Ameaça ao investimento de U$$ 1,2 bilhão
TATIANA CRUZ
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A ação violenta do MST foi realizada poucas semanas antes de a Aracruz definir a localização de seu novo investimento. O Estado disputa com o Espírito Santo e a Bahia a construção de uma fábrica de US$ 1,2 bilhão para produção de 1 milhão de toneladas de celulose, o que pode gerar 50 mil empregos diretos e indiretos.
Apesar do prejuízo com a destruição do laboratório de pesquisa, a companhia ainda continua – pelo menos oficialmente – disposta a investir no Rio Grande do Sul.
Durante o dia, houve momentos de extrema preocupação. Pela manhã, o gerente regional florestal da empresa, Renato Rostirolla, declarou, em meio às mudas pisoteadas, que o episódio poderia gerar interrogações no processo de instalação de uma futura unidade em solo gaúcho.
O calmante para o governo do Estado veio à tarde, quando o diretor operacional do grupo, Walter Lidio Nunes, tentou atenuar a importância do episódio. Falando do Espírito Santo, onde coordena as operações em todo o país, Nunes disse que as conversações com o Estado e o município continuam.
– Esse ato de barbárie é alienígena ao ambiente do Rio Grande do Sul. Está claro para nós que não expressa nem de longe o que pensa a sociedade como um todo. Vamos manter nossos estudos no Estado – disse, informando que a decisão sobre a nova fábrica deve ser anunciada até o fim deste mês.
Preocupado, o secretário de Desenvolvimento, Luis Roberto Ponte, convocou a sociedade para mostrar que a manifestação não representa a comunidade gaúcha:
– A sociedade tem de repudiar esse ato, porque, caso contrário, isso seria mortal para as negociações com os investidores do setor.
Empresa fez estudo para verificar o risco social
Ponte se refere a dois quesitos importantes nesse tipo de investimento, envolto em polêmica sobre impacto ambiental: a observância da lei e um ambiente de boas relações com a comunidade. O tema é tão importante que, no ano passado, a Aracruz – que amarga um histórico de invasões de suas terras nos Estados onde tem unidades (BA e ES) – já havia contratado uma empresa para analisar o risco social para a instituição em caso de implantação de uma nova unidade no entorno de Porto Alegre. Em comparação às concorrentes, a Região Metropolitana se saíra bem, graças ao grau de politização da sociedade.
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tatiana.cruz@zerohora.com.br )
O prejuízo
Confira a estimativa de perdas feita pela empresa:
> US$ 400 mil: destruição do laboratório
> Dezenas de milhões de US$: destruição de material genético de alta eficiência
A polêmica ambiental
O que dizem inimigos e defensores das florestas de eucaliptos
Contra
As florestas agravariam as estiagens na Região Sul, porque o eucalipto precisa sugar água para se desenvolver
Cerca de 30 espécies de animais ameaçadas de extinção estariam nessa condição por culpa das árvores exóticas
O eucalipto altera o solo do campo e pode afetar a biodiversidade
A Favor
O índice de chuva da Região Sul suporta as florestas de eucaliptos
Animais poderiam usar as árvores como abrigo
Originário da Austrália, o eucalipto cresce rápido (ciclo de sete anos) e oferece fibra de qualidade para a fabricação de papel
Os ônibus invisíveis
CARLOS ETCHICHURY
Como é possível que mais de 40 ônibus circulem em comboio com centenas de manifestantes por cerca de 40 quilômetros sem serem vistos pelas polícias rodoviárias federal e estadual?
A pergunta foi feita ontem ao governador em exercício Antonio Hohlfeldt, à cúpula da segurança no Estado e à Polícia Rodoviária Federal (PRF), que divergiram sobre a responsabilidade.
De acordo com a versão do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Airton Costa, cerca de 40 ônibus foram vistos saindo de Tapes por volta das 3h.
- Eles saíram em direção a Porto Alegre pela BR-116. A informação foi repassada à Polícia Rodoviária Federal - explicou Costa.
O governador em exercício disse que a Brigada fez a sua parte.
- Não sei se a Polícia Rodoviária Federal sabia, mas o fato é que eles não estavam lá - afirmou.
O inspetor Alessandro Castro, chefe da Comunicação Social da PRF no Estado, confirmou que a corporação foi avisada da saída dos ônibus de Tapes. Como os veículos não foram localizados na rodovia, desmobilizou-se.
- Uma viatura percorreu o trecho entre as 3h, momento em que houve o aviso, e as 7h. Os ônibus não foram vistos. Às 7h, foram vistos 37 ônibus saindo da Estrada do Conde e entrando na BR-116, em Guaíba. Naquela hora, a propriedade já havia sido atacada - disse Castro.
Há duas possibilidades para o mistério. Uma é de que os ônibus tenham se deslocado por estradas secundárias. A outra é de que o comboio tenha percorrido o trecho antes da chegada da viatura da PRF.
Um dos motoristas de uma empresa de transporte que levou os manifestantes confirmou ao repórter Mauro Saraiva Júnior, da Rádio Gaúcha, que parte dos ônibus saiu de Porto Alegre pela BR-116, pagou pedágio e passou por pelo menos um posto da PRF antes de chegar a Tapes. De lá, o grupo teria saído em comboio até Barra do Ribeiro sem ser molestado pelas polícias.
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carlos.etchichury@zerohora.com.br )