O Monopólio do Bem
Enviado: 27 Fev 2006, 22:53
O Monopólio do Bem
Postado originalmente em 1/4/2004 14:43:32
por Acauan
Dentre as muitas coisas que tornam os fundamentalistas cristãos muito chatos, uma que se destaca é naturalidade com que tantos dentre eles, senão quase todos, decretam-se detentores do monopólio de todo o BEM, deixando claro aos que não fazem parte da sua celestial corporação que eles devem assumir o nível de maldade que lhes cabe por haverem feito as escolhas ideológicas erradas.
Coisa parecida, no campo da filosofia moral, ao que a Microsoft faz com o Windows.
A coisa funciona assim: Se for cristão é bom, se não for cristão não pode ser bom e se for anticristão é ruim.
E todo mundo que for classificado no “não pode ser bom” e no “ruim” vai pro inferno e estamos conversados.
Mas porque o que é cristão é bom?
O cristianismo como conjunto de princípios tem muita coisa legal, não sou eu que vou aqui botar defeito naquelas recomendações de amar ao próximo e praticar o perdão.
Só que o cristianismo não é apenas um conjunto de princípios, é também um conjunto de doutrinas. E aí a coisa pega.
Quando os fundamentalistas chamam o cristianismo de sã doutrina deveriam por tudo no plural e em casos específicos uma interrogação depois do adjetivo.
Resumindo, para que os fundamentalistas pudessem legitimar-se como detentores do monopólio do Bem, teriam que demonstrar que todos os preceitos de todas as doutrinas de todos os ramos, sub-ramos, vertentes e denominações do cristianismo são completa e universalmente bons.
E quero ver o cara-de-pau do crente que vai aparecer aqui para dizer isto, porque eles só defendem o cristianismo como um todo quando argumentam com um não-cristão. Dentro do aconchego da convivência diária e comunitária dos fundamentalistas, a diversão mais popular é achar defeitos e falar mal de outras denominações cristãs.
Se o geral não é bom nem para eles, que só aceitam o específico, por que teria que ser bom para nós?
E mais, por que não seríamos bons ou seríamos menos bons por não aceitarmos um sistema que nunca estabeleceu um consenso, exceto quanto a alguns elementos fundamentais, sendo que os que têm implicação moral não são exclusivos do cristianismo.
Tem proselitista que estende a pretensão até o tamanho de países, e solta a conversa mole sobre o quanto as sociedades cristãs são melhores que todas as outras.
E faz aquelas comparações tipo Holanda cristã X Buracodofimdomundistão muçulmano, para demonstrar sua tese.
Nenhum destes malandros tem o bom senso honesto de separar estratos compatíveis antes de comparar, quando então as estatísticas provariam quantitativamente que o Japão xintoísta tem índices de violência, criminalidade e pobreza desamparada muito inferiores aos registrados nos historicamente protestantes Estados Unidos da América.
Mas então, se é assim, por que esta turminha fundamentalista acha que é melhor que todo mundo?
Pelos seus atos é que não é. Conheço crentes de rodo, muitos deles muito bons, outros mais ou menos e uma quantidade nada desprezível que não é flor que se cheire.
Na média, nem melhor, nem pior do que qualquer outro grupo.
Pela doutrina deles, como se disse, também não dá pra confiar.
O que tem de bom no cristianismo pode ser praticado sem se ser cristão e dos apêndices doutrinários, como moral sexual religiosa, obrigações confessionais ou regras de comportamento, eu quero mais é distância, já que não me faz falta nenhuma do ponto de vista moral.
Resta o velho nós X eles.
Os fundamentalistas cristãos são o nós, nós somos o eles..., peraí, até eu já fiquei confuso.
Bom, o que eu queria dizer é que os fundamentalistas em suas respectivas agremiações religiosas identificam-se como grupos diferenciados do restante da humanidade, sendo que uma boa maneira de reforçar a lealdade dos de dentro é insistir na idéia de que são melhores do que os de fora.
Algo como a Associação dos Búfalos d´Água do Fred Flintstone.
Com a diferença de que os Búfalos d´Água não tinham a pretensão de serem detentores do monopólio do Bem.
Postado originalmente em 1/4/2004 14:43:32
por Acauan
Dentre as muitas coisas que tornam os fundamentalistas cristãos muito chatos, uma que se destaca é naturalidade com que tantos dentre eles, senão quase todos, decretam-se detentores do monopólio de todo o BEM, deixando claro aos que não fazem parte da sua celestial corporação que eles devem assumir o nível de maldade que lhes cabe por haverem feito as escolhas ideológicas erradas.
Coisa parecida, no campo da filosofia moral, ao que a Microsoft faz com o Windows.
A coisa funciona assim: Se for cristão é bom, se não for cristão não pode ser bom e se for anticristão é ruim.
E todo mundo que for classificado no “não pode ser bom” e no “ruim” vai pro inferno e estamos conversados.
Mas porque o que é cristão é bom?
O cristianismo como conjunto de princípios tem muita coisa legal, não sou eu que vou aqui botar defeito naquelas recomendações de amar ao próximo e praticar o perdão.
Só que o cristianismo não é apenas um conjunto de princípios, é também um conjunto de doutrinas. E aí a coisa pega.
Quando os fundamentalistas chamam o cristianismo de sã doutrina deveriam por tudo no plural e em casos específicos uma interrogação depois do adjetivo.
Resumindo, para que os fundamentalistas pudessem legitimar-se como detentores do monopólio do Bem, teriam que demonstrar que todos os preceitos de todas as doutrinas de todos os ramos, sub-ramos, vertentes e denominações do cristianismo são completa e universalmente bons.
E quero ver o cara-de-pau do crente que vai aparecer aqui para dizer isto, porque eles só defendem o cristianismo como um todo quando argumentam com um não-cristão. Dentro do aconchego da convivência diária e comunitária dos fundamentalistas, a diversão mais popular é achar defeitos e falar mal de outras denominações cristãs.
Se o geral não é bom nem para eles, que só aceitam o específico, por que teria que ser bom para nós?
E mais, por que não seríamos bons ou seríamos menos bons por não aceitarmos um sistema que nunca estabeleceu um consenso, exceto quanto a alguns elementos fundamentais, sendo que os que têm implicação moral não são exclusivos do cristianismo.
Tem proselitista que estende a pretensão até o tamanho de países, e solta a conversa mole sobre o quanto as sociedades cristãs são melhores que todas as outras.
E faz aquelas comparações tipo Holanda cristã X Buracodofimdomundistão muçulmano, para demonstrar sua tese.
Nenhum destes malandros tem o bom senso honesto de separar estratos compatíveis antes de comparar, quando então as estatísticas provariam quantitativamente que o Japão xintoísta tem índices de violência, criminalidade e pobreza desamparada muito inferiores aos registrados nos historicamente protestantes Estados Unidos da América.
Mas então, se é assim, por que esta turminha fundamentalista acha que é melhor que todo mundo?
Pelos seus atos é que não é. Conheço crentes de rodo, muitos deles muito bons, outros mais ou menos e uma quantidade nada desprezível que não é flor que se cheire.
Na média, nem melhor, nem pior do que qualquer outro grupo.
Pela doutrina deles, como se disse, também não dá pra confiar.
O que tem de bom no cristianismo pode ser praticado sem se ser cristão e dos apêndices doutrinários, como moral sexual religiosa, obrigações confessionais ou regras de comportamento, eu quero mais é distância, já que não me faz falta nenhuma do ponto de vista moral.
Resta o velho nós X eles.
Os fundamentalistas cristãos são o nós, nós somos o eles..., peraí, até eu já fiquei confuso.
Bom, o que eu queria dizer é que os fundamentalistas em suas respectivas agremiações religiosas identificam-se como grupos diferenciados do restante da humanidade, sendo que uma boa maneira de reforçar a lealdade dos de dentro é insistir na idéia de que são melhores do que os de fora.
Algo como a Associação dos Búfalos d´Água do Fred Flintstone.
Com a diferença de que os Búfalos d´Água não tinham a pretensão de serem detentores do monopólio do Bem.