Por que a hipótese de espíritos é científica?
Enviado: 11 Mar 2006, 15:59
Extraído do livro Fundamentação da Ciência Espírita
O que se pode chamar de testabilidade é uma característica bastante explorada pelos estudiosos da filosofia da ciência, que buscam assim distinguir as teorias científicas das não-científicas. Neste último rol estão incluídas não somente as proposições errôneas ou pseudo-científicas, mas também as teorias filosóficas, metafísicas, teológicas etc., que pertencem a outros ramos de conhecimento.
Em síntese, este quesito estabelece que uma teoria, se científica, deve ser passível de verificação. Não se exige que tenha sido verificada, pois pode estar relacionada a fenômenos cujas manifestações subseqüentes virão a ocorrer apenas num futuro próximo, como é o caso de qualquer objeto de análise do tipo ‘observável’. Exemplos dessa natureza são comuns na astronomia, como é o caso das pesquisas sobre os cometas. Também foi o caso da teoria einsteiniana da curvatura do espaço devido à presença de grandes massas, verificada muitos anos depois de seu enunciado, graças à ocorrência de um eclipse, no qual o Brasil serviu como posto de observação privilegiado do fenômeno.
Naturalmente, o intervalo que medeia o estabelecimento da teoria e sua verificação deve ter algum limite de referência. Para ilustrar, considere a formulação de uma teoria que descreve o modo de vida dos seres num planeta recém-descoberto em outro sistema galáctico. É uma teoria que não pode ser considerada científica, pois somente será verificável num prazo indeterminado.
Este critério tem indiscutível utilidade, pois descarta uma série de teorias eminentemente metafísicas, que aparecem em disciplinas em formação e, especialmente, no campo do psiquismo e outros estudos transcendentais, como a astrologia. Por exemplo, nesta disciplina há a teoria de que tudo se relaciona no universo, como no caso da queda de uma flor excitando uma estrela distante; tal teoria pode não estar errada, mas não é científica, pois não é testável.
Com a abertura que a física moderna e a matemática impuseram, enfatizando a existência de sistemas não-lineares, princípios não-causais e a própria retratividade do tempo, muitos pensadores se arvoraram em propor teorias bem audaciosas. Conforme foi enfatizado no item anterior, uma vez que estas formulações se opõem à lógica, é preciso cautela. A ausência de testabilidade é um indicativo que tais teorias não são satisfatoriamente científicas.
É preciso ressaltar que a testabilidade não garante que a teoria seja científica, pois é preciso haver outras características, outros indicativos de consistência.
Também se deve perceber que uma teoria testável pode ser errada, mas nem por isso deixa de ser científica. A natural falibilidade da ciência, que será bem explorada mais à frente em capítulo específico, aceita que as teorias dadas como verdadeiras se derroquem, dando lugar a outras mais precisas, produzindo uma certa oscilação no processo de geração do saber. Mas embora essa dinâmica faça parte do processo, esta instabilidade gerada pela formulação de teorias meramente especulativas sempre incomodou alguns estudiosos e os inspirou a formalizar critérios de distinção das teorias verdadeiramente científicas das não-científicas.
Uma das primeiras características a serem propostas foi a testabilidade, denominada falseabilidade por seu criador, Popper, que exacerbou seu alcance. Mas, de um modo geral, o critério da falseabilidade pode ser adequadamente empregado ao estabelecer que se uma proposição é científica, deve ser sujeita á testabilidade, com vistas ao seu falseamento. Assim, uma teoria é científica se puder ser submetida a questionamentos, demonstrações ou experimentações. Se futuramente vier a mostrar falhas e conseqüentemente ser abandonada e substituída por outras, não perderá seu status de científica, apesar de não servir para nada.
Enfatiza-se mais uma vez que, desde a apresentação do quadro comparativo de Trujillo (capítulo II, p. 41), a ciência não se arvora como infalível; procura sim compreender; de modo cada vez mais completo, a realidade, sabendo que este processo envolve tentativas e erros.
Neste contexto, um exemplo ligado ao campo do paranormal é interessante. Existem proposições pretensamente científicas, usadas para combater a doutrina espírita, que não obedecem ao critério da falseabilidade. Considere-se o caso da onipotência do inconsciente, também chamado de superinconsciente, hipótese aventada para explicar uma gama enorme de fenômenos psíquicos intelectivos, como a telepatia, psicocinésia, poltergeist, mediunidade e, principalmente, os casos de identificação de espíritos desencarnados. Segundo essa teoria, estes e muitos outros fenômenos resultariam de um poder normalmente involuntário, que, se localizando no interior do ser humano e se exteriorizando de modo ainda pouco explicado, dar-lhe-ia ciência sobre aspectos pessoais de outrem, conhecimento geral do passado, presente e futuro, e ainda ofertando-lhe uma força física formidável. Se levada a sério, esta hipótese facilmente implicaria num poder infinito contido no inconsciente humano, em que cada ser transformar-se-ia literalmente em um Deus. Nestas condições, por exemplo, a psicocinésia (movimentação de objetos por meios não-físicos), poderia ser aventada para explicar os maremotos, terremotos e acidentes em geral, sem poder ser refutada. Quem poderia dizer que um tufão não foi obra involuntária de um paranormal ou de inconscientes coletivos afetos a grandes catástrofes? Logo, tal hipótese, denominada ‘telergética’, bem ao gosto dos parapsicólogos católicos, não é científica.
Será a hipótese espirítica científica? A resposta é sim, pois não lhe é creditada nenhum poder ilimitado ou infinito. Pode-se testá-la, questioná-la e identificar uma série de elementos indicativos, particulares ao problema em análise. Se um desencarnado se identifica, as informações por ele prestadas dizem respeito às suas atividades quando em vida; não se considera que tenha ciência de informações ou apresente capacidades superiores à sua natureza. Considera-se apenas que a morte não exterminou sua memória e sua individualidade. Quanto às levitações, materializações e outros eventos formidáveis, a literatura registra as condições especiais em que se manifestam e os limites bem definidos destes prodígios. Logo, a hipótese espirítica, é importante ratificar, embora considere elementos que ultrapassam as fronteiras físicas tradicionais, não advoga sobrenaturalidade ou superpoderes indeterminados.
Por outro lado, é verdade que certas hipóteses científicas, por serem primitivas ou primordiais (se situam num ponto básico de uma escala de conhecimentos), nunca podem ser falseadas, e deste modo, criam limitações à idéia de Popper. Assim sendo, o critério da falseabilidade não pode ser empregado isoladamente como critério de identificação de modelos científicos. É o caso da lei da conservação de energia. Se, por alguma razão, o balanço energético num sistema natural não for obedecido, pode-se facilmente aventar a existência de uma nova forma de energia, ainda não conhecida, que se introduz no processo. É verdade que é preciso muitos e muitos testes para que, num caso como este, seja eliminada a possibilidade de erro de medida, interpretação, cálculos etc. No entanto, a anti-matéria e outras partículas sub-atômicas foram descobertas exatamente assim, para ‘fechar’ o balanço de energia.
O leitor perceba que as coisas não são muito simples como parecem em princípio. Há muitos fatores eminentemente subjetivos ainda na alçada da ciência.
O que se pode chamar de testabilidade é uma característica bastante explorada pelos estudiosos da filosofia da ciência, que buscam assim distinguir as teorias científicas das não-científicas. Neste último rol estão incluídas não somente as proposições errôneas ou pseudo-científicas, mas também as teorias filosóficas, metafísicas, teológicas etc., que pertencem a outros ramos de conhecimento.
Em síntese, este quesito estabelece que uma teoria, se científica, deve ser passível de verificação. Não se exige que tenha sido verificada, pois pode estar relacionada a fenômenos cujas manifestações subseqüentes virão a ocorrer apenas num futuro próximo, como é o caso de qualquer objeto de análise do tipo ‘observável’. Exemplos dessa natureza são comuns na astronomia, como é o caso das pesquisas sobre os cometas. Também foi o caso da teoria einsteiniana da curvatura do espaço devido à presença de grandes massas, verificada muitos anos depois de seu enunciado, graças à ocorrência de um eclipse, no qual o Brasil serviu como posto de observação privilegiado do fenômeno.
Naturalmente, o intervalo que medeia o estabelecimento da teoria e sua verificação deve ter algum limite de referência. Para ilustrar, considere a formulação de uma teoria que descreve o modo de vida dos seres num planeta recém-descoberto em outro sistema galáctico. É uma teoria que não pode ser considerada científica, pois somente será verificável num prazo indeterminado.
Este critério tem indiscutível utilidade, pois descarta uma série de teorias eminentemente metafísicas, que aparecem em disciplinas em formação e, especialmente, no campo do psiquismo e outros estudos transcendentais, como a astrologia. Por exemplo, nesta disciplina há a teoria de que tudo se relaciona no universo, como no caso da queda de uma flor excitando uma estrela distante; tal teoria pode não estar errada, mas não é científica, pois não é testável.
Com a abertura que a física moderna e a matemática impuseram, enfatizando a existência de sistemas não-lineares, princípios não-causais e a própria retratividade do tempo, muitos pensadores se arvoraram em propor teorias bem audaciosas. Conforme foi enfatizado no item anterior, uma vez que estas formulações se opõem à lógica, é preciso cautela. A ausência de testabilidade é um indicativo que tais teorias não são satisfatoriamente científicas.
É preciso ressaltar que a testabilidade não garante que a teoria seja científica, pois é preciso haver outras características, outros indicativos de consistência.
Também se deve perceber que uma teoria testável pode ser errada, mas nem por isso deixa de ser científica. A natural falibilidade da ciência, que será bem explorada mais à frente em capítulo específico, aceita que as teorias dadas como verdadeiras se derroquem, dando lugar a outras mais precisas, produzindo uma certa oscilação no processo de geração do saber. Mas embora essa dinâmica faça parte do processo, esta instabilidade gerada pela formulação de teorias meramente especulativas sempre incomodou alguns estudiosos e os inspirou a formalizar critérios de distinção das teorias verdadeiramente científicas das não-científicas.
Uma das primeiras características a serem propostas foi a testabilidade, denominada falseabilidade por seu criador, Popper, que exacerbou seu alcance. Mas, de um modo geral, o critério da falseabilidade pode ser adequadamente empregado ao estabelecer que se uma proposição é científica, deve ser sujeita á testabilidade, com vistas ao seu falseamento. Assim, uma teoria é científica se puder ser submetida a questionamentos, demonstrações ou experimentações. Se futuramente vier a mostrar falhas e conseqüentemente ser abandonada e substituída por outras, não perderá seu status de científica, apesar de não servir para nada.
Enfatiza-se mais uma vez que, desde a apresentação do quadro comparativo de Trujillo (capítulo II, p. 41), a ciência não se arvora como infalível; procura sim compreender; de modo cada vez mais completo, a realidade, sabendo que este processo envolve tentativas e erros.
Neste contexto, um exemplo ligado ao campo do paranormal é interessante. Existem proposições pretensamente científicas, usadas para combater a doutrina espírita, que não obedecem ao critério da falseabilidade. Considere-se o caso da onipotência do inconsciente, também chamado de superinconsciente, hipótese aventada para explicar uma gama enorme de fenômenos psíquicos intelectivos, como a telepatia, psicocinésia, poltergeist, mediunidade e, principalmente, os casos de identificação de espíritos desencarnados. Segundo essa teoria, estes e muitos outros fenômenos resultariam de um poder normalmente involuntário, que, se localizando no interior do ser humano e se exteriorizando de modo ainda pouco explicado, dar-lhe-ia ciência sobre aspectos pessoais de outrem, conhecimento geral do passado, presente e futuro, e ainda ofertando-lhe uma força física formidável. Se levada a sério, esta hipótese facilmente implicaria num poder infinito contido no inconsciente humano, em que cada ser transformar-se-ia literalmente em um Deus. Nestas condições, por exemplo, a psicocinésia (movimentação de objetos por meios não-físicos), poderia ser aventada para explicar os maremotos, terremotos e acidentes em geral, sem poder ser refutada. Quem poderia dizer que um tufão não foi obra involuntária de um paranormal ou de inconscientes coletivos afetos a grandes catástrofes? Logo, tal hipótese, denominada ‘telergética’, bem ao gosto dos parapsicólogos católicos, não é científica.
Será a hipótese espirítica científica? A resposta é sim, pois não lhe é creditada nenhum poder ilimitado ou infinito. Pode-se testá-la, questioná-la e identificar uma série de elementos indicativos, particulares ao problema em análise. Se um desencarnado se identifica, as informações por ele prestadas dizem respeito às suas atividades quando em vida; não se considera que tenha ciência de informações ou apresente capacidades superiores à sua natureza. Considera-se apenas que a morte não exterminou sua memória e sua individualidade. Quanto às levitações, materializações e outros eventos formidáveis, a literatura registra as condições especiais em que se manifestam e os limites bem definidos destes prodígios. Logo, a hipótese espirítica, é importante ratificar, embora considere elementos que ultrapassam as fronteiras físicas tradicionais, não advoga sobrenaturalidade ou superpoderes indeterminados.
Por outro lado, é verdade que certas hipóteses científicas, por serem primitivas ou primordiais (se situam num ponto básico de uma escala de conhecimentos), nunca podem ser falseadas, e deste modo, criam limitações à idéia de Popper. Assim sendo, o critério da falseabilidade não pode ser empregado isoladamente como critério de identificação de modelos científicos. É o caso da lei da conservação de energia. Se, por alguma razão, o balanço energético num sistema natural não for obedecido, pode-se facilmente aventar a existência de uma nova forma de energia, ainda não conhecida, que se introduz no processo. É verdade que é preciso muitos e muitos testes para que, num caso como este, seja eliminada a possibilidade de erro de medida, interpretação, cálculos etc. No entanto, a anti-matéria e outras partículas sub-atômicas foram descobertas exatamente assim, para ‘fechar’ o balanço de energia.
O leitor perceba que as coisas não são muito simples como parecem em princípio. Há muitos fatores eminentemente subjetivos ainda na alçada da ciência.