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Propriedades do Elemento Humano
Enviado: 23 Fev 2006, 22:48
por Pierrot
Lendo o tópico "Somos Bichos" eu fiquei pensando em como nós, humanos, ou, como desejarem, macacos-pelados, somos tão adaptados/adaptáveis em assumirmos a posição de dominancia sobre os demais seres vivos e também o de empregar meios tão complexos para retirarmos da natureza os recursos para que possamos satisfazer as nossas necessidades.
Mas o que me deixa mais 'encucado' é em entender os 'comos' e os 'porquês' da natureza tem sido tão gentil conosco. Digo, gostaria de entender o porquê da nossa espécie ter sido a única contemplada com tão preciosos atributos, ou, propriedades.
Propriedades essas que por mais que se manifestem primitivamente nos animais de outras espécies, a nossa foi a única capaz de desenvolve-las tão bem, de forma que encadeamos um processo de complexificação da nossa vida, que de tal forma, hoje se torna estranho, e no mínimo 'engraçado', admitirmos que somos parentes próximos, muito próximos, daqueles bichinhos que tiramos do seu hábitat, para os tracarmos em jaulas, e para que finalmente, nos domingos, possamos aliviar a tensão e o estresse assistindo, com divertimento, a privação da sua liberdade...
Re.: Propriedades do Elemento Humano
Enviado: 24 Fev 2006, 10:24
por o anátema
Alguns teorizam, parece que começando por Charles Darwin, que a seleção sexual tenha tido papel fundamental nisso.
A inteligência maior do que a dos outros macacos, os não-humanos, não é algo fundamental para a sobrevivência. Um monte de seres vivem muito bem há muito tempo tendo cérebros do tamanho de amendoins, e os próprios macacos não-humanos, também vão bem com a inteligência que têm. Um macaco ancestral, um pouco mais inteligente que um chimpanzé, muito possivelmente não teria vantagem adaptativa o suficiente para ser selecionado por isso apenas. A inteligência, mais os instintos que eles já tem é provavelmente o bastante para a sobrevivência.
Na verdade, uma inteligência maior, um cérebro maior, podem ser até má adaptação. Uma inteligência só um pouco maior, não é ainda uma genialidade, e pode ser que um animal assim se pusesse a pensar quando teria mais vantagem em agir por instinto. Ao mesmo tempo, cérebros maiores consomem mais enegia para desenvolvê-los e mantê-los.
Já se uma maior inteligência, ou comportamentos relacionados à uma maior inteligência, fossem selecionados sexualmente, tudo isso se resolve. Caracteres sexualmente selecionados não precisam ser adaptativos, muito comumente são um estorvo a adaptação, e realmente custam mais para desenvolvimento e manutenção. Um exemplo é a cauda do pavão e de umas outras aves que tem a cauda como caractere de exibição sexual. Elas não ajudam em nada, só atrapalham, mas caudas enormes e desengonçadas (ainda que no caso dos pavões, enfeitadas) acabam sendo selecionadas apesar disso tudo, porque a seleção sexual acaba sendo "mais forte". Claro que, em algum momento chega num limite, e as caudas das aves acabam sendo um estorvo grande demais para a adaptação, apesar de serem sexualmente selecionadas.
Da mesma forma, comportamentos que não identificariamos imediatamente com a inteligência, podem ter sido selecionados sexualmente. Fazendo a nossa inteligência aumentar e evoluindo cérebro maior mais ou menos como a cauda do pavão. Só que diferentemente dessa, tanto o macho como a fêmea precisam ter o caractere de exibição. Tanto por haver um considerável grau de seleção bilateral (o macho também escolhendo a fêmea), quanto por precisar ser "inteligente" para avaliar e escolher o mais "inteligente". Coloco entre aspas, porque novamente, não é necessariamente a inteligência como é comumente vista, mas diversos aspectos da mente humana, aos quais a inteligência está relacionada. Bom humor, criatividade, flerte, habilidades sociais, habilidades artísticas, etc.
Também diferentemente da cauda do pavão, que não importa o quanto cresça será inútil exceto como caractere de exibição, a inteligência suficientemente aumentada acaba tendo "efeitos colaterais", como tecnologia, ciência, política, religião, etc. Apesar do que chamamos comumente de inteligência parecer mais "adequado" a essas finalidades, de relacionarmos mais a inteligência com elas, justamente para elas que uma pequena inteligência adicional dificilmente seria selecionada, não seria o suficiente para fazer uma diferença significativa.