A voz dos fatos

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Apáte
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A voz dos fatos
OLAVO DE CARVALHO | 07 OUTUBRO 2010
ARTIGOS - ELEIÇÕES 2010


Não resta ninguém para pregar o desmantelamento da máquina de corrupção e subversão petista, nem para prometer um castigo exemplar aos protetores das Farc e do PCC nas altas esferas, nem para dar voz à repulsa do povo pelas políticas abortistas, nem mesmo para explicar, com a simplicidade da lógica elementar, que uma inclinação sexual mutável não pode ser fonte de direitos permanentes.


Não é necessário analisar os resultados da eleição de domingo. Eles falam por si. O fato mais significativo, acima de qualquer possibilidade de dúvida, foi a votação espetacular do palhaço Tiririca. Ela é a moral da história de oito anos da Era Lula. Ostentando com franqueza sarcástica a sua condição de candidato inculto, burro, desprepreparado e inepto, Tiririca explicitou a regra implícita que elegeu o sr. Luís Inácio Lula da Silva em 2002 e lhe garantiu o aplauso de todo o beautiful people deste país.

Todos conhecem a previsão do general Olimpio Mourão Filho, publicada no seu livro de 1978, A Verdade de um Revolucionário: "Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso."

A Era Lula foi muito além da profecia. A adulação transpôs os limites do círculo palaciano, espalhou-se por todas as camadas sociais, implantando em milhões de almas uma nova escala de julgamento que invertia, num só lance, todos os valores. Pois não chegaram a enxergar uma virtude mística no fato de que o homem, subindo na escala social como nenhum outro brasileiro, aprendesse a vestir ternos Armani, a aparar a barba e a polir as unhas, mas continuasse tão iletrado - e orgulhoso de sê-lo -- quanto no começo da carreira? Ao longo do governo Lula, o império do mau exemplo se impôs mediante atos, sem que ninguém ousasse verbalizar o seu significado, no entanto evidente aos olhos de todos. Tiririca simplesmente traduziu em palavras a máxima que meio Brasil já vinha seguindo sem declará-la: o maior dos méritos é subir na vida sem mérito.

Os 1.350.000 eleitores que transformaram a abestada criatura no deputado mais votado do Brasil fizeram muito mais do que enviar um eloqüente recibo a Lula e seus cultores: "Captamos a mensagem, sr. Presidente". Mostraram, da maneira mais clara, que uma expressiva parcela do eleitorado já desistiu de levar a sério uma palhaçada eleitoral onde a maioria conservadora - algo entre 70 e 80 por cento -- não tem canais partidários por onde se fazer ouvir. Essa situação grotesca e degradante é precisamente aquilo que o sr. Presidente da República chama de "novo paradigma" e, inflado de triunfo, qualifica de irreversível, provavelmente com razão. Rateado o espaço eleitoral entre a esquerda da esquerda e a direita da esquerda, os remanescentes da antiga direita encaixam-se aí como podem: os sicofantas explícitos, na primeira, os camuflados na segunda. Não resta ninguém para pregar o desmantelamento da máquina de corrupção e subversão petista, nem para prometer um castigo exemplar aos protetores das Farc e do PCC nas altas esferas, nem para dar voz à repulsa do povo pelas políticas abortistas, nem mesmo para explicar, com a simplicidade da lógica elementar, que uma inclinação sexual mutável não pode ser fonte de direitos permanentes.

Já na Era FHC não havia direita. Havia esquerda e "centro". Associada a palavra "direita" a toda sorte de crimes e abusos - objetivamente, no entanto, muito menores que os da esquerda --, todo direitista buscou prudente abrigo num inócuo meio-termo, sem saber que com isso se condenava à "espiral do silêncio" e à derrota inevitável. O passo seguinte foi rotular ao menos parte do "centro" como "extrema direita", de modo que os centristas trocassem novamente de crachá. Quando o sr. Luís Inácio festejou como apoteose da democracia a ausência de candidatos presidenciais de direita nas presentes eleições, a obra da "espiral do silêncio" estava completa. Era a vitória final do "novo paradigma": vote em quem quiser, contanto que seja de esquerda. É uma daquelas situações que o velho Karl Kraus diria impossíveis de satirizar, por já serem satíricas em si mesmas. Quem pode encarná-la melhor do que um palhaço profissional que alardeia como suprema razão para votarem nele a sua completa falta de qualificações para o cargo?

Outros dois fatos devem ser interpretados na mesma direção.

A vitória do sr. Tarso Genro no Rio Grande do Sul mostra que os liberais gaúchos nunca entenderam o óbvio: que sua vitória de 2006 não se deveu às suas lindas doutrinas e doces propostas, mas à hostilidade do povo gaúcho ao partido que durante doze anos transformara o Estado na sede nacional da subversão comunista. Uma vez no poder, tinham a obrigação precípua de destruir o esquema comunopetista, com o qual, em vez disso, preferiram cultivar uma política servil de boa vizinhança. Perderam para o velho inimigo porque não ousaram ser direitistas. Num campeonato de esquerdismo, vence, por definição, o mais esquerdista.

Quanto à votação modesta do sr. José Serra, ela já era esperada. Ele só poderia ampliá-la se, em vez das meras e evanescentes alusões que fez à aliança PT-Farc, apresentasse um programa de ação claro, definido, para o desmantelamento do Foro de São Paulo e de todas as articulações criminosas que o compõem. Parece até abusivo ter de lembrar isto a um político profissional, mas falemos o português claro: Candidatos presidenciais não fazem "críticas", candidatos presidenciais não "denunciam". Criticar e denunciar, no fim das contas, é somente falar. Isso é para os habitantes do Parlamento, que é um foro de debates, ou para os articulistas de mídia, que não têm poder de mando. Candidatos presidenciais, em vez disso, apresentam propostas de ação. Uma proposta de ação que quebre a espinha da narco-subversão e devolva a paz a um povo atemorizado pela violência - eis o que o eleitorado brasileiro espera. O sr. Serra, em vez de atender ao grito sufocado de uma nação prisioneira, limitou-se à função de crítico, e de crítico inibido pela timidez de ferir seus antigos companheiros de militância, dos quais, por alguma razão, se sente devedor e refém. A crítica, em si, tem seus méritos, e creio tê-los reconhecido sem meias palavras. Mas de um candidato presidencial espera-se muito mais. O sr. Serra que mostre a disposição de fazê-lo, e atrairá para si muito mais votos do que poderá obter mediante arranjos e alianças, nos quais o eleitorado só verá uma confirmação a mais de que votar em Tiririca foi a decisão mais razoável, dadas as circunstâncias.

FONTE: http://www.midiasemmascara.org/artigos/ ... fatos.html
MídiaSemMáscara
"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi

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