A revolta da foice contra o martelo

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Alter-ego
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A revolta da foice contra o martelo

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O Estado de S. Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

*** A revolta da foice contra o martelo ***

Edward Cody, The Washington Post; tradução de Celso M. Paciornik

XIACHAOSHUI, CHINA — A primeira coisa que os aldeões notaram foi a lama. Um depósito sedimentar engrossou gradualmente as águas do Rio Chaoshui e não demorou para emporcalhar os arrozais que lhes dão um meio de vida
frugal, mas confiável nestes montes ásperos da China central. No início deste ano, os peixes desapareceram e a água, antes cristalina, enegreceu. As mulheres já não podiam lavar roupa nas margens. As crianças começaram a ter erupções na pele após mergulhar.

Disseram aos aldeões que uma porção de garimpos de um metal industrial conhecido como molibdênio havia começado a operar nos morros, despejando detritos rio abaixo. Os aldeões se queixaram muitas vezes às autoridades distritais, pedindo que os garimpos fossem fechados ou fiscalizados. Mas, com o preço dos minérios disparando, o apelo do lucro era grande demais para resistir.

Milhares de garimpeiros (alguns com autorização, outros não) continuaram escavando as encostas e lançando as sobras no Chaoshui. Em maio, os aldeões enfurecidos desistiram do governo e resolveram organizar uma incursão nos garimpos.

Por muitas horas frenéticas, os esguios agricultores usaram
ferramentas agrícolas e as mãos nuas para destruir mais de 200 garimpos, desafiando um guarda local que tentava conter sua fúria. O notável nesse ataque foi que o secretário local do PC e chefe de aldeia eleito se recusou a interferir, revelando uma fissura na férrea disciplina tradicionalmente aplicada pelos órgãos do governo e do PC.

Na aldeia vizinha de Guideng, três semanas antes, outra revolta destruiu instalações de mineração, nesse caso, refinarias que expeliam poluição de outro metal, o vanádio. Também houve cumplicidade passiva do secretário local do PC e líder eleito.

E agora um grupo de líderes rurais irados nesta região remota deu um passo adiante, passando da cumplicidade passiva ao apoio ativo à causa camponesa. Num raro desafio, eles uniram forças contra o governo central numa organização não autorizada e ameaçaram renunciar em massa se as autoridades não tomarem uma atitude. A menos que algo seja feito logo, advertiram eles numa carta ao primeiro-ministro Wen Jiabao, a violência camponesa continuará.
"Noite escura agora é manhã..."

Trancado