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O missionário da bola (e do Papa)

Enviado: 19 Fev 2006, 13:41
por Aurelio Moraes
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Padre paranaense convence atletas a valorizar religião na Alemanha e ganha vaga no Mundial

O missionário da bola (e do Papa)

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

As palavras soaram quase como uma bênção. Joseph Ratzinger, então um influente cardeal da Igreja Católica, elogiou o trabalho de Jauri Strieder com jovens e o encorajou a buscar novos fiéis.
O padre brasileiro radicado na Alemanha teve então um estalo: por que não adaptar um procedimento comum em seu país natal e utilizar o prestígio de jogadores de futebol para atrair a juventude?
Três anos depois daquela conversa, Ratzinger acabou escolhido Papa e passou a ser chamado de Bento 16. Justamente no mesmo período, Strieder conseguiu colocar seu inusitado projeto em prática. Agora, com a Copa, acredita que pode fazê-lo decolar.
Com auxílio de outros três clérigos, o brasileiro peregrina desde 2005 por gramados alemães. Sua meta: oferecer orientação espiritual aos boleiros e convidá-los a dar testemunhos ou participar de eventos da Igreja Católica.
Trata-se, grosso modo, da implementação do "atleta de Cristo", figura tão comum no futebol brasileiro, em um país pouco habituado a manifestações assoberbadas de fé nos gramados. "Os alemães adoram os jogadores. Com a popularidade que têm por aqui, conseguem influenciar muita gente com seus testemunhos. Nesse sentido, um depoimento vale mais que dez palestras de um padre", diz Strieder à Folha.
Paranaense de Santa Helena, ele já conseguiu arregimentar ao menos 15 atletas só na primeira divisão do Nacional. A lista inclui três jogadores com passagem pela seleção alemã -Christoph Metzelder, Sebastian Kehl e Olivier Neuville- e também representantes do Brasil, como Athirson, lateral-esquerdo do Bayer Leverkusen.
Pode parecer pouco se comparado às centenas de jogadores que costumam exibir mensagens do tipo "Deus é fiel" em camisetas após balançarem as redes nos gramados brasileiros. Mas, para os padrões da Alemanha, significa uma reviravolta nos costumes.
"A religião é tratada com mais discrição e delicadeza. É muito difícil, por exemplo, ver jogadores rezando em grupo antes dos jogos, uma cena que se repete quase todo dia em outros países. Aqui, a oração tem um caráter muito pessoal", relata Strieder, 25.
Sua estratégia é sensibilizar os atletas nos encontros para a influência que exercem na sociedade. Depois, convida-os para participarem de ações beneficentes.
"Uma vez, organizei um encontro de adolescentes, e o Athirson aceitou aparecer. O número de interessados triplicou."
O período, aliás, é propício para Strieder garimpar fiéis. Segundo o padre, as adesões ao catolicismo ganharam fôlego após a nomeação do colega Ratzinger como Papa. "Posso afirmar que, nos três meses iniciais de papado de Bento 16, tivemos mais conversões do que nos últimos três anos."
A busca por devotos não ocorre por acaso. A vida social e política na Alemanha sofre forte influência das igrejas. Segundo o Departamento Federal de Estatísticas do país, cerca de 45% da população é protestante, a maioria luterana. Os católicos são quase 40% dos 82 milhões de habitantes.
O que mais empolga Strieder, contudo, é a possibilidade de encontrar a seleção brasileira na Copa. A organização do Mundial já o convidou para integrar uma lista de religiosos que ficarão à disposição das equipes. A idéia é que os elencos tenham uma espécie de capelão para conceder apoio espiritual durante a competição.
"Claro que eu preferiria trabalhar com o Brasil. É o meu país. Além disso, os atletas são populares e buscam a Deus. Se tiver oportunidade, vou chamá-los para participar das ações que desenvolvemos aqui", afirma.
Seria a apoteose para quem sempre teve uma relação muito próxima com o esporte. Na infância em Santa Helena, jogava bola sem parar -chegou até a defender uma equipe, chamada Incas.
Nem a entrada no seminário, em Curitiba, arrefeceu seu ânimo. "A gente tinha um bom time e não passava um dia sem disputar um joguinho", recorda.
Torcedor do Grêmio na terra natal ("Era o time de que eu mais gostava quando criança") e do Bayer na nova casa ("Meu trabalho missionário no futebol começou em Leverkusen, onde fui bem recebido"), Strieder conta que a periodicidade dos jogos caiu.
Todas as segundas, ele troca a batina por camiseta, short e chuteira e tenta agrupar outros clérigos para bater bola em Colônia (a cerca de 100 km de Dortmund). "É muito divertido, mas não posso dizer que o jogo tem bom nível técnico. A média de idade dos padres alemães varia entre 40 e 60 anos. Sou uma exceção por aqui."

Evangélicos também atuarão na Copa

DA REPORTAGEM LOCAL

Além dos católicos, os evangélicos também prometem levar a sua interpretação da palavra de Deus na Bíblia para a Copa do Mundo na Alemanha.
O Ministério da Restauração da Fé, fundado pelos tetracampeões do mundo Jorginho e Paulo Sérgio, vai buscar mais seguidores entre os torcedores durante os intervalos das partidas do Mundial.
"Fomos convidados por um grupo de cinco igrejas alemãs para difundir esse trabalho em algumas cidades que serão sedes dos jogos, como Stuttgart, Berlim e Munique", contou Paulo Sérgio.
O ex-jogador explicou que os organizadores erguerão tendas em parques e praças, com telões para exibição dos jogos. Nos intervalos, acontecerão shows com bandas gospel -o cantor Salgadinho deverá se apresentar com um grupo de pagode que canta músicas com temas religiosos.
"Não vamos falar sobre religião, mas sim o que diz o livro sagrado", disse Paulo Sérgio, que também é pastor do Ministério da Restauração da Fé. "Vou pregar sim, pode ter certeza."
A missão surgiu em Munique, no período em que ele jogava no Bayern. Agora tem filial no Brasil.
O jogador, que também atuou pelo Corinthians, só lamenta o fato de nenhum outro atleta freqüentar a sua igreja na Alemanha -diferentemente dos "atletas de Cristo" que estão sendo formados no mesmo país.
Indagado se algum atleta da seleção iria participar do evento, Paulo Sérgio respondeu que será difícil. "Eles estarão concentrados, mas faremos o convite."
Mas, segundo o ex-meia-atacante, além de tentar trazer fiéis jogadores, um dos maiores desafios do evento será tirar a atenção dos torcedores das ofertas de prostituição durante a Copa. Por causa do Mundial é aguardado grande número de prostitutas estrangeiras nas cidades-sede.
"Nossa idéia não é comprar uma briga com as prostitutas. Isso não adianta. Não aprovamos a prostituição, mas faremos um trabalho para conscientizar o torcedor a fazer outras coisas enquanto estiver na Alemanha", disse ele.
Até a final da Copa os evangélicos esperam que os torcedores se divirtam, mas somente com Deus. (KLEBER TOMAZ)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esport ... 200621.htm

Re.: O missionário da bola (e do Papa)

Enviado: 19 Fev 2006, 15:58
por Márcio
Legal.
''Graças a deus consegui fazer um gol ...'' , '' Deus vai proteger o nosso time...'' , ''Se deus quizer, e ele quer, vamos ganhar a copa...''