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Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 08:12
por spink
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... u6419.jhtm



"Sandalistas" dirigem-se para Caracas, nova capital da esquerda
"Você tem um líder tentando provar uma alternativa às políticas que arrasaram a América Latina por 20 anos", resume estudante australiana que agora vive na Venezuela

Por Juan Forero*
Em Caracas, Venezuela

O ator Danny Glover veio. Harry Belafonte também esteve aqui, assim como a ativista contra a guerra Cindy Sheehan, o proeminente autor negro Cornel West e o novo presidente da Bolívia, Evo Morales.

Mas a maior parte dos visitantes são como Cameron Durnsford, estudante de 24 anos da Austrália que decidiu cursar a nova universidade federal em Caracas. Durnsford admitiu ter ficado injuriada com o culto à celebridade em torno do presidente Hugo Chavez, que ela diz parecer "um pouco maoísta". Mas a revolução venezuelana não deve ser desprezada, acrescentou.

"Você tem uma nação e um líder tentando provar uma alternativa ao neoliberalismo e às políticas que arrasaram a América Latina por 20 anos", disse Durnsford. "É por isso que as pessoas estão vindo para cá. Há uma sensação de que este é um momento histórico."

Chavez decididamente pode ser pouco popular junto ao governo Bush, mas apesar disso -ou talvez por causa disso- o presidente venezuelano está atraindo seguidores de todo o mundo e fazendo de Caracas a nova Meca da esquerda.

Evocando outras cidades transformadas por líderes revolucionários, como Manágua (capital da Nicarágua) em 1979 ou Havana 20 anos antes, Caracas está atraindo estudantes e celebridades, acadêmicos e ativistas, avós e hippies- uma nova geração de "Sandalistas", como são chamados.

Alguns, inclusive muitos americanos, vieram para ficar. Outros vêm em uma nova forma de turismo revolucionário organizado pelo governo ou grupos privados.

A Venezuela recebe a todos, mas estende o tapete vermelho para visitantes ilustres como Belafonte, cantor e ativista de 79 anos.

Em janeiro, ele liderou uma delegação americana que incluía Glover, West e Dolores Huerta, defensora dos agricultores. Eles se reuniram com Chavez, passearam por um bairro para conversar com venezuelanos e visitaram programas sociais do governo, que o presidente chama de transferência da riqueza do petróleo para os pobres.

"Nós respeitamos vocês, admiramos vocês e estamos expressando toda nossa solidariedade ao povo venezuelano e sua revolução", disse Belafonte a Chavez durante o programa nacional de televisão semanal do presidente. Ele chamou o presidente Bush -alvo constante das críticas de Chavez- de "o maior terrorista do mundo".

E terminou gritando: "Viva la revolucion!"

Outros recentes visitantes incluíram o reverendo Jesse Jackson; o candidato às eleições presidenciais no Peru de 9 de abril Ollanta Humala; o escritor uruguaio Eduardo Galeano; e o prêmio Nobel argentino Adolfo Perez Esquivel.

Para americanos menos famosos, a nova rota de férias não passa mais pelas famosas praias da ilha Margarita. Em vez disso, grupos como o Global Exchange, com sede em San Francisco, levam os turistas por US$ 1.300 (em torno de R$ 2.600) por uma excursão de duas semanas pelos bairros pobres onde o apoio a Chavez é mais forte.

As excursões incluem visitas a aulas de alfabetização, cooperativas e programas da mídia patrocinados pelo governo. Os visitantes conversam com ministros, assistem um documentário favorável a Chavez chamado "A Revolução Não Vai Passar na Televisão" e reúnem-se com funcionários da estatal de petróleo, que explicam como os petro-dólares são transferidos aos programas sociais.

Uma palestrante freqüente é Eva Golingar, advogada de Nova York que se dedica a expor o que ela chama de evidências do apoio de Washington a grupos de oposição venezuelanos, algo que o governo Bush nega.

Pat Morris, 62, de Chestnut Hill, Massachusetts, que nunca teve boa impressão de seu governo em Washington, ficou sem palavras.

"Eu achava que nosso atual governo era mentiroso e interesseiro, mas não tinha idéia do investimento de longo prazo para desestabilizar o país", disse ela recentemente, com lágrimas nos olhos depois de ouvir Golinger.

Reva Batterman, 27, aluna de pós-graduação, disse que queria vir para a Venezuela para mostrar às pessoas que nem todos os americanos são "defensores de Bush ou imperialistas".

"Espero que os americanos tentem entender Hugo Chavez", disse ela.

A paixão, entretanto, não é unânime. Julio Borges, político da oposição, disse que apesar de Chavez certamente ter ajudado os pobres, ele é duro com a dissensão.

Borges disse que, em vez de ouvir apenas os funcionários do governo, os visitantes devem tomar consciência da inaptidão de Chavez e seus abusos crescentes, como ataques à imprensa -acusações negadas pelo governo.

"Sempre dizemos às pessoas que vêm com essa idéia romântica da Venezuela que, apesar das mudanças, quem domina a transformação são as forças armadas, que a democracia venezuelana é basicamente militarizada", disse Borges. "Você tem que ter uma preocupação profunda com isso. Queremos tirar o véu democrático usado pelo governo."

Um diplomata americano em Caracas, tem as mesmas preocupações: "Venha aqui ampliar a consciência, com certeza. Meu único pedido é que os visitantes tentem ver o outro lado da história."

Emily Kurland, 26, assistente social de Chicago, disse que era isso exatamente que ela e outros estavam fazendo.

"Eles estão frustrados com Bush, frustrados por não serem ouvidos, frustrados com o Iraque", disse Kurland, falando na pequena casa no centro de Caracas que divide com outros estrangeiros. "Eles não confiam na Fox News. Não confiam nos grandes noticiários. Eles querem ver com seus próprios olhos o que está acontecendo aqui."

Ela veio à Venezuela pensando que ia ficar apenas um tempo suficiente para sentir o que era a "revolução bolivariana" de Chavez. Um ano depois, não planeja ir embora.

Ela ensina inglês em aulas patrocinadas pelo governo para os pobres e fala de trabalhar como voluntária em um banco de micro-crédito para as mulheres. Ela passa a maior parte do tempo, no entanto, guiando excursões de americanos que vêm aqui ver como Chavez está mudando seu país.

Há um precedente, é claro: a revolução de Fidel Castro, que em seus primeiros anos colocou ênfase nos contatos de "pessoa a pessoa" e assim angariou apoio entre membros do corpo político americano, neutralizando a oposição.

Ativistas, intelectuais e esquerdistas gravitaram para outros governos -do Chile socialista de Salvador Allende, no início dos anos 70, à Nicarágua sandinista nos anos 80- que também declararam ambições de derrubar a velha ordem de seus países.

"Cuba, Venezuela, Nicarágua e Chile, em certo ponto, tornaram-se a Meca de muitos esquerdistas do mundo", disse Fernando Coronil, professor da Universidade de Michigan e autor de "The Magical State" (o Estado mágico), livro sobre a Venezuela. "Isso foi capitalizado pelos governos. Assim, conseguiram não só apoio estrangeiro mas também uma forma de voltar a atenção do público para certos elementos de amplo apelo da política externa, e não se concentrar em problemas internos."

Alguns dos jovens que visitaram a Venezuela ou se mudaram para cá admitem ter algumas dúvidas.

Chesa Boudin, 25, nova-iorquino voluntário do governo venezuelano, observa, por exemplo, que alguns setores da esquerda glorificam Chavez simplesmente porque ele se posicionou como líder anti-Bush na América Latina.

Mas Boudin, um dos autores de um livro favorável ao governo venezuelano, "The Venezuelan Revolution: 100 Questions _ 100 Answers" (a revolução venezuelana: 100 perguntas - 100 respostas) disse que muitas pessoas que ficaram assustadas com o avanço da globalização viram a possibilidade de um mundo melhor na Venezuela.

"Um país que está tentando criar um modelo alternativo. Isso é corajoso, ambicioso e único, e as pessoas estão se perguntando: 'Será possível?'", disse Boudin. "O intelectual em mim fica curioso."

Talvez nada ilustre melhor a retórica de Chavez sobre servir aos pobres do que Universidade Bolivariana de três anos, que oferece gratuidade para seu corpo estudantil de maioria pobre.

Jerome Le Guinio, 23, da França, chegou há um ano e hoje trabalha na administração da universidade. Ele tem uma namorada venezuelana e mudou-se para Catia, um bairro pobre de alta criminalidade, onde o apoio a Chavez é sólido.

"A idéia é encontrar uma alternativa", disse ele, "e se você não encontrá-la na Venezuela, não vai encontrar em lugar nenhum."

* colaborou Jens Gould

Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 16:36
por Claudio Loredo
[b]

Notícias que sairam hoje sobre a Venezuela


Embaixador brasileiro festeja entrada da Venezuela no Mercosul

Fonte: Jornal do Brasil em 21/03/06

O embaixador do Brasil em Caracas, João Souza Gomes, destacou hoje a importância da entrada da Venezuela no Mercosul e considerou "excepcionais" as relações entre os dois países.

Souza fez estas observações após uma reunião com o vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel. "Desejo ressaltar que é um fato da maior importância a entrada da Venezuela, em breve, como membro de pleno direito do Mercosul", disse Souza.

"É um fato político que transcende as fronteiras nacionais e se inscreve como um acontecimento de importância internacional", acrescentou o diplomata.

Ele explicou que discutiu com Rangel "vários projetos de integração que estão sendo realizados" assim como aspectos da "ampla agenda que terão os presidentes do Brasil, da Argentina (Néstor Kirchner) e da Venezuela (Hugo Chávez) em sua próxima reunião".

O diplomata não informou a data dessa reunião, mas revelou que "possivelmente" será realizada na cidade argentina de Mendoza.

A reunião de hoje serviu além disso para "examinar em profundidade a ampla agenda bilateral", com o objetivo de fortalecer as relações entre os dois países, disse Souza.

A Venezuela foi admitida como membro do Mercado Comum do Sul (Mercosul) na cúpula presidencial da organização, em Montevidéu, em dezembro de 2005.

Venezuela, a revolução menos pensada

Fonte: Agência Carta Maior

"O povo compreende e se comprometeu com os valores de ruptura que são representados pelo presidente Chávez, mas não desconhecemos que ainda hoje muitos apóiam a revolução porque a sentem, não porque estejam suficientemente conscientes", diz William Izarra, um dos quadros mais influentes do processo bolivariano, em entrevista exclusiva à CARTA MAIOR.

Alejandro Velázquez - Especial para Carta Maior

“O sonho se faz a mão e sem pedir licença
arando o porvir com velhos bois”

Silvio Rodríguez, cantor e poeta cubano

CARACAS - Era comum nos anos 1960 e 1970 escutar os lamentos dos ativistas da esquerda venezuelana pela pouca politização da sociedade civil do seu país, enquanto o Peru, o Chile e a Bolívia atravessavam uma etapa de ascenso político de massas, traduzido em experiências que iam do nacionalismo popular à insurreição armada. Os venezuelanos, no mesmo período, continuavam anestesiados pelo consumismo “made in Miami” favorecido pelo aumento do preço do petróleo (crise de 1973) e o conformismo diante do conluio dos partidos AD (social-democratas) e COPEI (social-cristãos), que vinham dividindo o poder eleição após eleição.

O esgotamento dessa ficção democrática mostrou seus primeiros sintomas de maneira tempestuosa em fevereiro de 1989, através de uma rebelião espontânea e despolitizada contra um aumento de preços aplicado pelo presidente Carlos Andrés Pérez, em consonância com os ajustes neoliberais que naquele momento estavam aplicando na região Fernando Collor de Melo e o argentino Carlos Menem.

Em 1992, três anos após o Caracazo, o coronel Hugo Chávez fracassou na sua tentativa de golpe contra Pérez, o mesmo dia em que ele voltava do Fórum Econômico de Davos. O levante de Chávez ocorreu no momento menos pensado, justamente quando a América do Sul começava a deixar para trás os anos de poder militar.

Contudo, a derrota de 4 de fevereiro de 1992 acabaria, no médio prazo, sendo uma vitória: a imagem de Chávez ficou associada com o descontentamento diante do modelo econômico e como alternativa ao pensamento único, com seu discurso de que nada era possível fora do sistema bipartidarista da IV República.

“Quando vimos o quanto estava crescendo a receptividade a Chávez no povo recuperamos a confiança na tese do levante popular respaldado pelas forças armadas para atingir o rompimento violento da ordem estabelecida” lembra o tenente-coronel William Izarra, militar destituído sob acusação de “conspiração marxista-leninista”.

Atualmente, William Izarra é um dos quadros mais influentes no caleidoscópio de organizações populares e forças políticas que participam no processo bolivariano, no qual também não faltam oportunistas. A revolução ocorrida no país e no momento menos pensados, agora precisa inventar o seu próprio modelo sociopolítico, genericamente conhecido como “socialismo do século XXI”. Izarra é um dos responsáveis por montá-lo e dar-lhe consistência programática.

A vitória presidencial de Chávez em 1998 e na Constituinte de 1999, da qual surgiu a atual V República, deram lugar a uma nova era política, marcada pelo recuo dos partidos e por uma expressiva mobilização popular. Mas, apesar disso, persiste a impressão de que ainda existe uma preocupante distância entre a direção e as bases: não aparecem os necessários fios de transmissão capazes de desempenhar o papel que tradicionalmente cabe aos partidos.

Sobre esse e outros dilemas desta Venezuela onde o que é velho não termina de morrer e o que é novo não termina de nascer, a CARTA MAIOR Maior questionou Izarra, durante um encontro de mais de 2 horas celebrado em Caracas.

CARTA MAIOR: Os venezuelanos têm plena consciência do projeto bolivariano?

IZARRA: O povo compreende e se comprometeu com os valores de ruptura que são representados pelo presidente Chávez, mas não desconhecemos que ainda hoje muitos apóiam a revolução porque a sentem, não porque estejam suficientemente conscientes; devemos reconhecer que não há uma consistência ideológica. É preciso criar uma rede ideológica que possa difundir e aprofundar as idéias da revolução, para finalmente romper com a herança da IV República e com a ideologia da representação e que se tornem realidade as mudanças radicais da V República, a democracia direta, o poder popular que acaba com o Estado clientelista atual e passa a definir o rumo da nação através de assembléias abertas, governos comunitários e controle social do Estado.

CARTA MAIOR: O chavismo é inimigo dos partidos políticos?

IZARRA: Não somos inimigos dos partidos, somos contrários à democracia representativa como modelo político que Washington exporta para a região, da mesma maneira que recomenda as políticas neoliberais ou os programas de defesa, como o Plano Colômbia. Em 2001, os EUA pressionaram e conseguiram que os países do hemisfério aprovassem a Carta Democrática que, no fundo, é um pretexto para as operações desestabilizadoras na Venezuela, com o pretexto do não cumprimento da democracia representativa. A partir da democracia participativa nós estamos no socialismo do século XXI, baseado na busca do bem comum como satisfação das expectativas coletivas nos planos ético e espiritual. A democracia representativa, ao dar abrigo a partidos diretamente ligados ao poder transnacional, torna-se um obstáculo para novas relações de produção, que exigem mudanças nas relações de poder.

CARTA MAIOR: Por que, depois de 7 anos de governo, essas transformações ainda não foram concretizadas?

IZARRA: Porque uma coisa é pensar e outra é fazer a revolução; estes anos foram de aprendizagem também para nós. A revolução, que era vacilante até 2000, atingiu uma potência extraordinária desde que o povo impediu o golpe de estado de 11 de abril de 2002. Esse é um ponto de ruptura. Outro foi em 2004, quando ocorreu o plebiscito que deu uma esmagadora vitória ao governo contra a proposta de demissão de Chávez. O próximo desafio são as eleições presidenciais, de dezembro. Na minha opinião, 2006 será determinante para saber se a Venezuela opta pela reforma ou pela revolução. É o momento de gerar as leis e outros instrumentos jurídicos que proporcionem as bases para um novo estado revolucionário que promova o poder popular.

Por isso, o grande desafio deste ano é conseguir, como disse o presidente, não apenas a reeleição, mas que seja com 10 milhões de votos. E estamos trabalhando para que o processo eleitoral seja o motor de uma gigantesca operação de concientização.

CARTA MAIOR: Há corrupção no Estado venezuelano?

IZARRA: Não no mesmo grau que já houve no passado, mas ainda há corrupção porque o Estado não foi depurado como nós gostariamos. Também há denúncias sobre corrupção na polícia, o que não me surpreende, e até de torturas.

CARTA MAIOR: Há tortura neste governo?

IZARRA: Hoje, na Venezuela, há gente torturando sem que o presidente saiba. Há denúncias de vítimas da tortura política da DISIP (serviços de inteligência) em 2005. Foi comprovado que boa parte dos serviços de inteligência ainda age arbitrariamente.

HERÓICA TRAIÇÃO

Em 1967, William Izarra formou-se com a melhor média do grupo de formandos da academia da Força Aérea, onde recebeu uma “estrita formação dentro dos marcos da Doutrina da Segurança Nacional”. Uma das primeiras missões encomendadas ao jovem piloto foi liquidar a qualquer preço uma coluna guerrilheira procedente de Cuba que pretendia internar-se na Venezuela.

“Depois que uma das embarcações cubanas afundou e dois milicianos foram feitos prisioneiros, mandam-nos aterrissar e ordenaram interrogá-los.
Ali estou eu, com 19 anos, caminhando para interrogar alguém que eu via como um comunista inimigo da democracia; e assim que entro encontro com o tenente Briones Montoto, um homem educado, alto, que diz para mim que não tinha desembarcado na Venezuela por obrigação, mas por convicção, por solidariedade internacional, por ter um compromisso com a revolução.

E foi ali, depois de escutá-lo, que começou em mim um questionamento a tudo o que tinha aprendido durante 4 anos na academia militar”.

CARTA MAIOR: Esse encontro marcou você para toda a vida?

IZARRA: Sim, definitivamente esse cubano, que depois foi condecorado como herói post mortem, representou um ponto de virada na minha concepção. No dia seguinte ao de tê-lo interrogado voltei ao lugar onde estava preso e encontrei que estava morto com um tiro no ouvido, e tive que carregar seu cadáver. Tinham estourado o rosto dele.
Contei essa história para alguns cubanos e para eles é um orgulho saber que Montoto contribuiu para que um militar venezuelano mudasse sua visão de mundo, e que me levou a participar de um grupo revolucionário dentro das forças armadas, o movimento Arma. Esse foi o grupo mais significativo, o de melhor formação ideológica, até o surgimento do movimento de Chávez, em 1982. Nós semeamos a semente revolucionária, muitos dos militares que participaram da tentativa golpista de 1992 saíram da nossa organização que, além disso, tinha desenvolvido uma intensa agenda de contatos internacionais.

CARTA MAIOR: Com quais países?

IZARRA: Muitos de nós viajávamos permanentemente para o exterior, sem a permissão do corpo de generais, estabelecendo relações com governos revolucionários entre os anos 1980 e 1985. Nossos vínculos foram especialmente com Cuba, com o partido Baas de Saddam Hussein e com altos dirigentes do governo da Líbia.

CARTA MAIOR: A lealdade dos militares com Chávez é completa?

IZARRA: Eu não diria que todos. As unidades onde estão concentrados o maior número de tropas e poder de fogo estão identificadas com Chávez e também há oficiais importantes desejosos de aprofundar o debate por um novo pensamento militar.

Mas isso não significa homogeneidade nos militares. A verdade é que ainda existem aqueles que não acreditam no processo bolivariano, que se apoiam em uma posição institucional mas no fundo são inimigos. Eles herdaram a cultura da doutrina da segurança nacional e não querem saber de nova doutrina militar alguma.

É por isso que o presidente Chávez denuncia que a CIA faz um trabalho de captação entre os oficiais mais fracos ideologicamente. Chávez já viu muitas traições dos seus homens mais próximos, inclusive no golpe de 11 de abril (2002, contra Chávez).

CARTA MAIOR: É verdade que oficiais chavistas tentam captar militares na região?

IZARRA: Vou responder com uma especulação: acredito que existem contatos entre nossos militares e seus colegas para alcançar uma relação fraterna. Também acredito que parte da integração latino-americana passa pela harmonização de uma política exterior e de defesa comum diante do império.

CARTA MAIOR: Esses contatos incluem militares brasileiros?

IZARRA: Não tenho nenhuma informação quanto a isso. Mas posso garantir que muitas das posições progressistas do presidente Lula sobre o Plano Colômbia e o seu apoio a uma solução pacífica do conflito foram boicotadas por seus próprios militares. Do meu ponto de vista, as forças armadas brasileiras, ou boa parte delas, inclinam-se a favor do Plano Colômbia, mesmo que não digam. Em um tema tão quente como o Plano Colômbia os serviços de inteligência dos EUA exercem influência sobre os militares brasileiros, e sobre os militares de outros países.

Atualmente a Venezuela representa um objetivo político para a estratégia desetabilizadora dos EUA, que cobiçam nossas reservas de petróleo e precisam acabar de uma vez com a revolução bolivariana para impedir que esse exemplo se espalhe. Mas se essa tática fracassar, a Venezuela passará a ser um objetivo militar prioritário dentro do Plano Colômbia como plano militar sub-regional, o que provocará ações violentas contra o território e a ocupação de zonas vitais.

Em meu entendimento, uma antecipação dessa provável “intervenção direta” dos EUA aconteceu em 8 de maio de 2004, quando uma centena de paramilitares colombianos foram detidos em uma fazenda no momento em que se preparavam para ações de sabotagem, as quais equivalem a “ações de intervenção indireta” dos EUA.

CARTA MAIOR: Uma intervenção direta dos EUA acabaria, em poucos dias, com a resistência venezuelana. Não é verdade?

IZARRA: A força militar dos EUA é poderosa para invadir territórios e aniquilar governos, mas não para submeter a vontade de um povo. Não estou falando em teoria, ali está o exemplo da resistência do povo iraquiano ou a vitória do Vietnã, liderado por Ho Chi Min, enfrentando franceses e norte-americanos (décadas de 1950 a 1970).

O povo deve estar organizado para resistir uma ameaça assimétrica. Foi pensando nesse cenário que o presidente lançou o Plano de Defesa Integral da Nação, no qual estamos trabalhando atualmente, para que a sociedade tome consciência de que não corresponde apenas aos militares a defesa do território, da independência e da democracia.

* Tradução de Naila Freitas

Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 16:52
por Aurelio Moraes
O Cláudio é praticamente uma olavete da esquerda.

Re: Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 17:26
por Poindexter
Mr.Hammond escreveu:O Cláudio é praticamente uma olavete da esquerda.


Ninguém falou em Olavo de Carvalho antes de você, Hammond. Se queres postar aquelas fotos dele, diga logo, ou as poste logo, sem rodeios.

Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 17:41
por Samael
Eu acho engraçado como a esquerda se nivela e se adapta para escolher modelos operantes...

Até o idiota do Emir Sader (e pensar que mesmo antes de entrar na faculdade, eu lia e gostava do dito cujo no "Pasquim"), enaltece a Venezuela, um Estado tipicamente despótico e com um governo populista como um verdadeiro "arauto comunista", sendo que, na prática, Chávez seja tão próximo de Marx quanto Tony Blair seria de Rosa Luxemburgo. Foi dessa mesma forma quie muitos apoiaram inclusive a política totalitária de Lênin e Stalin (sendo a segunda infinitamene mais pesada do que a primeira). É dessa mesma forma que tantos defenderam a "práxis bolchevista" mesmo após esclarecidos os crimes do exército civil de Trotski e compania!

É pela ausência de exemplos políticos que representem, de fato, tal e tal pensamento e ideologia, que as pessoas acabam se adaptando às ideologias mais próximas e/ou que "combatem seus mesmos inimigos". Eu, cético em relação a tudo que envolve política, fico sempre com um "pé atrás".

Eu sei que é muito cedo para se dizer, com precisão histórica, qual é o processo que ocorre na Venezuela e se o tal é mesmo uma "revolução". Só sei que, pra mim, boa coisa não é. Chávez não é um líder popular que se baseia no altruísmo que sua mídia própria vende. É nascido e formado entre a elite dominante venezuelana, independente de sua condição étnica mestiça. É carismático, sabe se colocar como continuador de determinados movimentos sociais e como representante de determinadas figuras históricas (o exemplo mais geral é o de Bolívar).

Na palestra que Léo Vieira e eu assistimos na UERJ, não vimos nada além de bajulação chavista, despotismo, retórica vazia e uma massa de "comunas" que parecem, quando muito, terem lido o Manifesto. Isto, na melhor das hipóteses. Massas burras e/ou pouco céticas são muito mais sucetíveis a apoiar políticas quaisquer, mesmo que, nestas, os fins justifiquem os meios.

Ah, só para constar: o governo venezuelano claramente patrocinou a palestra.

Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 17:44
por Poindexter
O comunismo sempre angaria muita força na juventude, pelo idealismo próprio da época, pela necessidade de confrontar "o sistema" herdado de seus pais, etc. Com o passar dos anos, vêem que, em muitas coisas, "os velhos tinham razão"...

Re: Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 17:49
por spink
Poindexter escreveu:O comunismo sempre angaria muita força na juventude, pelo idealismo próprio da época, pela necessidade de confrontar "o sistema" herdado de seus pais, etc. Com o passar dos anos, vêem que, em muitas coisas, "os velhos tinham razão"...


Seria uma boa ocasião de postar "como nossos pais"- Belchior.

Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 18:55
por Poindexter
Não que devamos fazer tudo igualzinho aos nossos pais, mas penso que seria bom "conservarmos melhorando". Não, não é uma contradição, porque a palavra "conservar" não está no sentido de "imutabilidade total", mas sim no de ser criterioso e exigente com relação às mudanças.

Em suma: não sair se entregando por aí sem mais nem menos às qualquer reengenharia social modernóide, como gosta o Cabeção de escrever.

Lembro às vezes de uma caricatura engraçada que ele escreveu um dia, que era substituir a estrutura de amizade atual pelo "vale-amizade", para ajudar "excluídos" de amizades e etc e tal... :emoticon22:

Re: Re.: Meca da esquerda.

Enviado: 21 Mar 2006, 21:46
por user f.k.a. Cabeção
Poindexter escreveu:O comunismo sempre angaria muita força na juventude, pelo idealismo próprio da época, pela necessidade de confrontar "o sistema" herdado de seus pais, etc. Com o passar dos anos, vêem que, em muitas coisas, "os velhos tinham razão"...


Eu acho que tenha mais a ver com ignorância do que com idealismo.

Dizer que jovem comunista é um idealista nada mais é do que a manifestação de um ranço marxista de quem se desiludiu com o mundo, e ainda que considere o socialismo algo bom, basicamente impraticável.

Isso não é verdade, ou pelo menos, é uma meia verdade.

Em geral esses jovens tem boas intenções, embora muitos sejam apenas intelectualóides interessados em posar de engajados. E acreditam desejar algo melhor. Nesse sentido até podem ser chamados de idealistas, mas não são mais idealistas do que ignorantes.

O ideal deles é equivocado, e se a lógica e a filosofia ou a ciência político econômica não são capazes de mostrar isso (e são), a História mostra da pior maneira possível. Um idealismo pressupõe um ideal, e não há ideal comunista, nem teórico nem prático. O comunismo perfeito seria perfeitamente terrível.

Idealista pode ser o pregador da Liberdade, pois ainda que seja uma busca que logra êxitos diversos, ainda parece inalcançável em sua plenitude. Mas deve existir como crença, como meta e como ideal, pois conduz para aquilo que é bom.

E se a lógica, a filosofia ou a ciência político econômica não são suficientes para mostrar isso (e são), deixemos a História provar com exemplos das nações que calcaram-se sobre a noção de indivíduo livre, e daquelas que se mantiveram, de uma maneira ou de outra, sob uma mecânica escravista, explícita ou velada, do corpo ou da mente.