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Relato da Venezuela

Enviado: 09 Fev 2006, 01:44
por Steve
RELATO DA VIAGEM À VENEZUELA





Não é possível que se guarde indiferença diante do processo que se passa hoje na Venezuela. Mesmo sem conhecer o país antes, é possível imaginar com certa precisão que há menos de uma década este povo não era assim. Todos falam de política, todos têm uma opinião. A indiferença foi banida da vida desse país, ou pelo menos de Caracas, a capital.





AS PESSOAS



O povo, formado basicamente da descendência africana e indígena, tem uma cor média mulata, de uma miscigenação bastante avançada: é difícil encontrar alguém branco (assim como a nossa gente loira do sul). Uma mistura de descendentes de africanos com descendentes dos povos pré-colombianos. Uma predominância indígena inca, de olhos puxados se assemelhando aos orientais misturados com os afro-descendentes, com uma minúscula proporção de castelhanos, faz o povo venezuelano se parecer muito com o brasileiro, à exceção do traço indígena puxando para o oriental. Na verdade, mudando esse traço e o colonizador ancestral, que nos impôs linguagem diferente, nós somos o mesmo povo, uma fusão de África de América pré-colombiana, com a fisionomia européia quebrando a cor.



Construir a Pátria Grande projetada por Martì e por Bolívar, passa a ser uma tarefa possível (palpável) para quem anda pelo centro da Caracas nesse final de janeiro de 2006. Não é sonho, não é delírio; somos o mesmo povo, afastados por fronteiras impostas desde fora, fronteiras que foram levantadas sob os interesses dos poderosos, que geralmente estavam em outro continente. Da Patagônia ao México, todos temos os mesmos pleitos a fazer, o que nos iguala objetivamente em um projeto sócio-político, não bastasse a origem étnica e cultural convergente.



Nas primeiras horas em Caracas, ainda sob o peso da bagagem, ou sentado sobre ela, já foi possível perceber o quanto é ou está hospitaleiro esse povo. Tirando os doleiros, os taxistas e os caçadores de gorjeta do Aeroporto Simon Bolívar, muitas outras pessoas, da forma mais desinteressada, buscam diálogo, perguntam sobre o Brasil, se propõe a ajudar pelo simples prazer de fazê-lo.



Os soldados da Guarda Nacional, com suas fardas camufladas e suas boinas vermelhas, apresentam uma preocupação de servidores públicos, e buscam garantir que as relações sejam exatas, que não sejamos explorados pelo assédio comum a turistas. Sim, porque não somos turistas, e eles, os “boinas vermelhas”, sabem disso. Uns mais sóbrios, ajudam no que podem; outros, mais falantes, além de ajudar querem ir mais longe, querem falar de seu país de suas coisas. Perguntados sobre Hugo Chaves, falam entusiasmados, “Sim, é nosso grande comandante!” E já soltam uma série de outras frases, faladas com rapidez, de como lhe são fiéis, e de como lhe defenderam e lhe defenderão sempre que necessário.



Sentado na escadaria de Universidade Bolivariana, mesmo com os aspectos de uma viagem cansativa, os jovens que ali estudam vêem procurar conversa, sobretudo quando percebem pela fala que somos brasileiros. A Universidade Belivariana tem menos de dois anos de existência. Em Caracas, funciona no prédio que até o início de 2003 era usado pela burocracia oligárquica da empresa petrolífera PDVSA, e foi desalojado dessa gente quando fizeram o boicote e as sabotagens do petróleo naquele ano. Perderam a luta, e com isso o governo, junto com o povo, mandou-os embora, fazendo ali a universidade mais nova, aberta e popular da América Latina. O espaço físico ainda está em transformação, mas as aulas seguem acontecendo, as palestras se fazem em auditórios sem divisórias com os corredores, resultado da derrubada de paredes e da ampliação do espaço para servir de sala de aula e de local de debate. É uma universidade popular: todos os projetos, todos os cursos devem estar voltados para atender as necessidades mais vitais do povo pobre e da sociedade.



Sentados ali, num primeiro momento pensamos que a conversação dos outros dois camaradas era fruto das relações que fizeram nos três dias que chegaram antes (o que já seria um fato extraordinário), mas em seguida percebemos que tudo é assim, pois que um jovem senta na mesma escadaria, pergunta se somos brasileiros, e a conversação amistosa está garantida, mesmo com a dificuldade do nosso arremedo de espanhol. Em seguida chega uma moça, apresentada como sua noiva, e a conversa se estende. À pergunta básica e elementar a respeito do governo, a resposta é pronta: “Lo Defendemos!” Apresentamos o jornal, comunista por certo desde a caba, e isso não causa espanto, e sim uma identidade maior, pois até mesmo os que não são militantes sabem que os comunistas defendem o governo Chavez. Querem conversar, apresentar mais estudantes, jogar futebol (sim, o jovem gosta do Brasil, do nosso idioma e de jogar futebol, mesmo numa terra onde o esporte popular é o beisebol). Nesse primeiro e nos dias seguintes estes jovens foram nossos companheiros, ajudando, inclusive na distribuição de material impresso. Aliás, professores e estudantes querem muito saber do Brasil, e pedem jornal para levar para suas salas, para os colegas de aula e de trabalho. Essa relação possibilitou, inclusive, uma conversa com um grupo de pessoas antes do nosso retorno, atividade organizada por uma professora de comunicação.



No geral as pessoas são amistosas, receptivas, interessadas. Não se pode afirmar se isso sempre foi assim, ou se é já uma mudança de comportamento derivada da nova realidade política. A Venezuela está em êxtase, e isso aparece nas palavras das pessoas. Dificilmente podemos escapar da pergunta sobre o Brasil, a situação atual do Brasil, a política do atual governo brasileiro. Sabem que Lula é amigo de Chavez, mas não percebem direito onde estariam as diferenças, e querem saber isso, se Lula é igual a Chavez, se o consideramos melhor ou pior. Se, brincando, nos predispomos a trocar de presidente, aí sim, transparece o que pensam, pois a resposta é pronta: de jeito nenhum!





A CASA



Os companheiros que chegaram antes na Venezuela conseguiram uma casa de família para ficarmos, num intercâmbio importante para ver de fato como vivem e pensam os venezuelanos. Por acaso e para nossa alegria fica bem perto da Universidade Bolivariana. O casal, Diego e Rosa, fazem o possível para nos alojar sem abandonar sua rotina. O filho mais velho dos três, todos pequenos, abriu mão do seu quarto para nos ceder pelos dias que ficamos no país. Rosa e Diego estão buscando as condições para organizar um sindicato dos zeladores de edifícios (ela é zeladora do prédio onde ficamos). Esse tornou-se, curiosamente, mais um setor importante com o processo da revolução bolivariana. O principal extrato social de oposição ao governo e às transformações que busca realizar é a chamada classe média (gestores, gerentes, burocratas em geral), os setores de funcionários que viviam em grandes privilégios para garantir que toda a riqueza da Venezuela, especialmente aquela do petróleo, fosse subtraída pelos monopólios e pelo sistema financeiro. Estes setores são os mais atrasados politicamente, querem que tudo continue como antes. Tratam a maioria do povo, e por certo os zeladores de seus condomínios, como escravos, que não têm direitos a não ser de fazer bem o serviço e aturar seus humores copiados dos verdadeiros donos do poder, tentando imitar o modo de vida de Miami.



Então é assim que o setor de serviços dos zeladores torna-se importante, pois trabalha diretamente para o extrato social mais anti-revolucionário. Além da organização para que passem a ter direitos, e começam reivindicando jornada diária de oito horas de trabalho, pois existe pouca ou nenhuma regulamentação do trabalho nessa categoria, é importante também para que possam fazer frente aos opositores da revolução desde seu local de moradia. O sindicato ainda deve demorar um pouco a sair, pois as pessoas da categoria ainda têm medo. É preciso trabalhar mais um pouco silenciosamente, fortalecer um grupo de pessoas resolutas, para depois formalizar o sindicato.



Diego trabalha no Ministério do Trabalho, como contratado, e, junto com companheiros de serviço, convenceram a ministra a criar um setor de fiscalização, com poder de polícia para autuar os empregadores que não cumprem as leis trabalhistas. Trinta funcionários foram designados para essa missão, considerada central para a organização dos zeladores. O Ministério recebe a denúncia e os fiscais vão lá fazer o levantamento. Confirmada a irregularidade, os patrões são autuados a resolver o problema em 30 dias, quando o fiscal volta. Persistindo o abuso, é expedida uma multa.



Por conta desse trabalho, e do local onde moram (num apartamento pequeno cedido pelo condomínio para alojar a família da zeladora), nossa presença é mantida velada no local, por todo o tempo que lá estivemos. O próprio Diego não pode deixar vazar a informação de que trabalha no Ministério do Trabalho, e sai de casa sem qualquer peça de uniforme que o identifique. Sim, porque já houve até mesmo assassinato de fiscais do governo por parte da reação interna.





O GOVERNO



Pelo canal público de TV se acompanha a programação do Fórum Social Mundial, um sem fim de apresentações e entrevistas, assim como se acompanha o trabalho das missões de educação, Missão Robinson, Missão Ribas e Missão Sucre, para alfabetização, ensino médio e universitário, respectivamente, todos criados e organizados para educar as pessoas que não tiveram tempo ou oportunidade de fazê-lo em tempo normal. Esse processo está envolvendo milhões de pessoas, já eliminou o analfabetismo nesses poucos anos, e segue chamando as pessoas a prosseguir estudando, pois, como diz na capa de cada cartilha de aula “Necessário es Vencer”, uma frase de Simon Bolívar para dizer que não havia a opção entre morrer ou vencer, era necessário vencer. Através das missões da educação se tem ensinado e incentivado o povo a se organizar, em sindicatos, em bairros, em cooperativas, e existe financiamento do governo para o chamado “desenvolvimento endógeno”, que é na verdade, desenvolver todos os setores da economia para a Venezuela deixar de depender tão somente do petróleo (hoje quase tudo que se come e que se compra na Venezuela é importado). O governo revolucionário quer mudar essa realidade, e incentiva o povo a se organizar para produzir alimentos, roupas, remédios, outras manufaturas, fazer obras de melhorias urbanas, pavimentar a ruelas dos bairros pobres, construir habitação popular.



O governo também aparece na TV estatal. E parece que estava marcado já para o primeiro dia da nossa estada em Caracas para termos uma demonstração aqui de perto de como se conduz uma revolução. Dentro do palácio Miraflores, uma reunião com todos os presidentes e diretores principais das empresas públicas, as existentes e as em criação. Sim, porque o “desenvolvimento endógeno” está levando também o Estado a criar empresas nos setores estratégicos. A reunião foi inteira televisionada, ou seja, um discurso de Hugo Chavez de mais ou menos uma hora e meia. Falar em discurso não é o termo mais correto, pelo menos porque pode dar a impressão para nós brasileiros que foi um desses discursos que fazem a maior parte de nossos políticos, falando um caminhão de coisas que a maioria não entende, que não serve para nada, e que talvez os próprios políticos não entendam, até porque são os assessores que escrevem a maior parte do que vão falar. Foi uma conversa, uma explanação. Hugo Chavez, além de recolocar na ordem do dia o projeto geral do governo bolivariano, empolgou os participantes a abraçarem esse projeto como seu, e passou a orientar sobre a luta incessante que é necessário travar contra o burocratismo, contra a indiferença, contra a desumanização do Estado, contra a corrupção. Falou de tudo, de processo global revolucionário, de superar a fragmentação das atividades públicas, pois que o objetivo é integral: defender os interesses do povo, ajudá-lo a superar as dificuldades, criar as condições objetivas para o crescimento de todos, com o fim de acabar com a pobreza.



Sinceramente, uma fala de um presidente da república, feita assim ao vivo por um canal nacional de televisão, para que todo o povo possa ver e tomar posição a respeito, me foi um fato inédito. Em nosso país, essas diretrizes são resoluções burocráticas, escritas por técnicos de terceiro ou quarto escalão, para ser apregoado sobre os servidores menos graduados. Na Venezuela bolivariana, não. É o presidente que diz, que fala, que exemplifica, e fala para ministros, presidentes de grandes empresas públicas, diretores de primeiro escalão. E fala as coisas como são, e diz as coisas como aconteceram, sem omitir nada. Chega a ponto de dizer que quem não se sente preparado para a missão, que deve procurar outra coisa a fazer. Se for para fazer com pouca vontade, que está convidado a se retirar da tarefa.



Por fim, fala em socialismo, depois, evidente, de dizer que é preciso combater o capitalismo, em todos os seus aspectos, em todas suas variantes. Chama as pessoas a se reconstruírem todos os dias como responsáveis por um projeto de transformação, para o socialismo que não é apenas no econômico que se pode dar; precisa ser no social, no político, no cultural e no econômico. Isso diz o presidente da Venezuela, e termina falando que não existe a opção de vencer ou morrer, “necessário es vencer”.





UM PEDACINHO DA HISTÓRIA



Em 1989, diante de um governo neo-conservador, alinhado até a medula com os interesses do imperialismo, dos monopólios de do latifúndio (um desses governos que têm sido chamados de neoliberais e que proliferaram em todo nosso continente), diante do aprofundamento da miséria, do desemprego e da fome, o povo de Caracas, quase espontaneamente, foi às ruas, e realizou ações de protestos, que foram das palavras de ordem ao bloqueio das estradas e ao saque às grandes empresas comerciais, sobretudo aos supermercados. As forças policiais e militares do governo de então reagiram com toda a violência comum nesses episódios. O massacre do povo nas ruas foi intenso, e esse fato provocou um choque nos militares nacionalistas e com perfil democrata.



Desde há anos anteriores, Hugo Chavez Frias, oficial da Força Aérea Nacional (FAN), junto com vários outros oficiais, discutiam a situação do país, baseados na herança de Simon Bolívar, o general comandante da guerra de independência da Venezuela e de vários outros países da região andina. Os ciclos bolivarianos eram organizações pequenas, precárias, que visavam unir em um projeto nacional e de defesa da soberania nacional militares democratas e militantes dos movimentos populares. Com o levante espontâneo das massas em Caracas em 1989, e diante da violência mais atroz comandada por um governo entreguista e virado de costas para o povo, os ciclos bolivarianos passaram a discutir a impossibilidade de deixar a situação continuar como estava. Os militares bolivarianos estavam mesmo ofendidos pelo fato de terem sido usados para massacrar o povo em nome de um projeto conservador e de covardia nacional diante dos banqueiros e dos monopólios estrangeiros. Passaram a discutir e organizar uma ação no intuito de mudar a situação.



Em fevereiro de 1992, sob comando do então coronel Hugo Chavez, militares e civis lançaram-se na tentativa de tomar o poder através de um levante militar e popular. Traído por alguns dos integrantes, o movimento foi derrotado, pois o governo e os generais pró-imperialistas estavam esperando o dia da ação, com todos os detalhes, o movimento não logrou êxito. Hugo Chavez colocou como condição para rendição do movimento a transmissão de um manifesto seu através dos meios de comunicação. Foi sua primeira fala pública para todo o país. Foi preso desde então até 1994, junto com alguns companheiros.



Ao sair da prisão, passou a viajar pelo país a conversar com as pessoas, com movimentos sociais, com os indígenas, com os militares. Os círculos bolivarianos, o movimento cívico-militar, aumentou em quantidade e intensidade. Mesmo sem partido, sem organização forte, Hugo Chavez foi eleito presidente da república em 1998. Sabendo de nada adiantaria governar com os mesmos e para os mesmos, Hugo Chavez consegue convocar uma Assembléia Constituinte que é concluída em 1999, momento em que ele renuncia em nome de garantir o pleno exercício da nova carta, e se lança novamente como candidato, sendo eleito para um mandato de sete anos.



A partir disso, a oposição, composta pelos setores que sempre viveram às custas da pobreza da maioria, passaram a boicotar o governo, a denunciá-lo internamente e pelo mundo afora como governo anti-democrática e ilegítimo. Várias foram as tentativas de desestabilizar o governo por parte dessa oposição, que contava com a participação dos dirigentes empresariais ligados aos monopólios e aos bancos internacionais (sobretudo dos EUA) e, inclusive, com os dirigentes da central sindical dos trabalhadores.



A realização da reforma agrária, de reformas territoriais e habitacionais urbanas, de ampliação de atendimento à saúde e à educação, usando os recursos derivados de exploração do petróleo (a Venezuela é um dos maiores produtores do mundo), provoca calafrio nos poderosos que sempre usaram esses recursos para seu enriquecimento e para os privilégios de uma camada favorecida por essa relação promíscua que mantinha com os monopólios e com o imperialismo. Esses setores se organizam para derrubar o governo. No dia 11 de abril de 2002, aproveitando-se de uma manifestação popular que deveria ser pacífica, os dirigentes dessa oposição empurram a massa contra o palácio Miraflores (sede do governo), cercam o palácio, contam com a participação traiçoeira de militares de alta patente, e com alguns outros traidores, e impõem a renúncia a Hugo Chavez.



Por horas a situação tensa se desenrolou no interior do palácio, mas Hugo Chavez não renunciou. Foi retirado à força já na madrugada, quando o presidente da federação de empresários assumiu um suposto governo de recuperação da Venezuela, o que queria dizer, na verdade, recuperação para os interesses dos monopólios, do latifúndio e do imperialismo. Curiosamente, o vice-presidente golpista, era o presidente da central sindical dos trabalhadores. No dia seguinte, essa casta decretou o fechamento do congresso e a abolição da constituição bolivariana. Foi só com isso que grandes setores da sociedade perceberam que o que havia ocorrido era um golpe.



Já no dia 12 de abril, as forças populares começaram a se manifestar. Num começo, houve a tentativa dos golpistas de reprimir para sufocar. Mas a força das massas foi mais forte, as ruas e praças foram tomadas, e a população cercou o palácio Miraflores pedindo o retorno de Chavez. A adesão dos militares a esse movimento foi a pá de cal nos interesses golpistas. Primeiro o vice-presidente legítimo, depois Chavez, foram conduzidos novamente ao palácio, retomando o poder legítimo e legal no dia 13 de abril.



No final de 2002 e começo de 2003 a mesma oposição tentou derrubar Chavez a partir do boicote à exploração, refino e comercialização do petróleo e derivados. Em três meses as forças bolivarianas derrotaram o boicote e retiraram os inimigos do processo de dentro da maior empresa do país, a estatal PDVSA, uma das petrolíferas maiores do mundo. A sede burocrática da empresa foi transformada na Universidade Bolivariana da Venezuela, que tem se expandido para os outros estados venezuelanos.



No decorrer de 2004 a oposição buscou por todos os meios conseguir assinaturas suficientes para realizar um referendum revogatório, previsto na constituição para afastar do governo os representantes considerados ilegítimos pelo povo. O referendum, enfim, foi realizado, e Chavez obteve uma expressiva vitória, permanecendo no governo ainda com mais legitimidade. Agora em 2006 haverá nova eleição, para mais um mandato de sete anos. Ninguém duvida que Chavez ganhe, nem mesmo a oposição, que já está organizando as formas de boicotar e de solapar o processo hoje em curso.





VENEZUELA HOJE



A Venezuela é um país subdesenvolvido, assim como todos os países latino-americanos e caribenhos, incluindo o Brasil. O setor mais desenvolvido na Venezuela é a exploração, refino e comercialização de petróleo, gás natural e seus derivados. Os outros setores da economia são fracos, inclusive o industrial. A indústria e a agricultura venezuelana são muito menos desenvolvidas que no Brasil. O grande potencial é o petróleo e o gás natural, sendo um dos maiores exportadores do mundo, com a maior reserva. Quase tudo o mais é importado, desde a maior parte da alimentação até eletro-eletrônicos e automóveis.



O governo Hugo Chaves tem trabalhado intensamente para mudar essa realidade, usando os recursos adquiridos a partir do petróleo para financiar o desenvolvimento dos outros setores. No momento, outros ramos industriais estão sendo construídos na Venezuela, a partir da criação de empresas públicas, ou do financiamento estatal para pequenas iniciativas comunitárias e de cooperativas. O petróleo financiou também o fim do analfabetismo (objetivo alcançado em três anos e concluído em 2005), a ampliação das universidades, o fortalecimento da saúde pública e gratuita, a reforma agrária e a distribuição e organização dos terrenos urbanos. Os recursos que antes do governo Hugo Chavez eram apropriados pelos banqueiros, pelos monopólios internacionais e pela burocracia do petróleo, hoje são usados para reconstruir o país e tirar o povo da miséria e da ignorância.



É isso que faz com que todos os poderosos e privilegiados do período anterior sejam contra o governo Chaves, incluindo os meios de comunicação privados, que, como no Brasil, defendem os interesses dos monopólios, dos governos de direita e do modelo estadunidense de vida, claro que com objetivos econômicos muito claros, e mesmo por opção ideológica. Esses meios de comunicação desenham Chavez como um ditador, e por isso, na Venezuela, a maioria das pessoas ri ao ouvir as insanidades dessa mídia privada a serviço dos inimigos do povo. Quando quer saber o que de fato está acontecendo e o que é verdade, a maioria da população liga seus rádios e televisores no canal público, que têm cada vez mais credibilidade e mais força.



O governo criou também uma rede de supermercados públicos, que vendem produtos alimentícios praticamente pela metade do preço dos mercados privados, e isso é outra chiadeira dos empresários, pois consideram um “atentado à livre concorrência”. Veja, o que importa para eles é o livre comércio e os conceitos capitalistas tão presentes em nossas cabeças; a fome do povo é só um detalhe para quem fica rico vendendo alimentos.



A Venezuela é ainda um país capitalista. Monopólios privados, como coca-cola, mac’donald, banco santander, etc, convivem com um processo revolucionário. As pessoas, quase sem exceção, têm uma posição política. Ninguém é indiferente, desde os militares que andam nas ruas, o vendedor ambulante, a dona de casa, todos têm posição, a ampla maioria em defesa do governo. O presidente tem avançado seu discurso em favor do socialismo, pessoas comuns que até recentemente viviam a vida no comodismo e obscuridade hoje falam em revolução com orgulho, as organizações políticas proliferam em todos os lugares. Por outro lado, as forças reacionárias, que querem manter e voltar a ter os privilégios anteriores, têm agido de todas as formas (quase sempre ilegais e ilegítimas) para desestabilizar o processo e o governo. Essa queda de braço terá que ter uma solução definitiva, e isso ocorrerá, certamente, em menos de uma década.



Caracas, a capital (mais de quatro milhões de habitantes – o país inteiro tem 24 milhões de pessoas), tem um sistema de transporte muito específico: micro-ônibus velhos, carros de todas as idades e de todas as marcas, um trânsito caótico e com muito menos regras e controles que o nosso. Isso não é de hoje, óbvio, trata-se de um desenvolvimento estrutural e cultural, dependendo de anos para sua regularização e humanização. Por outro lado, Caracas tem o melhor sistema de metrô do mundo, segundo seus defensores. O trecho que se gasta duas horas para fazer de ônibus ou de carro particular, de trem se faz em 15 minutos, gastando o equivalente a trinta centavos de real. Enquanto o transporte rodoviário precisa circundar morros inimagináveis em nossas cidades catarinenses, o metrô passa por baixo, em túneis que cortam a cidade de um lado a outro, sem aparecer na superfície. O sistema de metrô também já existe há anos, mas está sendo ampliado para abranger vários outros pontos da cidade.



Na Venezuela o combustível é barato, um valor entre oito e nove centavos de real por litro (R$ 2,50 enchem um tanque). Os eletro-eletrônicos são mais baratos que aqui, pela maior proximidade com os EUA, de onde são trazidos muitas vezes por contrabando. O mesmo que ocorre com as roupas de grife, contra-bandeadas dos EUA. Como o governo tem aumentado a pressão na fiscalização, no afastamento de funcionários aduaneiros corruptos, ocorre uma grande chiadeira da chamada classe média, pois, se os impostos são pagos, o preço aumenta nas lojas. Em tempos anteriores tudo isso entrava ilegalmente no país, como se eles fossem uma extensão natural do comércio dos EUA. Os alimentos são caros, sobretudo a carne bovina, cebola, trigo. Com exceção do petróleo nada é produzido em quantidade suficiente na Venezuela, mesmo que tenha uma larga extensão de terras cultiváveis. O governo busca mudar isso, incentivando e financiando a produção interna também de alimentos.





DIALOGANDO COM OS DOIS MILITARES



Nos dias que permanecemos em Caracas, conseguimos conversar mais longamente com dois soldados da Guarda Nacional. Às 5 horas da manhã do dia 25 de janeiro, no momento tumultuado da nossa chegada no centro de Caracas onde estava sendo organizado o VI FSM, pedimos auxílio a um militar de cerca de quarenta anos de idade, de farda camuflada e boina vermelha, o soldado Garcia. Ao me identificar como militar no Brasil, o acolhimento foi pronto, e saiu carregando parte da pesada bagagem até nos entregar aos organizadores do Fórum, com recomendações de que nos tratassem bem. Antes, porém, advertiu para cuidarmos da segurança e para não “cambiar” com doleiros na rua, pois era perigoso e poderia levar a outras complicações.



Logo nos primeiros passos em direção à organização do FSM perguntei sobre o presidente Hugo Chaves, de propósito e para ter uma idéia mais aproximada de quem era aquele militar. Ao ouvir o nome do presidente, parou e disse entusiasmado: “Sim, é nosso grande comandante! O defendemos e o defenderemos sempre!” Não precisava dizer mais nada, o melhor cartão de apresentação estava entregue. Nos dias seguintes, voltamos a conversar, sobre coisas diversas, e até a fazer fotografias para publicar no jornal “O Praça”, com o que ele ficou muito alegre.



No penúltimo dia em Caracas, já havia terminado do FSM e aguardávamos o dia do nosso vôo, fomos visitar o palácio Miraflores, ou seus arredores. Um lugar bonito, cheio de morros e de parques públicos, mesmo situado no coração de uma cidade com mais de quatro milhões de habitantes. Fomos caminhar pelo parque cujo maior monumento é uma homenagem a Cristovan Colombo. Ali, ainda mais que nas outras partes da cidade, tem muitos militares de serviço. No mesmo parque, um posto da Guarda Nacional e outro da polícia municipal de Caracas. Ali conversamos com o soldado Araújo, uma boa conversa.



A Guarda Nacional é formada por três segmentos: soldados, sargentos e oficiais. O curso de soldado tem a duração de dois anos, o de sargento 3 e a academia de oficiais, cinco anos. O salário é baixo, cerca de 400 bolívares, o equivalente a R$ 400,00, mas já era mais baixo antes do governo Hugo Chaves, conforme relata Araújo. Um oficial de baixa patente, ganha cerca de 700 (setecentos) bolívares. A partir desse ano de 2006, já a partir de janeiro, o governo vai conceder reajuste salarial aos servidores públicos, num índice que varia de zero a 80%, sendo um percentual maior para quem ganha menos, diminuindo para aqueles que ganham mais. Os soldados receberão 80%. Naquele mesmo momento em que conversávamos com o Sd Araújo, ocorria uma manifestação perto dali, na frente do palácio. Os professores da Universidade Central da Venezuela (a universidade tradicional, mais elitizada) estavam reivindicando salário ao presidente da república, provavelmente por não concordar com o índice que lhes tocou.



Ao optar pela vida militar, todos os candidatos participam de um mesmo concurso (prova de seleção), sendo que a classificação entre soldado, sargento e oficial se dá conforme a nota auferida nessa prova. Para aumentar de graduação, só fazendo outra prova e conseguindo nota mais alta.



A Venezuela está em pé de guerra. Um clima de apreensão no ar, sobretudo da parte dos militares. Foi detectado militares dos EUA espionando as Forças Armadas da Venezuela, e a determinação do presidente Chavez é para que sejam presos estes espiões assim que detectados. Este elemento que dificulta a conversa mais aberta, pois não se pode levantar suspeita com perguntas impertinentes. Existe a presença clandestina de para-militares em todo o país, inclusive na capital Caracas. Na fronteira com a Colômbia, cerca de vinte mil militares da Guarda Nacional buscam controlar a situação, pois é daquele país a maior probabilidade de partir essas investidas, justamente porque a Colômbia é o país vizinho cujo governo é mais conivente com a política dos EUA para a região. A relação diplomática com a Colômbia segue tranqüila, pelo menos por hora, com muito esforço diplomático nesse sentido por parte de Hugo Chavez.



Essa condição excepcional explica tanta presença militar nas ruas de Caracas, em seus parques florestais, nas estradas. Em razão dessa condição, a escala dos militares também é apertada: 24 X 24 durante duas semanas e depois folga de sete dias (não dá para publicar isso por aqui!).





O DISCURSO DO PRESIDENTE NO FORUM



No dia 27 de janeiro, por proposição do Movimento Sem Terra do Brasil e da CUT, o VI Fórum Social Mundial aceitou a realização de um evento oficial do FSM com a presença principal do presidente da República Bolivariana da Venezuela, que, naturalmente, tornou-se o momento mais concorrido do Fórum. Foi realizado em um gigantesco ginásio de esportes, com capacidade para cerca de 20 mil pessoas.



Hugo Chavez falou por cerca de duas horas, para um público majoritariamente jovem, vindos de cerca de inúmeros países. A empolgação era geral, desde muito antes do início formal do encontro. Os grupos de jovens, dos diferentes países, puxavam suas músicas de ordem, suas canções políticas, seus protestos contra a opressão e o capitalismo. Algumas das músicas unificavam todos os presentes, como homenagens a Che Guevara, Fidel, Chaves. Artistas de vários países, quase sempre ligados às lutas populares, apresentavam-se uns após os outros, às vezes juntos.



A mesa oficial do evento foi formada por várias personalidades, de forma eclética, desde os organizadores do FSM, passando pela mãe e um soldado dos EUA morto no Iraque, até líderes políticos da América Latina e do Caribe, como o presidente da Assembléia Nacional Popular de Cuba, lideranças indígenas, palestinas e a própria filha de Che Guevara. Hugo Chavez pôs-se a falar assim que terminou a hino A Internacional Socialista.



Um dirigente relativamente jovem (cerca de 50 anos), animado por uma juventude ávida por ouvir e por saber, produz um clima indescritível. Hugo Chavez referiu-se a todos os maiores líderes políticos da América Latina, passando pelo general brasileiro (de Pernambuco) que lutou junto com Simon Bolívar, por Luiz Carlos Prestes (o último revolucionário de cavalo, como disse Chavez), por Sandino na Nicarágua, por Tupac Amaru no Peru, por Shafik Handal em El Salvador (havia morrido alguns dias antes, e foi homenageado de pé), por Allende no Chile.



Falou da situação e da luta na Venezuela, da luta em toda a América Latina, da necessidade de união dos povos, mandou uma mensagem ao povo dos Estados Unidos, falou do gasoduto ligando Venezuela, Brasil e Uruguai. Pediu paciência aos brasileiros com relação ao governo Lula (a metade dos brasileiros aplaudia a citação de Lula, a outra metade vaiava), falou do recém empossado presidente indígena da Bolívia, informando que a Venezuela concederá cinco mil bolsas de estudo a jovens bilivianos e Cuba concederá outras cinco mil. Pediu para todos defenderem os governos de esquerda da América. Diplomaticamente, citou todos os governos de origem popular em todo o continente, mas não deixou de frisar que “os loucos” são Fidel, Hugo Chavez e Evo Morales, fazendo uma distinção clara entre o que é um “estadista” e o que é um revolucionário.



Construiu todo um discurso de defesa da soberania dos povos, falou das condições de pobreza em que vive todo o sub continente, da necessidade de unir América Latina e Caribe com África e Ásia, de usar os recursos naturais para fins humanitários e da necessidade de preservar o meio ambiente. Aí concluiu que não pode haver solução para os graves problemas sociais da humanidade enquanto perdurar a forma capitalista de organização da vida em sociedade. Rebuscou Karl Marx, e apontou as contradições inerentes ao capitalismo, concluindo que para todos os povos do mundo existem duas alternativas: “socialismo ou morte”. Todos os presentes do poliedro (nome da praça de esportes) saíram entusiasmados, convencidos de que naquele presidente da república existe muito mais que um militar nacionalista.



O processo venezuelano atual não será superado sem outras rupturas, outros confrontos e muitas lutas. O povo da Venezuela se organiza de forma cada vez mais rápida, com um nível de consciência cada vez mais elevado. É preciso, portanto, que se preserve a unidade interna de todas as forças populares. O maior, para não dizer o único fator de unificação, é o próprio presidente da república, cuja confiança que lhe depositam as massas pobres e os setores conscientes da sociedade é enorme. Não é por acaso que existe muita preocupação com a segurança física do presidente, pois a ausência de Hugo Chavez seria fatal para o prosseguimento do processo, justamente pela capacidade de unificar todos os lutadores pelo socialismo, todos os democratas e toda a gente laboriosa e honesta do país.





A RESISTÊNCIA DE UM POVO



Durante esses anos de governo Chavez, com todas as tentativas de desestabilização, de boicote, de sabotagem, de atos terroristas por parte da oposição interna financiada pelos Estados Unidos, um episódio foi mais marcante: a golpe de estado que durou 48 horas em abril de 2002. Esse fato, para os países latino-americanos que viveram golpes militares financiados pelos EUA durante as décadas de 1960-70-80, pareceu extraordinário, pois, depois do golpe ter sido realizado, depois dos golpistas terem tomado as primeiras medidas de exceção, depois de terem festejado pelos meios de comunicação privados, depois de terem sido reconhecidos (com grande rapidez e entusiasmo) pelo governo Bush, o povo e os militares aliados de Hugo Chavez conseguiram derrotar os golpistas e devolver o governo ao seu legítimo destinatário.



Essa história extraordinária não foi realizada por nenhum espectro, por nenhum ser sobrenatural que não pelos bolivarianos da Venezuela, por seu povo pobre, pelos militares, sobretudo os de baixa graduação. Julian, um jovem estudante da Universidade Bolivariana da Venezuela, pertencente a uma organização política chamada Liga Socialista, conta em uma mesa de bar como viveu esses dois dias decisivos para a revolução bolivariana. Julian e seus companheiros foram nossos anfitriões em Caracas, além de voluntários na organização do VI FSM e entusiastas pelo processo que vivem.



No dia 11 de abril de 2002, depois que perceberam que havia algo de profundamente errado acontecendo no país, depois que percebeu-se que houvera um golpe de estado, Julian e seus companheiros não foram para suas casas, por razão de segurança. Foram para a casa de amigos sem vínculos com organização política. Evidente que o momento era de aflição.



Inconformados, e não acreditando que o povo deixaria passar assim tranqüilamente, no dia 12 de abril foram ouvir as ruas. Disfarçadamente, como quem passeia, foram para os pontos de ônibus, praças, para as estações do metrô. Ouviram o que queriam, que o povo que circulava nas ruas estava aborrecido, expressando descontentamento com a retirada de Chavez do governo. Reuniram um grupo considerável de companheiros (vinte ou trinta), tomaram panelas e saíram às ruas batendo, nos pontos de maior concentração de pessoas e próximo dos prédios residenciais. Imediatamente os moradores responderam, saudando pelas janelas, batendo também em panelas dentro de casa. Chamaram para que descessem, e logo a praça foi tomada de gente. E assim se fez em vários lugares, e a multidão não parava de crescer, a ponto de iniciarem uma marcha em direção ao palácio Miraflores, sede do governo, agora ocupado pelos golpistas.



À aproximação dos manifestantes, tanques de guerra saíram de dentro do palácio e posicionaram-se na calçada. A multidão queria retroceder, mas os militantes os exortavam a avançar, alegando que os militares não atirariam contra o povo. Sim, percebiam o descontentamento estampado também no rosto dos soldados, sinal de que não concordavam com o que estava acontecendo. E a multidão foi cercando os tanques, os soldados silenciosos e angustiados sem saber o que aconteceria. O general que ali comandava a tropa, este sim, mostrava ódio do povo, e articulava alguma coisa pelo celular. Era cada vez maior o número de pessoas que cercava o Moraflores. Um grupo de motoqueiros se aproxima para apoiar a manifestação contra o golpe (note-se que a essa altura só as motos circulavam na cidade, já que o trânsito estava inteiro obstruído pelo congestionamento de carros, pelas barricadas que o povo organizava). Os militantes ali presentes acercaram-se dos motoqueiros e pediram para que se dividissem e subissem os morros da capital, maiores concentrações de simpatizantes de Chavez. E ali se dividiram, e foram aos mais altos casebres chamar o povo a descer para bloquear o golpe. Isso foi preciso, porque os golpistas tiraram do ar a TV pública e os meios privados não falavam rigorosamente nada do que estava de fato ocorrendo.



Em determinada altura, o general golpista que comandava as tropas em torno do palácio, recebeu um telefonema, desligou, e, com extrema irritação gritou aos manifestantes que podiam subir nos tanques, pois que haviam vencido. Soldados de boina vermelha, comandados por um oficial fiel à constituição e ao presidente legítimo, foram adentrando no palácio pelos portões secundários e substituindo os militares que ali estavam até àquela hora, e algumas imagens mostram raras cenas de soldados comemorando e dando o sinal ao povo de que a situação estava sob controle. Os golpistas fugiram por portas secretas, alguns deles para ir morar nos Estados Unidos.



Em poucas horas o vive-presidente consegue chegar ao palácio, reunir os ministros que ali já estavam, e assumir o governo até o retorno de Hugo Chavez, que ninguém sabia onde estava. Mais algumas horas depois descobriram que estavam tentando tirar Hugo Chavez do país, fato tornado público pela atitude heróica de um cabo que, à revelia de seu comandante, correu quilômetros para informar onde mantinham o presidente prisioneiro. Um operativo foi preparado, com helicópteros e aviões de combate, e o presidente foi resgatado e trazido até o palácio, onde a multidão o aguardava.



Fatos como esse mostram que uma revolução não é feita de personalidades sobre humanas, e sim da gente simples e honesta do povo e de uma maioria de militantes anônimos. Certamente centenas e milhares de pessoas tiveram atitudes como as relatadas acima, e todas elas de um heroísmo ímpar. Em momentos específicos e dramáticos, gestos aparentemente tão simples tornam-se fatos gigantescos, e podem salvar a Pátria e a revolução.





Caracas, 25 de janeiro de 2006 (primeiro esboço).

Palhoça, 06 de fevereiro de 2006 (redação final).



Amauri Soares – APRASC

Re.: Relato da Venezuela

Enviado: 09 Fev 2006, 09:39
por Claudio Loredo


A revolução bolivariana nada mais é do que trazer a América para os americanos... do sul, é claro. É concretizar os sonhos de Bolivar que visualizava uma América Latina forte, unida, solidária e progressista.

Quem foi ao Fórum Social Mundial está impressionado com o nível de conhecimento político da população local. É muito bonito ver um país onde todos se interessam em participar do processo de construção nacional. As falas do presidente em rádio e na TV, que por aqui são tão criticadas, tem sido um instrumento de educação política para todo o povo.

São fundamentais as ações do governo no sentido de diversificar a economia. O povo terá muito mais empregos devido ao crescimento da indústria local e principalmente da agricultura.

Quem não gosta da diversificação economica são os defensores do neoliberalismo imperalista. Estes dizem que cada país deve se especializar apenas nos produtos que produz melhor. No caso da Venenzuela, pregam que este pais deve se especializar somente na produção de gás e energia, que é o que a Venezuela fazia. Felizmente hoje, a Venezuela já não segue os conselhos de Washington que só visam mesmo os interesses americanos.

Um país é mais forte quando tem mais pessoas educadas e incluidas no mercado de trabalho e consumo. Um pesseio pela Venezuela mostra que este país já não é mais um país de excluidos sociais. Já não é um país feito para privilegiar uma minoria e escravizar uma maioria.

A Venezuela é um exemplo da importância dos movimentos sociais. Vejam como o movimento bolivariano iniciado entre os militares acabou conquistando toda uma população. Este país é também um exemplo de democracia e de participação e mobilização popular na conquista do bem estar e qualidade de vida para todos.


Venezuela concederá cinco mil bolsas de estudo a jovens bilivianos e Cuba concederá outras cinco mil.


Parabéns a Venezuela por sua solidariedade à Bolivia e pela esforços pela integração dos países latino americanos.

Viva a Venezuela e viva o povo venezuelano que tem nos ensinado que um mundo melhor é possível.


Fatos como esse mostram que uma revolução não é feita de personalidades sobre humanas, e sim da gente simples e honesta do povo e de uma maioria de militantes anônimos. Certamente centenas e milhares de pessoas tiveram atitudes como as relatadas acima, e todas elas de um heroísmo ímpar. Em momentos específicos e dramáticos, gestos aparentemente tão simples tornam-se fatos gigantescos, e podem salvar a Pátria e a revolução.

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