O Despertar da Existência

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

O Despertar da Existência

Mensagem por zencem »

Eu acredito no que aqui está escrito.
Sei que é um texto um tanto comprido, impróprio, para ser lido de uma só vez, na tela de um computador.

Sugiro que ele seja impresso, para ser apreciado em doses, em qualquer lugar em que a leitura não se torne um saco.

Até no banheiro, naquela hora em que não gostamos de ficar concentrados no que estamos fazendo, (hehehe!), é uma boa. Ajuda a fugir da realidade. (hehehe!)
Eu faço isso em textos grandes e acho ótimo.

Sua amiga está grávida? Seu amigo está grávido? Imprima e ofereça este presente.


O DESPERTAR DA EXISTÊNCIA
Por zencem
Agradecimentos a Res Cogitans e Delerue

Em 1920, o reverendo Singh encontrou, em uma caverna, duas crianças que viviam entre lobos. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos.
Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o rev. Singh levou-as para o orfanato que mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização das duas meninas-lobo. Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão era melhor à noite do que de dia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser encontrada. Kamala viveu por mais oito anos sem, contudo, aprender a falar, ler, usar o banheiro ou a ter qualquer comportamento que pudesse ser considerado próprio de seres humanos.”A única emoção que demonstrou em todos esses anos foi algumas lágrimas, que caíram de seus olhos, no dia em que Amala morreu.


O fato acima, ultrapassando os limites de um acontecimento curioso e, de certa forma, emocionante, nos dá pistas sobre a formação da consciência humana assim como rudimentos para algumas reflexões sobre “a responsabilidade” que a sociedade tem sobre esta formação.

O que, com efeito, explicaria o insucesso do Reverendo Singh em restabelecer as condições naturais de um ser racional, principalmente, em Kamala, já que, embora tenha sido criada por lobos, era um ser semelhante a nós racionais?

Isso leva a cogitar que há algo extraordinário na consciência humana, que determina as semelhanças, que se configura em determinado período da vida, e que é capaz até de transformar alguém, espiritualmente, de uma espécie, em outra completamente estranha à sua.

Corroborando no sentido de fornecer mais elementos para esta reflexão, cito, também, outro fato interessante, onde o avanço da ciência “possibilitou, a recuperação do órgão da visão” da paciente “MM”, “aos 45 anos”, cega quando ainda bebê, mas que, apesar da ajuda da ciência, não conseguia concretizar o ato de ver, tendo como motivo, a incapacidade do cérebro em processar e compreender os dados das imagens que recebia, e que levou a conclusão de que, dificilmente, voltaria a enxergar normalmente, apesar da vista estar recuperada.

Isso, talvez, esteja nos revelando, que a construção de nossa consciência, faculdades, capacidade cerebral, caráter, forma de sentir e de pensar, se assenta numa estrutura de formatos, instalados no primeiro período de nossa existência, circunscrito entre o nascimento e os seis anos iniciais, determinando o que seremos, pelo resto da vida.
Não é à-toa que os traumas ocorridos nesse período são devastadores, causando as seqüelas que nos acompanham em todo o existir.
Sem dúvida que o aprendizado, que vem depois desse período, será sempre bitolado por uma razão atrofiada, se, “neste período”, a criança não for cuidada e protegida do obscurantismo e de idéias que não representem fatos que ela possa compreender.

Estes dois relatos podem servir de referência, para descobrirmos que, o que somos depois de uma determinada idade, tem uma conexão com aquilo que ficou instalado no início da vida, não havendo condições da mente desenvolver determinadas capacidades se não houver a correspondente formatação, elaborada no despertar da existência.
Para ratificar isso, me valho de mais três exemplos:

a) Segundo pesquisa realizada pelo Governo de São Paulo, crianças que freqüentaram creches e jardim de infância até aos 6 anos, tem a capacidade de aprender diferenciada, quando comparadas com as que não freqüentaram.

b) Que crianças, até 6 anos, se submetidas a um ambiente apropriado, aprendem a falar, simultaneamente, vários idiomas, enquanto que, na condição de adultas, têm notável dificuldade em aprender outro idioma.

c) A peculiaridade estranha do cérebro humano, quando alguém sofre amputação de uma perna e continua a senti-la, como se ela ali estivesse tão presente, quanto não a tivesse perdido. É de se supor que este fenômeno não deve ocorrer em alguém, que tenha nascido sem tal membro, ou que tenha sido amputado em período próximo ao nascimento.

Este é um fato eloqüente nos confirmando que, uma vez definida a sua programação, o cérebro fica a ela condicionado “sem conseguir mais disso se livrar”, mesmo diante da mudança indiscutível, gerada por uma nova realidade.

“O que nos torna humanos?”

Faria parte da resposta a esta questão, algo que elucide o fato de sermos tão divididos e destruidores como, a bem da verdade, temos sido até hoje, com esta mente enclausurada, conflituosa e limitada, que não condiz com um animal, supostamente, superior, racional, como estamos condicionados a pensar, e que, portanto, deveria, com facilidade, achar solução para seus problemas?
Ou quem sabe até, algo que nos mostre o caminho, que nos vislumbrasse a oportunidade de descobrir “no que podemos nos tornar”, movidos, quem sabe, pelo inconformismo com esta realidade, optando por uma compreensão que nos conduza a um ser mais elevado, que se capacite, não só a conhecer e se libertar de seu obscurantismo, mas também, e por isso mesmo, a construir as condições para a paz, a harmonia e o amor.

Que espécie de humano sou, ou me satisfaço em ser?

Preferindo a conclusão de que o conflito e a divisão sejam mesmo uma fatalidade, da qual não podemos nos livrar; seria bastante simular uma dessas matizes ilusórias da nossa hipocrisia, diante desta variação de significados, que a palavra humano possa nos oferecer.

Ou seria melhor reconhecermos de uma vez que, na realidade, somos também irracionais como os outros animais, com um potente hardware, é verdade, que nos confere mais um diferencial de periculosidade do que a distinção de um suposto atributo espiritual?

Sim, porque de pouco adianta nos distinguirmos “como racionais”, se não somos capazes de aprender a nos livrar dessa fatalidade.

Por conseguinte, se o animal irracional, com seu cérebro rudimentar, é capaz de satisfazer, adequadamente, os objetivos comportamentais para que foi programado, pode-se concluir que a maneira de ver o homem como um Ser superior, distinto e evoluído, não passa de uma presunção estúpida, já que não conseguiu ser mais do que um projeto comprovadamente mal sucedido... um desastre para a natureza, para a sociedade e para si mesmo.
Para o conjunto da vida, o homem parece ser a comprovação de que
monstros existem.

Onde poderia, então, estar o problema?

Bem, o homem possui a mente como ferramenta, cuja utilidade é guiar suas ações.
Ela possui dois aspectos importantes: um é o formado pelos sentidos, que funcionam como antenas para coloca-lo em contacto com o ambiente com que se relaciona, e outro é a memória, que lhe fornece os dados do conhecimento que traduzem o que é experimentado, possibilitando à mente raciocinar e definir a ação.
Portanto, uma mente nutrida de bons conhecimentos, está capacitada para boas soluções.
Tais conhecimentos, formados pelos dados contidos na memória, serão “tão preciosos quanto o nível de realidade”, de que são formados estes dados.

A ciência construída pelo homem, e que é responsável pelo seu desenvolvimento material é constituída de dados de “alta veracidade”, que se acumularam durante séculos, mantendo sempre este sentido de realidade, construindo conceitos que são aceitos universalmente, sem provocar sectarismos.
Portanto, a ciência é o único fenômeno de união humana, porque se baseia na observação da realidade.
Mas isso é apenas um aspecto da mente.
Existem outros, onde, nem todos os dados contidos na memória representam fatos reais, principalmente, quando se referem aos que formam a consciência e que trabalham as emoções e os sentimentos, que fazem parte do relacionamento com o ambiente e a sociedade.
Se os dados desta área tivessem seguido o mesmo critério de realidade do conhecimento científico e que tal conhecimento fosse produto de experiências reais, certamente teríamos uma humanidade iluminada, mais sábia, tranqüila e feliz.
Como não é, eis a razão, a meu ver, da nossa ruína espiritual, de nossos conflitos e depressões.
Portanto, se o (2+2 = 4), é um dado que pode ajudar-nos a resolver problemas lógicos, crer em superstições e invencionices é um dado que causa a distorção e o obscurantismo e nos leva a agir, subjetivamente, pela emoção do medo, gerando confusão, ansiedades, stress, enganação, charlatanismo, etc...
Assim, dados irreais funcionam na nossa mente como vírus de computador, deixando-a limitada e estúpida, ou reduzindo a sua capacidade de processar a compreensão.
Dados irreais, que vão formar “o condicionamento da mente”, são dados enganadores, que podemos chamá-los de parasitas ou MEMES, e que tem a finalidade apenas de frustrar a capacidade da inteligência.

Penso que está neste condicionamento a chave de nossos problemas, pois que, enquanto no chamado animal irracional, a programação é o instinto natural; no homem, ela segue uma variação artificial, diversa e instável conforme a cultura em que se vive, sintetizada a partir da acumulação da própria experiência e da influência de idéias e fantasias que surgiram para dominá-lo, como um véu que ofusca “o sentimento de importância que ele deveria dar à realidade”.
Daí, o choque entre o que é incontestável contido na natureza e o que é passível de suspeição contido na artificialidade humana.

Materialmente, aplicamos nossa inteligência com sucesso, para superar nossas dificuldades junto aos desafios com a natureza; Já no campo mental, ou espiritual, somos incapazes de ver com clareza as nossas dificuldades e pôr em prática, com naturalidade, um caminho comum, que nos leve à harmonia.
Bem dizendo, somos castrados para não sentir a importância de solucionar tais dificuldades, embora elas causem muito mais insegurança, desconforto e ameaças do que a materialidade da natureza, em relação a qual, obedecendo aos princípios da verdade, temos logrado esse incontestável sucesso.

Cada um de nós tem um pouco de KAMALA, definitivamente implantado na consciência: É quase impossível aprender o NOVO, e se, para alguns, há a dádiva deste encantamento pela verdade, para a grande maioria, nem esta oportunidade se oferece. Somos cérebros que continuam a querer andar com a perna amputada.
Os casos KAMALA e MM servem-nos de um alerta para constatar que, embora o descobrimento da verdade pelo livre pensar possa operar um resultado espetacular em nossa consciência, restarão sempre seqüelas daquilo que se formou no início da vida:
É ali, onde fica sentenciado o nosso destino, as nossas emoções e a nossa capacidade de viver e de pensar.

Mais do que nunca, se torna eloqüente o pensamento de Saint Exuperie, ao se ver diante daquele bebê que estava sendo amamentado por sua mãe:
“Eis aí um Mozart.
Cuidado, educado, o que não seria ele?
...Mas Mozart está condenado.
Não haverá jardineiros para ele.
Mozart entrará para esta estranha máquina de entortar homens e fará as suas alegrias mais altas, da música podre dos cafés-concertos.
“Mozart está morto”...
...Porque será educado por uma sociedade doente, cheia de fanatismos, cheia de gente interessada em que a ele sejam vedados “os princípios da verdade, da liberdade e do respeito à individualidade”.
As religiões, as instituições políticas, que são a amostra do que de mais torpe e hipócrita tem a humanidade, tratarão de fazer de Mozart mais uma aberração.
Por isso são tão sôfregos em professar religião nas escolas.
Bem aventurada és tu, KAMALA, que foste educada pelos lobos.

Certamente, se existe paraíso, estás lá, grandiosa na tua solidão, junto com tua irmãzinha AMALA, sem a marca que “os impostores infligem em nossa alma infantil, como se fôssemos gados de sua propriedade”.

Avatar do usuário
videomaker
Mensagens: 8668
Registrado em: 25 Out 2005, 23:34

Re: O Despertar da Existência

Mensagem por videomaker »


Um estorinha em homenagem a este fato .

A Noite de lua cheia papai ouviu um uivo que parecia de um lobo.

Mamãe disse que dia de lua cheia algo vira lobisomem e sai pela cidade destruindo tudo que vê pela frente e uiva como lobo, mas é um lobisomem.

Quando eu vejo a lua cheia, o meu irmão Lucas fica tremendo tanto com medo desse monstro que faz até a minha boneca cair.


Autora: Jessica Camila Jorge
Idade: 7 anos
Escolaridade: 1a. do Fundamental - Recife - Pe


Ou seriam as irmãs Ramala e Camala !!!!!!!!!!!
:emoticon5:

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

Isso leva a cogitar que há algo extraordinário na consciência humana, que determina as semelhanças, que se configura em determinado período da vida, e que é capaz até de transformar alguém, espiritualmente, de uma espécie, em outra completamente estranha à sua.



Estava traduzindo ( :emoticon4: adivinhando) o site que o Res sugeriu no seu tópico atual, e lá deu pra saber que Amala, a mais nova, era mais sensível ao aprendizado, ao contrário de Kamala, que já teria 8 anos, ou seja, segundo as conclusões atuais, já teria ultrapasssado o período mais importante da configuração da capacidade do aprendizado do ser humano.
Veja só a importância desse período, entre zero à 6 e 7 anos, e a responsabilidade que temos na seleção daquilo que ela aprende neste período, onde poderemos otimizar a sua capacidade de pensar com clareza, ou determinar a sua derrota rumo ao obscurantismo, que a fará incapaz de resolver a maioria de nossos mais ridículos problemas humanos.
Neste período, a mente está completamente aberta, sem nenhuma capacidade de prevenção contra a falácia, o que a torna um inocente alvo de todos os virus implantados pela irracionalidade das doutrinas humanas.

Avatar do usuário
Márcio
Mensagens: 1733
Registrado em: 12 Nov 2005, 01:14
Gênero: Masculino
Localização: São José do Rio Pardo-SP
Contato:

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por Márcio »

Zencem...
Só agora eu ví seu Tópico, vou imprimí-lo e ler com calma.

Abraços...
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

Avatar do usuário
Márcio
Mensagens: 1733
Registrado em: 12 Nov 2005, 01:14
Gênero: Masculino
Localização: São José do Rio Pardo-SP
Contato:

Mensagem por Márcio »

Comentando o ‘’O Despertar da consciência’’

Antes gostaria de dizer que gostei muito do texto de autoria do Zencem.
Muito apropriadamente nos remete à algumas reflexões acerca do funcionamento da mente humana, dando pistas muito plausíveis que podem conduzir à uma explicação que deve satisfazer muitas consciências sedentas por conhecimentos.

No exemplo citado das irmãs Amala e Kamala, ainda que ocorrido há muito tempo(1920) e supondo que seja em parte verdade, pelo menos tem a capacidade de nos direcionar para uma linha promissora de investigação, nos remetendo à exemplos incontestáveis que existem nos tempos atuais.

Exemplos como, os grupos humanos que ainda vivem em condições selvagens ou semi-selvagens pelo mundo, grosso modo reproduzem aproximadamente um ambiente tal qual aquele em que as ‘’crianças-lobo’’ viviam, evidentemente a diferença é que são humanos vivendo com humanos, diferentemente delas que viviam exclusivamente com animais.

A comparação entre tais grupos com nossa própria civilização moderna, focando nos indivíduos, vai muito ajudar na elucidação de como pode funcionar a estrutura da mente do homem.

O homem parece ser em parte, um fruto do meio em que vive, sendo que o ambiente tem um papel ‘’formatador’’ muito importante na constituição das estruturas que compõem a mente, principalmente no seu início. Lembre-se que por ambiente devemos entender tudo aquilo que nos cerca, incluindo o próprio elemento humano que tem a capacidade de modificar esse mesmo ambiente de uma forma muito rápida.

Perceba que o que difere a mente humana de uma mente mais simplificada, é justamente a capacidade inata do homem de alterar rapidamente o ambiente à sua volta.

Disso resulta o processo de se alterar também a ‘’formatação’’ das futuras gerações, ou seja: o homem que aprende com aquilo que absorve do meio, altera esse meio, que por sua vez motiva uma nova geração que incorpora as novas modificações; é como se à cada vez, de tempos em tempos novas versões mentais fossem sendo criadas à partir da anterior, muito semelhantemente aos programas de computador.

Podemos chamar isso de evolução, não pense em evolução usando conceitos relativos humanos, entretanto, entenda o termo evolução como um fator que tem o papel apenas de alterar cada vez mais o meio e a mente de quem sente esse meio.

Voltemos ao cerne da questão de como a mente funciona, propondo algumas teorias.

A mente parece ser o resultado de uma dinâmica que ocorre em estruturas existentes no cérebro, até alguns tempos atrás não tínhamos máquinas computacionais tais quais os computadores modernos, e não é por acaso que cada dia que passa, esses se assemelham cada vez mais, em funcionamento e conceito estrutural, ao próprio cérebro.

Eu não tenho dúvida nenhuma de que num futuro não tão distante, máquinas artificiais serão capazes de imitar tão bem a inteligência humana que poderemos dar-lhes o status de MENTE CONSCIENTE, e isso implicará definitivamente no fim do mito do ‘’espírito/alma’’, concebido como algo(uma energia) externo e dissociado do corpo/cérebro.

Com a tecnologia atual podemos perfeitamente criar entidades computacionais que imitam ou se comportam tão bem como alguns seres vivos mais rudimentares, o comportamento quase que automático dos insetos pode ser copiado por um bom programa em uma máquina, não me refiro especialmente ao corpo, mas à mente simples.

Pois bem, nosso cérebro parece ser composto de partes distintas, possui uma memória principal, processadores diversos que funcionam ininterruptamente, executa funções internas automáticas, monitora constantemente os vários sistemas do corpo, monitora as informações vindas dos diversos sensores que captam inputs externos, e sobretudo parece ser dividida em duas grandes partes, uma inconsciente que executa todas as funções automáticas que mantém o funcionamento de tudo, outra consciente e tomadora de decisões acerca de nossas ações sobre o ambiente e nós mesmos.

Sabemos que a mente não nasce pronta, ela não é estática, muito ao contrário, ao longo da vida é um constante e ininterrupto fervilhar de ações internas geradas pelos fatores externos gerando alterações constantemente.

O cérebro se inicia com uma programação mínima necessária para se manter um funcionamento eficaz da máquina orgânica, a parte inconsciente e automática é dominante nesses primórdios da vida.

Os programas formadores dos instintos estão ativos e operantes, a mente consciente quase que não tem um papel significativo nesses primeiros instantes, a consciência é mínima.

As informações vindas dos sentidos que constantemente funcionam, geram apenas as respostas automáticas, a mente ainda não é capaz de tomar decisões conscientes e complexas, simplesmente não ‘’sabe’’ o que fazer com elas e tudo fica à cargo da parte automática.

Conforme o sistema cerebral vai sendo estimulado, vai-se armazenando dados e o processo de se comparar os dados que entram com aqueles armazenados acontece segundo uma programação interna pré-existente que vai constantemente criando redes neurais específicas.

Se houver estímulo de associação, tipo imagem-som, vão-se ampliando as capacidades e possibilidades, e a linguagem sonora começa à surgir.

Rapidamente a parte consciente começa à dominar mais e a ter um papel cada vez mais importante na formação do comportamento do ser.

Quando as redes neurais estão em formação nos primeiros anos de vida, elas adquirem características próprias do meio em que estão vivendo, seria como se os espaços vazios fossem sendo preenchidos de informações formadoras do ser como um todo, mas sempre conforme certas preferências inatas, herdadas e/ou adquiridas.

Talvez seja por isso que após muito tempo assimilando um dado ambiente mínimo, seja difícil uma alteração interna mental posteriormente com o estímulo de um ambiente radicalmente diferente, isso se deve talvez a pouca capacidade de se modificar as formações já construídas pelas estruturas cerebrais durante os primeiros anos de existência.

No caso de um cego de nascença que após muitos anos tem sua visão restaurada, mas que no entanto não consegue ‘’ver’’, eu diria que não basta se ter o estímulo da visão imediatamente restaurado, há que se aprender a ver e isso implica em se ter as estruturas cerebrais que possibilitem receber os sinais correspondentes ao que se vê, e elas só são formadas adequadamente por meio de estímulos constantes. A visão dessa pessoa seria igual a visão de um bebê que abre os olhos pela primeira vez. E talvez não se consiga formar tais estruturas cerebrais da visão tão facilmente quanto nos primeiros dias de vida.

Houve uma pessoa que nasceu cega e surda, aqui onde moro, viveu bastante, e teve uma certa autonomia dentro do seu ambiente, aprendeu e construiu seu mundo através dos sentidos táctil, olfato e paladar. Imagine-se como seria sua mente consciente!?

Ela era capaz até de cozinhar, ordenar os objetos em seus lugares, reconhecia as pessoas primeiro pelo olfato, depois pelo tacto. E era capaz de emitir sons simples.

Como seria se, de repente, essa pessoa tivesse sua visão e audição restaurados depois de tanto tempo?
Acho que ficaria desnorteada com o bombardeio de inputs desconhecidos, se é que esses inputs seriam sentidos sem uma estrutura cerebral adequada formada.


Em resumo, cada ser é único, e o papel do ambiente na sua formação é gritantemente importante, assim como o papel modificador da mente sobre o ambiente.

Somos à um só tempo, agentes modificados e modificadores, numa simbiose constante com o nosso meio ambiente, e isso quer dizer que formamos sempre as gerações futuras em suas novas versões.

E isso tudo parece ser movido, sobretudo, por uma sede de conhecimento.

Quanto à sensação de alma/espírito, bem, até prova em contrário, parece mesmo ser apenas uma forma diferente de se sentir a mente cerebral.
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

Márcio escreveu:Comentando o ‘’O Despertar da Existência’’

****

Disso resulta o processo de se alterar também a ‘’formatação’’ das futuras gerações, ou seja: o homem que aprende com aquilo que absorve do meio, altera esse meio, que por sua vez motiva uma nova geração que incorpora as novas modificações; é como se à cada vez, de tempos em tempos novas versões mentais fossem sendo criadas à partir da anterior, muito semelhantemente aos programas de computador...



Muito boas as tuas reflexôes sobre o tema, Marcio.

Eu separei um trecho que mais me tocou, porque me remete a importância de se dar atenção ao aspecto da individualidade humana.

Como se vê, seja formatado por diversas culturas, ou até mesmo por se ter sido criado por lobos, o que se sente é que o homem é condenado à alienação.

No entanto, será que, como sociedade, interessada seriamente em se livrar do lado medíocre e negativo que as distorções dessa formatação generalizada nos oferece, não seria a hora de nos preocupar em proteger o ser humano em sua individualidade, para que ele não continue a ser um mero transmissor dos muitos equívocos e poucos acertos de sua cultura?

Eu penso que seríamos mais responsáveis, se fôssemos mais seletivos e protetores do potencial de cada indivíduo, não somente como agente de transmissão de heranças culturais, mas principalmente como ser criativo, livre e inteligente, capaz de corrigir e revolucionar, realmente, o meio em que vive.

Quando nossas instituiçoes estarão dispostas a dar um basta à essa exposição de todo o seu meio perverso e obscuro que é a base que condiciona o inábil homem moderno?

Acho que está na hora de nos preocupar mais em dar e exigir as condições para que nossos descendentes possam pertencer, realmente, a classe de animal racional, para não continuar se perdendo nessa tola convicção de que somos algum ser superior.

abraços!




Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

Encontrei, através do Google, o texto que faz parte do livro Terra dos Homens, que lí há 45 anos atráz, e de onde tirei a inspiração para compor este tópico. Vale a pena ler.

Última página

E agora aqui, na ultima página deste livro, eu me lembro daqueles burocratas envelhecidos que nos serviram de cortejo na madrugada de nosso primeiro vôo, quando nos preparávamos para virar homens, tendo tido a sorte de ser designados.

Eles eram semelhantes a nós, mas não sabiam que tinham fome.

E há muitos homens assim, dormindo, sem que ninguém os desperte.

Há alguns anos, durante uma longa viagem de estrada de ferro, resolvi visitar aquela pátria em marcha, em que ficaria por três dias, prisioneiro, durante os três dias, daquele ruído de seixos rolados pelo mar.
Levantei-me.
Pela uma hora da madrugada corri os carros, de ponta a ponta. Os dormitórios estavam vazios.
Os carros de primeira classe estavam vazios.

Mas os carros de terceira estavam cheios de centenas de operários poloneses despedidos na França, que voltavam para a sua Polônia. Caminhei pelo centro do carro levantando as pernas para não tocar nos corpos adormecidos.

Parei para olhar.
De pé, sob a lâmpada do carro, contemplei naquele vagão sem divisões que parecia um quarto, que cheirava a caserna e a delegacia, toda uma população confusa, sacudida pelos movimentos do trem.
Toda uma população mergulhada em sonhos tristes, que regressava para a sua miséria.
Grandes cabeças raspadas rolavam no encosto dos bancos. Homens, mulheres, crianças, todos se viravam da direita para a esquerda, como atacados por todos aqueles ruídos, por todas aquelas sacudidelas que ameaçavam seu sono, seu esquecimento.
Não achavam ali a hospitalidade de um bom sono.

E assim eles me pareciam ter perdido um pouco a qualidade humana, sacudidos de um extremo a outro da Europa pelas necessidades econômicas, arrancados à casinha do Norte, ao minúsculo jardim, aos três vasos de gerânio que notei outrora nas janelas dos mineiros poloneses.
Nos grandes fardos mal arrumados, mal amarrados, eles haviam juntado apenas seus utensílios de cozinha, suas roupas de cama e cortinas.
Mas tudo o que haviam acariciado e amado, tudo a que se haviam afeiçoado em quatro ou cinco anos de vida na França, o gato, o cachorro, os gerânios, tudo tiveram de sacrificar, levando apenas aquelas baterias de cozinha.

Uma criança chupava o seio de sua mãe que de tão cansada parecia dormir.
A vida transmitia-se assim no absurdo e na desordem daquela viagem.

Olhei o pai. Um crânio pesado e nu como uma pedra.
Um corpo dobrado no desconforto do sono, preso nas suas vestimentas de trabalho, um rosto escavado com buracos de sombra e saliências de ossos.
Aquele homem parecia um monte de barro.
Era como um desses embrulhos sem forma que se deixam ficar à noite nos buracos das feiras.

E eu pensei: o problema não reside nessa miséria, nem nessa sujeira, nem nessa fealdade.
Mas esse homem e essa mulher sem dúvida se conheceram um dia, e o homem sorriu para a mulher; levou-lhe, sem dúvida, algumas flores depois do trabalho.
Tímido e sem jeito, ele temia ser desprezado.
Mas a mulher, por fagueirice natural, a mulher, certa de sua graça, talvez se divertisse em inquietá-lo.
E ela, que hoje é apenas uma máquina de cavar ou de martelar, sentia assim no coração uma deliciosa angústia.

O mistério está nisso: eles se terem tornado esses montes de barro.
Por que terrível molde terão passado, por que estranha máquina de entortar homens?
Um animal ao envelhecer conserva a sua graça.
Porque essa bela argila humana se estraga assim?

E continuo minha viagem entre uma população de sono turvo e inquieto.
Flutua no ar um barulho vago feito de roncos roucos, de queixas obscuras, do raspar das botinas dos que se viram de um lado para outro.
E sempre, em surdina, o infatigável acompanhamento dos seixos rolados pelo mar.

Sento-me diante de um casal.
Entre o homem e a mulher a criança, bem ou mal, havia se alojado, e dormia.
Volta-se, porém, no sono, e seu rosto me aparece sob a luz da lâmpada.
Ah, que lindo rosto!
Havia nascido daquele casal uma espécie de fruto dourado. Daqueles pesados animais havia nascido um prodígio de graça e encanto.

Inclinei-me sobre a testa lisa, a pequena boca ingênua.
E disse comigo mesmo: eis a face de um músico, eis Mozart criança, eis uma bela promessa de vida.
Não são diferentes dele os belos príncipes das lendas. Protegido, educado, cultivado, que não seria ele?

Quando, por mutação, nasce nos jardins uma rosa nova, os jardineiros se alvoroçam.
A rosa é isolada, é cultivada, é favorecida.
Mas não há jardineiros para os homens.
Mozart criança irá para a estranha máquina de entortar homens.
Mozart fará suas alegrias mais altas da música podre na sujeira dos cafés-concertos.

Mozart está condenado.

Voltei para o meu carro.
E pensava: essa gente quase não sofre o seu destino.
E o que me atormenta aqui não é a caridade.
Não se trata da gente se comover sobre uma ferida eternamente aberta.
Os que a levam não a sentem.
É alguma coisa como a espécie humana, e não o indivíduo, que está ferida, que está lesada.
Não creio na piedade.
O que me atormenta é o ponto de vista do jardineiro.
O que me atormenta não é essa miséria na qual, afinal de contas, um homem se acostuma, como no ócio.
Gerações de orientais vivem na sujeira e gostam de viver assim.

O que me atormenta, as sopas populares não remedeiam.
O que me atormenta não são essas faces escavadas nem essa feiúra.

É um pouco, em cada um desses homens, Mozart assassinado.




Só o Espírito, soprando sobre a argila, pode criar o Homem.

Terra dos homens - Olhando Mozart

[/b]

Avatar do usuário
Márcio
Mensagens: 1733
Registrado em: 12 Nov 2005, 01:14
Gênero: Masculino
Localização: São José do Rio Pardo-SP
Contato:

Mensagem por Márcio »

Vejo vagões assim, enfiados no seio de nossas cidades.

Nichos de miséria humana, tal qual jardins abandonados, sem jardineiros capazes de cuidar bem dos frutos gerados.

Como? Se tais jardineiros também são frutos desse meio...insano.

Também cada morada é um jardim, jardim minúsculo, onde todo ser que alí nasce, tal qual uma frágil criatura de mente vazia, necessita de um sopro inicial, um cuidado constante, até poder caminhar com seus próprios pensamentos.

Oh...Civilização, soprai o fruto que vive em teu seio, fazei ventos...deixai a brisa fresca percorrer corredores imundos. Pode haver um Mozart, um Einstein, perdidos em chão estéril.
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

Márcio escreveu:Vejo vagões assim, enfiados no seio de nossas cidades.

Nichos de miséria humana, tal qual jardins abandonados, sem jardineiros capazes de cuidar bem dos frutos gerados.

Como? Se tais jardineiros também são frutos desse meio...insano.

Também cada morada é um jardim, jardim minúsculo, onde todo ser que alí nasce, tal qual uma frágil criatura de mente vazia, necessita de um sopro inicial, um cuidado constante, até poder caminhar com seus próprios pensamentos.

Oh...Civilização, soprai o fruto que vive em teu seio, fazei ventos...deixai a brisa fresca percorrer corredores imundos. Pode haver um Mozart, um Einstein, perdidos em chão estéril.


Olá, Márcio!

Estava lendo este texto e me ocorreu que ele tenha sido tirado do Terra dos Homens, tambem; Não foi?

Rapaz, já faz mais de 40 anos e ainda não esqueci o estilo inconfundível de Saint Exuperie.

Um abraço,



Crisipo
Mensagens: 12
Registrado em: 11 Jul 2007, 14:01

Mensagem por Crisipo »

cima

Solis
Mensagens: 27
Registrado em: 11 Jul 2007, 14:11

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por Solis »

up de novo. Isto sim é um tópico.

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Re: Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por zencem »

Solis escreveu:up de novo. Isto sim é um tópico.

Opa! :emoticon71:
Você me emocionou, cara. :emoticon45:



Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
AzraelOldschool
Mensagens: 221
Registrado em: 10 Jul 2007, 22:43
Localização: São Paulo - int.

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por AzraelOldschool »

descobri o texto agora e o topico tbm esta grande
mas vou ler com calma

estou fazendo como o aconselhado pelo zencem :emoticon16:
Maquiavel ñ disse nada q eu ja ñ soubesse uu,

Ubuntu então...

Dimítri
Mensagens: 223
Registrado em: 03 Mai 2007, 07:44

Re: O Despertar da Existência

Mensagem por Dimítri »

O que, com efeito, explicaria o insucesso do Reverendo Singh em restabelecer as condições naturais de um ser racional, principalmente, em Kamala, já que, embora tenha sido criada por lobos, era um ser semelhante a nós racionais?


Penso eu que a resposta é mais simples do que parece: essas condições não são "naturais".

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Re: O Despertar da Existência

Mensagem por zencem »

Dimítri escreveu:
O que, com efeito, explicaria o insucesso do Reverendo Singh em restabelecer as condições naturais de um ser racional, principalmente, em Kamala, já que, embora tenha sido criada por lobos, era um ser semelhante a nós racionais?


Penso eu que a resposta é mais simples do que parece: essas condições não são "naturais".


Já cheguei a considerar isso, também, principalmente, até pelo grau de irracionalidade deste nosso condicionamento.
Mas depois descartei por verificar que ela tinha dificuldade de aprender até o racional e o natural.

Aliás, os argumentos seguintes apontam pra isso.

É que parece que a natureza organizou o cérebro de tal forma para ser configurada num período inicial, a base do funcionamento para a existência restante.

Não que se feche o aprendizado, após os 6 ou 7 anos, mas que segue mais ou menos o formato de uma árvore, que cresce já construindo a sua sustentação para depois projetar, como um complemento, uma rede mais fina e especializada, onde estarão os ramos folhas e frutos.

Portanto, o ditado, "É de pequenino que se torce o pepino", era uma intuição sábia dos antigos, apesar que eles não tinham consciência de todas as influências que estariam agindo sobre esta verdade e o que se pode fazer para tirar um bom proveito de todo esse cenário.

Resta a saber, como proteger a criança neste mundo corrupto, caótico e devassado?

Sem dúvida que é uma equação complicada; mas o simples fato de ficarmos conscientes disso, vai nos estimular a pensar nas soluções possíveis e capazes de dinamizar e melhorar a educação dos filhos.


Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
videomaker
Mensagens: 8668
Registrado em: 25 Out 2005, 23:34

Re: O Despertar da Existência

Mensagem por videomaker »

Eu prefiro Mogli o menino lobo! é uma estoria mais bonitinha...
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

Apocaliptica

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por Apocaliptica »

Maravilhoso e humano texto. Para os que já viveram um bocado, talvez mais do que para os demais. Talvez mais assustador...mas real.

Apocaliptica

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por Apocaliptica »

Aquela questão da fase até os 7 anos é definitivamene verdade para a quase unanimidade dos seres humanos. O que acontece, é que os se salvam, seriam muitas vezes melhores se não tivessem sido condenados. É triste demais.

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

.
Recordando
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
Fernando Silva
Administrador
Mensagens: 20080
Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
Gênero: Masculino
Localização: Rio de Janeiro, RJ
Contato:

Mensagem por Fernando Silva »

zencem escreveu:Neste período, a mente está completamente aberta, sem nenhuma capacidade de prevenção contra a falácia, o que a torna um inocente alvo de todos os virus implantados pela irracionalidade das doutrinas humanas.

É necessário que a mente esteja aberta neste período para absorver o máximo de informação. Se a criança já tivesse desenvolvido o pensamento crítico, ela perderia tempo examinando os conhecimentos antes de aceitá-los.

O problema é que ela fica vulnerável aos charlatões. A religião se instala no cérebro como um tumor e depois é muito difícil removê-la. Na verdade, ela é como os traumas de infância: é possível localizá-los e perceber que são a causa de nossos problemas, mas não erradicá-los. Ficarão lá, enraizados, pelo resto da vida.

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

Fernando Silva escreveu:
zencem escreveu:Neste período, a mente está completamente aberta, sem nenhuma capacidade de prevenção contra a falácia, o que a torna um inocente alvo de todos os virus implantados pela irracionalidade das doutrinas humanas.

É necessário que a mente esteja aberta neste período para absorver o máximo de informação. Se a criança já tivesse desenvolvido o pensamento crítico, ela perderia tempo examinando os conhecimentos antes de aceitá-los.

O problema é que ela fica vulnerável aos charlatões. A religião se instala no cérebro como um tumor e depois é muito difícil removê-la. Na verdade, ela é como os traumas de infância: é possível localizá-los e perceber que são a causa de nossos problemas, mas não erradicá-los. Ficarão lá, enraizados, pelo resto da vida.


Digo mais, Fernando, é um período em que o ser humano responderá de forma importante, aos estímulos de um aprendizado, onde lhe seja oportunizada a coerência e a lógica.

Quando minha neta era bebê, eu ficava horas em sua frente, tentando fazer que ela descobrisse a relação do significado, do som de uma palavra, do formato da silaba, e a forma como a boca a reproduzia.
Mostrava a foto do pai, falava papai, e depois, ensinando a pronuncia-la: pá, suavemente, depois bem forte, pra que ela sentisse aos poucos os mecanismos utilizados para produzir aquele som.
Em poucos dias, quando descobriu como produzir seus primeiros engrizamentos, aprendeu a dizer, simultaneamente, pá e papai.
A partir daí, sua inteligência desencadou uma série de evoluções que resultou em uma fala precoce, em relação ao que, normalmente, se espera de uma criança.
Fiz, também, alguma experiência em outros aspectos, principalmente na descoberta do perigo, despertando-lhe a preparação para tirar proveito do medo natural para aquilo que a inocência de sua ação a pudesse colocar em risco em risco, etc...

Mas não vou me alongar, agora.

Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
DaviDeMogi
Mensagens: 1130
Registrado em: 01 Nov 2005, 14:35
Gênero: Masculino
Localização: Third rock from the sun

Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por DaviDeMogi »

Fernando SIlva escreveu:
...
A religião se instala no cérebro como um tumor e depois é muito difícil removê-la. Na verdade, ela é como os traumas de infância: é possível localizá-los e perceber que são a causa de nossos problemas, mas não erradicá-los. Ficarão lá, enraizados, pelo resto da vida

Não sei se lembram do meu dilema: sou separado da mãe do meu filho, que é evangélica. Ele está com 5 anos e frequentemente me pergunta porque não acredito em deus, já que a mãe insiste que ele existe.
Ando muito preocupado com isso ...
Creio na morte, única amante absolutamente fiel,
Creio na estupidez humana, única força com que se pode contar sempre,
E creio no humor, única forma de encarar a primeira e suportar a segunda.

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Re: Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por zencem »

DaviDeMogi escreveu:
Fernando SIlva escreveu:
...
A religião se instala no cérebro como um tumor e depois é muito difícil removê-la. Na verdade, ela é como os traumas de infância: é possível localizá-los e perceber que são a causa de nossos problemas, mas não erradicá-los. Ficarão lá, enraizados, pelo resto da vida

Não sei se lembram do meu dilema: sou separado da mãe do meu filho, que é evangélica. Ele está com 5 anos e frequentemente me pergunta porque não acredito em deus, já que a mãe insiste que ele existe.
Ando muito preocupado com isso ...


É bom desenvolveres um diálogo onde faça ver pra ele como a verdade é importante pra tí, já que não gostas de ser enganado e, por conseguinte, não gostas também de enganar.
Que a verdade é importante, porque é com ela que o mundo pode se encher de pessoas boas e honestas, ou seja, que não roubam nem enganam os outros.
Que tú não ensinas a ele que Deus existe, porque Deus nunca apareceu nem falou contigo, e assim, não podes saber se ele existe de verdade ou não, e também não queres ensinar uma coisa pro teu filho que não tenhas a certeza de que seja verdade.
Que a maioria crê em Deus, mas que tú não vais acreditar nele só por causa disso, porque a maioria também pode acreditar numa mentira e, sendo assim, não satisfaz, porque se for mentira, irás ensinar pra ele uma mentira como se fosse verdade, e tú não queres enganar.
É claro que não é tão simples explicar isso para uma criança de 5 anos.
É um processo lento, onde a gente vai descobrindo, aos poucos, os melindres e formas de se expressar.
Mas é importante fazer isso até aos 7 anos, porque é uma forma de desencadear o pensamento crítico na criança, neste período crucial.
Mas não condenes a mãe dele. Diga que cada um é cada um e é livre pra pensar como queira e que é a liberdade que nos viabiliza descobrir a verdade.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
Márcio
Mensagens: 1733
Registrado em: 12 Nov 2005, 01:14
Gênero: Masculino
Localização: São José do Rio Pardo-SP
Contato:

Re: Re.: O Despertar da Existência

Mensagem por Márcio »

DaviDeMogi escreveu:
Fernando SIlva escreveu:
...
A religião se instala no cérebro como um tumor e depois é muito difícil removê-la. Na verdade, ela é como os traumas de infância: é possível localizá-los e perceber que são a causa de nossos problemas, mas não erradicá-los. Ficarão lá, enraizados, pelo resto da vida

Não sei se lembram do meu dilema: sou separado da mãe do meu filho, que é evangélica. Ele está com 5 anos e frequentemente me pergunta porque não acredito em deus, já que a mãe insiste que ele existe.
Ando muito preocupado com isso ...


Tente conversar com ele, se bem que a teísmo dela é bem mais fácil de explicar para uma criança de 5 anos. Você está em desvantagem por enquanto, talvez quando ele desenvolver mais o raciocínio possa haver compreensão do porque você não crer em deus.
O importante é jamais perder o contato com ele.
Quem sabe um dia ele posso optar por si mesmo entre uma posição e outra.
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

.
DaviDeMogi escreveu:sou separado da mãe do meu filho,


A situação com minha neta é a mesma coisa e eu vejo ela crescer com essas fantasias que mães, país, tios e avós passam pra ela.

Nesta semana um tio dela, que por sinal ela gostava muito, veio a falecer por um acidente.
Dado a gritaria e o desespero que tomou conta do ambiente familiar, ela ficou em pânico, e foi experimentando, pouco a pouco, o sentimento da morte, se bem que ela sempre confundia com o mundo irreal de que ele poderia chegar daquí a pouco pra brincar com ela.
Bom a verdade é que é nestas horas onde a implantação do obscurantismo se manifesta mais, principalmente na hora de explicar a realidade da morte, onde entra aquelas firulas de que ele não vai voltar porque foi embora la pro céu e agora ele esta junto com Jesus e com os anjinhos do céu, etc...
Eu evito me preocupar com isso.
Prefiro trabalhar a outra parte de paulatino desenvolvimento de um pensamento racional.
É a forma que eu posso contribuir para que esse período não seja monopolizado só pela montagem de superstições e obscurantismos, e haja espaço para a inteligência ser preservada para definir o seu futuro.
Evito a polêmica e o conflito.
Acho que assim, fica de bom tamanho.
Editado pela última vez por zencem em 18 Dez 2007, 10:10, em um total de 1 vez.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Trancado