Como é o DIA DE FINADOS para os ateus?

[Zato-one]

Estou voltando do interior faz umas horas, de onde fomos visitar os túmulos de nossos mortos. Meu avô foi enterrado em sua terra, assim como desejou. Vejo que a minha avó está seguindo o mesmo destino, mas ainda tem uma grande vontade por viver. Gastei um bom tempo próximo a ela, está precisando muito do apoio da família, mas é algo que não é possível a todos nós.
Depois fomos a cidade vizinha, onde minha tia amada descansa. A morte dela foi fundamental para a minha atual postura ateísta. Já fazia um bom tempo que não visitava o seu túmulo, já que minha mãe ia com as irmãs dela e não me chamava, acho que deve ser pela repercussão do que eu disse sobre o comportamento de alguns membros da família no leito de morte dessa tia.
Encontrei-me com alguns primos, que ficaram surpresos com a minha presença. O espanto era por eu já ser um ateu declarado, e eles ainda cheios de preconceitos e falsas premissas, achavam que por ser ateu, eu não me importava com os que se foram. Só respondi que o fato de eu não seguir credo e não acreditar na divindade que ela tanto adorou, não significava que deixei de amá-la, respeitá-la, e de muito menos esquecê-la. Ajudei a acender uma vela, fomos almoçar e botamos o papo em dia, sem mais tocar no assunto sobre a crença.

Como é/foi o dia em que a maioria da população religiosa do Brasil presta atenção a seus mortos para vocês?

[Apo]

Meus sentimentos sobre os mortos em geral e os que se foram da minha vida são mais ou menos afloráveis em qualquer época da minha vida. Mas não é por ser Finados ( mais um dia criado pelos homens para visitar ou prantear, ou mesmo para não nos deixar esquecer, como se eles precisassem da nossa atenção enquanto estamos vivos...). Hoje não lembrei de ninguém em especial e nem chorei.
Passei e costumo passar como se fosse um dia normal, só que feriado.
Não gosto de ir a velórios e nem a enterros, logo...não é meu costume ir a cemitérios. Muito menos comprar flor de vendedor ambulante, que vende flor como se fosse pipoca.
Nossa cultura pranteia os mortos ou faz homenagens a eles usando símbolos como flores e velas. Outras culturas fazem festas e rituais variados. Isto me lembra as caveirinhas de açúcar do México.
Como sou atéia e não sei o que acontece com os seres vivos quando o corpo emudece, não consigo ter momentos contemplativos através de ritual algum que envolva alguma "vontade" superior.

O resto são as nossas contumazes e constantes especulações e certeza do fim.

Talvez se eu perdesse uma pessoa realmente muito importante, como um marido ou filha, a minha cabeça precisasse de um aditivo extra. Por enquanto, não preciso.

[Apo]

Interessante esta coisa de acharem que ateu não liga pra nada, que não sofre, que não tem saudade, que não se importa com a morte. Na verdade é uma conclusão estúpida.
Meus familiares por parte de pai e mãe ( quase todos mortos ) são cristãos católicos ou espíritas. E me criei com esta coisa de Finados, missas pelos mortos, velas, enterros, velórios. Usavam luto fechado ou semi-luto durante mais de 1 ano ( ou o tempo de elaboração da morte), mas desconfio que um pouco é por cobrança mesmo ( que chamavam "respeito").
Depois que me livrei desta coisa depressiva e me dei conta que a morte e a vida existem independente do que entendamos ou tentemos controlar, me afastei de obrigações e compromissos.
Acontece, que muitos destes parentes nem ficaram sabendo que eu ousava ser atéia. E os que estão vivos também não sabem ao certo. Quando fico sabendo de algum comentário sobre meu jeito ...."despojado" de ser, as críticas não citam ateísmo. O que eles dizem é que não entendem meu comportamento e frieza. O que também é estúpido.

[Fernando Silva]

Meus parentes mortos não estão no cemitério. Não sei o que eu iria fazer lá.
O que resta deles está na minha cabeça.

Além disto, independente de crença, não vejo sentido em ir ao cemitério no Dia de Finados se eu tenho o ano inteiro para isto. Só serve para enfrentar filas, pagar mais caro por flores etc.

[marta]

Eu passei o feriado... trabalhando.
É um erro achar que ateu não liga para os mortos só por ser ateu. O fato de não crer em vida após a morte não significa que não sentimos saudades ou dor por aqueles que se foram. Saber que nunca mais veremos ou conviveremos com pessoas queridas é muito doloroso, mesmo para os ateus. Para quem crê, levar flores ou acender velas, talvez minimize um pouco esse sentimento de angústia. É como se vc estivesse próximo outra vez; ou tivesse a sensação de estar dando atenção para aquela pessoa. Para o ateu é a seco. Sabemos que acabou. A flor ou a vela só serve para nós, vivos, e não para os mortos que já não estão mais nem aí. Quem amou alguém nessa vida não precisa de dia dos mortos para lembrar desse alguém.

[JoaoMuller]

Não vou ao cemitério,só quando alguem(meu pai por exemplo)vai e eu o levo.

Um ateu tem os mesmo sentimentos de qualquer outra pessoa,eu por exemplo,claro não tem como medir isto,mais acredito que sinto muito mais dor na perda do que alguem que acredita que vai rever o ente querido em outra vida ou sei lá(no centro espirita ).

Como não acredito nisto,acho que meu sofrimento é maior,porque creio que ali tudo acabou,que nada vai voltar,que nada há além,a morte da carne é a morte e fim.

Ir ao cemitério não vai trazer minha mãe,meu irmão ou tantos parentes meus de volta,mais na minha memória sim,eles estão sempre,e acho que isto que importa.

[Fenrir]

Feriado