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Comentário interessante sobre o ceticismo
Enviado: 23 Mar 2006, 10:12
por RCAdeBH
OS CÉTICOS
Affonso Romano de Sant'Anna *
Os céticos não fazem história, contemplam-na à distância, comodamente, instalados na sabedoria do não correr riscos. Nossa cultura os tem elogiado. Eu tenho minhas dúvidas sobre eles.
O cético não ajuda na construção do edifício, apenas diz: acho que desse jeito vai desabar. Mas se lhe perguntarem: então, como deve ser, ele dirá, não me perguntem, não sou engenheiro, minha função é não acreditar.
O ceticismo é o barateamento de uma certa filosofia. O cético não vive, desconfia. Não participa, espia. Não faz, assiste. O cético (em não fazendo nada) se julga melhor que todos os que fazem.
Já ouviram falar de “arte conceitual”? – aquela em que o autor não faz a obra, apenas projeta seus propósitos; não realiza, apenas diz como seria se realizasse? Pois o cético é o criador da “vida conceitual”.
Não contem com o cético para uma revolução. E se houver revolução, e se ele se misturar aos vencedores, vai dizer: vocês não perdem por esperar. Não convidem o cético para fundar uma cidade. Não é sequer bom guardião de biblioteca e é com desconfiança que ouve o canto dos pássaros.
O cético não planta uma árvore, já duvidando que a semente brote. Dependêssemos dos céticos estaríamos nas cavernas, não teríamos feito sequer o primeiro machado de pedra lascada. A sorte do cético é que outros plantam e colhem para ele.
Certas épocas elegem o cético como modelo. Tristes épocas. O cético não tem nada a perder, porque não joga. E como, em grande parte, a maioria dos sonhos humanos não se realiza como a gente pretendia, o cético considera-se sempre um profeta. Da inércia, é claro.
Fosse Deus cético e não teria sequer dito fiat. Nem Colombo teria partido para a América com aquelas três caravelas. O cético tem paralisia na alma. O irmão gêmeo do cético é o cínico.
Os céticos, é claro, são ascépticos e esqueléticos de sonhos. Os céticos têm movimentos milimétricos, movem-se em círculos rastejantes, não têm a mágica leveza do equilibrista atlético.
O cético é um ser original que precisa ser melhor pesquisado, pois só tem uma vértebra, a vértebra do invertebrado. O homem de ação age, o romântico, sonha, o cético, tem atitudes bisonhas.
O cético é cauteloso. Parece um santo humilde e, no entanto, é o maior orgulhoso: orgulha-se, não do excesso de carne, mas do osso.
O cético, enfim, é um amante perverso e curioso, pois o seu maior prazer é não ter gozo.
Re.: Comentário interessante sobre o ceticismo
Enviado: 23 Mar 2006, 10:23
por Aurelio Moraes
Esse texto deve se referir aos pseudo-céticos.
Sobre o Pseudo-ceticismo
Marcello Truzzi, publicado no The Zetetic Scholar, #12-13, 1987
Ao longo dos anos, tenho condenado o mau uso do termo "cético" quando usado para se referir a todos os críticos de alegações sobre anomalias. Infelizmente o termo tem sido abusado desta forma tanto por proponentes quanto por críticos do paranormal. Às vezes os usuários do termo distinguem entre os assim chamados céticos "leves" [soft] contra os céticos "duros" [hard], e eu reavivei em parte o termo "zetético" por causa deste mau uso. Mas agora penso que os problemas criados vão além de mera terminologia e a situação precisa ser passada a limpo. Uma vez que "ceticismo" corretamente se refere à dúvida em lugar da negação -- não-crença em lugar de crença -- críticos que tomam a posição negativa em lugar da agnóstica, mas ainda se chamam "céticos", são de fato pseudo-céticos e têm, creio eu, ganhado uma falsa vantagem usurpando esse rótulo.
Em ciência, o ônus da prova recai no alegador; e quanto mais extraordinária uma alegação, mais pesado é o ônus da prova exigido. O verdadeiro cético toma uma posição agnóstica, uma que diz que a alegação não está provada em lugar de desprovada. Ele afirma que o alegador não sustentou o ônus da prova e que a ciência deve continuar construindo seu mapa cognitivo da realidade sem incorporar a alegação extraordinária como um "fato" novo. Considerando que o verdadeiro cético não faz uma alegação, ele não tem nenhum ônus para provar qualquer coisa. Ele apenas continua usando as teorias estabelecidas da "ciência convencional" como sempre. Mas se um crítico afirma que há evidência para refutação, que ele tem uma hipótese negativa -- dizendo, por exemplo, que um aparente resultado psi era de fato devido a uma falha nos processos de controle ou análise [artifact] -- ele está fazendo uma alegação e então também tem que lidar com o ônus da prova. Às vezes, tais alegações negativas por críticos também são bastante extraordinárias -- por exemplo, que um OVNI era de fato um plasma gigantesco, ou que alguém em uma experiência psi obtinha pistas por uma habilidade anormal de ouvir tons altos que outros com ouvidos normais não notariam. Em tais casos o alegador negativo também deve ter que lidar com um ônus de prova mais pesado que o normalmente esperado.
Críticos que fazem alegações negativas, mas que erradamente se chamam "céticos", freqüentemente agem como se não tivessem absolutamente nenhum ônus da prova sobre eles, ainda que tal posição só seria apropriada para o cético agnóstico ou verdadeiro. Um resultado disto é que muitos críticos parecem sentir que só é necessário apresentar um caso para sua contra-alegação fundado em plausibilidade em lugar de evidência empírica. Assim, se pode ser demonstrado que um indivíduo em uma experiência psi teve uma oportunidade para fraudar, muitos críticos parecem assumir não somente que ele provavelmente fraudou, mas que deve ter fraudado, apesar do que pode ser uma ausência completa de evidência de que ele realmente fraudou e algumas vezes até mesmo ignorando evidência da reputação passada do indivíduo de honestidade. Similarmente, às vezes procedimentos de randomização impróprios são assumidos como sendo a causa de indicadores psi altos de um indivíduo, embora tudo que tenha sido estabelecido seja a possibilidade de que tal efeito tenha sido a causa real. É claro, o peso evidencial da experiência está muito reduzido quando nós descobrimos uma falha em seu projeto que permitiria que um efeito confundisse os resultados. Descobrir uma oportunidade de erro deveria fazer tais experimentos menos evidenciais e normalmente não convincentes. Isso normalmente contesta a alegação de que a experiência era "à prova de erro", mas não contesta a alegação de anomalia.
Mostrar que uma evidência não é convincente não é suficiente para descartá-la completamente. Se um crítico afirma que o resultado era devido à falha X, esse crítico tem então o ônus da prova de demonstrar que a falha X pode e provavelmente produziu tal resultado sob tais circunstâncias. É verdade que em alguns casos a atração pela mera plausibilidade de que uma falha produziu o resultado pode ser tão grande que quase todos aceitariam o argumento; por exemplo, quando nós descobrimos que alguém que fraudou no passado teve uma oportunidade de fraudar neste caso, poderíamos concluir razoavelmente que ele provavelmente também fraudou desta vez. Mas em muitos casos o crítico que faz um argumento meramente plausível para uma falha fecha a porta em pesquisas futuras quando a ciência apropriada exige que sua hipótese de uma falha também deveria ser testada. Desafortunadamente, a maioria dos críticos parece feliz em sentar em suas poltronas produzindo explicações post hoc. Seja que lado termine com a história verdadeira, a ciência progride melhor através de investigações em laboratório.
Por outro lado, proponentes de uma alegação de anomalia que reconhecem a falácia anterior podem ir muito longe na outra direção. Alguns argumentam, como Lombroso quando ele defendeu a mediunidade de Palladino, que a presença de peruca não nega a existência de cabelo de verdade. Todos nós temos que nos lembrar de que a ciência pode nos contar o que é empiricamente improvável, mas não o que é empiricamente impossível. Evidência em ciência sempre é uma questão de grau e raramente é, se é que é alguma vez, absolutamente conclusiva. Alguns proponentes de alegações de anomalias, como alguns críticos, parecem pouco dispostos em considerar evidências em termos probabilísticos, agarrando-se a qualquer fio solto como se o crítico tivesse que contestar toda a evidência avançada para uma alegação particular. Tanto críticos quanto proponentes precisam aprender a pensar em adjudicação na ciência mais como a encontrada nos tribunais de lei, imperfeita e com graus variados de prova e evidência. Verdade absoluta, como justiça absoluta, raramente é alcançável. Nós podemos apenas fazer o melhor que podemos para nos aproximar delas.
http://www.ceticismoaberto.com/ceticismo/truzzi.htm
Texto relacionado:
Ávida credulidade
Re.: Comentário interessante sobre o ceticismo
Enviado: 23 Mar 2006, 12:52
por Acauan
Para um texto repetido, uma resposta repetida:
Acauan, em 26/02/2006 às 15:08, escreveu:Bobagens e mais bobagens.
O autor desta crítica não enxerga ou prefere não enxergar que não existe cético mais extremado que o crente fanático, não importa qual seja o objeto da crença que devota.
Crentes fanáticos são a expressão máxima do ceticismo para tudo o que negue sua própria crença.
Pergunte a um evangélico pentecostal fundamentalista o que ela acha dos milagres atribuídos pelos católicos à Maria e o verá tecer um muito elaborado elenco de argumentos destinados a provar doutrinária ou cientificamente o quanto tais alegações não passam de crendices e boatos.
Redirecione a pergunta para alegações de milagres ocorridos na igreja que este crente freqüenta e veremos que, sem maiores justificativas, as exigências para tomá-los como verdadeiros se tornam consideravelmente menores.
Todo mundo é cético, em maior ou menor grau, excetuados os incapacitados mentais que não possuem lógica suficiente para questionar as coisas que lhe são apresentadas como verdadeiras.
Associar o que hoje em dia se chama de cético aos estereótipos gregos antigos ou simplificações populares do significado do termo é tão desonesto quanto julgar católicos e protestantes atuais com base na Noite de São Bartolomeu ou dos julgamentos de Salém.
Igualmente tolo é mostrar os céticos como pessoas sem qualquer contribuição à humanidade, como se o ceticismo moderno não fosse predominantemente de inspiração científica, sendo que, aqueles que acham que a ciência em nada contribui para suas vidas, que renuncie aos tratamentos médicos (clínicos, cirúrgicos, bioquímicos e instrumentais) e tentem viver o máximo possível apenas com sua Fé e orações.
Como quem escreveu o texto obviamente não é ignorante para desconhecer isto, resta concluir que seja simplesmente desonesto.
A seguir, uma visão atualizada (e honesta) sobre o significado do ceticismo.
O Ceticismo e os Limites da Dúvida
Postado originalmente em 4/5/2003 19:42:27
Por Acauan
O pensamento cético é caracterizado pela aceitação racional da dúvida, sempre que as respostas disponíveis para um dilema não estão fundamentadas por evidências satisfatoriamente consistentes.
A expressão “satisfatoriamente consistente” é necessária à definição para que não caiamos na armadilha que os Céticos da Grécia clássica montaram para si próprios ao entenderem que a prova de uma proposição também tinha de ser provada, criando assim uma sequencia ad infinitum da necessidade de provar a prova da prova da prova..., terminando por concluir que nenhuma certeza, sobre o que quer que seja, poderia ser possível.
Os Céticos gregos refutavam a idéia de que determinadas verdades são auto-evidentes e portanto não precisavam ser provadas. Tal opção condenou seus adeptos a estabelecerem um ramo estéril da Filosofia, pois sendo esta aplicação do pensamento humano focada na busca da Verdade, considerar tal objetivo como inalcançável é o mesmo que jogar a toalha antes do início da luta.
Hoje em dia, dificilmente encontraremos entre as pessoas autodenominadas Céticas, a mesma postura xiita de apologia da dúvida dos seguidores de Pirro. Orientados pelo paradigma do Método Científico, os céticos modernos em geral aceitam que evidências objetivamente demonstradas e comprovadas por várias e diferentes fontes imparciais são suficientes para dar credibilidade à uma proposição. Credibilidade entretanto não significa FÉ, podendo ser derrubada caso novas evidências se sobreponham as antigas.
Livres dos radicalismo de seus antecessores clássicos, os céticos atuais ainda estão sujeitos a pelo menos uma armadilha na qual muitos caem sem perceber: Aceitação racional da dúvida NÃO deve significar conformismo diante da dúvida.
Num entendimento produtivo do ceticismo, a dúvida deve ser visto como uma ferramenta e NUNCA como um objetivo.
Mesmo que aceitemos que determinadas questões não podem ser respondidas no nosso nível de conhecimento atual ou mesmo que esteja claro que o nível de conhecimento que traria a resposta não será alcançado no período de nossas vidas, não há porque concluir que devam existir questões que jamais terão resposta ou que a certeza definitiva quanto a elas não será estabelecida em alguma época futura.
O moderno Ceticismo, portanto, não deve ser entendido como a apologia da dúvida. Pelo contrário, o cético preza tanto a certeza que está disposto a esperar o tempo que for necessário por ela.
Re.: Comentário interessante sobre o ceticismo
Enviado: 23 Mar 2006, 12:53
por Fernando Silva
Há um texto recente do Acauan sobre este artigo ridículo.
Re: Re.: Comentário interessante sobre o ceticismo
Enviado: 23 Mar 2006, 13:00
por Acauan
Fernando Silva escreveu:Há um texto recente do Acauan sobre este artigo ridículo.
Oi Fernando,
Cheguei um minuto antes de você.
Enviado: 24 Mar 2006, 08:54
por Carlos Castelo
Analisando esse texto nota-se que o autor desqualifica tudo o que se alcançou em todos esses anos de pesquisas, descobertas importantes nos diversos campos da ciência onde só foi possível graças ao ceticismo científico. No campo da ciência se alguém questiona a veracidade de uma alegação e procura prová-la ou mostrar que não é consistente, usa-se o método ciêntífico, a partir daí o cético chega a conclusão se refuta ou afirma como verdadeira, não é apenas sair duvidando de tudo como quer mostrar o texto acima. Como já foi dito o autor é no mínimo desonesto!
Enviado: 24 Mar 2006, 11:30
por o anátema
"que texto bom.
Agora vejo que a dúvida irracional sobre absolutamente qualquer coisa é algo extremamente inútil. E é exatamente isso que fazem os céticos, devem duvidar até da afirmação que estão no Brasil, por exemplo.
Dificil entender como sobrevivem mais que uns dias, pois devem duvidar até da necessidade de alimentos para sobrevivência, ao mesmo tempo que claro, também duvidam dos que dizem se alimentar de luz, que contradição.
Duvidam de tudo, absolutamente. Só não duvidam da própria dúvida, na sua dúvida tem absoluta fé.
O melhor mesmo é a credulidade irracional em alguma coisa arbitrariamente escolhida com o critério de que se fosse verdade, nos faria sentir bem, e logo deve ser verdade.
A única alternativa a isso, é duvidar-se de tudo, até de que vale a pena levantar da cama todas as manhãs. Daí o futuro e o avanço da humanidade depende dos que crêem cegamente em algo, pois esses levantam-se todas as manhãs crentes em sua missão, e a fé é que determinará a própria realidade. Se o cético duvida de algum valor em viver, não esforça-se para fazer a vida valer a pena, construir algo mais. Já o crente fervoroso, movido pela sua certeza constroi a vida em que acredita.
Concluimos então que a realidade é fruto direto de nossas crenças; os céticos ao duvidarem de tudo constroem um vazio para si e para os outros; crentes em qualquer coisa constroem algo, e algo é sempre melhor do que nada - ainda que céticos certamente irão duvidar disso também"
Enviado: 24 Mar 2006, 11:45
por Fabricio Fleck
A dúvida teve e tem papel importante na história da humanidade (inclusive na religião). Essas são as conclusões do excelente livro
Dúvida:Uma História (
http://obruxodesantos.blogspot.com/2005_10_01_obruxodesantos_archive.html)