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Piada velha

Enviado: 11 Fev 2006, 00:32
por Liquid Snake
por Paulo Leite, de Washington, DC

Se me perdoam a piada velha: qual a diferença entre o câncer e a esquerda brasileira? O câncer evolui. A piada pode não ser das melhores, mas que reflete uma verdade, como a maioria delas, é incontestável.

Quem duvida precisa apenas abrir um computador qualquer e visitar alguns sites representativos da nossa esquerda. Acredite, há um número aparentemente infinito deles. Ler os textos espalhados por esses sites é o mais próximo que o homem já chegou da ficção científica. Máquina do tempo é fichinha.

Em pleno século 21, é possível ler – só para começar – as 50 razões apontadas pelo deputado federal Chico Alencar para estar no P-SOL. Entre elas está “proclamar o socialismo, hoje, como acúmulo para a socialização dos grandes meios de produção e, de imediato, dos meios de governar.”

“Socialização dos meios de produção”... Quer dizer, controle do Estado sobre a economia. Uma receita, como todos sabemos, vitoriosa em todas as partes do mundo, especialmente nos países ricos.

Incapazes de olhar honestamente para os países que estão crescendo e melhorando de verdade a vida de seus cidadãos, esquerdistas como nosso deputado Alencar continuam escrevendo frases como “a crise ambiental, que envenena o planeta, e o colapso social, derivam da expansão predatória do sistema capitalista mundial.”

Pior, seguem repetindo chavões como “forjar (...) a humanidade nova, não competitiva nem consumista”, ou “opção preferencial pelos explorados e oprimidos”, ou ainda “combater a ditadura do mercado e do capital financeiro”.

Já no portal “Vermelho”, criado pelo Partido Comunista do Brasil, em meio a artigos enaltecendo a Guerrilha do Araguaia ou criticando a Alca, é possível ler o emocionante “O que é ser comunista”. É a tal máquina do tempo, outra vez. Alguns trechos:

“A essência da teoria fundada por Marx e Engels é a transformação do mundo, buscando vida harmônica na sociedade e na natureza”. Nenhuma palavra, claro, sobre os milhões de mortos por regimes comunistas variados ao longo do século passado, ou a devastação ecológica nos países da antiga União Soviética.

A sensação de que ainda é 1917 continua: “Em longa trajetória histórica, o proletariado organizou-se no Partido Comunista, buscando a conquista do poder político em aliança com o campesinato, e colocando o socialismo como a tarefa imediata para levar a sociedade a um estágio superior de organização e convivência”.

Juro que não estou inventando.

Irônicos, mesmo, são os trechos sobre a importância de estudar o mundo para ser um bom comunista. Exatamente aquilo que a turma da esquerda mais se recusa a fazer. Mas, no papel, soa bonito: “Os comunistas sempre se caracterizaram por seu amor ao saber”. Ou “Aí [na teoria formulada por Marx e Engels, desenvolvida por Lênin e outros revolucionários] estão os pilares da ciência social avançada”.

Numa visita ao site da revista “Caros Amigos”, é instrutivo dar uma lida na seção de cartas dos leitores, vitrine do pensamento esquerdista comum e corrente ao nosso redor. Nessa seção (como no resto do site), são freqüentemente encontrados termos como “reacionários da direita” ou “a famigerada revista Veja”. E, como não poderia deixar de ser, declarações indignadas de que “o dinheiro é para os banqueiros e agiotas internacionais”.

Como consolo, fica a constatação de que os esquerdistas não evoluem, mas também não parecem estar se multiplicando com a mesma velocidade de antes. A ponto de preocupar o leitor que reclama:

“Não temos mais em quem votar. Onde está a esquerda? Onde estão às reformas? Onde está a esperança da distribuição de renda?”

A verdade é que a esquerda brasileira lembra mais e mais um daqueles antigos filmes em branco e negro, cheio de riscos. E isso, neste mundo cada vez mais colorido, está ficando difícil de esconder.

Publicado em 10/02/2006

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