A direita se esbaldando
Enviado: 19 Fev 2006, 16:45
http://soaressilva.wunderblogs.com/archives/021064.html
A Folha hoje publicou um texto sobre, aparentemente, o súbito e assustador surgimento de pessoas que não são de esquerda. Começa assim:
De repente passou a ser bacana o sujeito, numa festa ou numa mesa de bar, rodopiar a taça de vinho e desfilar frases do tipo "essa canalha bolchevique do PT não sabe nem falar português", seguidas de elogios à atuação de George W. Bush no Iraque ou de incursões "teóricas" das quais a principal lição a ser retirada é que só é pobre quem quer.
Pulando a parte de "rodopiar a taça de vinho" (por que não dizer "rebolando languidamente"?), e pulando o mau estilo também ("desfilar frases", etc), esse direitista hipotético não tem muita graça nem estilo, pelo que eu reclamo. Mas a parte que me chama atenção é o "não sabe nem falar português".
O repórter não tem pai nem mãe? Não tem um tio Jurandir? O tio Jurandir dele nunca mencionou, rindo, o fato de que Lula não sabe nem falar português? Porque o meu vive mencionando. Pela minha experiência, todo mundo normal diz isso. Seus pais, seus irmãos, o taxista, e tal. Todo mundo normal, com a exceção de professores de cursinho, que não são normais, ué, e gente que usa boina.
Esse é um dos problemas das esquerdas, daqui e de toda parte: o isolamento completo em que vivem. O repórter consegue estranhar que existam pessoas que façam piada do português canhestrinho de Lula, como se nunca tivesse ouvido os próprios pais e tios fazendo a mesma coisa. Será que a família dele é tão diferente da minha? São todos de esquerda? Meu Deus, até os meus amigos de esquerda riem dos erros do Lula. Mas o repórter parece que atribui historicamente a noção de que essas coisas são engraçadas a Diogo Mainardi, circa 2004.
"Agora é bacana" rir de erros de gramática. C´est le bordel! Se não impedirmos esses direitecas, logo vão estar rindo de gente que tropeça quando anda, de fanhos e de gente gaguinha e coisas assim.
Adiante. Pulando a parte do "teórico" entre aspas e da redução do pensamento de Hayek, Mises e Friedman a "só é pobre quem quer", que são umas infantilidades um tanto abaixo da minha crítica adultinha e seriona, o que principalmente me chama a atenção no texto todo é como a esquerda fica espantada com a simples existência de pessoas de direita. Sério.
Eu, por exemplo, sei que existem pessoas de esquerda. Juro, eu sei. Sei disso mais ou menos desde criança - até porque, como todo mundo, fui criado por professores de OSPB que faziam aspas com os dedos quando diziam "democracia", e professores de história que achavam que o Paraguai antes da guerra era, sei lá, Nárnia, com Solano Lopez como Aslan. Não escreveria um texto para dizer que existem pessoas de esquerda. Mas a Folha escreve um pra dizer que existem pessoas de direita. E depois diz isso:
Cada vez mais à vontade no país que se seguiu à estabilização monetária e, principalmente, ao tombo ético da administração petista, uma nova direita esbalda-se no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse "mais à vontade" chega a dar raiva desses direitistas, hein? Eles ficam se esbaldando aí. Não pode, não pode. Tipo, eles escrevem textos em jornais e revistas, têm blogs, falam suas opiniões durante festas... Se deixar eles vão acabar achando que são uma corrente legítima de pensamento ou coisa assim.
Lê mais:
Antes "oprimida" pela hegemonia cultural de esquerda -vigente no país desde pelo menos a década de 60-, a nova direita foi crescendo em desembaraço e afetação...
Vamos pular o "oprimida" entre aspas (está citando quem? é paráfrase?) e agradecer o simples fato de que todo esse trecho depois de "pela" não está entre aspas. A "hegemonia cultural de esquerda", diz o repórter, não citando ningém ainda mas, pelo contrário, reconhecendo por si mesmo, é "vigente no país desde pelo menos a década de 60". Thank you! Era só isso que eu queria ouvir desde, sei lá, anos.
Sério, meu Deus. Existem pessoas de direita. Vão se acostumando com isso. E se vamos falar disso, seria bom tocar pelo menos de leve na existência de Burke, Bastiat, Hayek, Mises, Oakeshott, Kirk, T.S.Eliot, Paul Johnson, Roger Scruton, Rothbard - e talvez até uma menção en passant (rodopiando uma taça de vinho, por assim dizer) a Roger Kimball, hein? E aproveitar para fazer alguma menção às correntes diferentes dentro da direita? Eu sei que é só um texto de jornal, mas não dá para reduzir a existência da direita a uns brasileiros que resolveram ser chatos e não gostar do Lula. É, like, tipo assim, uma tradição intelectual do ocidente - como a esquerda, só que com melhor estilo.
Posted by Alexandre S. at fevereiro 15, 2006 12:38 PM
A Folha hoje publicou um texto sobre, aparentemente, o súbito e assustador surgimento de pessoas que não são de esquerda. Começa assim:
De repente passou a ser bacana o sujeito, numa festa ou numa mesa de bar, rodopiar a taça de vinho e desfilar frases do tipo "essa canalha bolchevique do PT não sabe nem falar português", seguidas de elogios à atuação de George W. Bush no Iraque ou de incursões "teóricas" das quais a principal lição a ser retirada é que só é pobre quem quer.
Pulando a parte de "rodopiar a taça de vinho" (por que não dizer "rebolando languidamente"?), e pulando o mau estilo também ("desfilar frases", etc), esse direitista hipotético não tem muita graça nem estilo, pelo que eu reclamo. Mas a parte que me chama atenção é o "não sabe nem falar português".
O repórter não tem pai nem mãe? Não tem um tio Jurandir? O tio Jurandir dele nunca mencionou, rindo, o fato de que Lula não sabe nem falar português? Porque o meu vive mencionando. Pela minha experiência, todo mundo normal diz isso. Seus pais, seus irmãos, o taxista, e tal. Todo mundo normal, com a exceção de professores de cursinho, que não são normais, ué, e gente que usa boina.
Esse é um dos problemas das esquerdas, daqui e de toda parte: o isolamento completo em que vivem. O repórter consegue estranhar que existam pessoas que façam piada do português canhestrinho de Lula, como se nunca tivesse ouvido os próprios pais e tios fazendo a mesma coisa. Será que a família dele é tão diferente da minha? São todos de esquerda? Meu Deus, até os meus amigos de esquerda riem dos erros do Lula. Mas o repórter parece que atribui historicamente a noção de que essas coisas são engraçadas a Diogo Mainardi, circa 2004.
"Agora é bacana" rir de erros de gramática. C´est le bordel! Se não impedirmos esses direitecas, logo vão estar rindo de gente que tropeça quando anda, de fanhos e de gente gaguinha e coisas assim.
Adiante. Pulando a parte do "teórico" entre aspas e da redução do pensamento de Hayek, Mises e Friedman a "só é pobre quem quer", que são umas infantilidades um tanto abaixo da minha crítica adultinha e seriona, o que principalmente me chama a atenção no texto todo é como a esquerda fica espantada com a simples existência de pessoas de direita. Sério.
Eu, por exemplo, sei que existem pessoas de esquerda. Juro, eu sei. Sei disso mais ou menos desde criança - até porque, como todo mundo, fui criado por professores de OSPB que faziam aspas com os dedos quando diziam "democracia", e professores de história que achavam que o Paraguai antes da guerra era, sei lá, Nárnia, com Solano Lopez como Aslan. Não escreveria um texto para dizer que existem pessoas de esquerda. Mas a Folha escreve um pra dizer que existem pessoas de direita. E depois diz isso:
Cada vez mais à vontade no país que se seguiu à estabilização monetária e, principalmente, ao tombo ético da administração petista, uma nova direita esbalda-se no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse "mais à vontade" chega a dar raiva desses direitistas, hein? Eles ficam se esbaldando aí. Não pode, não pode. Tipo, eles escrevem textos em jornais e revistas, têm blogs, falam suas opiniões durante festas... Se deixar eles vão acabar achando que são uma corrente legítima de pensamento ou coisa assim.
Lê mais:
Antes "oprimida" pela hegemonia cultural de esquerda -vigente no país desde pelo menos a década de 60-, a nova direita foi crescendo em desembaraço e afetação...
Vamos pular o "oprimida" entre aspas (está citando quem? é paráfrase?) e agradecer o simples fato de que todo esse trecho depois de "pela" não está entre aspas. A "hegemonia cultural de esquerda", diz o repórter, não citando ningém ainda mas, pelo contrário, reconhecendo por si mesmo, é "vigente no país desde pelo menos a década de 60". Thank you! Era só isso que eu queria ouvir desde, sei lá, anos.
Sério, meu Deus. Existem pessoas de direita. Vão se acostumando com isso. E se vamos falar disso, seria bom tocar pelo menos de leve na existência de Burke, Bastiat, Hayek, Mises, Oakeshott, Kirk, T.S.Eliot, Paul Johnson, Roger Scruton, Rothbard - e talvez até uma menção en passant (rodopiando uma taça de vinho, por assim dizer) a Roger Kimball, hein? E aproveitar para fazer alguma menção às correntes diferentes dentro da direita? Eu sei que é só um texto de jornal, mas não dá para reduzir a existência da direita a uns brasileiros que resolveram ser chatos e não gostar do Lula. É, like, tipo assim, uma tradição intelectual do ocidente - como a esquerda, só que com melhor estilo.
Posted by Alexandre S. at fevereiro 15, 2006 12:38 PM