Diferenças entre Lula e Dilma

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Fernando Silva
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Diferenças entre Lula e Dilma

Mensagem por Fernando Silva »

http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/p ... 370530.asp
Lula e Dilma: três meses depois, as diferenças que não querem calar

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ABAPORU DE CHUTEIRAS: Imagem marcante do weekend brasileiro do presidente Obama: Dilma conversando com ele diante da tela “Abaporu”, de Tarsila do Amaral. Sem qualquer juízo de valor, Lula preferia conversas que girassem em torno da cultura do futebol. Pertencente ao acervo do marchand argentino Eduardo Constantini no Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires (Malba), o ícone do modernismo está passando uma temporada em Brasília, na mostra “Mulheres, artistas e brasileiras”, que abre hoje, no Salão Oeste do Planalto, com a presença da presidente. Sua vinda foi negociada pelo Itamaraty com a Argentina, que está de biquinho por Obama não ter incluído o país em seu tour. O Brasil pleiteia o repatriamento da obra. Coincidência?

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TODA RETA É UMA CURVA: Lula era adepto
de uma pirotecnia, de uma estridência e de
um culto à imagem indiscutíveis. A intuição
era seu forte. Dilma é de um pragmatismo explícito
ululante e é amiga do silêncio. Sem o
peso de ser um mito de encarnação da identidade
nacional (no que isso tem de força e
fraqueza), Dilma pode se permitir ser mais direta.
Nas relações internacionais, na articulação
de alianças, no trato com a imprensa, onde
Lula era sinuoso, Dilma, para não se perder,
cultiva a linha reta.

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NUNCA ANTES FH: Em sua gestão e na
campanha, Lula evitava o reconhecimento a
seus antecessores, encampando, subliminarmente,
as conquistas do passado e construindo
o mito do “nunca antes”. Dilma, na visita
de Obama, convidou Fernando Henrique para
sentar-se à mesa principal. Pode ser que tenha
contado com a sorte. Se Lula tivesse aceitado
o convite, é quase certo que ele estaria
sentado ali, e não FH. Com a recusa, ela aproveitou
para fazer um gesto de conciliação, e,
talvez, dar uma cutucada em Lula.

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BOTA NA LAMA: Podia não ser por descaso,
nem preguiça, nem superstição, mas é fato
que Lula nunca foi chegado a visitar as
grandes catástrofes nacionais, enchentes,
áreas conflagradas, secas, incêndios, regiões
endêmicas. Dilma, com poucas semanas no
Planalto, visitou, ao lado do governador Sérgio
Cabral, o Vale do Cuiabá, região mais atingida
nas chuvas do final do ano passado na
Região Serrana do Rio, dando a entender que
não tem medo de colocar os pés, ou, pelo menos
as botas, na lama.

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A ABA DA MÁQUINA: Numa coisa Dilma e
Lula diferem pouco: a fidelidade ao PMDB.
Verdade que Dilma deixou o partido de fora
das almejadas presidências de Furnas e dos
Correios, mas Flavio Decat, nomeado para a
estatal de energia, é indicação da ala de Sarney.
Dilma, porém, escolhe peemedebistas
de sua confiança, e aproveitou para dar ares
de mudança de rumos no enquadramento
de Eduardo Cunha. No geral, contudo, pouco
mudou: o PT continua no comando da
máquina, e o PMDB, na aba.


O APREÇO TEM PREÇO: Lula terminou sua
gestão em guerra com a imprensa, depois de
uma gestão pontuada por crises com o setor,
culminando com a frase “A opinião pública
somos nós”. Dilma, assim que assumiu, cuidou,
logo, de paparicar as mídias. O quanto
pesaram o genuíno apreço à liberdade de expressão
e o cálculo de sobrevivência política
é uma conta difícil. Seja como for, o projeto de
Franklin Martins de controle dos meios de comunicação
continuará podendo ser retirado
da gaveta se a situação engrossar.


MUY AMIGOS: Personalista, a política
externa de Lula apostou na relação pessoal
com os demais governantes e um critério
de lealdade todo seu. Quando esteve
com Muamar Kadafi, declarou-o amigo de
velhos tempos, que o ajudou em momentos
difíceis. Cortejou Ahmadinejad e derrapou
na curva final. Acumulou tropeços
e bateu de frente com aqueles que eram
seus admiradores, como ao dizer-se “feliz”
em ver os Estados Unidos e a Europa
em dificuldades. Dilma, por sua vez, antes
mesmo de assumir deixou claro que fora
contra a posição brasileira em relação ao
Irã e, em menos de três meses, o Brasil já
criticava na ONU as tiranias do Islã, sem
que isso melindrasse a cautela da diplomacia
pátria. Até quando?

FALO, LOGO EXISTO: Lula mostrou que é um
grande orador público, mesmo que muitas vezes
fizesse o contrário do que dizia. Adorava falar de
improviso. Dilma tem pouco carisma, não é uma
boa oradora, lê mal e seu falar está permeado de
vícios da linguagem de tecnocrata. Tais limitações
a obrigam a ser mais cerebral e ter sempre escritos
os seus discursos. Talvez seu caminho seja mesmo
o de nem ousar se comparar a Lula neste quesito,
no qual o cara é mesmo imbatível. A vantagem: unificar
mais o discurso e os atos, dando menos espaço
para a fantasia retórica.

EM NÚMERO DO PAI: Lula saiu com 80% de
popularidade. Dilma tem 47%, mais ou menos
o mesmo que Lula no início do primeiro mandato.
Dilma é tão popular quanto Lula? Não.
Afinal, candidata da continuidade, herdou boa
parte da fama do criador. Além disso, Dilma está
com 40% numa economia que vem de um
crescimento de 7,5% do PIB, mas está declinando.
Lula tinha isso num primeiro ano em
que teve que tomar medidas muito duras. Dilma
sonha crescer 5% este ano, mas não pode
deixar a inflação dar as caras...


A FRITURA E A GUILHOTINA: Lula deixava
ministros e assessores fritarem em fogo brando,
e, obcecado por estar bem com todos (como se
sua popularidade não lhe desse boa margem),
evitava criticar os desmandos dos aliados. Dilma,
que quis proteger sua assessora durante a
campanha, agora é rápida no gatilho: quem pisa
na bola, por enquanto, dança. Exemplos são os
casos de Abramovay na Senad e de Emir Sader,
que sequer tomou posse na Fundação Rui Barbosa
depois de dizer que a ministra da Cultura,
Ana de Hollanda, era meio autista.


YES, NÓS TEMOS YES: Embora tenha
discursado em português, Dilma prescindiu
da tradução simultânea quando Obama
discursou e conversou com o presidente
americano sem necessidade de intérprete.
Lula nunca ligou para a língua inglesa
ou qualquer outra e mostrou que isso
não tinha mesmo a menor importância.
Reinou soberano em todos os cantos
do mundo, encantando plateias e autoridades,
transformou-se no “cara” de Obama
e entrou em listas de líderes.

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Esta página foi editada a partir de um debate
entre Arnaldo Bloch, Carter Anderson,
Luiz Antônio Novaes e Merval Pereira

Ilustrações de Claudio Duarte

Trancado