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Homem mutante
Olly Bootle, do Independent.
Descoberta de 250 alterações no DNA mostra que ser humano está em transformação
Desde que Charles Darwin formulou sua teoria da evolução pela seleção natural, há 150 anos, cientistas especulam se o processo se aplicaria aos seres humanos. A evolução nos criou, mas, num determinado ponto, nós paramos de evoluir? Não há dúvida de que somos únicos no mundo animal. Enquanto ursos que se vissem presos no Ártico iriam, ao longo dos milênios, desenvolver um pelo mais grosso para se manterem aquecidos, os homens costuram roupas e acendem uma fogueira. Ou fazem um barco e deixam o local.
Cientistas suspeitavam que, justamente por serem capazes de se adaptar às mudanças ambientais - o grande deflagrador da seleção natural -, os homens teriam parado de evoluir. Stephan Jay Gould, um dos mais respeitados biólogos evolucionários, disse, certa vez: “Não houve nenhuma mudança biológica nos humanos nos últimos 40 mil ou 50 mil anos. Tudo o que chamamos de cultura e civilização, construímos com o mesmo corpo e cérebro.” Ocorre que ele e muitos outros estavam errados. Nossa capacidade de mapear o genoma humano revolucionou o entendimento da evolução do homem. Ao comparar o DNA de milhares de pessoas ao redor do mundo, cientistas constataram quão diferentes somos geneticamente. A espécie continua a evoluir.
O geneticista Pardis Sabeti, da Universidade de Harvard, afirmou:
- Somos registros de nosso passado; podemos olhar para o DNA de indivíduos de hoje e ter uma ideia de como ficamos assim. Estamos começando a juntar as peças, a colocar lado a lado pequenos bits de informação para formar uma imagem coerente da evolução humana.
Sabeti e seu grupo detectaram 250 áreas do genoma que continuaram a mudar por seleção natural nos últimos dez mil anos. Algumas delas, como a cor da pele, são óbvias. Mas o metabolismo também mudou para nos permitir digerir alimentos que, no passado, não conseguíamos, como o leite. Pessoas que vivem em altitudes elevadas evoluíram para que elas pudessem lidar com a escassez de oxigênio. Os cientistas acreditam que as doenças sejam um dos maiores gatilhos da evolução recente de nossa espécie: quem for sortudo o suficiente para ter algum tipo de imunidade genética está em vantagem imediata e seus genes prosperarão.
Tendência seria estatura diminuir
Claramente, nossa tecnologia e inventividade não nos impediu de evoluir no passado. Mas o mundo hoje é muito diferente do mundo de alguns milhares de anos atrás, ou mesmo alguns séculos. Hoje, nos países desenvolvidos, praticamente todos têm um teto sobre suas cabeças e comida suficiente para sobreviver. É muito raro que um câncer mate alguém antes de ter vivido o suficiente para ter filhos e passar seus genes. O que resta para a seleção natural?
O geneticista Steve Jones, da University College London, explica:
- Na época de Shakespeare, apenas um em três bebês chegaria aos 21 anos. Todas essas mortes foram matéria-prima para a seleção natural, muitas dessas crianças morreram por causa dos genes que carregavam. Mas, agora, 99% dos bebês chegam a essa idade.
Para Jones, o raciocínio deixa poucas dúvidas sobre a atual realidade:
- Se a seleção natural não parou, pelo menos diminuiu o ritmo. Mas, é importante lembrar, a seleção natural só é direcionada pela morte, quando a morte impede as pessoas de passarem à frente seus genes. Embora, no mundo desenvolvido, quase todo mundo hoje viva tempo suficiente para ter descendentes, muitos podem optar por não tê-los. Esta decisão seria capaz de deflagrar a seleção natural da mesma maneira que a morte antes da procriação?
A ideia de que diferentes níveis de fertilidade poderiam estar deflagrando mudanças em nossa espécie levou o biólogo Stephen Stearns, da Universidade de Yale, a olhar para a evolução de uma forma radical. Analisando dados reunidos na cidade de Framingham, em Massachusetts, ele é capaz de dizer como os moradores locais vão evoluir nas próximas gerações. Seus cálculos o convenceram de que as pessoas ainda estão evoluindo e numa direção surpreendente.
- O que descobrimos sobre altura e peso é que, basicamente, a seleção natural parece estar reduzindo a altura e aumentando levemente o peso.
Stearns frisa que não se trata só de as pessoas estarem comendo mais.
- Não há dúvidas de que há um grande efeito cultural em aspectos como o peso - afirmou. - Mas conseguimos estimar qual o componente genético da variação da altura e do peso.
Para Stearns, é improvável que caminhemos na mesma direção eternamente. E tudo indica que não vamos parar de evoluir nunca.