O futuro da Organização Universal
Enviado: 18 Fev 2006, 22:41
O futuro da Organização Universal
Postado originalmente em 22/12/2003 15:50:37
por Acauan
A Organização Universal de Edir Macedo é um fenômeno peculiar, uma instituição construída sobre uma doutrina sincrética e sem fundamentação teológica que venceu a competitiva disputa por fiéis, travada no mesmo espaço em que uma miríade de seitas evangélicas concorre pelo mesmo objetivo.
As explicações para tal resultado são mais facilmente encontráveis nas teorias de marketing e de gestão empresarial do que nos livros da Bíblia.
Macedo enxergou um mercado carente de determinados serviços, criou uma organização focada em suprir estas carências, estabeleceu canais de comunicação que garantiam que sua organização se mantivesse antenada nas necessidades e expectativas de seus clientes e montou uma estrutura ágil e flexível para responder prontamente às variações destas necessidades e expectativas.
Não há portanto nenhuma surpresa no fato da Organização Universal ser um sucesso empresarial, a dúvida reside em qual é o seu futuro como instituição religiosa?
Não sei se alguém aqui (fora os casos óbvios) já entrou num estabelecimento da Universal. Para o observador da religião é um experimento comparativo muito interessante e elucidativo entrar num templo Católico Romano e numa sede da IURD.
A sensação ao visitar uma igreja católica é de anonimato. Qualquer um pode entrar, olhar, ficar um tempo e sair sem que sua presença chame a atenção de ninguém, com a possível exceção de alguma beata curiosa.
Ponha os pés em qualquer prédio da Universal e no exato momento em que adentrar aos domínios de Macedo sua presença será registrada, sua identidade será checada e sua condição de novo cliente em potencial reconhecida. Será questão de segundos ou no máximo minutos até um obreiro ou mesmo pastor vir falar com você.
Algo como entrar em uma loja de sapatos de um shopping. Se você disser que está só olhando tudo bem, mas sua presença não passará despercebida.
A Organização Universal também inovou ao definir seus objetivos de market share (participação de mercado). Enquanto a maioria das igrejas evangélicas disputa continuamente os clientes da concorrência direta – outras igrejas evangélicas - e indireta – católicos romanos e não religiosos -, a Universal foi a primeira a lançar uma estratégia agressiva e especializada para conquistar o gigantesco mercado brasileiro dos cultos sincréticos, afros e espíritas, apresentando-os como demoníacos por um lado e incorporando sem qualquer pudor sua linguagem, figurinos e rituais por outro.
Este vigor competitivo se deve principalmente a maior flexibilidade que a Organização Universal possui em relação às igrejas concorrentes.
Pastores e dirigentes de denominações neo-pentecostais travariam longas discussões sobre se a Bíblia autoriza ou não que a repreensão de demônios seja feita por homens vestidos de branco, imitando assim os mesmos pais-de-santo que combatem.
Na Universal faz-se uma reunião, decide-se que a partir da próxima sessão do descarrego todos os pastores e obreiros deverão trocar os ternos por roupas e sapatos brancos e cumpra-se. A cada decisão deste tipo a concorrência é deixada para trás com suas discussões teológicas, apologéticas, exegéticas e escatológicas que em nada ajudam o bom andamento do negócio.
O empreendimento Universal tem portanto uma estrutura de business mais digna de ser analisada na revista Exame do que na Eclésia.
Voltamos então à dúvida colocada alguns parágrafos atrás, se e como a Universal pode consolidar-se como instituição religiosa, com teologia e doutrina definidas e consistentes.
Qualquer resposta à esta dúvida será, é claro, mera especulação, mas não há motivos para duvidar de que assim como soube explorar os mercados onde se propôs a atuar, a Universal tem plenas condições de adotar e consolidar uma teologia própria, afastando-se gradativamente do sincretismo e assumindo posições mais conservadoras e permanentes nas questões doutrinárias.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), tem fundadores e origens muito mais distanciadas da tradição cristã do que Edir Macedo e seu empreendimento, o que não a impediu de firmar-se como poderosíssima força religiosa, praticamente dona da cidade de Salt Lake City e a mais influente instituição dentro do estado americano de Utah.
Os Mórmons são a prova de que origens questionáveis, fundadores suspeitos e doutrinas inconsistentes não impedem uma religião de se consolidar e se perpetuar.
A questão que resta é, seria esta a vocação da Universal?
A Organização montou em torno de seu núcleo um grupo de empresas, assumiu o controle do partido político ao qual pertence o vice-presidente da República e não esconde uma forte disposição de colocar um dos seus, possivelmente o senador pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, no escalão mais alto da república.
Se forem tão bem sucedidos neste propósito quanto foram no de conquistar fiéis e construir um império empresarial, a Universal será a primeira instituição brasileira a manter um projeto de poder com ramificações nos setores econômico, político e religioso da sociedade.
Ironicamente, se triunfar neste intento, talvez perca as características iniciais que a fizeram chegar aonde chegou, ação focada e flexibilidade, e quem sabe termine por se implodir e fragmentar-se em facções dissidentes após a morte de seu fundador e líder máximo.
Mas como eu disse, isto é apenas especulação.
Postado originalmente em 22/12/2003 15:50:37
por Acauan
A Organização Universal de Edir Macedo é um fenômeno peculiar, uma instituição construída sobre uma doutrina sincrética e sem fundamentação teológica que venceu a competitiva disputa por fiéis, travada no mesmo espaço em que uma miríade de seitas evangélicas concorre pelo mesmo objetivo.
As explicações para tal resultado são mais facilmente encontráveis nas teorias de marketing e de gestão empresarial do que nos livros da Bíblia.
Macedo enxergou um mercado carente de determinados serviços, criou uma organização focada em suprir estas carências, estabeleceu canais de comunicação que garantiam que sua organização se mantivesse antenada nas necessidades e expectativas de seus clientes e montou uma estrutura ágil e flexível para responder prontamente às variações destas necessidades e expectativas.
Não há portanto nenhuma surpresa no fato da Organização Universal ser um sucesso empresarial, a dúvida reside em qual é o seu futuro como instituição religiosa?
Não sei se alguém aqui (fora os casos óbvios) já entrou num estabelecimento da Universal. Para o observador da religião é um experimento comparativo muito interessante e elucidativo entrar num templo Católico Romano e numa sede da IURD.
A sensação ao visitar uma igreja católica é de anonimato. Qualquer um pode entrar, olhar, ficar um tempo e sair sem que sua presença chame a atenção de ninguém, com a possível exceção de alguma beata curiosa.
Ponha os pés em qualquer prédio da Universal e no exato momento em que adentrar aos domínios de Macedo sua presença será registrada, sua identidade será checada e sua condição de novo cliente em potencial reconhecida. Será questão de segundos ou no máximo minutos até um obreiro ou mesmo pastor vir falar com você.
Algo como entrar em uma loja de sapatos de um shopping. Se você disser que está só olhando tudo bem, mas sua presença não passará despercebida.
A Organização Universal também inovou ao definir seus objetivos de market share (participação de mercado). Enquanto a maioria das igrejas evangélicas disputa continuamente os clientes da concorrência direta – outras igrejas evangélicas - e indireta – católicos romanos e não religiosos -, a Universal foi a primeira a lançar uma estratégia agressiva e especializada para conquistar o gigantesco mercado brasileiro dos cultos sincréticos, afros e espíritas, apresentando-os como demoníacos por um lado e incorporando sem qualquer pudor sua linguagem, figurinos e rituais por outro.
Este vigor competitivo se deve principalmente a maior flexibilidade que a Organização Universal possui em relação às igrejas concorrentes.
Pastores e dirigentes de denominações neo-pentecostais travariam longas discussões sobre se a Bíblia autoriza ou não que a repreensão de demônios seja feita por homens vestidos de branco, imitando assim os mesmos pais-de-santo que combatem.
Na Universal faz-se uma reunião, decide-se que a partir da próxima sessão do descarrego todos os pastores e obreiros deverão trocar os ternos por roupas e sapatos brancos e cumpra-se. A cada decisão deste tipo a concorrência é deixada para trás com suas discussões teológicas, apologéticas, exegéticas e escatológicas que em nada ajudam o bom andamento do negócio.
O empreendimento Universal tem portanto uma estrutura de business mais digna de ser analisada na revista Exame do que na Eclésia.
Voltamos então à dúvida colocada alguns parágrafos atrás, se e como a Universal pode consolidar-se como instituição religiosa, com teologia e doutrina definidas e consistentes.
Qualquer resposta à esta dúvida será, é claro, mera especulação, mas não há motivos para duvidar de que assim como soube explorar os mercados onde se propôs a atuar, a Universal tem plenas condições de adotar e consolidar uma teologia própria, afastando-se gradativamente do sincretismo e assumindo posições mais conservadoras e permanentes nas questões doutrinárias.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), tem fundadores e origens muito mais distanciadas da tradição cristã do que Edir Macedo e seu empreendimento, o que não a impediu de firmar-se como poderosíssima força religiosa, praticamente dona da cidade de Salt Lake City e a mais influente instituição dentro do estado americano de Utah.
Os Mórmons são a prova de que origens questionáveis, fundadores suspeitos e doutrinas inconsistentes não impedem uma religião de se consolidar e se perpetuar.
A questão que resta é, seria esta a vocação da Universal?
A Organização montou em torno de seu núcleo um grupo de empresas, assumiu o controle do partido político ao qual pertence o vice-presidente da República e não esconde uma forte disposição de colocar um dos seus, possivelmente o senador pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, no escalão mais alto da república.
Se forem tão bem sucedidos neste propósito quanto foram no de conquistar fiéis e construir um império empresarial, a Universal será a primeira instituição brasileira a manter um projeto de poder com ramificações nos setores econômico, político e religioso da sociedade.
Ironicamente, se triunfar neste intento, talvez perca as características iniciais que a fizeram chegar aonde chegou, ação focada e flexibilidade, e quem sabe termine por se implodir e fragmentar-se em facções dissidentes após a morte de seu fundador e líder máximo.
Mas como eu disse, isto é apenas especulação.