Ayyavazhi escreveu: Quando a mente religiosa se confronta com algum conceito metafísico, fora do alcance de qualquer investigação empírica, ela sente a necessidade de dar sentido à questão, de torná-la compreensível e descritível.
Geralmente a mentalidade religiosa é simbólica e não racional, no sentido lógico-analítico.
Toda religião consolidada tenta associar o divino a um conjunto de símbolos rituais, cuja compreensão pelo fiel comum é mais intuitiva que intelectual.
A compreensão intelectual da religião é a teologia, à qual poucos religiosos se de dedicam.
Ayyavazhi escreveu: É neste cenário que se forma uma suposta racionalidade. Na verdade, a mente acha mesmo que compreendeu alguma coisa e que essa alguma coisa é racional. Quem defende sua fé e seus dogmas, está sendo verdadeiro na maior parte do tempo, dentro do que o seu intelecto construiu como resposta . Antes de compreender isso, eu tentava dialogar com religiosos, pois infantilmente acreditava que poderia demonstrar a falha lógica de seus argumentos.
Toda teologia incorpora o conceito "salto de fé".
Defendem racionalmente sua doutrina religiosa até determinado ponto para além do qual admitem que a crença exige um salto no escuro, aceitar como verdade algo que não possui evidência alguma de ser verdadeiro.
Os escolásticos separavam bem a crença racional da fé. Para eles a existência de Deus era uma questão demonstrável logicamente, enquanto dogmas como a Trindade, o nascimento virginal ou a transubstanciação eucarística seriam saltos de fé.
Ayyavazhi escreveu: Desconfio que a mente possui algum sistema de defesa, algo que levanta uma parede de proteção sempre que ela se sente ameaçada. Qualquer argumento lógico se perde e se desvirtua ao passar por esse esquema de defesa, tão bem elaborado.
Na verdade muito pouca gente desenvolve o raciocínio lógico até o limite de suas possibilidades. A maioria adota apenas a retórica, a habilidade verbal de tornar convincente determinado discurso. E mesmo isto fazem mal e porcamente.
Sem disciplina racional e honestidade intelectual o que resta é a farsa de escolher arbitrariamente uma tese que lhe agrade e tentar prová-la verdadeira, sem qualquer preocupação com a verdade em si.
Ayyavazhi escreveu: Sinceramente, eu nem tento definir o espírito. Se você me fizer essa pergunta eu vou responder um simples “não sei”. É bem verdade que eu nunca me interessei muito pelo assunto, mas não sei se chegaria tão mais longe se me interessasse.
O conceito de espírito é um mito universal, mas seu significado tem variações de cultura para cultura. Na ocidental o espírito é a forma transcendente da individualidade, enquanto em tradições orientais na transcendência a individualidade do espírito é absorvida pelo cosmo e integrada a ele. De qualquer modo a essência do conceito de espírito é "entidade transcendente".
Ayyavazhi escreveu: Alma, espírito, perispírito, protoespírito, etc., são conceitos demais e que não chegam onde eu quero. Sempre confessei, em nossos debates, a simplicidade de meus métodos. Desde que esses métodos continuem a me trazer resultados palpáveis, passo ao largo de lucubrações filosóficas.
Uma das limitações teológicas do kardecismo é sua recusa em admitir que sua doutrina depende do salto de fé tanto quanto qualquer outra. O espiritismo não consegue definir fisicamente o que seria um espírito, mas defende que a existência do espírito é um fato comprovável pela ciência experimental.
Ayyavazhi escreveu: Tudo que envolve Deus ou o espírito, é complexo demais sem a nossa ajuda. Na tentativa de compreender, nós transformamos o complexo em obscuro, o difícil em emaranhadamente intricado. Quando aprendermos a simplificar essa “busca”, que nunca será realmente simples!, poderemos nos deparar com resultados surpreendentes.
Esta "simplificação da busca" é encontrada nos mitos fundadores, que condensam a cosmovisão de um povo em relatos simbólicos que definem seus valores e crenças primordiais.
Ayyavazhi escreveu: A sobrevivência do indivíduo, de sua consciência após a morte do corpo físico, é uma conclusão óbvia para quem acredita em espírito, embora eu não acredite no verbo “acreditar”. Mas a tal bem-aventurança não será alcançada simplesmente porque morremos. Pedindo licença para ultrapassar levemente aquela linha divisória, mas empurrado por seus comentários, eu diria que o espírito faz pequenas incursões no mundo físico e, terminada essa experiência, nada de extraordinário acontece. Continuamos nosso aprendizado, na matéria ou fora dela, até que o propósito seja atingido, sabe-se lá quando. Eu estou tentando dizer isso de uma forma que não pareça muito anedótico em um sítio ateu, mas não é fácil. Releve qualquer deslize, por gentileza.
A crença na vida após morte é idéia que agrada todo mundo. Mesmo o inferno cristão é uma opção ao nada e todo mundo pode escapar dele até a última hora apenas... se arrependendo e crendo.
O problema é que, como o conceito de espírito, "vida após a morte" é vago demais. Nossas identidades humanas se definem como entidades finitas em uma realidade de finitos. Ao sermos absorvidos pelo infinito ou nos tornaremos insignificantes, praticamente inexistentes diante desta nova realidade ou nos tornaremos outra coisa, que não nós mesmos.
A resposta teológica é outro salto de fé, que Deus dará um jeito sobrenatural de resolver esta contradição por amor aos homens.
Ayyavazhi escreveu: Dizendo isso de uma outra maneira: Sim, eu “acredito” na vida eterna, e nós ainda vamos tomar uma cerveja, rindo de toda essa bobagem, lá no “outro lado”.
Convite aceito.
Ayyavazhi escreveu: Que fique bem claro: estar do “outro lado” é tão ilusório e relativo quanto estar aqui. A Verdade última, ainda não foi alcançada. Perdoe-me, velho amigo, estou esquecendo minha promessa.
Entendo perfeitamente. Estamos imersos em algo que chamamos "tempo" sem ter a menor idéia do que seja isto. Também não sabemos o que é carga elétrica e muito menos o que é vida. Ou seja, não só não alcançamos a verdade última, como até agora só apalpamos a superfície desta verdade.
Ayyavazhi escreveu: É possível, Acauan, é possível. Talvez, e apenas talvez, Deus nos ame à sua maneira. Talvez o amor seja uma poderosa força criadora que deu origem a tudo o que podemos ver e o que não podemos, e nós o traduzimos, ou melhor, o reduzimos a um conceito sentimental e humano. Talvez Deus seja cada uma dessas partes infinitesimais e, por isso mesmo, parece tão distante delas. Eu trabalho com uma possibilidade até que ela seja esgotada, ou até que alguma certeza se produza. E já que estamos falando de Deus, isso está bem longe de acontecer.
Talvez...