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brasileiros em cana no exterior

Enviado: 10 Abr 2006, 23:55
por Steve
Exportando prisioneiros
O número de brasileiros presos no exterior aumentou quase 100% em apenas seis anos. Já são mais de dois mil detidos em cadeias do mundo todo

Por Marcos de Moura e Souza
Ilustração: Pedro de Kastro




O perfil dos brasileiros condenados no exterior é variado, mas há muita gente de classe média alta
Tráfico de drogas, homicídio, roubo, furto, formação de quadrilha e até falsificação de dinheiro. Por causa desses delitos, nada menos que 2212 brasileiros estão detrás das grades no exterior, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Um número que ninguém conhecia até há pouco tempo, mas que se evidenciou com o dramático caso do carioca Marco Archer, condenado à morte na Indonésia por ter sido flagrado tentando entrar no país com 13 quilos de cocaína escondida na estrutura de sua asa-delta.

Archer chamou a atenção pelo tipo de condenação - a pena capital - e porque todos os recursos foram negados pela Justiça daquele país. Nem mesmo um pedido de clemência feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aceito, e o carioca aguarda seu destino numa cadeia perto de Jacarta.
Ele não é uma exceção. Até janeiro, nada menos que 839 brasileiros estavam encarcerados mundo afora por tráfico de drogas, segundo balanço feito pelo Ministério das Relações Exteriores. De acordo com o órgão, o número de brasileiros presos em outros países vem crescendo nos últimos anos em função do aumento da imigração. Hoje, 4 milhões de brasileiros vivem no exterior - quase três vezes o número de emigrantes que tínhamos em 1997 - cerca de 1,5 milhão.

Por isso, o número de presos também disparou. Entre 1999 e 2005, o aumento foi de 84%. Os Estados Unidos - país com a maior comunidade brasileira - têm o maior número de presos por crimes diversos. Itália, Portugal, Espanha, Inglaterra e França são outras nações com contingentes importantes de brasileiros em suas penitenciárias. E diga-se: esses números não incluem os detidos apenas por estarem ilegalmente no país. Referem-se a pessoas que realmente cometeram algum crime.

Não é a primeira vez que um brasileiro é condenado à morte. Recentemente dois imigrantes acusados de homicídio receberam essa sentença nos Estados Unidos. Mas, depois de apelos dos advogados, tiveram suas penas comutadas para prisão perpétua. Por isso, pouco se falou deles.

Por ironia, a repercussão da prisão de brasileiros aumenta nos episódios envolvendo nações onde há poucos imigrantes. A Indonésia - país de maioria islâmica - adota uma legislação dura contra o tráfico: morte por fuzilamento. Essa medida também foi preconizada a outro brasileiro flagrado entrando com drogas ali. Rodrigo Gularte já foi condenado, mas por enquanto somente um de seus recursos foi negado em primeira instância. Os advogados dele e de Marcos Archer ainda vão apelar.

Segundo o Itamaraty, as embaixadas acompanham constantemente as condições dos presos brasileiros para garantir tratamento adequado. A família Archer diz que as atenções com o brasileiro chegam ao ponto de os próprios diplomatas às vezes levarem comida brasileira para ele na prisão.

Assim como Archer - que estudou em bons colégios e morou em Ipanema -, existem outros brasileiros presos no exterior que são filhos de famílias abastadas. O próprio Rodrigo Gularte, de 32 anos, é um exemplo disso. O perfil dos condenados, no entanto, é variado, informa o Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior do Itamaraty. Há homens e mulheres, brancos e negros, de diversas idades e de diferentes faixas de renda. Muitos atuavam como "mulas" - ou seja, transportavam a droga de algum traficante em troca de uma comissão, mas não faziam parte diretamente de uma rede internacional de tráfico.

"Um australiano que ele conheceu em Bali prometeu pagá-lo se levasse a cocaína do Brasil para a Indonésia", contou a TERRA a mãe de Marco Archer, Carolina Archer Pinto, de 66 anos. "Ele me disse que nem conhecia o sujeito, mas acabou aceitando porque precisava do dinheiro para saldar uma dívida que tinha em Cingapura."

A tal dívida era de 60 mil dólares, contraída junto a um hospital onde fora internado em estado grave em 1998, após um acidente de parapente. Pressionado por advogados do hospital, o brasileiro estava ameaçado de não poder mais pisar no país. Por isso, o instrutor de asa-delta, que vivia havia dez anos na Indonésia, enfrentava o drama de economizar os 400 dólares que ganhava por dia para voar com turistas. Mas a tentação falou mais alto.

Ao contrário de Marco Archer e Rodrigo Gularte, outros brasileiros condenados no exterior podem também se beneficiar de acordos de transferência para uma penitenciária do Brasil. Acordos desse tipo estão em vigor na Argentina, no Chile, no Paraguai, no Canadá, na Espanha, no Peru e no Reino Unido. Mas a Indonésia nunca chegou perto de figurar nessa lista.

Assim, o destino dos brasileiros presos no Sudeste Asiático deverá ser diferente. A Embaixada do Brasil em Jacarta diz que os advogados indonésios de Archer estavam prestes a pedir uma revisão da negativa ao pedido de clemência. Se conseguirem, ele cumprirá pena de prisão perpétua na Indonésia. Caso contrário,
o carioca deverá entrar num longo corredor da morte, onde 25 condenados estão na sua frente.As últimas execuções ocorridas naquele país, em 2004, foram de condenados que estavam atrás das grades desde 1994.

http://www2.uol.com.br/caminhosdaterra/ ... ndex.shtml