Lideranças Religiosas
Enviado: 24 Mar 2006, 12:35
Lideranças Religiosas
Postado originalmente em 12/6/2003 19:22:42
Revisado em 24/03/2006, às 12:35
Por Acauan
Os líderes religiosos do Brasil formam um grupo pra lá de pitoresco.
Quando me ocorreu escrever sobre este assunto, o primeiro nome que me lembro é o do rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista.
Às vezes tenho a impressão que o Sobel é o único judeu do país, ou pelo menos o único representante da comunidade judaica, para o que quer que seja:
- precisam de um rabino para um culto ecumênico, é Sobel quem vai;
- o governo convida religiosos para um evento, tá ele lá na primeira fila;
- a TV apresenta reportagem sobre costumes judaicos, Sobel explica tudinho;
- dicas sobre culinária judaica? Henry aparece de avental na mão.
Não sei se ainda passa, mas a Globo abria sua programação diária com um momento ecumênico, em que cada dia, um representante de cada religião – católica, evangélica, islâmica, afro, budista e judaica, apresentava uma mensagem rápida. O padre, o pastor, o sheik, o pai-de-santo e o monge eu não conhecia. Mas adivinhe quem apresentava o programa no dia reservado ao judaísmo?
O rabino também é um personagem folclórico. Mora no Brasil há mais de trinta e anos e fala com um sotaque igual ao do Marcelo Madureira (do Casseta & Planeta) quando caracterizado de George W. Busha. Conheci americanos que, com dois anos de residência, falavam um português quase perfeito. Pelo jeito H.S. incorporou a fala característica à identidade de seu personagem.
Ah, e que ninguém na comunidade judaica pense em mudar esta situação. Há alguns anos tentaram remove-lo da presidência do rabinato. O homem fez e aconteceu. Continua lá. Pelo visto, os outros rabinos, que nunca apareciam na mídia desde então se tornaram invisíveis de vez.
A biografia do Henry tem bons momentos.
Quando do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, pela repressão política do regime militar, Sobel se negou corajosamente a aceitar a versão oficial de que Vlado tivesse se suicidado e cuidou para que recebesse todas as honras do ritual fúnebre judaico, que tradicionalmente são negadas aos suicidas.
Mas passando aos outros líderes: tem os bispos católicos. Bispo da santa madre tem que se referir assim, no coletivo mesmo, pois sozinho não tem graça.
Reunião da C.N.B.B. (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) com toda aquela velharada de vestidão preto e cheios de penduricalhos é uma cena e tanto. Aquela turma com um terninho e uma gravata fica bem menos ridícula.
Em São Paulo tem o Cláudio Humes.
Gosto dele. Quando os metalúrgicos do ABC tavam apanhando que nem gato no saco da polícia, durante as greves do início dos anos 80, Humes, então bispo de Santo André (diocese que incluía toda região) mandou que as portas das igrejas fossem abertas para os trabalhadores. Muito católico chiou – igreja não é pra isto, diziam. Eu achei legal.
Os espíritas tinham o Chico Xavier. Morreu ou desencarnou, sei lá. Não sei quem é cotado para sucessor. Torço prá nomearem o Gasparetto. Não que eu aprecie suas pinturas (não mesmo), mas os cultos ecumênicos passariam a ser muito mais divertidos com aquela bichona participando.
E tem o Islã... os muçulmanos moderados que me desculpem, mas sempre que vejo um sheik na televisão brasileira, explicando que sua comunidade é pacífica (o que, até hoje, tem se mostrado verdadeiro quanto aos muçulmanos do Brasil), fico com a impressão de que se a entrevistadora duvidar ele saca de uma cimitarra e decepa a cabeça dela.
Sheik que atua no Brasil e aparece na TV costuma ter cara de malvado – daqueles que assustam criancinhas. Tem o sheik Jihad, que tá sempre falando de paz. Não tenho motivos para duvidar dele pessoalmente, mas não consigo fugir ao estereótipo de que a qualquer momento ele vá tirar um kalashinikov de dentro daquele batinão e metralhar todo mundo.
Líderes evangélicos são um problema. Tem uma quantidade enorme deles. Aí você tira aqueles que tem cara de safado e não lembra de mais ninguém para citar.
A turma dos ritos afro já foi muito bem representada. Tinha a Mãe Menininha do Gantois que era uma simpatia.
Se tem algo que estes cultos esquisitos produziram de legal foi ela. Aí ela morreu... Hoje é um tal de babalaorixá disto, babalaorixá daquilo, falando pelos umbandista, candomblesistas e similares, todos cópias mais ou menos fiéis do Painho, personagem criado por Chico Anísio.
Budistas, bem, todo mundo gosta de monge budista, desde o Kuai Chang Kayne da série Kung Fu. No Brasil nunca vi um deles falar coisa com coisa. Sempre que entrevistam um daqueles caras de túnica cor de abóbora fico com a impressão de que ou sou muito burro ou monge budista é que é muito enrolado.
E prá não me acusarem de parcialidade, está surgindo uma nova liderança, relacionada à religião, que consegue ser tão estranha quanto todas as citadas acima: os líderes dos movimentos de ateus e céticos.
Qualquer dia eles promovem um culto ecumênico ateistíco, entre as diversas facções atéias e convidam o Henry Sobel prá participar.
Acho que ele topa.
Postado originalmente em 12/6/2003 19:22:42
Revisado em 24/03/2006, às 12:35
Por Acauan
Os líderes religiosos do Brasil formam um grupo pra lá de pitoresco.
Quando me ocorreu escrever sobre este assunto, o primeiro nome que me lembro é o do rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista.
Às vezes tenho a impressão que o Sobel é o único judeu do país, ou pelo menos o único representante da comunidade judaica, para o que quer que seja:
- precisam de um rabino para um culto ecumênico, é Sobel quem vai;
- o governo convida religiosos para um evento, tá ele lá na primeira fila;
- a TV apresenta reportagem sobre costumes judaicos, Sobel explica tudinho;
- dicas sobre culinária judaica? Henry aparece de avental na mão.
Não sei se ainda passa, mas a Globo abria sua programação diária com um momento ecumênico, em que cada dia, um representante de cada religião – católica, evangélica, islâmica, afro, budista e judaica, apresentava uma mensagem rápida. O padre, o pastor, o sheik, o pai-de-santo e o monge eu não conhecia. Mas adivinhe quem apresentava o programa no dia reservado ao judaísmo?
O rabino também é um personagem folclórico. Mora no Brasil há mais de trinta e anos e fala com um sotaque igual ao do Marcelo Madureira (do Casseta & Planeta) quando caracterizado de George W. Busha. Conheci americanos que, com dois anos de residência, falavam um português quase perfeito. Pelo jeito H.S. incorporou a fala característica à identidade de seu personagem.
Ah, e que ninguém na comunidade judaica pense em mudar esta situação. Há alguns anos tentaram remove-lo da presidência do rabinato. O homem fez e aconteceu. Continua lá. Pelo visto, os outros rabinos, que nunca apareciam na mídia desde então se tornaram invisíveis de vez.
A biografia do Henry tem bons momentos.
Quando do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, pela repressão política do regime militar, Sobel se negou corajosamente a aceitar a versão oficial de que Vlado tivesse se suicidado e cuidou para que recebesse todas as honras do ritual fúnebre judaico, que tradicionalmente são negadas aos suicidas.
Mas passando aos outros líderes: tem os bispos católicos. Bispo da santa madre tem que se referir assim, no coletivo mesmo, pois sozinho não tem graça.
Reunião da C.N.B.B. (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) com toda aquela velharada de vestidão preto e cheios de penduricalhos é uma cena e tanto. Aquela turma com um terninho e uma gravata fica bem menos ridícula.
Em São Paulo tem o Cláudio Humes.
Gosto dele. Quando os metalúrgicos do ABC tavam apanhando que nem gato no saco da polícia, durante as greves do início dos anos 80, Humes, então bispo de Santo André (diocese que incluía toda região) mandou que as portas das igrejas fossem abertas para os trabalhadores. Muito católico chiou – igreja não é pra isto, diziam. Eu achei legal.
Os espíritas tinham o Chico Xavier. Morreu ou desencarnou, sei lá. Não sei quem é cotado para sucessor. Torço prá nomearem o Gasparetto. Não que eu aprecie suas pinturas (não mesmo), mas os cultos ecumênicos passariam a ser muito mais divertidos com aquela bichona participando.
E tem o Islã... os muçulmanos moderados que me desculpem, mas sempre que vejo um sheik na televisão brasileira, explicando que sua comunidade é pacífica (o que, até hoje, tem se mostrado verdadeiro quanto aos muçulmanos do Brasil), fico com a impressão de que se a entrevistadora duvidar ele saca de uma cimitarra e decepa a cabeça dela.
Sheik que atua no Brasil e aparece na TV costuma ter cara de malvado – daqueles que assustam criancinhas. Tem o sheik Jihad, que tá sempre falando de paz. Não tenho motivos para duvidar dele pessoalmente, mas não consigo fugir ao estereótipo de que a qualquer momento ele vá tirar um kalashinikov de dentro daquele batinão e metralhar todo mundo.
Líderes evangélicos são um problema. Tem uma quantidade enorme deles. Aí você tira aqueles que tem cara de safado e não lembra de mais ninguém para citar.
A turma dos ritos afro já foi muito bem representada. Tinha a Mãe Menininha do Gantois que era uma simpatia.
Se tem algo que estes cultos esquisitos produziram de legal foi ela. Aí ela morreu... Hoje é um tal de babalaorixá disto, babalaorixá daquilo, falando pelos umbandista, candomblesistas e similares, todos cópias mais ou menos fiéis do Painho, personagem criado por Chico Anísio.
Budistas, bem, todo mundo gosta de monge budista, desde o Kuai Chang Kayne da série Kung Fu. No Brasil nunca vi um deles falar coisa com coisa. Sempre que entrevistam um daqueles caras de túnica cor de abóbora fico com a impressão de que ou sou muito burro ou monge budista é que é muito enrolado.
E prá não me acusarem de parcialidade, está surgindo uma nova liderança, relacionada à religião, que consegue ser tão estranha quanto todas as citadas acima: os líderes dos movimentos de ateus e céticos.
Qualquer dia eles promovem um culto ecumênico ateistíco, entre as diversas facções atéias e convidam o Henry Sobel prá participar.
Acho que ele topa.