Religião é Veneno. Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico.
Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Usuário deletado escreveu: Partindo desse conceito, pode-se dizer que o movimento que desencadeou a denominada Revolução Francesa era revolucionário, no sentido estrito do termo?
Um bom modo de analisar esta questão é comparar a Revolução Gloriosa na Inglaterra e a Revolução Francesa. Nos dois casos uma sequência de eventos levou à derrubada e decapitação de um rei que frustrou os anseios populares, mas a dinâmica de idéias que impulsiona cada um dos movimentos é muito diferente, oposta até por vezes. Quem melhor representa o lado destrutivo e niilista desta dinâmica de idéias na Revolução Francesa é Marat, com seu jornal L'Ami du peuple, que ganha mais influência conforme incita as massas à violência generalizada e passa a incitar mais as massas para ganhar mais influência. Um resumo profético de como um personagem que em outras circunstâncias seria um Zé Ninguém pode se tornar protagonista da História manipulando a confusão nas consciências provocada pelo turbilhão revolucionário.
Usuário deletado escreveu: E afinal, a Revolução Francesa foi boa ou ruim para a França?
Claramente boa em alguns sentidos e muito ruim e outros. O próprio Robespierre resume isto ao declarar antes de ir para a guilhotina “pelo menos fizemos isto”, indicando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Usuário deletado escreveu: E quando uma cultura milenar tenha como tradição a limitação aos direitos civis? Seria legítimo um movimento que quisesse destruir toda essa cultura, de forma abrupta, a fim de implantar uma democracia, nos moldes das ocidentais?
Lícito ou ilícito não se aplica neste caso. Tal tentativa de implantação da democracia ocidental pela força já é uma contradição em termos. Pior ainda se as tradições locais não sustentarem os ideais democráticos. O máximo que se pode conseguir é uma democracia na forma, mas vazia de seus verdadeiros conteúdos.
Usuário deletado escreveu: Suponhamos que um grupo de dissidentes em alguma teocracia islâmica queira agir assim, seria tal grupo revolucionário no sentido estrito do termo? Visto que lutariam contra os valores tradicionais assimilados pelo povo de tal teocracia?
O problema é que ao optar por impor Direitos Humanos e democracia sob a ótica ocidental o tal grupo revolucionário estaria claramente assumindo que considera impossível ou inviável implantar estas instituições ao modo islâmico, o que representaria uma declaração de repúdio ao Islã, que seria mais ofensivo aos muçulmanos que a democracia em si. Na guerra cultural revolucionária a estratégia seria disfarçar princípios da nova ordem como se fossem islâmicos, só que a legítima democracia ocidental não pode fazer isto, não é de sua natureza.
Usuário deletado escreveu: Ou, inequivocamente, só há de se falar em preservação das tradições judaico-cristãs, já que foram elas que erigiram toda a civilização ocidental?
A tradição judaico-cristã seria menos triunfante sem a revolução industrial a lhe dar toda uma capacidade de materializar os potenciais humanos. Pode-se dizer que há uma simbiose entre cristianismo, capitalismo e industrialização, mas talvez, apenas talvez, um Islã industrializado se tornasse rico o bastante para desenvolver formas mais avançadas de sociedade sem negar as bases do Islã. A civilização ocidental é a melhor opção de civilização. O que não quer dizer que seja necessariamente a melhor civilização que possa existir.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz!
Usuário deletado escreveu:E quando uma cultura milenar tenha como tradição a limitação aos direitos civis? Seria legítimo um movimento que quisesse destruir toda essa cultura, de forma abrupta, a fim de implantar uma democracia, nos moldes das ocidentais?
Suponhamos que um grupo de dissidentes em alguma teocracia islâmica queira agir assim, seria tal grupo revolucionário no sentido estrito do termo? Visto que lutariam contra os valores tradicionais assimilados pelo povo de tal teocracia?
Ou, inequivocamente, só há de se falar em preservação das tradições judaico-cristãs, já que foram elas que erigiram toda a civilização ocidental?
Suas perguntas foram impecáveis. Pegou na veia!
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)
Usuário deletado escreveu:Diante disso, pode-se concluir que a idéia de um país ocidental invadir uma teocracia islâmica, a fim de impingir ideais democráticos e tentar implantar um "Estado de Direito" por lá, beira as raias do absurdo. Já que, nem uma insurgência levada a efeito por dissidentes internos nesse sentido se justificaria.
Sim, estou me referindo à invasão ao Iraque, ainda que consideremos que o país não chegava a ser uma teocracia islâmica strictu sensu.
O Iraque não foi invadido por ser uma teocracia islâmica, caso contrário já teriam invadido a Arábia Saudita.
Democracia é uma idéia que existe em tese, não na prática.
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)
Usuário deletado escreveu:Diante disso, pode-se concluir que a idéia de um país ocidental invadir uma teocracia islâmica, a fim de impingir ideais democráticos e tentar implantar um "Estado de Direito" por lá, beira as raias do absurdo. Já que, nem uma insurgência levada a efeito por dissidentes internos nesse sentido se justificaria.
Não é necessariamente absurda. O Irã é uma teocracia islâmica, mas também é um estado ditatorial revolucionário. O Irã teocrático moderno não é produto da tradição, mas de uma ruptura político-ideológica criada por um poder paralelo que explorou a impopularidade e fragilidade do antigo regime para mobilizar as massas com seu discurso religioso apresentado como força libertadora. Os bolcheviques fizeram isto com o discurso socialista e Hitler com o discurso arianista.
Em casos como este, em que a teocracia islâmica é uma construção ideológica moderna e não histórica e tradicional, a derrubada pela força do regime pode promover – não necessariamente implicando que promova – o despertar das forças democráticas reprimidas, que podem criar novas instituições liberais.
Claro que no caso específico do Irã seria impossível fazer isto com uma intervenção militar estrangeira, dado que uma das fontes de poder dos aiatolás é a exploração do sentimento autêntico de xenofobia nacionalista que a população adquiriu como repúdio ao regime do Xá.
O exemplo do Afeganistão é complementar, uma vez que a tirania do Talibã atingiu níveis tais que mesmo uma sociedade tribal totalmente desconectada dos conceitos modernos de estado-nação democrático preferiu conformar-se com um governo imposto por uma intervenção estrangeira do que mobilizar-se em defesa do poder dos xiitas. O papel decisivo confirma-se na atuação das forças de resistência e oposição internas, que no caso do Afeganistão tem pouco ou nenhum potencial democrático, mas influência suficiente para dar ao novo regime no mínimo uma aparência de legitimidade local.
Usuário deletado escreveu:Sim, estou me referindo à invasão ao Iraque, ainda que consideremos que o país não chegava a ser uma teocracia islâmica strictu sensu.
O Iraque é um caso muito particular. Um fato estranhamente pouco referido pelos analistas é que o regime de Saddam Hussein era um governo fascista no sentido estrito da palavra, uma ditadura centrada em um líder que comanda um partido único de ideologia revolucionária nacionalista, que subordina toda sociedade à burocracia estatal dominante. Ou seja, o regime iraquiano deposto era tão alienígena às tradições tribais e religiosas das populações árabes quanto as tropas que o depuseram. Isto não fará do Iraque uma história de sucesso de imposição da democracia, mas se conseguirem desfascistizar o país sem jogá-lo no colo do radicalismo islâmico já terá sido uma vitória considerável.
Usuário deletado escreveu:Mas seria o cristianismo tão importante assim? Citemos o Japão por exemplo, o país tornou-se uma das maiores potências de nosso século, a par de toda influência judaico-cristã.
E o que era o Japão antes do comodoro Perry abri-lhes os olhos (sem trocadilho) para o atraso civilizacional em que se encontravam? Os japoneses tinham uma cultura sofisticada, mas sua sociedade estagnou por séculos no xogunato, um feudalismo isolacionista, que refletia muito as tradições confucionistas da casta samurai dominante. Tiveram a competência e o talento de aprender e copiar rapidamente o caminho do sucesso estabelecido pelo Ocidente, mas foram incapazes de criar este caminho por seus próprios meios.
Nós, Índios.
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