Chuchu ou ex-ministro da dengue?
Enviado: 22 Mar 2006, 13:04

Por Altamiro Borges - Adital - de São Paulo
Perguntado qual seria o melhor adversário de Lula na disputa sucessória de outubro, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, saiu-se com uma boa:
- Vai ser chuchu ou ex-ministro da dengue, pouco importa.
A resposta irônica alfinetou os dois presidenciáveis do PSDB, principal partido da raivosa oposição liberal-conversadora no Brasil. Picolé de chuchu foi o apelido cunhado pelo jornalista José Simão para atazanar a vida do governador Geraldo Alckmin, conhecido por sua postura insossa e burocrática. A alcunha pegou e o tucano agora faz questão de aparecer degustando este legume sensabor e até anunciou o seu mote de campanha: "será um governo chuchuzinho". Deprimente! José Simão já avisou que vai cobrar royalties!
Já ex-ministro da dengue lembra a desastrosa ação do prefeito José Serra quando este foi titular da saúde de FHC. Em 1998, o governo zerou o investimento na área de saneamento, o que causou a propagação de várias doenças no país. Além disso, José Serra demitiu seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar os focos do Aedes Aegypti. Dos R$ 81 milhões gastos em publicidade do seu ministério em 2001, apenas R$ 3 milhões foram utilizados em campanhas educativas de combate à doença. O resultado desta política criminosa se fez sentir no Rio de Janeiro que, entre janeiro e maio de 2002, registrou 207.521 casos da dengue e a morte de 63 pessoas. O epíteto de "ministro da dengue" é o que mais irrita este mal-humorado.
Até o momento o PSDB não definiu seu candidato. O partido está envolto numa guerra suja, rasteira, que ajuda a revelar o caráter elitista e cupulista dessa organização que se diz socialdemocrata. O ninho tucano virou carniça de urubus! Uma "santíssima trindade" foi imposta para decidir, nos bastidores, o postulante. As desprezadas bases chiaram: "Nem a escolha do papa é tão centralizada", criticou o governador Cássio Cunha Lima. "Jamais pensei que o PSDB se prestaria a um papel desses. Isso é autofagia", desabafou o deputado Anivaldo Vale. Até recentemente assanhado com a perspectiva da revanche, agora o partido está fraturado e já prevê uma disputa acirrada - seja com o picolé de chuchu ou com o ex-ministro da dengue!
Pontos débeis
Baixada a poeira da cruzada hipócrita da direita contra a corrupção e diante de um governo que retomou a iniciativa, a oposição liberal-conservadora sabe que não está com essa bola toda, que ela foi inflada pela mídia. Num clima de maior racionalidade, ela está consciente de que seus inúmeros pontos débeis serão explorados na campanha. O que surge de forma mais impressionante é a rejeição ao ex-presidente FHC. O povo não tem saudades do seu triste reinado; ele é detestado pela sociedade. Várias pesquisas qualitativas revelam suas notas baixíssimas, beirando o zero. Tanto que os dois presidenciáveis tucanos já sinalizaram que gostariam de se afastar da péssima imagem do ex-presidente, como se fosse uma ave de mau agouro!
A oposição direitista, este condomínio que agrega os neoliberais do PDSB e os oligarcas do PFL, também teme as comparações entre as gestões de FHC e de Lula. Em todos os quesitos, o reinado tucano perde de lavada.
No que se refere às relações democráticas com a sociedade, o governo anterior ficou marcado pelo uso de tropas do exército contra a greve dos petroleiros, pela criminalização do MST, pela inexistência de canais de negociação com o funcionalismo e pelo desrespeito aos setores críticos da intelectualidade.
Já o governo Lula adota postura bem distinta, estimulando fóruns de participação da sociedade, retomando o diálogo com o sindicalismo e prestigiando o MST - para desespero das elites! "Não há repressão policial aos movimentos sociais neste governo", salienta o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.
Quanto às demandas sociais, as diferenças são ainda mais abissais. FHC reduziu os investimentos nestas áreas, como ficou provado no episódio da epidemia de dengue. Durante seu triste reinado, o desemprego saltou de 4,5 milhões para 11,5 milhões de pessoas em oito anos - média de um milhão de vítimas ao ano. Os direitos trabalhistas foram esquartejados, com a imposição da jornada flexível (banco de horas), do salário variável e da contratação precária (parcial, temporária, terceirizada e coopergatos).
Já o governo Lula tem procurado, mesmo que timidamente, reverter esse quadro, adotando várias medidas geradoras de emprego (micro-crédito, agricultura familiar e outras) e de transferência de renda, como o Bolsa Família.
Para os que acusam tais medidas de assistencialista, o economista Marcio Pochmann tem uma resposta na ponta da língua. "Quando entrei na universidade, tive acesso à bolsa de iniciação científica, depois à bolsa de mestrado e de doutorado e nunca me disseram que eram compensatórias. No Brasil, quem tem acesso ao ensino superior é a classe média e não existe essa visão de que as bolsas vinculadas ao ensino superior sejam compensatórias. Agora, para o filho do pobre estudar no ensino básico e médio, é compensatória e no sentido pejorativo. Isto é uma coisa preconceituosa". Para ele, "as iniciativas do governo federal estão vinculadas às condições para superação da pobreza. A direita brasileira usa o termo compensatório como pejorativo, querendo associá-las a políticas assistencialistas e clientelistas do passado. Mas não é o caso".
Experiência híbrida
A comparação também é desastrosa para os candidatos tucanos no que se refere à economia. Apesar da manutenção do destrutivo arrocho monetário e fiscal do governo anterior, o país conseguiu superar alguns gargalos da herança maldita deixada por FHC e hoje reúne melhores condições para o crescimento. Esta aparente contradição talvez se explique pela combinação de uma política macroeconômica ortodoxa, de nítida marca neoliberal, com a adoção de algumas medidas desenvolvimentistas. Esse hibridismo, somado a um cenário mais favorável da economia mundial e à própria pujança do parque produtivo brasileiro, faz com que mesmo neste quesito os tucanos estejam perdendo de lavada e ainda tenham ficado sem discurso.
Um estudo recente, apesar do seu viés de mercado e de alguns dados questionáveis, ajuda a explicar os temores da oposição liberal-conservadora. Vale divulgá-lo, já que a mídia venal o tem escondido:
● Médias da balança comercial brasileira (em bilhões de dólares):
* FHC-1 (1995/1998): - 5,886 (déficit)
* FHC-2 (1999/2002): + 3,444
* Lula (2003/2005): + 34,420 (recorde histórico)
● Superávit comercial (em bilhões de dólares):
* FHC (1995/2002): - 8,7 (déficit)
* Lula (2003/2005): + 103,0
● Risco país (em pontos):
* FHC (em 2002): 1.445
* Lula (em fevereiro de 2006): 230 (menor índice da história)
● Juros
* FHC (em 2002): 25%, tendo chegado a 46% na crise de janeiro de 1999
* Lula (em fevereiro de 2006): 16% e deve chegar a 12% até o final do ano
● Inflação
* FHC (em 2002): 12,5%
* Lula (em 2005): 5,7%
● Conversão de dólar em reais
* FHC (2002): 3,53
* Lula (em Fevereiro de 2006): 2,15 (menor índice desde 2001)
● Ranking no PIB mundial (em trilhões de dólares)
* FHC (2002): 1,340 (10º país)
* Lula (2004): 1,492 (9º país)
● Índice Bovespa (em pontos)
* FHC (2002): 11.268
* Lula (em janeiro de 2006): 35.223 (recorde histórico)
● Dívida externa (em bilhões de dólares)
* FHC (2002): 210
* Lula (2005): 165 (agora em fevereiro, amortizou mais 20 bilhões de dólares)
● Dívida com o FMI (em bilhões de dólares)
* FHC (2002): U$14,7 bilhões
* Lula (2005): zero (pagou a dívida antecipadamente)
● Dívida com o Clube de Paris (em bilhões de dólares)
* FHC (2002): U$5 bilhões
* Lula (2005): zero (pagou a dívida antecipadamente)
● Salário mínimo (em dólares)
* FHC (2002): 56,50
* Lula (2005): 128,20
● Desemprego
* FHC (2002): 12,2%
* Lula (2005): 9,6%
● Empregos com carteira assinada
* FHC (1995 a 2002 - oito anos) - 700 mil
* Lula (2003 a 2005 - três anos) - 4 milhões
● Taxa da população abaixo da linha da pobreza
* FHC (2002): 35,9%
* Lula (2004): 25,1%
● Relação dívida/PIB
* 2002: 57,5%
* 2005: 51%
● Valor das exportações brasileiras
* 2002: US$ 60 bilhões
* 2005: US$ 118 bilhões