Crítica a política pró-Israel.
Enviado: 24 Mar 2006, 13:50
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... u1898.jhtm
24/03/2006
Estudo americano critica a política pró-Israel dos Estados Unidos
Segundo os professores Walt e Mearsheimer, o lobby israelense influi na política externa americana num sentido que a afasta de seus interesses nacionais
Corine Lesnes
correspondente em Washington
Segundo os professores Walt e Mearsheimer, o lobby israelense influi na política externa americana num sentido que a afasta de seus interesses Num ensaio intitulado "O lobby israelense e a política externa dos Estados Unidos, os professores Stephen Walt, diretor de pesquisas da Faculdade Kennedy da universidade Harvard, e John Mearsheimer, professor de ciências políticas na universidade de Chicago, estimam que os Estados Unidos confundem com freqüência excessiva seu interesse nacional com o do Estado judeu, correndo com isso o risco de "comprometer sua segurança".
Eles incriminam a ação do "lobby pró-israelense", um grupo que eles definem como composto por indivíduos e organizações que "trabalham ativamente" com o objetivo de influenciar a diplomacia americana.
"Outros grupos de pressão conseguiram orientar a política externa americana na direção que eles queriam, mas nenhum deles conseguiu, como fez este grupo, atrair esta política para rumos tão distantes daquilo que o interesse nacional americano recomendaria, conseguindo, ao mesmo tempo, convencer os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e de Israel são mais ou menos idênticos", escrevem os dois pesquisadores.
Este texto de 83 páginas, que foi publicado online no site da Harvard, no quadro da série dos "documentos de trabalho", não foi retirado do site apesar dos protestos das associações pró-israelenses; contudo, a universidade mandou acrescentar um parágrafo em margem no qual ela indica que o texto é de responsabilidade exclusiva dos seus autores.
A tese vai no contra-pé do raciocínio habitual nos Estados Unidos, segundo o qual a ameaça terrorista aproximou mais ainda Israel e a América. Para os dois universitários, que contam entre os animadores da escola "realista" em matéria de política internacional, se os Estados Unidos enfrentam problemas com o terrorismo, "isso se deve em boa parte ao fato de eles serem aliados de Israel, e não o inverso".
Da mesma forma, os Estados Unidos "não precisariam se preocupar tanto" com a ameaça iraquiana ou síria, se isso não representasse um perigo para a segurança de Israel. Um Irã dotado da bomba atômica não constituiria um "desastre estratégico" tão grande, uma vez que o regime de Teerã sabe que ele se exporia a uma resposta fulminante.
Desde o fim da guerra fria, estimam os pesquisadores, Israel deixou de aparecer como "um trunfo estratégico" capaz de ajudar a conter a expansão soviética na região, tornando-se muito mais um "fardo". Para os dois professores, que na época manifestaram sua oposição à guerra no Iraque, o lobby foi, junto com o governo israelense, não o único fator, e sim "um elemento crítico" na decisão de derrubar o regime de Saddam Hussein pelas armas.
"Operações de espionagem"
Os autores lembram que Israel é o principal país beneficiário da ajuda econômica e militar dos Estados Unidos, junto com o Egito - cerca de US$ 500 (R$ 1.074,90) por habitante, por ano -, enquanto a sua renda per capita é equivalente àquela da Espanha ou da Coréia do Sul. Israel recebe a quantia de uma vez só, diferentemente dos outros países, o que lhe permite investi-la e faturar as taxas de juros. Os outros países são, na sua maioria, obrigados a abastecer em equipamentos militares junto aos Estados Unidos, o que não é o caso de Israel, que faz viver sua indústria militar.
Mas nem por isso o Estado judeu se comporta como um "aliado leal", acusam Stephen Walt e John Mearsheimer. Ele vendeu tecnologia sensível para a China. Os autores citam também um relatório do organismo orçamentário do Congresso (GAO), segundo o qual, entre todos os aliados, Israel é o país que "vem se dedicando a operações de espionagem entre as mais agressivas contra os Estados Unidos".
Dois membros da principal organização de lobby, o Aipac (American Israel Public Affairs Committee), que se define ela mesma como "o lobby da América pró-israelense", respondem a processo por terem transmitido informações confidenciais sobre o Irã que eles haviam obtido junto ao analista do Pentágono Larry Franklin. Este último foi condenado, em janeiro, a 13 anos de prisão.
Logo quando foi publicado, o texto suscitou críticas virulentas, principalmente em relação ao trecho que questiona os círculos de reflexão e a imprensa pela sua parcialidade em favor de Israel. John Mearsheimer indicou à reportagem de "Le Monde" que nenhuma publicação americana aceitou reproduzi-lo.
Os dois pesquisadores iniciaram este trabalho em 2002, depois de terem ficado impressionados pela maneira com que Ariel Sharon havia ignorado os pedidos do presidente Bush para suspender a operação de retomada de controle das cidades da Cisjordânia, embora tal operação prejudicasse a imagem dos Estados Unidos perante o mundo árabe.
"A nossa ambição é de contribuir para que os Estados Unidos sigam uma política que atende ao interesse nacional americano", diz. "Nós não achamos que a guerra no Iraque corresponda a este interesse. Na época, parecia claro que esta política era conduzida, em grande parte, pelo lobby israelense. Por isso, pareceu-nos fazer sentido escrever a este respeito e abrir o debate".
24/03/2006
Estudo americano critica a política pró-Israel dos Estados Unidos
Segundo os professores Walt e Mearsheimer, o lobby israelense influi na política externa americana num sentido que a afasta de seus interesses nacionais
Corine Lesnes
correspondente em Washington
Segundo os professores Walt e Mearsheimer, o lobby israelense influi na política externa americana num sentido que a afasta de seus interesses Num ensaio intitulado "O lobby israelense e a política externa dos Estados Unidos, os professores Stephen Walt, diretor de pesquisas da Faculdade Kennedy da universidade Harvard, e John Mearsheimer, professor de ciências políticas na universidade de Chicago, estimam que os Estados Unidos confundem com freqüência excessiva seu interesse nacional com o do Estado judeu, correndo com isso o risco de "comprometer sua segurança".
Eles incriminam a ação do "lobby pró-israelense", um grupo que eles definem como composto por indivíduos e organizações que "trabalham ativamente" com o objetivo de influenciar a diplomacia americana.
"Outros grupos de pressão conseguiram orientar a política externa americana na direção que eles queriam, mas nenhum deles conseguiu, como fez este grupo, atrair esta política para rumos tão distantes daquilo que o interesse nacional americano recomendaria, conseguindo, ao mesmo tempo, convencer os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e de Israel são mais ou menos idênticos", escrevem os dois pesquisadores.
Este texto de 83 páginas, que foi publicado online no site da Harvard, no quadro da série dos "documentos de trabalho", não foi retirado do site apesar dos protestos das associações pró-israelenses; contudo, a universidade mandou acrescentar um parágrafo em margem no qual ela indica que o texto é de responsabilidade exclusiva dos seus autores.
A tese vai no contra-pé do raciocínio habitual nos Estados Unidos, segundo o qual a ameaça terrorista aproximou mais ainda Israel e a América. Para os dois universitários, que contam entre os animadores da escola "realista" em matéria de política internacional, se os Estados Unidos enfrentam problemas com o terrorismo, "isso se deve em boa parte ao fato de eles serem aliados de Israel, e não o inverso".
Da mesma forma, os Estados Unidos "não precisariam se preocupar tanto" com a ameaça iraquiana ou síria, se isso não representasse um perigo para a segurança de Israel. Um Irã dotado da bomba atômica não constituiria um "desastre estratégico" tão grande, uma vez que o regime de Teerã sabe que ele se exporia a uma resposta fulminante.
Desde o fim da guerra fria, estimam os pesquisadores, Israel deixou de aparecer como "um trunfo estratégico" capaz de ajudar a conter a expansão soviética na região, tornando-se muito mais um "fardo". Para os dois professores, que na época manifestaram sua oposição à guerra no Iraque, o lobby foi, junto com o governo israelense, não o único fator, e sim "um elemento crítico" na decisão de derrubar o regime de Saddam Hussein pelas armas.
"Operações de espionagem"
Os autores lembram que Israel é o principal país beneficiário da ajuda econômica e militar dos Estados Unidos, junto com o Egito - cerca de US$ 500 (R$ 1.074,90) por habitante, por ano -, enquanto a sua renda per capita é equivalente àquela da Espanha ou da Coréia do Sul. Israel recebe a quantia de uma vez só, diferentemente dos outros países, o que lhe permite investi-la e faturar as taxas de juros. Os outros países são, na sua maioria, obrigados a abastecer em equipamentos militares junto aos Estados Unidos, o que não é o caso de Israel, que faz viver sua indústria militar.
Mas nem por isso o Estado judeu se comporta como um "aliado leal", acusam Stephen Walt e John Mearsheimer. Ele vendeu tecnologia sensível para a China. Os autores citam também um relatório do organismo orçamentário do Congresso (GAO), segundo o qual, entre todos os aliados, Israel é o país que "vem se dedicando a operações de espionagem entre as mais agressivas contra os Estados Unidos".
Dois membros da principal organização de lobby, o Aipac (American Israel Public Affairs Committee), que se define ela mesma como "o lobby da América pró-israelense", respondem a processo por terem transmitido informações confidenciais sobre o Irã que eles haviam obtido junto ao analista do Pentágono Larry Franklin. Este último foi condenado, em janeiro, a 13 anos de prisão.
Logo quando foi publicado, o texto suscitou críticas virulentas, principalmente em relação ao trecho que questiona os círculos de reflexão e a imprensa pela sua parcialidade em favor de Israel. John Mearsheimer indicou à reportagem de "Le Monde" que nenhuma publicação americana aceitou reproduzi-lo.
Os dois pesquisadores iniciaram este trabalho em 2002, depois de terem ficado impressionados pela maneira com que Ariel Sharon havia ignorado os pedidos do presidente Bush para suspender a operação de retomada de controle das cidades da Cisjordânia, embora tal operação prejudicasse a imagem dos Estados Unidos perante o mundo árabe.
"A nossa ambição é de contribuir para que os Estados Unidos sigam uma política que atende ao interesse nacional americano", diz. "Nós não achamos que a guerra no Iraque corresponda a este interesse. Na época, parecia claro que esta política era conduzida, em grande parte, pelo lobby israelense. Por isso, pareceu-nos fazer sentido escrever a este respeito e abrir o debate".