Ideologia e Genética
Enviado: 10 Mar 2006, 09:05
No fim do século 19 e principios do seculo 20 a Eugenia era uma ciência respeitavel. Julgava-se então, e a ciência apoiava, que havia algo de muito sombrio no futuro da espécie humana. As pessoas consideradas superiores (de boas famílias, prósperas, inteligentes) não tinham tantos filhos como as pessoas consideradas inferiores (os rudes, imorais, puco inteligentes). Para a Eugenia isto significava que, se as coisas se mantivessem assim, haveria inevitavelmente uma degradação do património genético da humanidade, porque os genes das pessoas inferiores iria prevalecer nas gerações futuros. A este pesadelo deu-se o nome de disgenesia.
O pensamento eugénico estabelecia então uma ligação direta entre a condição hereditária da pessoa e o seu modo de vida (este pensamento era reforçado pelo darwinismo social). Por eexemplo, se uma pessoa era pobre, então, de alguma forma, a pobreza estava na sua natureza. De maneira que, acreditando nisto, era normal que as pessoas "esclarecidas" da época julgassem que algo deveria ser feito para impedir a degradação genética da humanidade. Esta retórica fazia todo o sentido na altura e convenceu pessoas tão eminentes como Bertrand Russel; Bernard Shaw ou Winston Churchil. George Bernard Shaw dizia: "Sendo covardes, derrotamos a seleção natural ao abrigo da filantropia. Sendo preguiçosos negligenciamos a seleção artificial ao abrigo da delicadeza e da moralidade".
Aqui, Shaw estava a apelar á ideia de que era preciso perder a delicadeza e forçar a espécie humana a procriar seletivamente de maneira a que as pessoas superiores procriassem muito mais entre si. E por outro lado era necessário impedir que os "inferiores", o lixo genético, procriassem. De alguma forma era necessário que os seres humanos de então fossem maus para que os seres humanos do futuro fossem melhores. Estranha contradição.
Estas ideias, sancionadas pela ciência de então, levaram ao nascimento de várias sociedades Eugénica na Europa e na América. Antes da segunda guerra mundial centenas de milhares de indesejáveis foram compulsivamente esterilizados para o bem da espécie. Na Alemanha as coisas foram mais Graves. Inspirados na "ciência" do grande Biologo Ernst Haeckel, a sociedade Monista (uma sociedade Eugénica), defendia a eliminação dos inaptos. A sociedade Monista foi a influência direta que Hitler teve. E o resto foi história. E o que a história mostra é que o Nazismo foi o corolário lógico de um caminho que a ciência legitimou. A disto tudo lição é esta: É preciso muito cuidado quando se aplica a ciência á organização das sociedades. A ciência misturada com ideologia é veneno. Um outro exemplo deste veneno é a aplicação do Marxismo, uma teoria pretensamente ciêntífica sobre a forma como a sociedade se deveria organizar.
E o que dizer da Eugenia hoje em dia? Será que estamos a cometer o mesmo erro? A ciência que sanciona hoje o Eugenismo chama-se genética. Será que em nome da genética podemos cometer outras atrocidades?
Alguns dizem que sim. Jeremy Rifkin, por exemplo, que se opõe a qualquer manipulação genética não só de seres humanos como de quialquer outra forma de vida. Para ele há uma sabedoria natural, uma história evolutiva que criou seres vivos bem adaptados. Mexer nisto, com manipulações genéticas, é meio caminho para o desastre.
Apesar das diferenças, o argumento de Rifkin é um argumento para o bem da espécie. Tal com a Eugenia do seculo 19 era um argumento para o bém da espécie. Mas para o ambientalista Rifkin, para o bem da espécie significa não tocar em nada, enquanto que o Eugenista desejava mexer no pool genético eliminando as pessoas indesejáveis. Mas um e outro argumentam para o bem da espécie.
Um exemplo concreto pode mostrar como o argumento de Rifkin é perigoso e, se calhar, tão imoral como o argumento dos eugenistas.
Vamos supor que estamos numa sociedade democrática liberal. Vamos supor também que a genética já identificou todas as doenças genéticas e está preparada para intervir diretamente sobre elas impedindo a sua proliferação. Tudo o que falta é a permissão da sociedade para usar a tecnologia. Suponhamos que essa sociedade não tem nenhuma ideologia "Para o bem da espécie". Nesse caso o que acontecerá é óbvio. Todos os pais irão desejar ter filhos sem defeitos genéticos. Quem poderá, no seu perfeito juizo, julgar errado que um médico diga a futuros pais que o embrião tem defeitos genéticos mas que não há problema porque serão corrigidos? Algum paiou mãe, sabendo isto, deixaria o seu filho nascer por exemplo com distrofia muscular. Só se estivessem bebados, numa sociedade assim, na prática, muitos genes defeituosos seriam eliminados do pool genético da humanidade, sem que por trás disso existisse qq ideologia ou objetivo concreto para melhorar as espécie humana.
Agora vamos olhar a mesma sociedade dominada pela ideologia de Rifkin. Nessa sociedade acredita-se que não há genes maus. A evolução é Sábia e um gene "mau" hoje pode ser útil amanhã noutro ambiente. Ou seja, em nome de uma possivel e incerto bem para a espécie esta ideologia vai permitir que em gerações sucessivas nasçam pessoas para sofrer e morrer de forma evitável. Na Eugenia era-se activamente nau, No ambientalismo genético é-se passivamente mau. As ideologias para o bem da espécie são uma merda.
O pensamento eugénico estabelecia então uma ligação direta entre a condição hereditária da pessoa e o seu modo de vida (este pensamento era reforçado pelo darwinismo social). Por eexemplo, se uma pessoa era pobre, então, de alguma forma, a pobreza estava na sua natureza. De maneira que, acreditando nisto, era normal que as pessoas "esclarecidas" da época julgassem que algo deveria ser feito para impedir a degradação genética da humanidade. Esta retórica fazia todo o sentido na altura e convenceu pessoas tão eminentes como Bertrand Russel; Bernard Shaw ou Winston Churchil. George Bernard Shaw dizia: "Sendo covardes, derrotamos a seleção natural ao abrigo da filantropia. Sendo preguiçosos negligenciamos a seleção artificial ao abrigo da delicadeza e da moralidade".
Aqui, Shaw estava a apelar á ideia de que era preciso perder a delicadeza e forçar a espécie humana a procriar seletivamente de maneira a que as pessoas superiores procriassem muito mais entre si. E por outro lado era necessário impedir que os "inferiores", o lixo genético, procriassem. De alguma forma era necessário que os seres humanos de então fossem maus para que os seres humanos do futuro fossem melhores. Estranha contradição.
Estas ideias, sancionadas pela ciência de então, levaram ao nascimento de várias sociedades Eugénica na Europa e na América. Antes da segunda guerra mundial centenas de milhares de indesejáveis foram compulsivamente esterilizados para o bem da espécie. Na Alemanha as coisas foram mais Graves. Inspirados na "ciência" do grande Biologo Ernst Haeckel, a sociedade Monista (uma sociedade Eugénica), defendia a eliminação dos inaptos. A sociedade Monista foi a influência direta que Hitler teve. E o resto foi história. E o que a história mostra é que o Nazismo foi o corolário lógico de um caminho que a ciência legitimou. A disto tudo lição é esta: É preciso muito cuidado quando se aplica a ciência á organização das sociedades. A ciência misturada com ideologia é veneno. Um outro exemplo deste veneno é a aplicação do Marxismo, uma teoria pretensamente ciêntífica sobre a forma como a sociedade se deveria organizar.
E o que dizer da Eugenia hoje em dia? Será que estamos a cometer o mesmo erro? A ciência que sanciona hoje o Eugenismo chama-se genética. Será que em nome da genética podemos cometer outras atrocidades?
Alguns dizem que sim. Jeremy Rifkin, por exemplo, que se opõe a qualquer manipulação genética não só de seres humanos como de quialquer outra forma de vida. Para ele há uma sabedoria natural, uma história evolutiva que criou seres vivos bem adaptados. Mexer nisto, com manipulações genéticas, é meio caminho para o desastre.
Apesar das diferenças, o argumento de Rifkin é um argumento para o bem da espécie. Tal com a Eugenia do seculo 19 era um argumento para o bém da espécie. Mas para o ambientalista Rifkin, para o bem da espécie significa não tocar em nada, enquanto que o Eugenista desejava mexer no pool genético eliminando as pessoas indesejáveis. Mas um e outro argumentam para o bem da espécie.
Um exemplo concreto pode mostrar como o argumento de Rifkin é perigoso e, se calhar, tão imoral como o argumento dos eugenistas.
Vamos supor que estamos numa sociedade democrática liberal. Vamos supor também que a genética já identificou todas as doenças genéticas e está preparada para intervir diretamente sobre elas impedindo a sua proliferação. Tudo o que falta é a permissão da sociedade para usar a tecnologia. Suponhamos que essa sociedade não tem nenhuma ideologia "Para o bem da espécie". Nesse caso o que acontecerá é óbvio. Todos os pais irão desejar ter filhos sem defeitos genéticos. Quem poderá, no seu perfeito juizo, julgar errado que um médico diga a futuros pais que o embrião tem defeitos genéticos mas que não há problema porque serão corrigidos? Algum paiou mãe, sabendo isto, deixaria o seu filho nascer por exemplo com distrofia muscular. Só se estivessem bebados, numa sociedade assim, na prática, muitos genes defeituosos seriam eliminados do pool genético da humanidade, sem que por trás disso existisse qq ideologia ou objetivo concreto para melhorar as espécie humana.
Agora vamos olhar a mesma sociedade dominada pela ideologia de Rifkin. Nessa sociedade acredita-se que não há genes maus. A evolução é Sábia e um gene "mau" hoje pode ser útil amanhã noutro ambiente. Ou seja, em nome de uma possivel e incerto bem para a espécie esta ideologia vai permitir que em gerações sucessivas nasçam pessoas para sofrer e morrer de forma evitável. Na Eugenia era-se activamente nau, No ambientalismo genético é-se passivamente mau. As ideologias para o bem da espécie são uma merda.