Passando a perna no Querido Líder
Voluntários revelam a Coreia do Norte
Claudia Sarmento
TÓQUIO. Num país onde ninguém pode dizer o que quer e, muito menos, fotografar o que gostaria, qualquer relato sobre o cotidiano de um povo totalmente isolado vale ouro. Se vier acompanhado de fotos e vídeos, melhor ainda, mas para isso é preciso arriscar a vida. É o que seis norte-coreanos — treinados por um grupo de jornalistas asiáticos — vêm tentando fazer para que o mundo saiba o que acontece na ditadura comunista de Pyongyang. Em segredo e condições precárias, esses repórteres já conseguiram enviar entrevistas e imagens que mostram um lugar onde, apesar da repressão, mudanças estão acontecendo.
Baseada em Tóquio, a ONG Asiapress, que apoia a liberdade de imprensa em países da Ásia onde a mídia sofre censura, conseguiu formar o pequeno time de nortecoreanos — que recebem uma ajuda de US$ 300, suficiente para que sobrevivam por um ano — e os ensinou a usar câmeras, computadores e celulares disfarçados. Os “agentes secretos” — suas identidades são protegidas — só conseguem encontrar a organização na fronteira com a China no máximo três vezes por ano, quando repassam o que registraram. O material, editado em Tóquio, é publicado na revista “Rimjingang” (nome do rio que cruza a zona desmilitarizada) e corre o mundo, revelando uma Coreia bem diferente das imagens oficiais.
Uma das imagens mais impressionantes, gravada na província de Pyongan, no sul, mostra o que o ditador Kim Jong-il jamais admitiria: gente que não tem o que comer, nem onde dormir. Com uma câmera, o repórter conversa com uma sem-teto de 23 anos, mas que aparenta 13.
Exausta, ela caminha lentamente por uma plantação.
Ele pergunta sobre seus pais, e ela conta que morreram. “O que você come?”, insiste. A moça responde: “Nada”.
A população rural é ainda mais vulnerável aos efeitos de um sistema cruel: a agricultura está quebrada, ajuda externa é recusada e autoridades interferem na distribuição de alimentos para manter os preços em alta.
— Antes, a grande dificuldade era fazer o equipamento chegar — explica o japonês Ishimaru Jiro, editor da revista. — Agora, existe uma proliferação da mídia digital no território. Pessoas ligadas ao poder podem adquirir câmeras, e elas acabam parando nos mercados.
Reunidos no livro “Rimjingang — news from inside North Korea”, os relatos indicam que os norte-coreanos não estão parados. Mercados e negócios privados se multiplicam, embora, oficialmente, só o Estado possa dar empregos.
Cidadãos fabricam produtos em casa — de sorvetes a sapatos — e vendem em feiras, independência econômica impensável há alguns anos. Foi a maneira que encontraram para fugir de racionamentos e salários miseráveis.
Como driblam a polícia? Com suborno.
Os nortecoreanos enganam o Querido Líder para sobreviver
- Fernando Silva
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Os nortecoreanos enganam o Querido Líder para sobreviver
"O Globo" 14/11/10
Re: Os nortecoreanos enganam o Querido Líder para sobreviver
Deviam matar esse cara 
Problema é se a outros piores que ficariam no lugar

Problema é se a outros piores que ficariam no lugar