Análise Psicológica dos Céticos
Enviado: 01 Abr 2006, 19:04
PSICOLOGIA DOS INCRÉDULOS
Os céticos
Ordinariamente, os céticos pertencem a duas categorias: ou são pessoas demasiado malignas, e que não ocultam essa qualidade; ou são indivíduos tão sábios que imaginam que nada está acima da ciência deles. Aferrados às suas teorias, não consentem em abandona-las; a cavaleiro nas suas teses, desdenham descer dessas alturas, e majestosamente se revestem do que chamam ciência oficial.
Com eles perdem-se inutilmente o tempo e a lógica; porque, a todas as provas que se lhes fornece, respondem: “É impossível!”
Se uma notabilidade científica afirmar a um cético ter visto em condições de rigorosa observação (estando o médium seguro pelos pés e pelos braços) uma cadeira ou qualquer outro objeto mover-se sem contacto, ele retorquirá incrédulo: “Tendes certeza de que vistes isto? Pois, se assim é, trazei-me o médium para que eu verifique por mim mesmo o fenômeno.”
É pretensão habitual do cético ver melhor que os demais.
Se concedido for o que ele pede, de duas uma: ou o fenômeno se produzirá, e ele explicaria simplesmente como uma alucinação; ou (o que muitas vezes acontece) o fenômeno não poderá reproduzir-se, e ele tratará o médium de charlatão.
Seja como for, o cético apenas se convencerá de que pretenderam zombar dele, e é mesmo possível que conserve um secreto ressentimento contra aquele que pretendeu operá-lo da catarata materialista.
A este propósito, escreve Florence Marryat, escritora distinta, filha de conhecido capitão e romancista inglês:
Há duas categorias de pessoas cuja influência prejudicial relativamente ao espiritualismo tem sido incontestavelmente maior que o auxílio que lhes têm prestado muitos homens de ciência: são os entusiastas e os céticos. Os primeiros crêem em tudo o que vêem ou ouvem, sem se darem ao trabalho de obter provas da realidade dos fenômenos: vão de casa em casa referindo as suas experiências, de um modo tão ingênuo que parecem absurdas.
“Acreditam em tudo o que dizem os Espíritos, como se estes fossem semi-deuses, em vez de serem, como na maioria dos casos, Espíritos de natureza menos elevada do que a nossa, e que não puderam erguer-se acima da esfera celeste”.
É a esta categoria de espiritualistas que os jornais satírico têm procurado ridicularizar, com razão talvez:
Entre outras histórias, o Punch falava duma viúva inconsolável que um médium fizera entrar em comunicação com o finado esposo.
- John, és feliz? murmurava ela.
- Oh, sim! Muito mais feliz do que na Terra, quando vivia contigo.
- Então deves estar no Paraíso; não é assim?
- Ah! não. Pelo contrário.
Que marido indelicado para com a sua pobre viúva!
Compõe-se dos puros céticos a segunda categoria de que fala Fl. Marryat.
“Eles não fazem tanto mal como os ingênuos; porque, em regra geral, se acham tão endurecidos ou têm a inteligência tão estreita, que vão além do seu fito e invalidam completamente as suas opiniões.
“O cético nega tudo, porque, talvez uma única vez, constatou uma fraude. Se um médium mente, todos os médiuns devem mentir. Se uma experiência falha, todas devem falhar. Se ele não pode obter uma prova de identidade dos Espíritos, ninguém, depois dele, poderá consegui-la.
“Um cético julga que o seu testemunho deve ser aceito e crido; porém nunca acreditará no testemunho alheio. Quando vai assistir a uma experiência psíquica, é sempre com a preocupação de descobrir a fraude. Toda a sua inteligência converge para esse resultado maravilhoso, e, se ele nada consegue descobrir, acredita que o iludiram habilmente. Julgando sempre por antecipação, está certo do que vai acontecer, sem se dar ao trabalho de experimentar qualquer coisa que seja.”
De tal modo se acham os céticos convencidos da sua infabilidade, que duvidam mesmo do testemunho dos seus sentidos.
De uma feita, perguntou Fl. Marryat ao Dr. H..., seu amigo, o que pensaria ele se visse experiências concludentes; e ficou estupefata ouvindo-o declarar que não acreditaria nos seus olhos e nos seus ouvidos.
“Entretanto não podeis saber que existo – retorquiu ela – senão me vendo, tocando, ouvindo.
“Quem vos garante que neste momento os vossos sentidos não vos enganam, como numa experiência psíquica?”
A este argumento claro e preciso (ad hominem, poder-se-ia dizer) o Dr. H. apenas respondeu com um sorriso desdenhoso, com o qual significava, sem dúvida, que a julgava muito fraca de espírito para merecer uma discussão; mas, realmente, o bom doutor não sabia responder.
A verdade é que, afinal de contas, o Dr. H., como muitos outros sábios, não desejava ser convencido.
Um dia confessou-o ele nestes termos: “Se eu acreditasse na realidade desses fenômenos, isso derrubaria todas as teorias sobre as quais se baseia a minha ciência” É o modelo de cético científico. Ele não quer mudar as suas teorias e os seus hábitos, porque isso o constrange, e lhe parece mais cômodo negar tudo.
Quando falais a um cético sobre os fenômenos psíquicos, ele toma um ar zombeteiro.
Se lhe sois simpático, pergunta-vos com comiseração: “Como podeis acreditar em tais coisas?” Se o cético tem espírito prático, logo fala em tolice e futilidade. Se não está bem disposto, chama-vos espírita, o que é, segundo ele, a maior das injúrias. La Rochefoucault visava evidentemente os céticos de certa ordem, quando dizia:
“As inteligências medíocres condenam ordinariamente tudo o que lhes excede o alcance”.
O cético científico, em geral, fala de cima.
Quando se digna falar um instante desses fenômenos, mal os menciona, pois esses fatos vulgares, diz ele, não merecem que neles se insista. Se alguns deles condescendem em tratar de tais coisas, fazem-no geralmente de muito mau humor ou vos oferecem toda a espécie de banalidades habituais em se tratando de semelhantes assuntos.
Um filósofo cético escreveu uma vez longo artigo em que confundia as coisas psíquicas mais elementares. É o filósofo sem o saber... oculto.
Existe ainda uma espécie de céticos que declaram não conhecer o artifício usado pelos médiuns, mas que esse artifício existe, e se entregam a gracejos cuja leveza lembra perfeitamente um elefante caminhando entre ovos.
Outro tipo de cético, é o do discursador de salão ou de clube. Esbraveja contra a credulidade ilimitada ou contra o pseudo-misticismo que, na sua opinião, nos torna joguetes dos médiuns e dos sonâmbulos. Assim perora o discursador, que geralmente nenhuma palavra sabe das coisas psíquicas, e a torto e a direito delas fala, como um cego pode falar das cores. Nada diverte tanto como ouvi-lo falar sobre fenômenos dos quais em nenhum está suficientemente firmado. Se, entre todos esses fato – exclama ele com desespero -, um estivesse bem provado, eu me renderia à evidência... mas esse fato não aparece.
Envio essa categoria de incrédulos ao nº de Fevereiro 1893 dos Annales Psychiques, onde encontrarão, não um só fato, porém numerosos fatos, atestados numa ata assinada por tantos quantos sábios, são de corpo e de espírito, se pode desejar.
Apesar de todas as provas possíveis, estou bem certo de que, lendo esse relatório, os céticos encontrarão objeções a todo o instante.
Pelo que dizem certos céticos, logo que se afastam as causas de alucinação ou fraude, os fenômenos não se produzem mais.
Isto é inteiramente falso. Os fenômenos só se produzem em determinadas condições magnéticas e atmosféricas, bem conhecidas dos experimentadores sérios, mas inteiramente desconhecidas dos ignorantes.
A escuridão é necessária a essas manifestações – dizem ironicamente os céticos. A luz impede tudo, e, para ser-se iluminado, devem-se proscrever as lâmpadas.
Outra inexatidão. Os mais simples fenômenos psíquicos (pancadas), como os mais extraordinários (movimentos de objetos sem contato, escrita direta), podem ser produzidos em plena luz, e mesmo em pleno dia.
Provam-no as experiências do Sr. Lemerle e de muitos outros. Eu mesmo tive demonstrações irrecusáveis, nas melhores condições de luz.
Extraído de "O psiquismo experimental"
Os céticos
Ordinariamente, os céticos pertencem a duas categorias: ou são pessoas demasiado malignas, e que não ocultam essa qualidade; ou são indivíduos tão sábios que imaginam que nada está acima da ciência deles. Aferrados às suas teorias, não consentem em abandona-las; a cavaleiro nas suas teses, desdenham descer dessas alturas, e majestosamente se revestem do que chamam ciência oficial.
Com eles perdem-se inutilmente o tempo e a lógica; porque, a todas as provas que se lhes fornece, respondem: “É impossível!”
Se uma notabilidade científica afirmar a um cético ter visto em condições de rigorosa observação (estando o médium seguro pelos pés e pelos braços) uma cadeira ou qualquer outro objeto mover-se sem contacto, ele retorquirá incrédulo: “Tendes certeza de que vistes isto? Pois, se assim é, trazei-me o médium para que eu verifique por mim mesmo o fenômeno.”
É pretensão habitual do cético ver melhor que os demais.
Se concedido for o que ele pede, de duas uma: ou o fenômeno se produzirá, e ele explicaria simplesmente como uma alucinação; ou (o que muitas vezes acontece) o fenômeno não poderá reproduzir-se, e ele tratará o médium de charlatão.
Seja como for, o cético apenas se convencerá de que pretenderam zombar dele, e é mesmo possível que conserve um secreto ressentimento contra aquele que pretendeu operá-lo da catarata materialista.
A este propósito, escreve Florence Marryat, escritora distinta, filha de conhecido capitão e romancista inglês:
Há duas categorias de pessoas cuja influência prejudicial relativamente ao espiritualismo tem sido incontestavelmente maior que o auxílio que lhes têm prestado muitos homens de ciência: são os entusiastas e os céticos. Os primeiros crêem em tudo o que vêem ou ouvem, sem se darem ao trabalho de obter provas da realidade dos fenômenos: vão de casa em casa referindo as suas experiências, de um modo tão ingênuo que parecem absurdas.
“Acreditam em tudo o que dizem os Espíritos, como se estes fossem semi-deuses, em vez de serem, como na maioria dos casos, Espíritos de natureza menos elevada do que a nossa, e que não puderam erguer-se acima da esfera celeste”.
É a esta categoria de espiritualistas que os jornais satírico têm procurado ridicularizar, com razão talvez:
Entre outras histórias, o Punch falava duma viúva inconsolável que um médium fizera entrar em comunicação com o finado esposo.
- John, és feliz? murmurava ela.
- Oh, sim! Muito mais feliz do que na Terra, quando vivia contigo.
- Então deves estar no Paraíso; não é assim?
- Ah! não. Pelo contrário.
Que marido indelicado para com a sua pobre viúva!
Compõe-se dos puros céticos a segunda categoria de que fala Fl. Marryat.
“Eles não fazem tanto mal como os ingênuos; porque, em regra geral, se acham tão endurecidos ou têm a inteligência tão estreita, que vão além do seu fito e invalidam completamente as suas opiniões.
“O cético nega tudo, porque, talvez uma única vez, constatou uma fraude. Se um médium mente, todos os médiuns devem mentir. Se uma experiência falha, todas devem falhar. Se ele não pode obter uma prova de identidade dos Espíritos, ninguém, depois dele, poderá consegui-la.
“Um cético julga que o seu testemunho deve ser aceito e crido; porém nunca acreditará no testemunho alheio. Quando vai assistir a uma experiência psíquica, é sempre com a preocupação de descobrir a fraude. Toda a sua inteligência converge para esse resultado maravilhoso, e, se ele nada consegue descobrir, acredita que o iludiram habilmente. Julgando sempre por antecipação, está certo do que vai acontecer, sem se dar ao trabalho de experimentar qualquer coisa que seja.”
De tal modo se acham os céticos convencidos da sua infabilidade, que duvidam mesmo do testemunho dos seus sentidos.
De uma feita, perguntou Fl. Marryat ao Dr. H..., seu amigo, o que pensaria ele se visse experiências concludentes; e ficou estupefata ouvindo-o declarar que não acreditaria nos seus olhos e nos seus ouvidos.
“Entretanto não podeis saber que existo – retorquiu ela – senão me vendo, tocando, ouvindo.
“Quem vos garante que neste momento os vossos sentidos não vos enganam, como numa experiência psíquica?”
A este argumento claro e preciso (ad hominem, poder-se-ia dizer) o Dr. H. apenas respondeu com um sorriso desdenhoso, com o qual significava, sem dúvida, que a julgava muito fraca de espírito para merecer uma discussão; mas, realmente, o bom doutor não sabia responder.
A verdade é que, afinal de contas, o Dr. H., como muitos outros sábios, não desejava ser convencido.
Um dia confessou-o ele nestes termos: “Se eu acreditasse na realidade desses fenômenos, isso derrubaria todas as teorias sobre as quais se baseia a minha ciência” É o modelo de cético científico. Ele não quer mudar as suas teorias e os seus hábitos, porque isso o constrange, e lhe parece mais cômodo negar tudo.
Quando falais a um cético sobre os fenômenos psíquicos, ele toma um ar zombeteiro.
Se lhe sois simpático, pergunta-vos com comiseração: “Como podeis acreditar em tais coisas?” Se o cético tem espírito prático, logo fala em tolice e futilidade. Se não está bem disposto, chama-vos espírita, o que é, segundo ele, a maior das injúrias. La Rochefoucault visava evidentemente os céticos de certa ordem, quando dizia:
“As inteligências medíocres condenam ordinariamente tudo o que lhes excede o alcance”.
O cético científico, em geral, fala de cima.
Quando se digna falar um instante desses fenômenos, mal os menciona, pois esses fatos vulgares, diz ele, não merecem que neles se insista. Se alguns deles condescendem em tratar de tais coisas, fazem-no geralmente de muito mau humor ou vos oferecem toda a espécie de banalidades habituais em se tratando de semelhantes assuntos.
Um filósofo cético escreveu uma vez longo artigo em que confundia as coisas psíquicas mais elementares. É o filósofo sem o saber... oculto.
Existe ainda uma espécie de céticos que declaram não conhecer o artifício usado pelos médiuns, mas que esse artifício existe, e se entregam a gracejos cuja leveza lembra perfeitamente um elefante caminhando entre ovos.
Outro tipo de cético, é o do discursador de salão ou de clube. Esbraveja contra a credulidade ilimitada ou contra o pseudo-misticismo que, na sua opinião, nos torna joguetes dos médiuns e dos sonâmbulos. Assim perora o discursador, que geralmente nenhuma palavra sabe das coisas psíquicas, e a torto e a direito delas fala, como um cego pode falar das cores. Nada diverte tanto como ouvi-lo falar sobre fenômenos dos quais em nenhum está suficientemente firmado. Se, entre todos esses fato – exclama ele com desespero -, um estivesse bem provado, eu me renderia à evidência... mas esse fato não aparece.
Envio essa categoria de incrédulos ao nº de Fevereiro 1893 dos Annales Psychiques, onde encontrarão, não um só fato, porém numerosos fatos, atestados numa ata assinada por tantos quantos sábios, são de corpo e de espírito, se pode desejar.
Apesar de todas as provas possíveis, estou bem certo de que, lendo esse relatório, os céticos encontrarão objeções a todo o instante.
Pelo que dizem certos céticos, logo que se afastam as causas de alucinação ou fraude, os fenômenos não se produzem mais.
Isto é inteiramente falso. Os fenômenos só se produzem em determinadas condições magnéticas e atmosféricas, bem conhecidas dos experimentadores sérios, mas inteiramente desconhecidas dos ignorantes.
A escuridão é necessária a essas manifestações – dizem ironicamente os céticos. A luz impede tudo, e, para ser-se iluminado, devem-se proscrever as lâmpadas.
Outra inexatidão. Os mais simples fenômenos psíquicos (pancadas), como os mais extraordinários (movimentos de objetos sem contato, escrita direta), podem ser produzidos em plena luz, e mesmo em pleno dia.
Provam-no as experiências do Sr. Lemerle e de muitos outros. Eu mesmo tive demonstrações irrecusáveis, nas melhores condições de luz.
Extraído de "O psiquismo experimental"