Ser ou não ser escritor de auto-ajuda
Enviado: 20 Mar 2006, 12:11
Ser ou não ser escritor de auto-ajuda
Miguel Conde - Globo Online
SÃO PAULO - Enquanto crescem as vendas de livros de auto-ajuda no Brasil e editoras tradicionais começam a investir com força no mercado, autores tidos como expoentes do gênero querem se dissociar dele. Entre os principais autores considerados de auto-ajuda que fazem palestras e assinam livros na 19ª Bienal de São Paulo, pelo menos três rejeitam o rótulo: Içami Tiba, autor de "Quem ama, educa", Roberto Shinishiaki, um pioneiro do setor, que já vendeu 12 milhões de livros, e o americano Lou Marinoff, que escreveu "Mais Platão, menos Prozac".
O termo parece estar desgastado. Alguns editores preferem falar destes livros como literatura de motivação ou de aprimoramento pessoal. É consenso que a expansão veloz do mercado de auto-ajuda no Brasil levou à publicação de muitos títulos de baixa qualidade. Por isso, alguns autores tentam se distanciar do gênero, e procuram conferir legitimidade científica aos seus livros. É o caso de Içami Tiba, que calcula já ter vendido 1,5 milhão de livros desde o seu primeiro, publicado em 1985.
- Eu sou um autor que estuda, se atualiza, e que tem leitores no meio científico. O Ibope fez uma pesquisa para o Conselho Federal de Psicologia sobre os autores mais usados nos cursos de formação profissional. Em primeiro ficou Sigmund Freud, em segundo Jung e em terceiro fiquei eu - diz. - Os livros de auto-ajuda dão conselhos. Eu apenas digo, baseado na minha experiência como terapeuta, o que faria em determinadas situações - afirma.
Shiniashiki, considerado pioneiro na escrita de livros de auto-ajuda no Brasil, diz que não se importa mais em ser enquadrado no gênero, embora não concorde com essa classificação.
- Eu sou psiquiatra. Quando falo sobre a mente humana, estou no meu campo. Os livros de auto-ajuda, muitas vezes, são escritos por pessoas sem nenhum estudo. E dão respostas prontas, enquanto eu procuro levantar questionamentos, provocar reflexões.
Marinoff é o mais contundente. O autor, que defende um uso prático de ensinamentos filosóficos para melhorar a vida das pessoas, afirma que o mercado de auto-ajuda perpetra uma fraude coletiva contra os consumidores.
- Se algum livro de auto-ajuda funcionasse, as editoras não estariam lançando um novo toda semana. Em vez de melhorar a vida dos leitores, essa profusão de títulos acaba gerando ansiedade. Nos Estados Unidos todo autor tem que entrar numa categoria, então os meus editores me classificaram como auto-ajuda. Mas meu trabalho não é dar respostas, e sim fazer perguntas - diz.
Já Gustavo Cerbasi, que entrou na lista dos mais vendidos com "Casais inteligentes enriquecem juntos", não se incomoda em ser classificado como escritor de auto-ajuda.
- Todo livro que pretender transformar a pessoa, ajudá-la a levar uma vida melhor, é de auto-ajuda - diz.
Miguel Conde - Globo Online
SÃO PAULO - Enquanto crescem as vendas de livros de auto-ajuda no Brasil e editoras tradicionais começam a investir com força no mercado, autores tidos como expoentes do gênero querem se dissociar dele. Entre os principais autores considerados de auto-ajuda que fazem palestras e assinam livros na 19ª Bienal de São Paulo, pelo menos três rejeitam o rótulo: Içami Tiba, autor de "Quem ama, educa", Roberto Shinishiaki, um pioneiro do setor, que já vendeu 12 milhões de livros, e o americano Lou Marinoff, que escreveu "Mais Platão, menos Prozac".
O termo parece estar desgastado. Alguns editores preferem falar destes livros como literatura de motivação ou de aprimoramento pessoal. É consenso que a expansão veloz do mercado de auto-ajuda no Brasil levou à publicação de muitos títulos de baixa qualidade. Por isso, alguns autores tentam se distanciar do gênero, e procuram conferir legitimidade científica aos seus livros. É o caso de Içami Tiba, que calcula já ter vendido 1,5 milhão de livros desde o seu primeiro, publicado em 1985.
- Eu sou um autor que estuda, se atualiza, e que tem leitores no meio científico. O Ibope fez uma pesquisa para o Conselho Federal de Psicologia sobre os autores mais usados nos cursos de formação profissional. Em primeiro ficou Sigmund Freud, em segundo Jung e em terceiro fiquei eu - diz. - Os livros de auto-ajuda dão conselhos. Eu apenas digo, baseado na minha experiência como terapeuta, o que faria em determinadas situações - afirma.
Shiniashiki, considerado pioneiro na escrita de livros de auto-ajuda no Brasil, diz que não se importa mais em ser enquadrado no gênero, embora não concorde com essa classificação.
- Eu sou psiquiatra. Quando falo sobre a mente humana, estou no meu campo. Os livros de auto-ajuda, muitas vezes, são escritos por pessoas sem nenhum estudo. E dão respostas prontas, enquanto eu procuro levantar questionamentos, provocar reflexões.
Marinoff é o mais contundente. O autor, que defende um uso prático de ensinamentos filosóficos para melhorar a vida das pessoas, afirma que o mercado de auto-ajuda perpetra uma fraude coletiva contra os consumidores.
- Se algum livro de auto-ajuda funcionasse, as editoras não estariam lançando um novo toda semana. Em vez de melhorar a vida dos leitores, essa profusão de títulos acaba gerando ansiedade. Nos Estados Unidos todo autor tem que entrar numa categoria, então os meus editores me classificaram como auto-ajuda. Mas meu trabalho não é dar respostas, e sim fazer perguntas - diz.
Já Gustavo Cerbasi, que entrou na lista dos mais vendidos com "Casais inteligentes enriquecem juntos", não se incomoda em ser classificado como escritor de auto-ajuda.
- Todo livro que pretender transformar a pessoa, ajudá-la a levar uma vida melhor, é de auto-ajuda - diz.