O sentido de sua vida

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Huxley
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O sentido de sua vida

Mensagem por Huxley »

Por que vivemos? Para que viver? Por que nascer e morrer? Qual o significado de tudo? Por que não queremos morrer? Viver demanda tanto esforço que é natural que alguém alguma vez na vida já tenha se perguntado isso. Recentemente, estive lendo “Para que Serve Tudo Isso? - A Filosofia e o Sentido da Vida, de Platão a Monthy Python”, um livro fantástico do editor e fundador da Philosophers' Magazine, o filósofo britânico Julian Baggini. Ele destaca que a resposta a pergunta do título de seu livro tem um caráter eminentemente individual, mas que é possível traçar algumas considerações filosóficas gerais que ajudam a esclarecer o sentido da vida. Não farei uma resenha do livro, mas revelarei duas conclusões que achei muito interessante:

* Quando se argumenta que a vida não tem sentido, geralmente se apela para o fato de que o Universo não têm alvos ou metas definidas. Todavia, essa observação apenas sugere que o sentido da vida não se encontra na essência do Universo, mas em nós mesmos. Quando se fala em “sentido”, deve-se entender que essa palavra pode ter vários significados (na língua inglesa, que é o idioma do livro de Baggini) e um deles é “aquilo que é valoroso para nós”. Fazendo uma analogia, um corta-papel pode ser achado na natureza e ser usado com uma tesoura humana, embora a sua razão de existir não se encontre nele mesmo.

* O sentido da vida não pode ser encontrado no cumprimento de um punhado de objetivos específicos, pois uma vez que os mesmos fossem cumpridos daria aquela sensação de “terei que buscar outros objetivos”. Mesmo que você seja um jogador de um esporte, você não pode fugir dessa questão com um “fomos campeões esse ano, mas sempre tem o próximo”. Pois, nesse caso, o sentido da vida sempre escaparia de suas mãos e estaria sendo postergado indefinidamente para o futuro. Você estaria cumprindo o mesmo papel de um burro procurando abocanhar uma cenoura que foi pendurada numa varinha um pouco a frente dos seus olhos por um viajante perspicaz. O sentido da vida deve ser alguma coisa que seja permanente e termine a série de "por ques".

Bem, dito isso, qual é o seu sentido da vida? Estarei observando atentamente as respostas de todos.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

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Acauan
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Acauan »

Huxley escreveu:Bem, dito isso, qual é o seu sentido da vida?


Caminhar sobre a terra e deixar suas marcas nela.
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Res Cogitans
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Res Cogitans »

Eu li este livro e achei que ele é mais interessante para entender porque determinados argumentos não são adequados/necessários/suficientes para dar sentido a vida.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.

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Apo
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Apo »

Acauan escreveu:
Huxley escreveu:Bem, dito isso, qual é o seu sentido da vida?


Caminhar sobre a terra e deixar suas marcas nela.


Pra quê?
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Apo
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Apo »

Res Cogitans escreveu:Eu li este livro e achei que ele é mais interessante para entender porque determinados argumentos não são adequados/necessários/suficientes para dar sentido a vida.


Siga este fio de meada, e chegará facil e convincentemente à conclusão de que não há sentido algum na vida. Por isto sou totalmente contra a defesa de alguns anti-abortistas, anti-eutanásia e anti-suicídio quando usam o argumento - para eles irredutível - da manutenção da vida pela vida e pronto. Viver é acaso ( porque ninguém pede para nascer) e negação ( pois ninguém sabe para que serve, passamos o tempo todo lutando contra a morte - que chamamos de "mal", e falando numa tal felicidade - a que denominamos de "bem"). Ninguém minimamente racional vai encontrar um só argumento irrefutável que não transfira ao cabo de toda a filosofia, a responsabilidade da manutenção da vida para outrem: é em nome da vontade de deuses, de uma missão espiritual que não se encerra aqui, da falta que faríamos a fulano ou cicrano ou ao resto da Humanidade. A vida pela vida não faz o menor sentido.
Quando nossa consciência, através de processos neuroquímicos ( pois é isto que ela é) permite que a ficha caia, todos os sentidos, motivos, justificativas e razões para continuar vivendo, caem por terra. Por isto alguns se suicidam, por isto muitos caem em depressão e provam o que é se excluir do que chamamos "realidade". Algumas drogas provocam esta sensação. Por isto alguns usuários têm seus cérebros permanentemente alterados a ponto de se jogar na frente do primeiro trem que passa. É um caminho sem volta porque a mente passa a ver de fora aquilo em que estamos imersos e não percebemos.

Uma boa descrição desta sensação está num texto de um tópico do Fernando Silva sobre drogas de exclusão. Vou ver se acho.

Aqui o trecho que fala das drogas isolantes:

Mas há um outro paradigma, uma outra família de drogas. São aquelas (o haxixe, o LSD, o chá de cogumelos, a ayahuasca) que atacam, questionando-a, revelando sua ilusão, a realidade.
“O vinho torna bom e sociável”, descreve Baudelaire, mas “o haxixe é isolante”.
Nessa diferença se situa o âmago do que desejo delinear.
A realidade é por excelência social; ela é o conjunto, complexo, contraditório e imensurável, das representações de uma coletividade.

As drogas da realidade são, consequentemente, as drogas da sociabilidade.
Ingere-se-as para melhor se relacionar com o outro.
Mas as drogas “isolantes”, não. Muito mais radicais, elas lançam sobre a realidade a dúvida quanto a sua própria existência. É nessa dúvida que se passa toda a experiência.

Pois essas drogas, atacando a realidade enquanto princípio, deslocam o sujeito como que para fora dela.

Ora, a rigor, fora da realidade é o nada. Ou, em psicanálise lacaniana, o real. E é por isso que muitos usuários de drogas dessa espécie, por meio do uso intenso e extenso, acabaram passando de vez para o outro lado, psicotizando, perdendo o contato com a realidade.
Mas, em casos menos radicais, qualquer usuário se vê como que fora da realidade.
Essa se lhe aparece como uma ilusão; porém, finda a experiência, retomará sua existência sólida, natural.

Durante a viagem, o sujeito vê a realidade à sua frente, como um teatro.
Ele se mantém consciente, mas, justamente, trata-se de uma hiperconsciência da realidade, isto é, de uma consciência daquilo de que normalmente somos inconscientes, por nela estarmos imersos.
É isso, creio, que um poeta, usuário de LSD, estava a dizer quando contou que pôde segurar seu ego junto à cintura, como quem segura um capacete. Uma distância se abre. E o sujeito se percebe num limbo, além da realidade, aquém do nada.

Esse limbo é um lugar de extrema sensibilidade porque suspende a realidade. A realidade naturaliza; ela é o que reconhecemos habitualmente, por mais extraordinárias que sejam suas operações internas (como a da arte, por exemplo).
Mas, suspensa, a realidade cede lugar à estranheza absoluta, à estupefação que é o seu próprio espetáculo como precária invenção.

Então, não é algo na realidade que é estranho, uma parte sua qualquer que escapa à gramática habitual.
Mas é a própria realidade, em sua totalidade, em seu princípio, que é estranha, abolido seu caráter de natureza. Nessa estranheza absoluta, os “sentidos tornam-se de uma acuidade extraordinária”, mas, ao mesmo tempo, “sobreabundantes a alegria, o bem-estar, também são imensamente profundas a dor e a angústia”. Sim, tudo isso gira no mesmo vórtice, pois a suspensão da realidade é o teatro e o vazio, a beleza e o caos. A realidade se revela uma ilusão: um homem sensato “parece-vos o mais doido e o mais ridículo de todos os homens” — mas uma ilusão necessária. Para além dela é a verdade, isto é: o nada.
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Apáte »

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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Fernando Silva »

Não escolhemos nascer. Quando nos damos conta, estamos aqui. E aqui continuamos porque somos geneticamente programados para nos agarrar à vida.

Entendo que, a maior parte do tempo, não nos preocupamos com o sentido da vida.
Temos problemas a resolver, deveres a cumprir e coisas que gostaríamos de fazer.

A maior parte do tempo, vamos apenas cumprindo objetivos de curto prazo, sem nos questionarmos muito sobre se aquilo é o ideal, se deveríamos estar fazendo ou tentando fazer outra coisa.

E, mesmo que nos questionemos, no fim das contas não temos coragem ou vontade de tentar outra coisa. Nosso questionamento é apenas uma distração sem consequência na rotina que nos arrasta para a frente.

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Reid
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Reid »

Para quem não consegue achar um sentido para vida

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:emoticon16:

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Huxley
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Re: O sentido de sua vida

Mensagem por Huxley »

Na filosofia antiga, a resposta a esta pergunta do tópico era que o sentido da vida consiste principalmente da aquisição da felicidade (eudaimonia). Aristóteles defendia que "a felicidade é um princípio; é para alcançá-la que realizamos todos os outros atos; ela é exatamente o gênio de nossas motivações".

Outros pensadores discordaram, sobretudo Friedrich Nietzsche. Ele achava que o desejo de ser grande era a grande causa buscada e que a felicidade apenas o sintoma. Sigmund Freud, talvez por ser um grande influenciado pelo filósofo alemão, tentou explicar que tudo no comportamento humano emana de dois motivos, desejo de ser grande e necessidade sexual.

Outros filósofos tem respostas diversas: auto-conhecimento (ver Marcus Valério XR: http://www.xr.pro.br/PRINCIPIOS.html), altruísmo, etc.

Outras pessoas não se preocupam com a questão e acham que a vida é uma série de "deixe a vida me levar"...Muitas vezes, uma consequência disso é que elas enfrentam conflitos de valores. Por não terem em mente um esboço em pequena escala de seus objetivos gerais, não sabem o que realmente deseja acima e antes de tudo, e o que só vem em segundo ou terceiro lugar.
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