Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

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Fernando Silva
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Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

Mensagem por Fernando Silva »

Alguns mitos da criação:
Egípcio

Re(Ra)- o deus sol - ao amanhecer do tempo deu a luz a si mesmo. Sentindo que estava só, cuspiu, e de sua saliva nasceram Shu - o ar- e Tefnut - a umidade. Da união de Shu e Tefnut vieram Geb - o deus da terra - e Nut - a deusa dos céus. Das lágrimas de Re(Ra) vieram os primeiros seres humanos. Ele construiu as montanhas, fez a humanidade e os animais, céus e terra. A cada manhã ele se levanta e navega em seu barco Sektet, através do céu. À noite Nut o engole, e ao amanhecer ele renasce mais uma vez dele mesmo.

Sérvio

No começo não havia nada a não ser Deus, e Deus dormia e sonhava. Por muitas e muitas eras Deus sonhou. Mas finalmente despertou.
Deus olhou ao redor de si, e a cada olhar uma estrela se formava, Deus ficou maravilhado. Começou a viajar para conhecer o universo que havia criado. Viajou muito mas onde quer que chegasse não havia fim, nem limite.
Finalmente chegou à Terra. Estava cansado e o suor escorria de sua testa. Uma gota caiu no chão e criou vida; assim nasceu o homem. Ele é parente de Deus, mas não nasceu para o prazer. Foi produzido pelo suor e desde o começo esta destinado a uma vida de labores.

Chinês

No começo do tempo tudo era caos e esse caos tinha a forma de uma ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yim e Yang, as duas forças opostas que compõe o universo. Yim e Yang são a escuridão e a luz, o seco e o molhado, feminino e masculino, frio e o calor.

Um dia as energias conflitantes dentro do ovo o quebraram. Os elementos mais pesados desceram e formaram a terra, e os mais leves flutuaram e formaram o céu. Entre o céu e a terra estava P’an-Ku, o primeiro ser. A cada dia durante dezoito mil anos, a terra e o céu se separavam um pouquinho mais, e a cada dia P’an-Ku crescia no mesmo ritmo de forma que sempre ocupava o espaço entre os dois.

O corpo de P’an-Ku era coberto de um pêlo espesso, e ele tinha dois chifres na testa e duas presas no queixo. Quando ele estava contente, o tempo era bom, mas se ficava perturbado ou zangado chovia ou acontecia uma tempestade.

Existem diferentes histórias sobre o grande P’an-Ku. Alguns dizem que ele, exausto com o trabalho de manter a terra e o céu separados enquanto o mundo tomava forma, morreu. Seu corpo se partiu e separou-se: sua cabeça virou a montanha do norte; seu estômago virou a montanha do centro; seu braço esquerdo a montanha do sul; seu braço direito a montanha do leste e seus pés a montanha do oeste. Seus olhos se transformaram na lua e no sol; sua carne, na terra; seus cabelos, nas árvores e plantas; e suas lágrimas nos rios e mares. Seu alento se transformou no vento, e sua voz no trovão e no relâmpago. As pulgas de P’an-Ku viraram a humanidade. Outros dizem que P’an-Ku, junto com a primeira tartaruga, a primeira fênix, o primeiro dragão e o primeiro unicórnio, modelou o universo com seu martelo e cinzel. Ele governou a humanidade na primeira época da história. Todos os dias os instruía, do alto de seu trono, até que soubessem tudo sobre o sol, a lua e as estrelas acima e os quatro mares abaixo. Escutando-o as pessoas perdiam o cansaço. Uma manhã, quando o grande P’an-Ku já havia passado todo o seu conhecimento para a humanidade, desapareceu e nunca mais foi visto.

Japonês

No começo, o céu e a terra não estavam divididos. Então do oceano do caos surgiu um junco, e esse foi o eterno senhor da terra, Kunitokotatchi. Depois veio o deus feminino, Izanami, e o masculino, Izanagi. Eles ficaram na ponte flutuante do paraíso e agitaram o oceano com uma lança adornada de jóias até que este coalhasse, e assim criaram a primeira ilha, Onokoro. Construíram uma casa nessa ilha com um pilar central de pedra que é a espinha dorsal do mundo. Izanami deu uma volta por um lado do pilar e Izanagi pelo outro. Quando se encontraram face a face uniram-se em casamento.

Seu primeiro filho chamou-se Hiruko, mas ele não floresceu; assim quando ele tinha três anos, colocaram-no em um barco de junco e o deixaram à deriva; ele se tornou Ebisu , deus dos pescadores.

Depois Izanami deu a luz às oito ilhas do Japão, e finalmente começou a parir os deuses que dariam forma e governariam o mundo - deuses do vento, da terra , do mar e da chuva. Mas quando Izanami deu a luz ao deus do fogo, ela se queimou tanto que morreu. Izanagi ficou furioso com o deus do fogo e o cortou em três pedaços e então partiu em busca de Izanami. Foi direto procurá-la na terra das tristezas. Ele a chamava dizendo "- Volte meu amor, as terras que estamos criando ainda não estão completas!" Ela veio até ele dizendo "- Você chegou tarde demais , já comi do alimento desta terra mas gostaria de voltar. Espere aqui por mim e pedirei permissão aos espíritos do mundo inferior. Mas não tente me procurar". Depois de um tempo, cansado de esperar, Izanagi quebrou um dente do pente de cabelo para usar como tocha e a seguiu. Quando a encontrou, viu que ela já estava apodrecendo e que os vermes passeavam sobre seu corpo. Ela estava dando a luz aos oito deuses do trovão. Izanagi deu a volta, nauseado. Izanami gritou para ele: "Que a vergonha caia sobre você", e ordenou aos espíritos sujos do mundo inferior que o matassem.

Os espíritos perseguiram Izanagi, mas ele conseguiu escapar jogando fora seu adorno de cabelo que se transformou em uvas , que os espíritos pararam para comer. Depois jogou fora o seu pente que se transformou em brotos de bambu, e novamente, os espíritos pararam para comer.

Quando alcançou a passagem entre a terra dos vivos e a terra dos mortos, a própria Izanami já quase o tinha alcançado. Mas Izanagi a viu se aproximando e bloqueou a passagem entre os mundos com uma enorme pedra que necessitaria de mil homens para movê-la, criando assim uma barreira permanente entre a vida e a morte. Do outro lado do pedregulho Izanami gritou "A cada dia matarei mil pessoas e as trarei para esta terra!" Izanagi respondeu "A cada dia eu farei nascer cinco mil bebês."

Então Izanagi deixou Izanami reinando na terra das tristezas, e voltou para a terra dos vivos.

Izanagi chegou a um laranjal e uma planície coberta de trevos e banhou-se em uma fonte de águas cristalinas, enquanto limpava da sujeira do mundo inferior do seu rosto foi criando mais deuses. Limpando seu olho esquerdo, criou Amaterasu, a deusa do sol. Limpando o seu olho direito, criou Tsuki-Yomi, deusa da lua. Limpando o seu nariz, criou Susanowo, deus da tempestade.

Siberiano


No começo não havia terra, apenas o oceano. Ulgan, o grande criador, desceu para fazer a terra, mas não conseguia imaginar como. Foi então que ele avistou um pouco de lama que parecia ter um corpo e um rosto, flutuando na superfície da água. Ulgan deu vida à lama, chamou a criatura de Erlik e a fez seu amigo e companheiro.

Certo dia, Ulgan e Erlik, sob a forma de gansos negros, estavam voando sobre as águas. Erlik, que sempre fora orgulhoso, voou alto demais e, exausto, caiu na água e começou a afundar. Desesperado pediu ajuda e Ulgan o puxou, e também mandou que uma pedra subisse à superfície, para que Erlik pudesse sentar-se. Então Ulgan pediu a Erlik que mergulhasse e trouxesse um pouco de lama para fazer a terra. Erlik fez o que Ulgan pediu mas, cada vez guardava um pouco de lama em sua boca, esperando fazer seu próprio mundo quando visse como se fazia. Ulgan então mandou que a lama se expandisse, e a lama obedeceu quase sufocando Erlik que a cuspiu, e é por isso que a terra tem brejos.

Ulgan criou o primeiro homem, usando a terra como carne e pedras como ossos. Depois fez a primeira mulher a partir da costela do homem. Mas a mulher e o homem não tinham um espírito vivo. Ulgan saiu a procura de um para dar-lhes, deixando o primeiro cão guardando seus corpos inertes. Erlik veio e, vendo que o cão estava tremendo porque não tinha pelos, subornou-o para que olhasse para o outro lado, oferecendo-lhe um casaco bem quente. Assim Erlik pegou um junco e soprou vida nos corpos do primeiro homem e da primeira mulher. Portanto foi Erlik e não Ulgan o pai da humanidade. Quando Ulgan viu o que tinha acontecido, não sabia o que fazer. Pensou em destruir o homem e a mulher e começar tudo de novo, porém o primeiro sapo viu Ulgan meditando sobre esse assunto e disse-lhe que não se preocupasse. "Se eles viverem, deixe que vivam e se eles morrerem, deixe que morram." Então Ulgan deixou que vivessem . Quanto ao cão, Ulgan lhe disse que dali em diante teria sempre de guardar a humanidade e viver no frio e que se o homem o maltratasse seria por sua própria culpa.

Ulgan nunca perdoou Erlik por ter soprado a vida nos pessoas e já estando farto de seus modos, baniu-o para o reino dos mortos. Lá Erlik senta-se em um trono negro, cercado por espíritos do mal que, a cada noite, vão buscar as almas dos mortos.

Trancado