: Página Cultural (tem mais, cortei apenas uma parte do artigo)
Abraços,